[Corpo & Dança] Flexibilidade: Levando o foco para a postura!

 por Jossani Fernandes

A postura corporal não é uma situação estática, mas sim dinâmica, pois as partes do corpo são completamente e constantemente adaptáveis, em resposta aos estímulos recebidos, refletindo corporalmente as experiências. Uma boa postura dependerá do conhecimento e do relacionamento das pessoas com o seu próprio corpo, ou seja, da imagem que cada um tem de si. 

Ao adotar uma certa postura, é necessário um conhecimento prévio de sua imagem corporal, porém ao ocorrer um equívoco, esse conhecimento pode levar às ações imperfeitas. BRACCIALLI (1997)

Já é reconhecido que na permanência de comprometimentos relacionados a força e flexibilidade, devido à inatividade física, movimentos repetitivos ou permanência por um mongo tempo em uma mesma posição, podem ocorrer desequilíbrios musculares que podem causar dor e desconforto, podendo até mesmo, levar profissionais a se afastarem do trabalho, ou seja, os efeitos negativos ultrapassam a barreira da saúde.

A postura corporal é definida como: "a posição do corpo no espaço, com referência especial as suas partes, que exija o menor esforço, evitando fadiga desnecessária". Ou seja, para que seja considerada como adequada, deve estar ligada ao mínimo esforço e ausência de fadiga muscular. 

A manutenção da postura corporal está relacionada com o tônus muscular (estado de ligeira tensão dos músculos no estado de repouso). Esse regula a disposição postural dos segmentos corporais e impede que se desarranjem.


O que influencia em atitudes posturais positivas?

- Aspectos da imagem corporal (emocional, comportamental e social), 

-Aspectos do mínimo esforço muscular e a ausência de fadiga, 

-Combinação de formas tencionais equilibradas e o baixo nível de tensão muscular 

- Flexibilidade e resistência da região lombar, que causam o alinhamento das estruturas corporais.


Aspectos necessários ao equilíbrio postural:

- Capacidade de manutenção do tônus 

 - Fortalecimento musculares,

- Harmonia entre os agonistas e antagonistas nas funções de contração e relaxamento muscular. (tema a ser abordado em breve...)


Consequência do desajuste do equilíbrio postural 

- Contração muscular excessiva, 

- Hipotonia muscular, 

- Tensão muscular exagerada, 

- Enfraquecimento 

- Diminuição do tônus muscular. 

Nas situações em que a postura-padrão não encontrar um estado de equilíbrio no espaço, irá gerar agressões nas estruturas relacionadas com os músculos. Estes entram em estado de contração excessiva, levando à dor e ao desconforto. Os movimentos, nessas regiões, serão prejudicados, levando a pessoa a assumir posições que amenizam as dores (as chamadas zonas de conforto da má postura), que infelizmente são confortáveis, mas inadequadas, causando, posteriormente, desconforto.

A contração muscular excessiva tem como causa o encurtamento muscular que leva à tensão nas articulações por meio dos músculos e tendões. Esses entram em estado de tensão, reduzem a amplitude de movimentos e, quando executados, ocasionam as dores. A contração muscular excessiva gera, ainda, contraturas e ocorrência de espasmos musculares.

Em grande parte, a carência de flexibilidade dos músculos da articulação do quadril e da coluna vertebral pode levar os indivíduos a desenvolverem problemas lombares. Na má postura, onde se encontram músculos encurtados, a tendência é de serem mais fortes, e nos casos de estarem em posição alongada, tendem a ser mais fracos. Geralmente encontramos fraqueza muscular é encontrada nos seguintes músculos: trapézio médio e inferior, em pessoas com cifose, e nos músculos adutores do quadril no lado em que o quadril é mais alto ou proeminente. E carência de alongamento dos músculos, que afetam o alinhamento postural, como nas regiões do pescoço, cintura escapular, abdômen, peitoral, iliopsoas e posteriores de coxa. 


Vale salientar que não é uma regra essa relação de encurtamento e fraqueza citada, para realmente identificarmos tais parâmetros em nosso corpo é necessário que seja realizada uma avaliação postural por um profissional qualificado da área da educação física ou da fisioterapia.

Fonte:

BRACCIALLI, L. M. P. Postura corporal: orientação para educadores. Campinas, 1997. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Educação Física, UNICAMP, 1997.

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Corpo & Dança: Um olhar sob nosso Palácio Industrial


Jossani Fernandes (Belo Horizonte-MG)
 é professora e bailarina de danças orientais, profissional de educação física, atua na área como personal trainer e pesquisadora da área da flexibilidade, é apaixonada por anatomia e por tudo que diz respeito ao corpo humano e toda a sua complexidade.  Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 

[Resenhando-RS] Mostra Online Al-málgama: No País das Maravilhas

por Anath Nagendra


Em 28 de dezembro de 2020 a escola portoalegrense Al-málgama, de Bruna Gomes, transmitiu no Youtube uma pequena Mostra Online! Inspirada no mundo de Alice no País das Maravilhas, nos traz diversas performances muito criativas e uma edição que te prende.

Segue a sinopse divulgada:

"Os contos de fadas inspiram e trazem questões importantes para serem questionadas quanto a evolução do pensamento humano. Para essa mostra, experimentamos usar a literatura de Lewis Carroll, Alice no País das Maravilhas, como ponto de partida para a criação das coreografias e também para criar discussões filosóficas durante o processo de composição. O resultado foram processos experimentais de alunas e professores nesse maravilhoso e pouco desvendado (pra mim - Bruna Gomes) universo que une dança e tecnologia. Em tempos de pandemia, nós da Al-málgama mantivemos as aulas exclusivamente on-line, afim de auxiliar na preservação da saúde e segurança de todas nós."

Com pouco mais de 15 minutos, a Mostra não deixa nada a desejar - exceto a vontade de ver mais! :3

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Resenhando-RS


Anath Nagendra (Esteio-RS) é bailarina, professora, coreógrafa e pesquisadora de Danças Árabes, Raja Yoga e, em especial, Tribal Fusion e suas vertentes. Hibridiza sua arte e percepção com grandes doses de psicologia, espiritualidade e ocultismo. Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>

[Organizando a Tribo] A sua rotina é sustentável? O mundo gira de forma ecológica quando agimos de forma sustentável

 por Isadora Oliveira

Eii bailarinx! Como está a organização da vida por ai?

Mais uma vez estamos juntos para conversar sobre organização e rotina. Seguimos com a pandemia de Covid-19 como plano de fundo, mas hoje para falar sobre como tu pensa e organiza as suas atividades tendo você no centro . Na sua rotina tem tempo para o seu descanso e ócio criativo? Ou apenas tarefas e mais tarefas? 

Estamos passando por um momento atípico no mundo inteiro, mas no Brasil o tempero da Pandemia Mundial é diferente. Todos os dias uma notícia nova chega para nos desestruturar, seja sobre o governo, sobre a economia, sobre a saúde, sobre outros países, sobre mudanças no clima ou até mesmo no mercado da dança. 

Antes de bailarinos, produtores de evento, professores, mães, somos seres humanos e para conseguirmos lidar com todas as adversidades e dificuldades, precisamos ser sustentáveis. Assim, hoje conversaremos sobre formas de pensar uma rotina de organização sustentável. 

Agir de forma sustentável é repensar todos os nossos hábitos de maneira a balancear as tarefas, responsabilidade com o cuidado de si, da sua saúde física e psicológica. Sempre achamos que não existe tempo ou maneira de cuidar de nós mesmos dentro da rotina, mas terá de haver! Se você não cuidar de ti, quem vai? 

A organização e a disciplina podem te ajudar! 

Estabeleça um horário de início e término das atividades

Estar trabalhando, estudando, descansando, criando e morando dentro de um mesmo lugar nos faz muitas vezes perder a noção do tempo e do espaço. Muitas pessoas não tem um espaço diferente para trabalhar e descansar, tornando o mesmo ambiente foco de diversas energias e objetivos. Para manter a qualidade da sua produtividade e do seu descanso é primordial que você tenha essa separação clara. Por isso, estabeleça horários e tente cumpri-los! 

Defina um horário para começar a trabalhar e um horário para terminar, defina intervalos de 5 a 15 minutos para fazer um lanche, tomar uma água ou apenas para dar uma volta (pode ser quarto→ cozinha), isso ajudará na sua criatividade, disposição e produtividade.


Não estabeleça metas diárias impossíveis 

Sabemos que os compromissos e as responsabilidades são infinitas, mas quando estamos em um contexto de isolamento social essas tarefas se tornam ainda mais árduas. Seja pela pressão psicológica, pela autocobrança, pela necessidade financeira ou imprevisibilidade do futuro. Assim, seja gentil com você e estabeleça metas que você poderá cumprir e após fazê-las, reconheça a sua conquista. 



Defina um espaço só seu

Principalmente se você morar com outras pessoas, a convivência pode gerar desgastes emocionais, sociais e físicos, de tal forma que é importante que você estabeleça um momento do dia ou um canto da casa que seja só seu, um refúgio. 

Seja um momento de alongamento de manhã (acorde 10 min mais cedo), ou um momento de leitura no meio da tarde… Estabeleça um momento em que você poderá respirar de todas as suas funções, recarregar as energias e focar no que é importante. 

Ah, preferencialmente faça algo que esteja completamente alienado das suas responsabilidades, se você for bailarina use o esporte ou meditação, se você for administrador use a música e ou a dança… fez sentido? 

Bailarinx, se organize, se policie e se cuide. Use as tabelas, os aplicativos, os alarmes do celular e a tecnologia ao seu favor. Não se deixe levar pela produtividade tóxica e nem pelas circunstâncias externas que você não pode alterar no momento. Para estar bem quando tudo isso acabar, você precisa se cuidar no caminho. 

Espero que você tenha uma ótima e organizada semana. 


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Organizando a Tribo

Isadora Oliveira (Belo Horizonte-MG) é bailarina semi-profissional, estudante e mobilizadora social. Com 19 anos de idade, graduanda em Bacharel em Direito e amante da Cultura Árabe Oriental, tem uma vasta experiência em organização grupal (apesar da idade), são aproximadamente 10 anos de trabalho e serviços sociais voluntários. É integrante da equipe VIDES Brasil (Voluntariado Internacional de Desenvolvimento e Educação Social) e está à frente da Iniciativa da Nova Geração das Danças Árabes Orientais no Brasil.  Clique aqui para ler mais posts desa coluna! >>


[Old is Cool] Analisando o Tribal Old School - Parte 2

 por Mari Garavelo

Sejam muito bem-vindas e muito bem-vindos à coluna Old is Cool! Estamos nesta coluna fazendo pequenas análises sobre o período de vanguarda do estilo tribal de dança do ventre e no nosso último encontro aqui no blog falamos sobre Jill Parker, Frederique e especialmente o Urban Tribal. Nesta estrada muito sinuosa e cheia de atalhos na qual estamos percorrendo nessa coluna, nós chegamos enfim a um ponto de convergência muito importante: o estilo tribal no Bellydance Superstars.

Bellydance Superstars - Divulgalção

Você deve se lembrar com facilidade do Bellydance Superstars (BDSS), talvez inclusive você tenha chegado aqui graças à sua existência, a maioria das pessoas que eu conheço na comunidade tribal brasileira e que começou a dançar na mesma época que eu, o fez por conhecer o estilo através de vídeos do BDSS. Fundada em 2002 pelo magnata e empresário Miles Copeland e pautada numa proposta nada humilde se ser o “Riverdance” da dança do ventre, a companhia de dança mundialmente famosa por tornar a dança do ventre “espetacular” teve importância significativa na disseminação do estilo tribal pelo mundo todo.

O Bellydance Superstars produziu e comercializou numerosos materiais, como DVDs (que mais tarde foram, em sua maioria, disponibilizados no Youtube), camisetas e CDs, viabilizando assim difusão do estilo, antes restrito à Califórnia, em uma escala mundial. Rachel Brice foi descoberta por Miles Copeland e contratada para a companhia onde passou a coreografar uma espécie de “núcleo tribal” do show. Nomes muito conhecidos na dança também passaram pelo Bellydance Superstars como Kami Liddle, Mardi Love, Zoe Jakes, Sharon Kihara, Moria Chappel, entre outras, e, se movendo para os grandes palcos o dresscode tribal também foi ganhando grandes produções. A maquiagem foi se tornando menos rústica e mais artística, mais luxuosa e brilhante, os figurinos ganharam mais adornos com brilho, e para contrastar com o humor colorido dos shows, os figurinos do “núcleo tribal” eram usualmente escuros e com cores fechadas. 

Abertura de espetáculo do Bellydance Superstars, toda a atmosfera de som e luz muda drasticamente quando o ‘núcleo tribal’ entra em cena.


Há nesta época também um notável acontecimento: a parceria histórica entre Rachel Brice e Mardi Love. As criações coreográficas da dupla e seus respectivos figurinos acabaram por criar um estilo inusitado dentro da própria linguagem tribal repleto de referência dos anos 20. Mardi Love foi aluna de Heather Stants e integrante do Urban Tribal, protagonizando, através de suas criações, o desenvolvimento da estética que tem hoje o estilo Tribal. É possível notar nas suas produções uma explícita referência à Theda Bara, atriz que marcou o cinema mudo no início do séc. XX.

Rachel Brice e Mardi Love | Fonte: desconhecida.

Rachel Brice é o maior fenômeno e o nome mais conhecido do Tribal, especialmente devido à sua participação no Bellydance Superstars. É quase sempre a mais citada das bailarinas, havendo até mesmo quem pense que ela é a criadora do estilo. De fato, Rachel tem um papel muito importante na disseminação do gênero, trazendo elementos bastante pessoais e característicos que vieram a se tornar uma “regra” por bastante tempo. É pouco sabido, por exemplo, que seu estilo de cabelo, com dois coques, flores e lenço, tinha como inspiração a Princesa Leia de Star Wars. Se fosse sabido que não se tratava de algo tradicional, mas sim de uma preferência nerd por um personagem, talvez o penteado não fosse reproduzido tão massivamente. Rachel atuava também como professora de yoga, trazendo muito dessa filosofia para o Tribal ao trabalhar a fluidez e a precisão dos movimentos. Seu controle de movimentação faz parecer que o tempo é esgarçado de uma forma sinuosa e perfeita, o que acabou se tornando também uma característica a ser buscada por quem estuda Tribal. Rachel explorou músicas experimentais e sincopadas, carregando uma atmosfera dark em sua expressão.

É quase impossível falar em Mardi e Rachel e não falar em The Indigo. The Indigo Belly Dance Company foi um grupo criado em 2001, dirigido por Rachel. A primeira formação do grupo incluía Ariellah, de quem falaremos mais pra frente. O visual do grupo em seus primórdios estava muito conectado ao Urban Tribal e ao Bellydance Superstars. O auge da companhia ocorreu em sua última formação, com Zoe Jakes e Mardi Love. Vale a pena assistir a cada segundo dos shows do The Indigo no Tribal Fest no Youtube. As apresentações eram repletas de referências à John Compton, em uma pegada cênica ao estilo vaudeville, com atos circenses, músicas árabes e balcânicas tocadas ao vivo. A exibição desses shows exerceu influência direta na cena Tribal em meados de 2007/2008.

Playlist com o Show Completo do The Indigo no Tribal Fest 2007

Ariellah, que foi aluna de Rachel e integrante da primeira formação do The Indigo, destacou-se muito nos anos 2000 também graças a uma grande busca pela chamada gothic bellydance e Ariellah trouxe muito desse universo para o Tribal. Seu estilo foi posteriormente nomeado Dark Fusion, combinando a teatralidade a referências góticas diversas nas músicas, na estética e na movimentação.

Vamos chegando ao fim dessa parte 2 da análise refletindo sobre alguns pontos. 

  • O primeiro: percebam como a idéia do “espetacular” e do show foram moldando a estética (e por que não a movimentação?) do estilo. 

  • Outro ponto: percebemos nessa fase do tribal uma grande inserção de referências àquilo considerado moderno, atual, futurista, impactante, underground. A música eletrônica no seu auge, a popularidade da internet, a ousadia da moda e a expectativa de um futuro cinematográfico (quase com uma estética cyberpunk) influenciaram de alguma forma na criatividade das estadunidenses na estilização daquela dança do ventre? Como isso pode ter se dado?

Ficaremos com mais uma janela entre posts para refletir e se deliciar com os vídeos linkados aqui e na parte 3 iremos dar continuidade à análise do old school. 

Me conta nos comentários o que está achando dessa sequência de textos, eu vou adorar!

Até a próxima!

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Old is Cool


Mari Garavelo (Osasco-SP) iniciou seus estudos em dança do ventre e Tribal Fusion em 2006 e desde então vem aprimorando seu trabalho através de aulas regulares e oficinas com diversos profissionais renomados nacionais e internacionais. Instrutora de Hatha Yoga e Yogaterapeuta formada pela Humaniversidade Holística de São Paulo com registro na Aliança do Yoga.  Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 

[Campo em Cena] Fazer uma faculdade de Dança ou não? Eis a questão!

 por Thaisa Martins

Acredito que essa pergunta surge, invariavelmente, nas mentes das pessoas que começam a levar sua dança de forma mais profissional, e no Tribal Fusion não é diferente. Mas será que tomamos a decisão correta? Pensando nisso, propomos discutir neste artigo o papel da universidade para o campo da Dança e apresentar um caminho para a escolha de cursar ou não uma graduação em Dança. 

Para isso precisamos retomar o assunto discutido no último artigo da nossa coluna intitulado “Campo da Dança: Agentes, Disputas, Capital Científico e o Tribal” e refletir sobre o campo da Dança e seus agentes constituintes. De forma bem sucinta e arbitrária, identificamos os agentes do campo da Dança de acordo com a figura 1.

Figura 1


Estamos, neste artigo, entendendo como Profissionais: aquelas pessoas que estão produzindo obras coreográficas como dançarinas e coreógrafas; Produtores: todas aquelas pessoas que auxiliam, de alguma forma, no planejamento e viabilização das produções em Dança, seja no papel de produtora ou de staff, sua instrumentalização profissional não necessariamente é feita dentro da Dança; Acadêmicos: pessoas que estão inseridas nas universidades (discentes e docentes) e que estão pensando a Dança a partir desta interface institucional que é a universidade; Professores: Aqueles que aplicam os conhecimentos da Dança associado ao campo da Educação, sendo professor escolar ou de modalidade em academia; Público: Aquele que consome Dança, seja fazendo aula nas academias ou assistindo a espetáculos. 

É importante destacar que a o esquema trata-se de uma ferramenta didática pois, no mundo real, muitas vezes nos encaixamos em mais de uma “caixinha”, exemplo: Professoras que fazem aula e produzem eventos, dançarinas profissionais que também dão aula e etc. Esse esquema serve apenas para simplificar e nos ajudar a refletir os diferentes tipos de agências que existem no campo. 

Ao observarmos esses diferentes agentes do campo, podemos inferir que suas formações e campos de atuação são bastante distintos. Assim,  precisamos ter bem definido  o que queremos fazer com a Dança. Que tipo de agente eu almejo ser, para então buscar o estudo necessário que me faça alcançar esse desejo. 

O que se estuda numa faculdade de Dança?
Ao cursar Teoria da Dança na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), tive recorrentes conversas com colegas decepcionadas com “o mundo acadêmico”, pois elas acreditavam que fazer uma faculdade de Dança seria igual a estar em uma academia e que elas sairiam formadas como dançarinas profissionais, mas já no primeiro período percebiam que  não era bem isso. Muitas se perguntavam por que estudar História, Filosofia, Antropologia e etc se tudo o que elas queriam era dançar numa companhia de dança famosa? A universidade iria lhes proporcionar isso? 

Para sabermos se queremos ou não entrar numa faculdade de Dança, precisamos então nos informar sobre o que se estuda nela. Uma faculdade de Dança não tem como objetivo formar profissionais da dança que serão altamente treinados em uma ou umas técnicas.

Numa faculdade de Dança os alunos são expostos a diversas teorias que vão pensar a Dança de uma forma mais ampla, propondo e refletindo ferramentas para o fazer, bem como construindo discursos críticos. Aulas de técnicas não visam desenvolver a acuidade estética de uma determinada modalidade, mas sim instrumentalizá-las para analisar e construir obras coreográficas. Aulas de História, Filosofia, Antropologia, Anatomia, Educação e etc servem para construir um pensamento dentro das reflexões do campo.

Outra variável importante de se analisar ao decidir entrar em uma faculdade de Dança é o tipo de curso que você irá fazer. Tendo os cursos oferecidos pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) como modelo para análise, identificamos 3 possibilidades: Bacharelado em Dança: curso que busca instrumentalizar os alunos à análise e construção de obras coreográficas, suas matérias são mais carregadas nos estudos do corpo e da cena; Licenciatura em Dança: curso que forma professores escolares em Dança, essa é a opção que mais encontramos nas universidades públicas brasileiras. Suas matérias apresentam uma grande relação com o campo da Educação; Bacharelado em Teoria da Dança: no Brasil este curso é oferecido apenas na UFRJ. Ele visa instrumentalizar pesquisadores do campo da Dança que irão se debruçar em questões teóricas, muito aproximadas com os campos das Ciências Sociais e Biológicas principalmente.

Olhar a grade curricular dos cursos, professores e projetos de extensão da universidade que você almeja estudar é uma importante ferramenta para te ajudar a decidir se esse é realmente o caminho que você quer seguir, serão 4 anos de muito esforço e dedicação para sua conclusão.

E as Pós Graduações em Dança?

Se você já tem uma graduação em outro campo e almeja se inserir no campo da Dança a pós graduação pode ser o caminho ideal para você. Atualmente temos no Brasil algumas opções (públicas e privadas) de  especializações, mestrados acadêmicos, mestrados profissionais e doutorado. É importante que você pesquise e identifique que tipo de formação acadêmica em Dança você está almejando. Destacamos aqui a Universidade Federal da Bahia (UFBA) que oferece gratuitamente todos os tipos de formação (graduação, especialização, mestrado acadêmico, mestrado profissional e doutorado em Dança). Na opção privada, destacamos a Faculdade Angel Vianna (FAV-RJ) que oferece diversas modalidades de formação (cursos livres, graduação, especialização e mestrado profissional). 

Como o Tribal se insere nesse meio acadêmico?

Temos visto cada vez mais  pessoas do Tribal se inserindo nas faculdades de Dança  para pesquisar a modalidade. Vemos esse movimento de forma extremamente positiva pois ele complexifica as relações da modalidade no país, expondo-a para novos pensamentos críticos e emancipando o fazer em relação aos discursos das norte americanas e européias. Mas todas as praticantes precisam estar na universidade de Dança para pensar criticamente a modalidade? Definitivamente NÃO.

Defendemos que a pessoa deve buscar a universidade se o caminho discutido até aqui for o que ela almeja seguir. E ao decidir não segui-lo, isso não a diminui de forma alguma. Defendemos ainda, que precisamos compreender a importância da instrumentalização para a prática da Dança, seja realizando cursos livres (formações, capacitações e etc) ou estudando em outros campos, para aprender ferramentas que a Dança não dá conta enquanto produção de conhecimento. 

Conclusão: Estudar é preciso.

Buscamos neste artigo mostrar que a universidade é um dos agentes do campo da Dança, mas não é o único. Apresentamos de forma sucinta este agente, na intenção de auxiliar pessoas que estejam pensando em ocupar este espaço. Intentamos também oferecer opções de instrumentalizações acadêmicas que não sejam apenas a graduação em Dança, mostrando que existem muitos caminhos para chegar ao objetivo.

Uma coisa que fica muito evidente para nós, seja na universidade ou na frente do seu espelho, estudar é preciso! E estudar, na perspectiva da Dança, não é apenas ler livros. 

Sigamos unidas!


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Campo em Cena


Thaisa Martins (Rio de Janeiro-RJ) é graduada em Teoria da Dança (UFRJ) e mestranda em Arqueologia (UFRJ) onde pesquisa processos de reconstrução de dança na Índia antiga. É sócia do Medusa Tribal Studio, estúdio de dança dedicado ao Tribal Fusion, suas derivações e origens no RJ,  junto com a dançarina e fisioterapeuta Maya Felipe. Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 

[Folclore em Foco] Cultura beduína: Hagalla

 por Nadja El Balady


Por que eu, que pratico estilo tribal, preciso saber sobre Hagalla? 

Porque Hagalla é uma manifestação popular folclórica beduína que dá origem a movimentos importantíssimos do vocabulário da dança do ventre, seja tradicional, moderna, fusão ou tribal. Como estudantes, apreciadoras e praticantes de dança do ventre, é nossa obrigação saber de onde vêm os movimentos, saber o mínimo sobre a cultura de origem e valorizar esta cultura de todas as formas possíveis.

Cena filme Gharam Fil Karnak

A cultura beduína é diversa e muito presente em quase todos os países MENAHT. Na verdade, para além das fronteiras MENAHT ainda existem povos beduínos, desde o oriente médio até a Índia.  Estejamos sempre atentas para saber como a presença desta cultura ancestral afeta as diversas manifestações da arte da dança do ventre.

Beduínos são parte de um grupo árabe habitante dos desertos, povos que existem há milênios antes de cristo. Tradicionalmente se dividem em tribos ou clãs. O termo "beduíno" deriva da palavra árabe badawī. O termo "beduínos" significa, "pessoas do deserto", porém em alguns lugares é tido também como uma expressão pejorativa. As regiões de deserto não são regiões inabitadas, são plenas de povos de etnias diferentes. Embora existam registros de presença beduína em todo o oriente médio desde tempos remotos, considera-se que são originários da península arábica e durante as conquistas árabes, no século VII, expandiram-se pelo norte de África. 

A maioria dos beduínos são muçulmanos sunitas, mas existem os praticantes de outras variações do islã, como os sufi, bem como uma minoria cristã no oriente médio.

Se dedicam principalmente a atividades como criação de animais, lavoura e comércio. São de tradição nômade, isto é, durante séculos mantiveram o hábito de migrar sazonalmente entre regiões diferentes para realizar suas atividades. Este é um traço cultural cada vez mais difícil de ser mantido a partir da colonização ocidental sobre países da África e Ásia. Com a demarcação rígida das fronteiras, ser nômade passou a se tornar tarefa cada vez mais difícil.  Ao longo do tempo uma quantidade cada vez maior de pessoas de origem beduína foram adotando uma vida urbana moderna, integrando comunidades em cidades e regiões próximas a oásis.


Segundo o professor Khaled Eman, Hagalla é uma dança que não faz parte apenas da cultura popular beduína do Egito, mas também da Tunísia e da Líbia e ressalta a importância de saber diferenciar a Hagalla de cada região. No Egito, Hagalla faz parte da cultura dos beduínos da região de Marsa Matruh, noroeste do Egito, entre Alexandria e a fronteira com a Líbia. Segundo ele, Hagalla é uma palavra que quer dizer dançarina no dialeto badawya. Alguns outros pesquisadores apontam uma derivação do termos “hagl” em árabe, que significa “saltar”, mas de todo modo o termo se refere ao protagonismo da mulher que está dançando.

Atualmente Hagalla é uma celebração que faz parte de um festejo ou uma cerimônia, principalmente casamentos. No blog da pesquisadora Hanna Aisha encontrei a informação de que, na Líbia, por exemplo, essa manifestação cultural representa uma celebração ao início da vida adulta de uma jovem. Existe uma hipótese de que no passado este ritual seria usado para que a mulher escolhesse seu pretendente para o casamento, mas não encontrei nenhuma evidência que comprove esta hipótese, bastante difundida aqui no Brasil.

A música usada para Hagalla faz parte da tradição de “Kaff” no Egito. Kaff é uma forma muito interessante de fazer música com palmas e é um elemento que é incorporado em outras musicalidades egípcias como o Kaff (ou kafafa) do alto Egito ou a Sensemeya da região de Suez.

Raqs El Kaff ou Kaffafa - Alto Egito

Na década de 1960 o famoso coreógrafo egípcio Mahmoud Reda e a então primeira dançarina de sua trupe, Farida Fahmy conseguiram estar presentes a uma celebração de casamento na região de Marsa Matruh onde puderam assistir a uma apresentação de Hagalla original e desenvolveram um trabalho muito importante para palco e cinema representando esta parte da cultura beduína egípcia. A performance de Hagalla adaptada para o cinema pela Reda Trupe foi incluída no filme egípcio Gharam Fil Karnak de 1965. Ainda hoje, a adaptação de Reda é a principal fonte de estudo sobre Hagalla em todo o mundo. Muitos coreógrafos usam o estilo Reda como inspiração para suas próprias coreografias. É importante entender que por mais bonito que seja, Reda fazia uma interpretação teatral de danças folclóricas, nunca foi a intenção reproduzir fielmente as danças como as viam em sua raiz popular. Trata-se de uma estilização folclórica, como já explicado em artigos anteriores desta coluna “Folclore em foco”.

De qualquer forma, sua pesquisa de campo foi bastante rica em detalhes e o artigo redigido por Farida Fahmy, essencial como fonte de pesquisa. Segundo eles, Hagalla era uma performance celebrativa protagonizada por uma dançarina profissional durante o casamento.


A seguir, faço uma tradução livre de um trecho deste artigo publicado em seu site, onde ela descreve o que viu de Haggala no casamento em que pode estar presente há tantos anos:

“A Hagalla geralmente acontece para celebrar casamentos ou as vésperas de um enlace, ou também são é apresentada em festas para honrar visitantes ou selar um compromisso”.

“Na Hagalla há um aspecto competitivos onde diferentes grupos batem palmas chamando a solista, e aquele grupo mais forte ou carismático ganha a presença da solista perto dele. Essas palmas sofrem flutuações de dinâmica e velocidade, o que pode alterar a construção da dança. Uma mulher ou uma dupla de mulheres, dançam movidas pelas palmas de grupos de homens, que cometem entre si para ganhar a atenção das mesmas.”

“Quando o evento começou, os homens da comunidade se organizaram em pequenos grupos em formações em semicírculo. Eles ficaram ombro a ombro e começaram a cantar em seu dialeto local e a bater palmas enquanto se inclinavam para frente e para trás em uníssono. Enquanto isso, a Haggala amarrou seus quadris com um tecido parecido com uma toga - semelhante ao que os homens usavam - que é exclusivo desta região do Egito. Ela arrumou o tecido de uma forma que as dobras e babados dessem volume extra aos quadris. Ela só começou a dançar quando as palmas e o canto ganharam força. Cada formação de homens competia com os outros grupos. Os homens dançando ficaram mais animados. Cada grupo aumentou sua competição adicionando síncopes às palmas, flexões profundas dos joelhos, inclinações para a frente e intercalando seu canto com gritos de encorajamento. Al Haggala começou a dançar, o tempo todo mantendo uma atitude indiferente, recatada e reservada. Ela alternou sua atenção de um grupo para o outro e avançou em direção ao grupo que demonstrou mais zelo. Isso criou um fervor competitivo entre os participantes. Essa interação ofereceu uma dinâmica única para a dança. O movimento do quadril de Al-Haggala era basicamente uma oscilação pélvica contínua. Esta oscilação foi executada simultaneamente quando ela andava. Depois que a dança acabou, consegui uma demonstração mais próxima do movimento do quadril de al-Haggala em seus aposentos privados. A maioria das danças indígenas são aprendidas por meio da imitação. Depois de repetir o movimento muitas vezes, consegui aprendê-lo. Posteriormente, após quebrar o movimento, esse tipo de oscilação foi agregado ao vocabulário da dança e foi apresentado aos exercícios de aula da Trupe Reda.”

A movimentação da dança Hagalla é bastante focada na movimentação dos quadris, rica em torsões e shimmies. Twists, oito para trás, batidas secas verticais como o que conhecemos aqui no Brasil como “soldadinho” ou “maia quebrado”, básico egípcio, shimmies de ombro e shimmies de quadril combinados com outros movimentos, como o twist. O movimento mais usado na dança do ventre e estilo tribal é o que conhecemos como “Shimmy Hagalla”, que é um deslocamento com shimmy de 3/4 (intenção para baixo) combinado com torsão de quadril. Também encontro no vocabulário de Hagalla um deslocamento com shimmy de quadril que no vocabulário de ATS® / FCBD® conhecemos como “Turkish Shimmy”, ou (Shimmy Turco em português). A dançarina de Hagalla pode entremear sua movimentação com pequenos saltos e palmas, uma vez que as palmas são bem marcantes na encenação como um todo. A apresentação é sempre vibrante e estimula o público a acompanhar com palmas também.

A sonoridade da música beduína é bastante atraente para estilo tribal, principalmente ATS® / FCBD® com bases rítmicas comuns a muitas músicas de dança do ventre tradicional, como malfuf (ou Laff), felahi (bases 2/4), ricas em flautas bem agudas e percussão marcante. Existem músicas feitas para shows de dança que são mais trabalhadas em arranjos de violinos, com uma musicalidade mais acessível para ouvidos ocidentais, como nas músicas utilizadas pela Reda Troupe e alguns professores de folclore egípcio que trabalham na Europa. 

Uma referência musical bem interessante é o disco “Bedouin Tribal Dance”, lançado por Hossan Ramzy em 2007 com participação do grupo Gypsies of the Nile. Várias canções usadas em festividades e casamentos beduínos no noroeste do Egito foram regravadas nesta obra e são bastante utilizadas pelas dançarinas de estilo tribal mundo à fora.



Fontes

http://hannaaisha.blogspot.com/2010/12/danca-hagalla.html

https://teachmideast.org/articles/hand-clapping-egypt/

http://www.shira.net/about/reda-interview07-hagalla.htm

http://www.faridafahmy.com/haggala.html

https://www.facebook.com/watch/?v=872982859542516

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Folclore em Foco


Nadja El Balady (Rio de Janeiro-RJ) é diretora do grupo Loko Kamel Tribal Dance e proprietária do Oriental Studio de Dança no Rio de Janeiro, dedicando-se há 21 anos a estudar danças orientais. Professora de Dança do Ventre, American Tribal Style® e Tribal Fusion, com experiência internacional na Europa em shows e workshops. Estuda o Estilo Tribal desde 2005 e é uma das pioneiras da Fusão Tribal Brasileira. . Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 



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