Quando criamos coreografias usando
personagens ou conceitos já existentes, temos certa liberdade de moldá-los e
encaixá-los melhor na nossa linguagem e interpretação.
Vou chamar isso de liberdade
artística, ok?
Devo frisar que estou usando o termo
liberdade artística para a dança, como o termo licença poética é usado para
linguagem (falada, escrita, cantada): no sentido de permitir modificações e
“erros” para inovar, desconstruir ou criticar, desde que o contexto permita
(lembrando que até mesmo para desconstruir ou subverter algo, é necessário
conhecê-lo, e conhecê-lo bem).
No entanto, mesmo cientes da
liberdade que a arte nos dá, é necessário termos responsabilidade com nossas
escolhas e como isso aparecerá em nossa dança.
Eu costumo dizer que o limite da
liberdade artística ao desenvolver um personagem é o bom senso.
Isso pode parecer genérico, e é. Pois
cada pessoa vai ter uma interpretação e estabelecer limites aos quais não
estará disposta a ultrapassar.
Por isso, como citei no texto
anterior, é necessário pesquisar bastante antes de criar uma coreografia
baseada em uma figura já existente, seja ela mitológica, histórica ou até mesmo
da cultura pop.
Existem características chaves, pelas
quais tais figuras são facilmente reconhecidas, características que formam sua
personalidade. E estas devem ser mantidas.
E há o espaço para criar, se
expressar, subverter e inovar.
Você pode dar uma roupagem moderna a
Anúbis, por exemplo. Usando figurinos e movimentos urbanos. Mas é importante
que ainda assim, ele seja reconhecível. Ele é um deus ligado à morte, à
mumificação e ao julgamento dos mortos. E isso deve ser mantido, seja nos
detalhes do figurino, nos movimentos e na expressão. Mas você não precisa usar uma cabeça
de chacal, ou trajes “egípcios”. Não precisa ser caricato ou estereotipado.
O deus Anúbis, na série Deuses Americanos. Uma interpretação
atual que manteve as principais características dele: a ligação do deus com a
morte, pois ele trabalha em uma funerária, e ainda é seu papel de pesar o
coração dos mortos e determinar seu destino.
É possível reinterpretar mitos e
criaturas, fazendo-os conversar com o presente, desde que eles não sejam
descaracterizados.
E como fazer isso sem deixar caricato?
Eu vou dar algumas dicas, baseadas em
experiências que tive na criação e desenvolvimento de personagens para as
coreografias do grupo do qual faço parte, o Asgard Tribal Co., dirigido pela
minha professora Aerith Asgard, e codirigido pela Rossana Mirabal e por mim. E
também vendo apresentações de outros grupos e bailarinas e bailarinos que
desenvolveram um trabalho primoroso.
Nós gostamos muito de trabalhar com
personagens, e para encaixá-los nas nossas propostas de coreografia,
pesquisamos a fundo, buscando as principais características que serviram ao
nosso propósito sem descaracterizá-los.
Vamos lá!
Depois de escolher a personagem e
fazer uma boa pesquisa sobre ele (eu vou bater MUITO nessa tecla da pesquisa):
primeira
coisa a se fazer é se perguntar: por que eu quero fazer essa figura? O que eu
quero dançar sobre ela?
escolha uma ou duas
características principais com as quais você gostaria de trabalhar na
dança. Pode até ser mais, mas quanto mais aspectos você tentar inserir,
mais chance tem de ficar bagunçado.
busque referências à essa
personagem em diversos lugares. Além dos livros de mitologia, você pode
pesquisar outras fontes históricas e arqueológicas, como imagens, canções
e poesias dedicadas à essa figura. Músicas que falam sobre ela, filmes,
produções literárias, quadrinhos e o que mais você encontrar.
use posturas, movimentos e
expressões que tenham a ver com a personalidade da figura a ser
trabalhada.
escolha símbolos, cores,
acessórios coerentes com as características que você quer evidenciar.
Mescle isso com os elementos dos quais você gosta e se identifica.
cuidado na escolha da música.
Independente do estilo, ela precisa conversar com a personagem que você
irá interpretar.
Não subestime seu público. Não
seja literal, isso deixará sua apresentação caricata. Use sua imaginação e
siga seus instintos.
Lembrando que essas são apenas dicas
e sugestões. De forma alguma quero criar um manual de regras.
Abaixo coloquei algumas coreografias
nas quais as interpretações de personagens
que considero muito bem executadas:
A maravilhosa Ebony interpretando a
queridíssima princesa Shuri, de Wakanda. Figurino no ponto, a música e os movimentos combinando ancestralidade e modernidade, trouxeram a personalidade carismática de Shuri e representaram Wakanda.
Irina Akulenko, com sua coreografia
“The Call of The Amazon Warrior”. O figurino simples foi muito bem composto, pois os tecidos, o corte e as cores evocam a ideia da guerreira amazona. Além disso a expressão corporal e facial, os movimentos e as posturas trazem todo o porte e a força da guerreira representada.
Edenia e sua interpretação matadora
de Pennywise, do clássico do terror, IT. O figurino e a maquiagem muito bem construídos, lembrando o personagem, mas sem se tornar uma caricatura. A mudança na atmosfera da música e dos movimentos trazem a quebra de expectativa comum às obras de horror. A bailarina também referenciou movimentos do personagem no filme sem abusar desse elemento.
E para finalizar, o grupo Shaman
Tribal Co. com sua icônica coreografia “Carcará”. A harmonia entre movimentos e música é incrível. Sabemos que se trata de um pássaro, e um pássaro brasileiro. O grupo usa movimentos que lembram o bater de asa, o andar e o movimento da cabeça do carcará aliados aos movimentos do Estilo Tribal Brasileiro. Tudo isso junto ao figurino e à maquiagem resultou em uma apresentação impactante e celebrada.
Vimos então personagens mitológicos,
da cultura pop e até mesmo animais, cujas características transbordam na dança,
na expressão e na escolha das músicas.
É nítido o trabalho de pesquisa e o
cuidado com as referências usadas pelas bailarinas.
A dança nos dá autonomia para
fazermos o que quisermos. Mas isso não significa que temos que fazer de
qualquer jeito.
Keila Fernandes (Curitiba-PR) é escritora, professora de história e historiadora, especialista na área de Religiões e Religiosidades e História Antiga e Medieval. É aluna da bailarina e professora Aerith Asgard e co-diretora do Asgard Tribal Co.Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>
Buenas, queridos leitores da Venenum... Hoje
compartilho com vocês um pouco sobre a história da BINAMORPH.
Binamorph, além de outras coisas, é um
projeto artístico que envolve três tipos de Dark Art: pintura (Yuri Seima),
fotografia (Dani Berwanger) e performance (Hölle Carogne). Entretanto, é
importante dizer que em quase três anos de projeto, tivemos diversos
“padrinhos”, digamos assim... Artistas que acabaram, também, contribuindo para
o fazer da obra como um todo. Dentre eles: Martha Buzin, Alessandro Roos,
Júnior Larethian e Carolina Disegna.
Fotografia: Martha Buzin
Bom, vamos lá. Primeiramente,
gostaria de dizer que não sou o tipo de pessoa que acha que a arte deve ser
explicada. Bem pelo contrário. Creio que a arte (desde o momento que nasce)
deixa de ser a concretização da ideia do artista. Ela pode até ser criada por
um objetivo, mas existe por si só, depois de finalizada. Ela transcende a ideia
e o artista. Ela ganha vida própria e se conecta com cada espectador de forma
diferente. Da forma necessária. Em contrapartida, eu gosto de escrever. Sou uma
contadora de histórias. Escrevo a minha vida no papel e no palco, com letra de
niño (como disse a Saba) e com a carne do corpo. Desta forma, me afirmo cheia
de contradições. Cada dia mais. Por isso, compartilho aqui a história desse
projeto e conto um pouco do processo de criação em relação à minha parte. Os
detalhes que envolvem a parte magicka ficarão em off, assim como os
significados mais pessoais. Assim estarei respeitando a identidade das obras e
cada um seguirá encontrando a sua própria interpretação e se conectando com o
que for preciso.
Fotografia: Carolina Disegna | Em ordem de aparição: Hölle Carogne, Dani Berwanger e Yuri Seima
Então...
Em meados de dezembro de 2016, o
artista curitibano Yuri Seima convidou-me para fazer parte de um projeto. A
ideia era que eu fizesse algumas fotos que ele usaria como ponto de partida
para as pinturas. Eu aceitei, com muito prazer. Mas confesso que não havia
muita empolgação ou excitação, porque eu estava bem cansada e envolvida com um
milhão de outros projetos. A inspiração não vinha, não vinha... Só
o cansaço, a rotina, a inadequação e uns pequenos detalhes líquidos da vida no
submundo...
Conversamos sobre isso e combinamos
que quando fosse a hora, isso se realizaria.
Ainda em dezembro aconteceu uma
situação interessante, que mais tarde se encaixaria na história. Vou contá-la
aqui para respeitar a ordem cronológica.
...Um dia eu entrei em uma loja,
quase instintivamente. Eu quase nunca entro em lojas, principalmente nessas de
departamento. Mas entrei. Caminhei dois metros e vi um vestido branco, meio
rendado, caríssimo. Pensei: "Nossa, ficaria lindo em uma performance!"
Dei as costas e saí da loja.
Passaram-se alguns meses e em março
ou abril de 2017 eu tive um sonho: Sonhei que tinha sido convidada para dançar
e pensava na música: "Eu vou dançar a Zutzig do Wim Mertens.” Eu ouvia a
música no sonho. Aí eu pensava: "Ficaria lindo usar aquele vestido que vi
uma vez." E, no sonho, eu ia até a loja e não achava o vestido. Ficava
meio perdida, desesperada e o sonho acabava.
Ao mesmo tempo, durante dias seguidos, eu pensava muito na Binamorph (obra do
Yuri que já existia e que eu me identifiquei bastante). Lembro que fiz uma
confusão com outra palavra que envolvia "moth" e fiquei pensando
muito no conceito das mariposas e o que elas carregam consigo e isso se
encaixava perfeitamente no momento atual da minha vida. Alguns dias depois,
recebi um convite do Espaço Cultural Crisálidas, para dançar no Sarau que ele
estava promovendo. (Sim! "Crisálidas!"). Na hora pensei na
coreografia do sonho.
Entrei em contato com o Yuri, perguntando o que era a Binamorph. Queria tentar
entender a confusão que eu estava fazendo na minha cabeça. Ele me explicou
algumas coisas sobre esta força e sim, chegamos a conclusão que, de alguma
forma, havia relação com a ideia das mariposas. Então, ele me autorizou a levar
esse "conceito" para o palco e damos início ao projeto que recebeu o
mesmo nome da “entidade” Binamorph.
Binamorph I ~ Arte de Yuri Seima
A minha ideia, para a performance,
era trabalhar o conceito da simbologia das mariposas, porém, com a força da
Binamorph (vamos pensar em um arquétipo) direcionando tudo. Não era a Diedri,
nem a Hölle. Através do meu corpo, Binamorph se manifestou e pude sentí-la,
viva, em mim. Mariposas são seres noturnos, que como as borboletas, passam pela
metamorfose. Simbolizam a morte, porém, a morte transformadora! A ideia da
morte como transmutação da lagarta para o ser alado. Elas são atraídas pela luz
(fototaxia), mas ao se aproximarem dela, morrem. A luz simboliza várias coisas,
dentre elas o amor ou o divino. Eu queria trabalhar tudo isso... Eu queria
gritar!
Decidi que passaria na tal loja, a
procura do tal vestido. Encontrei. Peça única, do meu tamanho, baratíssima.
Coincidência ou não, era a roupa da mariposa!
O tule que envolve a cabeça da Binamorph simboliza o casulo.
O pano que sai da boca simboliza as asas da mariposa. A luz do candelabro
simboliza o que a atrai. O pano preto que cobre seu corpo simboliza a morte.
Havia a luz. Havia a atração. Havia a
luta contra essa atração. Havia a morte!
Nada foi coreografado. Como na maioria das vezes, criei o conceito, alguns
detalhes de enredo, a simbologia e a forma que ela se apresentaria para as
pessoas, mas a movimentação foi instintiva e fluiu na hora.
Aqui você confere as primeiras aparições
da Binamorph, no espaço Crisálidas, no palco do Dark Cabaret e dentro de um
casulo, no teatro Renascença:
Vocês podem perceber que são cenas
muito diferentes, em tempo, edição de música, espaço. Entretanto todas vividas
com carne e sangue. E todas infinitamente potentes no quesito possessão.
Bom, voltemos ao projeto...
Eu convidei a Daniela Berwanger para
fazer as fotos. Tanto as do palco, quanto as que viriam depois.
Além das apresentações, fizemos dois
ensaios fotográficos, com o intuito de ter material para o Yuri poder
trabalhar.
Dani foi a pessoa que a Binamorph
escolheu. Não foi escolha minha. Eu confesso que pensei que seria difícil,
porque não nos conhecíamos tão bem no início do projeto. Entretanto, foi a
conexão mais interessante que já tive em termos de fotografia. Em alguns
momentos foi nítida a presença dela (Da Binamorph). Graças à Binamorph, eu
ganhei uma amiga e parceira para o resto da vida (me arrepio).
Basicamente, eu (inspirada pela
obra original do Yuri), performava. A Dani fotografava a performance (no palco
ou no formato ensaio fotográfico). E, finalmente, o Yuri pintava novas forças binamorphicas,
através do resultado corpóreo manifestado.
Inspirei-me na arte do Yuri.
E fusionando-a com alguns sentimentos que insistiam em me sufocar, trouxe a
Binamorph para a carne do corpo, e ela, de certa forma, ganhou vida entre nós,
humanos.
Coisa de louco, né?
Este é o primeiro resultado
da alquimia entre artistas:
Binamorph II Fotografia: Dani Berwanger | Pintura: Yuri Seima
A serpente, a forma como a
textura do corpo nada tem de humano, o vácuo ao qual ela pertence, o corpo se
esvaindo, como se fumaça ou líquido indo de encontro à algo, cada detalhe, cada
sensação ao olhar essa pintura me faz estremecer... É tudo tão real.
E seguiu-se a alquimia...
Binamorph III Fotografia:
Dani Berwanger | Pintura: Yuri Seima
Binamorph IV Fotografia:
Dani Berwanger | Pintura: Yuri Seima
Quando vi essa arte, tive
uma sensação tão peculiar... Não era boa. Não era ruim. Era real. Tudo que essa
obra expressa eu sinto na pele, nos nervos, nas articulações, nos tendões. Dá
vontade de rasgar a carne à unha, para libertar esta prisioneira. Eu sou
casulo, sou vácuo, sou raiz, sou galhos, sou mariposas e borboletas tanto
quanto sou lagarta. Sou o vento que existe entre cada asinha que bate. Sendo
vida, sou morte. Sendo morte, sou vida. Sou BINAMORPH!
Binamorph
V Pintura:
Yuri Seima
Binamorph
VI Fotografia:
Dani Berwanger | Pintura: Yuri Seima
Em 05/11/2017, Yuri
escreveu: “De longe é o projeto mais intenso em que eu já trabalhei até hoje. A
minha autocrítica sempre foi muito severa desde a infância, quando eu rasgava
meus desenhos por não atingir os resultados que eu esperava, mas do final do
ano passado pra cá tenho me entregado para esse processo da Binamorph,
literalmente de corpo e alma, onde tenho exercitado minha paciência,
disciplina, amor/vontade e pela primeira vez estou satisfeito com os resultados,
sentindo que estou no caminho certo e tocando coisas reais! Não tenho palavras
para descrever a maior parte do que nós artistas envolvidos estamos
vivenciando, pois o ponto principal do trabalho é espiritual e muito íntimo. Obrigado,
Hölle e Dani, tenho aprendido muito sobre a minha própria arte através de
vocês.”
Binamorph
VII Pintura:
Yuri Seima
Binamorph
VIII Pintura:
Yuri Seima
O final da primeira performance era
uma cena onde cubro meu corpo com um pano preto. Eu findo.
Fotografia: Dani Berwanger
E eu senti como se estivesse embaixo daquele pano.
Eu senti como se a minha existência não pertencesse à alguma superfície. Eu
estava à margem. Eu estava encaixotada. Afogada. Enterrada. Aninhada em alguma
raiz de árvore.
Eu estava embaixo daquele pano. E Binamorph rondava. Ela queria ensinar algo.
Foi quando eu senti inspiração para criar a segunda
performance: Binamorph ~ Morituri. O que havia embaixo do pano? Como enxergar
na escuridão? O que tem depois da morte?
Eu não sonhei com a performance em si, desta vez. Mas
lembro de ter sonhado que eu morria; um amigo tentava me ajudar, mas não era
possível, eu estava morrendo mesmo e eu ficava sussurrando repetidamente: "...Atravessou a fechadura com o
que pôde... Atravessou a fechadura com o que pôde... Atravessou a fechadura com
o que pôde..."Essa
era uma frase do Glaucus Noia, de um texto sobre uma mariposa, que de tanto eu
ter lido, deve ter ficado alojada na minha cabeça.
A questão é que esse sonho
aconteceu muito tempo antes da inspiração e só depois eu fiz a conexão, pois eu
estava habitando a Morte, vestida com chaves e fechaduras.
A magia é diáfana... (me
arrepio).
Eu sabia exatamente o que fazer para atravessar a
porta...
Foi no palco do Dark Cabaret que Binamorph
~ Morituri se manifestou:
Aqui você confere o vídeo:
E aqui a pintura do Yuri que, desta
vez, utilizou-se de um registro da Carolina Disegna (dona do local onde ocorreu
a performance):
Binamorph
IX
Fotografia:
Carolina Disegna | Pintura: Yuri Seima
Em 01/07/2019, Yuri
escreveu: “Binamorph IX - Nona e última pintura que completa o conjunto de
obras que vai para o evento, em Porto Alegre. Foi a obra que mais demorei e
tive trabalho para fazer. Durante o processo tirei uma carta de Tarot, para
entender a essência da obra, que para mim ainda não era nada claro... Saiu o 9
de copas (tarot de Thoth) que, coincidência ou não, a carta nove fez relação
com a pintura número nove, e para quem conhece o baralho também sabe que a
carta tem as mesmas cores que essa pintura (que não foram de minha escolha,
reproduzi as cores da foto de referência, registro da performance da Hölle Carogne).
Relacionando as obras com as Sephiroth da Kabbalah, essa representa Yesod
(lua), que mais uma vez, coincidentemente ou não, tem as cores correspondentes
da obra. O eclipse representa a lua de Yesod sendo iluminada pela beleza de
Typheret, as duas sephiroth alinhadas ao meio da árvore da vida. A exposição
das obras juntamente com a última performance e registros irão representar
Malkulth que é a manifestação física de todo o processo e quando o ciclo se
encerra. XIII, 93,93/93!”
Fotografia: Martha Buzin
É estranho, mas parece que ela nos
direcionou a criar tudo isso, exatamente da forma que foi criado.
O tempo passou e estávamos esquecidos
dela, quando ela, novamente, apareceu nos meus sonhos, contando o que eu
deveria fazer. Eu sabia tudo sobre como seria o figurino, qual a música que eu
deveria escolher. Ela pintou cada detalhe sobre uma terceira e última
performance: Binamorph ~ Magenta. Lembro que no sonho eu refletia: “Mas é
óbvio! Como posso ter trabalhado albedo e nigredo e não trabalhar rubedo?”
Hahahahaha. A magia é diáfana!
Fotografia: Martha Buzin
"Quando
já não havia outra tinta no mundo
o
poeta usou do seu próprio sangue.
Não
dispondo de papel, ele escreveu no próprio corpo.
Assim,
nasceu a voz, o rio em si mesmo ancorado.
Como
o sangue: sem voz nem nascente."
(Mia Couto)
Bom, lá estávamos nós, organizando uma exposição
para ela. Evento esse que seria também uma despedida. Estávamos todos muito
ansiosos e felizes por contemplar um grande desfecho para este projeto que
tanto nos nutriu e fortaleceu.
Na exposição, tivemos fotografias da Dani e
todas as 9 pinturas do Yuri ao acesso do público e eu... Bom, eu pude uma
última vez, encarnar esta, que ainda me acompanha e para quem direciono todas
as minhas preces.
Mais uma vez, ao buscar a luz, morri:
Mais uma vez, ao morrer, encontrei a luz que tanto procurava:
E, finalmente, comecei a entender o
que era iluminação:
Aqui você confere o vídeo completo
com todos os momentos da exposição, pelos olhos do Júnior Larethian:
Algumas curiosidades:
Uns dias depois da
expo, fomos, Yuri e eu, em um evento xamânico, e além de comemorarmos o
aniversário dele, nós queimamos as máscaras usadas nas performances. Foi triste
e belo.
Binamorph também
inspirou Yuri a compor músicas, juntamente com sua banda Hokmoth (olha a
mariposa aí, minha gente). A banda é formada por Tati Klingel (vocal), Yuri
Seima (guitarra), Mario Kmiecik (bateria) e Lucas Rafalski (baixo).
Aqui você confere a música “Binamorph
Part I ~ Albedo”:
E aqui a “Binamorph Part II ~ Eros
and Violence”:
Arte
do EP Neophytvs, por Yuri Seima
BINAMORPH pt-II - Eros and Violence
In fear
my guts, flesh.. feelings
devoure me as you spread these wings
pure.. naked.. worm.. immaculate
touch me.. teach me.. kill me!
angel! i know that your bless is
destruction
force me to die ... let me breathe!
who am i?!.. what am i?!.. as a storm
i see you, mother.. give me back!
illusions, restrictions, redemption..
Binamorph.. my transformation!
Fotografia: Martha Buzin
Bom, chegamos ao fim desta
história...
Binamorph ensinou. Mas sua mão é
pesada. Mão de mãe. Seus ensinamentos são dolorosos. Ela veio para devastar.
Varrer tudo... Carne, músculos, vísceras, sentimentos, água. Vai roer até os
ossos e então, algo novo surgirá.
Sua lição é como a de Saturno... Lição de maléficos, cuja artimanha está em
segurar o grande espelho da vida. Eu não sei exatamente o que é a Binamorph, ou
o que ela quer. Mas eu a sinto. Eu a vejo. Ela está em mim. Eu espero poder
ressurgir do fundo do mundo, me reerguer de debaixo do pano. Eu estou no
processo da larva, agora. E eu espero renascer, amanhã. Transformada.
Transmutada em vida, em movimento, em vôos e bater de asas. Eu espero voar
viva, eufórica. E se houver uma luz, morrer de novo. Transformar-me sempre.
Trocar de pele quantas vezes forem necessárias. Estar viva, para poder morrer. Estar
morta, para poder viver.
Escrevendo isso, lembrei da Cecília,
quando diz:
"Renova-te.
Renasce em ti mesmo.
Multiplica os teus olhos para verem mais.
Multiplica-se os teus braços para semeares tudo.
Destrói os olhos que tiverem visto. Cria outros,
para as visões novas.
Destrói os braços que tiverem semeado para se
esquecerem de colher.
Sê sempre o mesmo. Sempre outro. Mas sempre alto.
Sempre longe. E dentro de tudo."
Obrigada, Yuri! Obrigada, Dani!
Obrigada à todos que, direta ou indiretamente, fizeram
parte deste processo!
Parte inferior do forPor fim, obrigada
Binamorph, quem quer que você seja, por me mostrar uma face de mim mesma que
talvez não conhecesse: mais forte, mais corajosa, mais compreensiva com a vida
cíclica e um pouco mais apaixonada pela morte!
Hölle Carogne (Porto Alegre-RS) é a alma por detrás do humano, do rígido. É curiosa, entusiasta e selvagem. Uma admiradora da arte, da dança, da literatura e da música.O "esquisito" a seduz. Seus poemas e seus movimentos estão impregnados de ideologias, de crenças. Compassos pouco convencionais, cheios de misticismo, de oposição, de agressividade.Ocultismo, caos e luxúria sendo mesclados às suas criações e retratados de forma crua, orgânica, uterina.
Após
uma breve introdução a respeito da consciência corporal, agora eu lhes
pergunto, você realmente conhece o seu corpo? Conhece seus limites? Tem
respeitado os avisos que seu corpo tem lhe dado? O que tem feito por você
ultimamente?
Uma
pessoa muito querida e talentosa uma vez me questionou se o fato de sermos
bailarinos nos condenará o resto da vida a sentir dores. Essa pergunta me fez
pensar e questionar minha abordagem profissional como profissional de educação
física e massoterapeuta, por isso busquei estudar mais ainda para entender o
motivo de tanta dor.
Afinal,
o que é dor?
É
uma resposta que alerta para a ocorrência de alterações na integridade ou na
funcionalidade do organismo, permitindo que mecanismos de defesa ou de fuga
sejam acionados. Em 1986, a International Association for Study of Pain (IASP)
propôs a seguinte definição para dor: “É uma experiência sensorial e emocional
desagradável que associamos com lesão tecidual ou descrevemos em termos de tal
lesão”.
A
partir disso, assim como os profissionais do esporte, bailarinos (não me refiro
apenas à modalidade ballet clássico), seja profissional ou não, apresentam
dores e limiar de tolerância à dor elevados e é comum encontrarmos bailarinos
com diversas lesões decorrentes do esforço excessivo.
Vários
são os fatores que estão relacionados com o aparecimento e a frequência das
lesões na dança ou atividade física própria da dança. Porém, a fadiga muscular
provocada pelo excesso de atividade, em especial na época em que se aproximavam
os espetáculos, as competições, somadas às aulas aos ensaios e toda uma vida
que temos fora deste ambiente, visto que muitos não vivem disso, pode ser um
dos principais fatores desencadeantes e, muitas vezes, o que torna a lesão
ainda mais incapacitante do ponto de vista funcional.
As
dores possuem classificações:
Além disso
existe uma relação direta entre hormônios e a dor. O tão falado cortisol que em
grandes quantidades causa malefícios no nosso interior e exterior, pode
aumentar quando estamos em situações de estresse, seja emocional, seja físico
(excesso de treinos, exercício físico) e privação de sono, mas poucos sabem que
a dor crônica também está relacionada a disfunção na produção desse hormônio,
podendo até mesmo estar associado a problemas como diabetes, obesidade,
hipertensão e por ai vai...
Nós
mulheres temos o limiar aumentado para dor (afinal gerar uma vida não é tão
romântico assim como nos filmes néh rsrs) e quem pratica exercício físico,
vulgo nós da dança, também possuem essa característica. Embora possamos nos
orgulhar disso, precisamos ter cuidado, pois muitas vezes seguimos dançando,
competindo e exercitando com aquela “dorzinha” ou até mesmo com uma lesão que
julgamos ser “boba”.
Estou aqui
para desmistificar algo que acreditamos fazer parte de nós, A DOR.
- Não, nós
não precisamos viver em função das dores.
- Não, não
é normal sentir Dor 24h por dia.
- Dançar
não é ter o joelho, a coluna e o ombro “bichado”.
- Dor é
sinônimo de alerta, é preciso investigar!
- Dor nem
sempre é sinônimo de lesão, as vezes o que estão errado é mais profundo...
Por fim, deixarei aqui algumas dicas para vocês dançarem por
bem e por mais tempo e fiquem ligados nas proximas colunas, pois abordarei o
que poderemos fazer para melhorar nossa dança!
___________
1º) Conheça
o seu corpo!
Cada pessoa
possui um corpo diferente, nossa estrutura óssea pode mudar e, por isso, o
movimento que seu colega faz pode encaixar no seu corpo de outra maneira e tudo
bem ser diferente, essa é a riqueza da nossa dança.
2º) Aqueça
seu corpo
Nunca
comece um treino, aula, apresentação ou espetáculo com o corpo frio, seus
musculos e articulações precisam ser avisados sobre toda a carga que está por
vir. Dê uns pulinho, faça uns polichinelos, use a criatividade mas se aqueça de
2 a 3 minutos pelo menos.
3º) Fortalecimento
Músculos
fortes e bem cuidados evitam que ocorram compensações e principalmente lesões.
4º) Alongamento
Assim como
precisamos fortalecer, precisamos alongar para equilibrar, executar movimentos
completos reduzem a possibilidade de compensar.
5º) Descanso
As vezes
menos é mais. Um treino curto pode ser mais produtivo que um treino longo e
desgastante. Além disso, separe um tempo para um sono de qualidade, os
hormonios mais importante que temos são produzidos durante o sono profundo e
uma noite de sono é fundamental para a recuperação muscular.
6º) Nutrição
e hidratação
O auto
cuidado não é mesmo gente! Manter uma alimentação equilibrada, pode comer seu
hamburguer, seu açai, mas façam boas escolhas também e bebam água! Pelo menos 2
litros por dia, nosso corpo precisa de combustivel para viver bem e sem dores.
Corpo & Dança: Um olhar sob nosso Palácio Industrial
Jossani Fernandes (Belo Horizonte-MG) é professora e bailarina de danças orientais, profissional de educação física, atua na área como personal trainer e pesquisadora da área da flexibilidade, é apaixonada por anatomia e por tudo que diz respeito ao corpo humano e toda a sua complexidade.Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>
Você já ouviu falar de moodboard?
É nada mais que um painel de inspirações que vai te ajudar a criar
visualmente uma identidade para o seu projeto. Ele é composto por imagens,
vídeos e até mesmo textos que trazem a essência de forma prática, com elementos
visuais, a expectativa e sensações do projeto (sendo dançante ou não).
Sabemos que o processo
criativo é individual e único, que pode vir a surgir de diversos caminhos
psicológicos e o moodboard tem a proposta objetiva de alimentar sua
atmosfera criativa. Quantas vezes nos encontramos frustrados por não conseguir
expor e desenvolver algum projeto, o moodboard é uma grande ferramenta
para te auxiliar nesse momento inicial, pré-maturo.
Moodboard vai
facilitar a desenvolver um projeto de forma singular. Ele é composto por
cores, sensações, elementos gráficos que vão desenvolver um valor ainda maior
para o projeto com um conceito criativo palpável.
Como isso ajuda na dança?
Antes, é importante entender
que a criatividade é como um músculo. Sabemos que um dia indo a academia
não nos torna definidos, mas indo periodicamente com paciência, desenvolvera os
músculos certos. A criatividade é da mesma forma.
Sendo formada em Designer
Gráfico e trabalhando na área por em torno de dez anos, descobri que era
possível aplicar meus modelos mentais dentro da dança, me vi criando com muita
facilidade utilizando ferramentas criativas nos quais uso dentro da
minha profissão.
Moodboard se
tornou uma grande aliada para desenvolver sem perder o propósito do que será
apresentado, seguindo uma narrativa.
Para tornar ainda mais
prático, segue o passo a passo com um exemplo fictício:
1- Definição
Ao
estudar sobre e definir que a minha dança, por exemplo, será sobre o tema “Natureza”,
defino em palavras-chaves. Essas palavras serão fundamentais para criar a
essência para o projeto. Não há limite para as palavras, podem ser escritas
no papel, bloco de notas, onde for mais confortável.
Palavras-chaves:
força, integridade, vibração e energia.
2- Referências
Esse
é a parte mais divertida! É o momento de pesquisar na internet imagens,
vídeos e qualquer elemento visual que esteja interligado com as
palavras-chaves, assim você poderá desenvolver uma identidade de forma palpável,
visível, para deixar o projeto ainda mais bem claro e definido.
Exemplos:
Pinterest, Google, Instagram, Youtube, etc.
3- Montagem
A
montagem do painel é livre, segue algumas sugestões de como podem ser feitas:
- Photoshop
ou programas similares, a partir da união de todas as referências visuais
(imagens que foram selecionadas a partir da pesquisa);
- Imprimir
todas as imagens e juntá-las em uma cartolina, caderno, painel ou colá-las
na parede de sua casa, estúdio, etc.
-
Nas redes sociais em uma pasta no Pinterest, Facebook ou deixar as
imagens salvas dentro de algum álbum no seu celular ou computador.
Ao finalizar o moodboard
e visualizando o painel de inspirações como um todo, dentro do seu processo de
pesquisa e criação, será possível ter uma clareza maior do conceito e
analisar alinhando com a narrativa. É nesse momento que você poderá criar
uma identidade do que será necessário para dar o pontapé inicial ao projeto.
Espero que essa ferramenta
seja de grande ajuda. Até a próxima!
Sarah Raquel (Fortaleza-CE)iniciou os estudos em danças orientais com a dança do ventre em 2015 e logo se redescobriu na vertente dark fusion, para melhor se expressar dentro desse estilo buscou estudar tribal fusion e o dark fusion. Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>