[Dançando Narrativas] Qual é o limite da liberdade artística?

 por Keila Fernandes

Quando criamos coreografias usando personagens ou conceitos já existentes, temos certa liberdade de moldá-los e encaixá-los melhor na nossa linguagem e interpretação.

Vou chamar isso de liberdade artística, ok?

Devo frisar que estou usando o termo liberdade artística para a dança, como o termo licença poética é usado para linguagem (falada, escrita, cantada): no sentido de permitir modificações e “erros” para inovar, desconstruir ou criticar, desde que o contexto permita (lembrando que até mesmo para desconstruir ou subverter algo, é necessário conhecê-lo, e conhecê-lo bem).

No entanto, mesmo cientes da liberdade que a arte nos dá, é necessário termos responsabilidade com nossas escolhas e como isso aparecerá em nossa dança.

Eu costumo dizer que o limite da liberdade artística ao desenvolver um personagem é o bom senso.

Isso pode parecer genérico, e é. Pois cada pessoa vai ter uma interpretação e estabelecer limites aos quais não estará disposta a ultrapassar.

Por isso, como citei no texto anterior, é necessário pesquisar bastante antes de criar uma coreografia baseada em uma figura já existente, seja ela mitológica, histórica ou até mesmo da cultura pop.

Existem características chaves, pelas quais tais figuras são facilmente reconhecidas, características que formam sua personalidade. E estas devem ser mantidas.

E há o espaço para criar, se expressar, subverter e inovar.

Você pode dar uma roupagem moderna a Anúbis, por exemplo. Usando figurinos e movimentos urbanos. Mas é importante que ainda assim, ele seja reconhecível. Ele é um deus ligado à morte, à mumificação e ao julgamento dos mortos. E isso deve ser mantido, seja nos detalhes do figurino, nos movimentos e na expressão. Mas você não precisa usar uma cabeça de chacal, ou trajes “egípcios”. Não precisa ser caricato ou estereotipado.

 

O deus Anúbis, na série Deuses Americanos. Uma interpretação atual que manteve as principais características dele: a ligação do deus com a morte, pois ele trabalha em uma funerária, e ainda é seu papel de pesar o coração dos mortos e determinar seu destino.

 É possível reinterpretar mitos e criaturas, fazendo-os conversar com o presente, desde que eles não sejam descaracterizados.

E como fazer isso sem deixar caricato?

Eu vou dar algumas dicas, baseadas em experiências que tive na criação e desenvolvimento de personagens para as coreografias do grupo do qual faço parte, o Asgard Tribal Co., dirigido pela minha professora Aerith Asgard, e codirigido pela Rossana Mirabal e por mim. E também vendo apresentações de outros grupos e bailarinas e bailarinos que desenvolveram um trabalho primoroso.

Nós gostamos muito de trabalhar com personagens, e para encaixá-los nas nossas propostas de coreografia, pesquisamos a fundo, buscando as principais características que serviram ao nosso propósito sem descaracterizá-los.

Vamos lá!

Depois de escolher a personagem e fazer uma boa pesquisa sobre ele (eu vou bater MUITO nessa tecla da pesquisa):

  • primeira coisa a se fazer é se perguntar: por que eu quero fazer essa figura? O que eu quero dançar sobre ela?
  • escolha uma ou duas características principais com as quais você gostaria de trabalhar na dança. Pode até ser mais, mas quanto mais aspectos você tentar inserir, mais chance tem de ficar bagunçado.
  • busque referências à essa personagem em diversos lugares. Além dos livros de mitologia, você pode pesquisar outras fontes históricas e arqueológicas, como imagens, canções e poesias dedicadas à essa figura. Músicas que falam sobre ela, filmes, produções literárias, quadrinhos e o que mais você encontrar.
  • use posturas, movimentos e expressões que tenham a ver com a personalidade da figura a ser trabalhada.
  • escolha símbolos, cores, acessórios coerentes com as características que você quer evidenciar. Mescle isso com os elementos dos quais você gosta e se identifica.
  • cuidado na escolha da música. Independente do estilo, ela precisa conversar com a personagem que você irá interpretar.
  • Não subestime seu público. Não seja literal, isso deixará sua apresentação caricata. Use sua imaginação e siga seus instintos.

 

Lembrando que essas são apenas dicas e sugestões. De forma alguma quero criar um manual de regras.

Abaixo coloquei algumas coreografias nas quais as interpretações de personagens  que considero muito bem executadas:

A maravilhosa Ebony interpretando a queridíssima princesa Shuri, de Wakanda. Figurino no ponto, a música e os movimentos combinando ancestralidade e modernidade, trouxeram a personalidade carismática de Shuri e representaram Wakanda.

 

 

Irina Akulenko, com sua coreografia “The Call of The Amazon Warrior”. O figurino simples foi muito bem composto, pois os tecidos, o corte e as cores evocam a ideia da guerreira amazona. Além disso a expressão corporal e facial, os movimentos e as posturas trazem todo o porte e a força da guerreira representada.

Edenia e sua interpretação matadora de Pennywise, do clássico do terror, IT. O figurino e a maquiagem muito bem construídos, lembrando o personagem, mas sem se tornar uma caricatura. A mudança na atmosfera da música e dos movimentos trazem a quebra de expectativa comum às obras de horror. A bailarina também referenciou movimentos do personagem no filme sem abusar desse elemento. 

 

E para finalizar, o grupo Shaman Tribal Co. com sua icônica coreografia “Carcará”. A harmonia entre movimentos e música é incrível. Sabemos que se trata de um pássaro, e um pássaro brasileiro. O grupo usa movimentos que lembram o bater de asa, o andar e o movimento da cabeça do carcará aliados aos movimentos do Estilo Tribal Brasileiro. Tudo isso junto ao figurino e à maquiagem resultou em uma apresentação impactante e celebrada. 

Vimos então personagens mitológicos, da cultura pop e até mesmo animais, cujas características transbordam na dança, na expressão e na escolha das músicas.

É nítido o trabalho de pesquisa e o cuidado com as referências usadas pelas bailarinas.

A dança nos dá autonomia para fazermos o que quisermos. Mas isso não significa que temos que fazer de qualquer jeito.


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Dançando Narrativas


Keila Fernandes (Curitiba-PR) é escritora, professora de história e  historiadora, especialista na área de Religiões e Religiosidades e História Antiga e Medieval. É aluna da bailarina e professora Aerith Asgard e co-diretora do Asgard Tribal Co. Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 

[Venenum Saltationes] Binamorph

 por Hölle Carogne 

Fotografia: Dani Berwanger

93!

"Tejida mariposa, vestidura

colgada de los árboles,

ahogada en cielo, derivada

entre rachas y lluvias, sola, sola, compacta,

con ropa y cabellera hecha jirones

y centros corroídos por el aire." 

(Pablo Neruda)

Fotografia: Dani Berwanger

Buenas, queridos leitores da Venenum... 
Hoje compartilho com vocês um pouco sobre a história da BINAMORPH.

Binamorph, além de outras coisas, é um projeto artístico que envolve três tipos de Dark Art: pintura (Yuri Seima), fotografia (Dani Berwanger) e performance (Hölle Carogne). Entretanto, é importante dizer que em quase três anos de projeto, tivemos diversos “padrinhos”, digamos assim... Artistas que acabaram, também, contribuindo para o fazer da obra como um todo. Dentre eles: Martha Buzin, Alessandro Roos, Júnior Larethian e Carolina Disegna. 


Fotografia: Martha Buzin

Bom, vamos lá. Primeiramente, gostaria de dizer que não sou o tipo de pessoa que acha que a arte deve ser explicada. Bem pelo contrário. Creio que a arte (desde o momento que nasce) deixa de ser a concretização da ideia do artista. Ela pode até ser criada por um objetivo, mas existe por si só, depois de finalizada. Ela transcende a ideia e o artista. Ela ganha vida própria e se conecta com cada espectador de forma diferente. Da forma necessária. Em contrapartida, eu gosto de escrever. Sou uma contadora de histórias. Escrevo a minha vida no papel e no palco, com letra de niño (como disse a Saba) e com a carne do corpo. Desta forma, me afirmo cheia de contradições. Cada dia mais. Por isso, compartilho aqui a história desse projeto e conto um pouco do processo de criação em relação à minha parte. Os detalhes que envolvem a parte magicka ficarão em off, assim como os significados mais pessoais. Assim estarei respeitando a identidade das obras e cada um seguirá encontrando a sua própria interpretação e se conectando com o que for preciso.
 

 

Fotografia: Carolina Disegna | Em ordem de aparição: Hölle Carogne, Dani Berwanger e Yuri Seima

Então...

Em meados de dezembro de 2016, o artista curitibano Yuri Seima convidou-me para fazer parte de um projeto. A ideia era que eu fizesse algumas fotos que ele usaria como ponto de partida para as pinturas. Eu aceitei, com muito prazer. Mas confesso que não havia muita empolgação ou excitação, porque eu estava bem cansada e envolvida com um milhão de outros projetos. A inspiração não vinha, não vinha... Só o cansaço, a rotina, a inadequação e uns pequenos detalhes líquidos da vida no submundo...

Conversamos sobre isso e combinamos que quando fosse a hora, isso se realizaria. 

Ainda em dezembro aconteceu uma situação interessante, que mais tarde se encaixaria na história. Vou contá-la aqui para respeitar a ordem cronológica. 

...Um dia eu entrei em uma loja, quase instintivamente. Eu quase nunca entro em lojas, principalmente nessas de departamento. Mas entrei. Caminhei dois metros e vi um vestido branco, meio rendado, caríssimo. Pensei: "Nossa, ficaria lindo em uma performance!" Dei as costas e saí da loja. 

Passaram-se alguns meses e em março ou abril de 2017 eu tive um sonho: Sonhei que tinha sido convidada para dançar e pensava na música: "Eu vou dançar a Zutzig do Wim Mertens.” Eu ouvia a música no sonho. Aí eu pensava: "Ficaria lindo usar aquele vestido que vi uma vez." E, no sonho, eu ia até a loja e não achava o vestido. Ficava meio perdida, desesperada e o sonho acabava.

Ao mesmo tempo, durante dias seguidos, eu pensava muito na Binamorph (obra do Yuri que já existia e que eu me identifiquei bastante). Lembro que fiz uma confusão com outra palavra que envolvia "moth" e fiquei pensando muito no conceito das mariposas e o que elas carregam consigo e isso se encaixava perfeitamente no momento atual da minha vida. Alguns dias depois, recebi um convite do Espaço Cultural Crisálidas, para dançar no Sarau que ele estava promovendo. (Sim! "Crisálidas!"). Na hora pensei na coreografia do sonho.

Entrei em contato com o Yuri, perguntando o que era a Binamorph. Queria tentar entender a confusão que eu estava fazendo na minha cabeça. Ele me explicou algumas coisas sobre esta força e sim, chegamos a conclusão que, de alguma forma, havia relação com a ideia das mariposas. Então, ele me autorizou a levar esse "conceito" para o palco e damos início ao projeto que recebeu o mesmo nome da “entidade” Binamorph.

  

Binamorph I ~ Arte de Yuri Seima 

A minha ideia, para a performance, era trabalhar o conceito da simbologia das mariposas, porém, com a força da Binamorph (vamos pensar em um arquétipo) direcionando tudo. Não era a Diedri, nem a Hölle. Através do meu corpo, Binamorph se manifestou e pude sentí-la, viva, em mim. Mariposas são seres noturnos, que como as borboletas, passam pela metamorfose. Simbolizam a morte, porém, a morte transformadora! A ideia da morte como transmutação da lagarta para o ser alado. Elas são atraídas pela luz (fototaxia), mas ao se aproximarem dela, morrem. A luz simboliza várias coisas, dentre elas o amor ou o divino. Eu queria trabalhar tudo isso... Eu queria gritar! 

Decidi que passaria na tal loja, a procura do tal vestido. Encontrei. Peça única, do meu tamanho, baratíssima. Coincidência ou não, era a roupa da mariposa!


O tule que envolve a cabeça da Binamorph simboliza o casulo.


O pano que sai da boca simboliza as asas da mariposa. A luz do candelabro simboliza o que a atrai. O pano preto que cobre seu corpo simboliza a morte.
 

Havia a luz. Havia a atração. Havia a luta contra essa atração. Havia a morte! 

Nada foi coreografado. Como na maioria das vezes, criei o conceito, alguns detalhes de enredo, a simbologia e a forma que ela se apresentaria para as pessoas, mas a movimentação foi instintiva e fluiu na hora. 

Aqui você confere as primeiras aparições da Binamorph, no espaço Crisálidas, no palco do Dark Cabaret e dentro de um casulo, no teatro Renascença:

 

  

Vocês podem perceber que são cenas muito diferentes, em tempo, edição de música, espaço. Entretanto todas vividas com carne e sangue. E todas infinitamente potentes no quesito possessão. 

Bom, voltemos ao projeto...

Eu convidei a Daniela Berwanger para fazer as fotos. Tanto as do palco, quanto as que viriam depois.

Além das apresentações, fizemos dois ensaios fotográficos, com o intuito de ter material para o Yuri poder trabalhar. 

Dani foi a pessoa que a Binamorph escolheu. Não foi escolha minha. Eu confesso que pensei que seria difícil, porque não nos conhecíamos tão bem no início do projeto. Entretanto, foi a conexão mais interessante que já tive em termos de fotografia. Em alguns momentos foi nítida a presença dela (Da Binamorph). Graças à Binamorph, eu ganhei uma amiga e parceira para o resto da vida (me arrepio). 

Basicamente, eu (inspirada pela obra original do Yuri), performava. A Dani fotografava a performance (no palco ou no formato ensaio fotográfico). E, finalmente, o Yuri pintava novas forças binamorphicas, através do resultado corpóreo manifestado.

Inspirei-me na arte do Yuri. E fusionando-a com alguns sentimentos que insistiam em me sufocar, trouxe a Binamorph para a carne do corpo, e ela, de certa forma, ganhou vida entre nós, humanos.

Coisa de louco, né?

Este é o primeiro resultado da alquimia entre artistas:

 

 Binamorph II
Fotografia: Dani Berwanger | Pintura: Yuri Seima

A serpente, a forma como a textura do corpo nada tem de humano, o vácuo ao qual ela pertence, o corpo se esvaindo, como se fumaça ou líquido indo de encontro à algo, cada detalhe, cada sensação ao olhar essa pintura me faz estremecer... É tudo tão real.

E seguiu-se a alquimia... 


Binamorph III
Fotografia: Dani Berwanger | Pintura: Yuri Seima

 


Binamorph IV
Fotografia: Dani Berwanger | Pintura: Yuri Seima

Quando vi essa arte, tive uma sensação tão peculiar... Não era boa. Não era ruim. Era real. Tudo que essa obra expressa eu sinto na pele, nos nervos, nas articulações, nos tendões. Dá vontade de rasgar a carne à unha, para libertar esta prisioneira. Eu sou casulo, sou vácuo, sou raiz, sou galhos, sou mariposas e borboletas tanto quanto sou lagarta. Sou o vento que existe entre cada asinha que bate. Sendo vida, sou morte. Sendo morte, sou vida. Sou BINAMORPH!

Binamorph V
Pintura: Yuri Seima

 

Binamorph VI
Fotografia: Dani Berwanger | Pintura: Yuri Seima

Em 05/11/2017, Yuri escreveu: “De longe é o projeto mais intenso em que eu já trabalhei até hoje. A minha autocrítica sempre foi muito severa desde a infância, quando eu rasgava meus desenhos por não atingir os resultados que eu esperava, mas do final do ano passado pra cá tenho me entregado para esse processo da Binamorph, literalmente de corpo e alma, onde tenho exercitado minha paciência, disciplina, amor/vontade e pela primeira vez estou satisfeito com os resultados, sentindo que estou no caminho certo e tocando coisas reais! Não tenho palavras para descrever a maior parte do que nós artistas envolvidos estamos vivenciando, pois o ponto principal do trabalho é espiritual e muito íntimo. Obrigado, Hölle e Dani, tenho aprendido muito sobre a minha própria arte através de vocês.” 


Binamorph VII
Pintura: Yuri Seima

 


Binamorph VIII
Pintura: Yuri Seima

 

O final da primeira performance era uma cena onde cubro meu corpo com um pano preto. Eu findo.

 

Fotografia: Dani Berwanger
 

E eu senti como se estivesse embaixo daquele pano. Eu senti como se a minha existência não pertencesse à alguma superfície. Eu estava à margem. Eu estava encaixotada. Afogada. Enterrada. Aninhada em alguma raiz de árvore.

Eu estava embaixo daquele pano. E Binamorph rondava. Ela queria ensinar algo.

Foi quando eu senti inspiração para criar a segunda performance: Binamorph ~ Morituri. O que havia embaixo do pano? Como enxergar na escuridão? O que tem depois da morte?

Eu não sonhei com a performance em si, desta vez. Mas lembro de ter sonhado que eu morria; um amigo tentava me ajudar, mas não era possível, eu estava morrendo mesmo e eu ficava sussurrando repetidamente: "...Atravessou a fechadura com o que pôde... Atravessou a fechadura com o que pôde... Atravessou a fechadura com o que pôde..."  Essa era uma frase do Glaucus Noia, de um texto sobre uma mariposa, que de tanto eu ter lido, deve ter ficado alojada na minha cabeça.

A questão é que esse sonho aconteceu muito tempo antes da inspiração e só depois eu fiz a conexão, pois eu estava habitando a Morte, vestida com chaves e fechaduras.

A magia é diáfana... (me arrepio).

Eu sabia exatamente o que fazer para atravessar a porta...

Foi no palco do Dark Cabaret que Binamorph ~ Morituri se manifestou:

Aqui você confere o vídeo:

E aqui a pintura do Yuri que, desta vez, utilizou-se de um registro da Carolina Disegna (dona do local onde ocorreu a performance): 

Binamorph IX
Fotografia: Carolina Disegna | Pintura: Yuri Seima

 

Em 01/07/2019, Yuri escreveu: “Binamorph IX - Nona e última pintura que completa o conjunto de obras que vai para o evento, em Porto Alegre. Foi a obra que mais demorei e tive trabalho para fazer. Durante o processo tirei uma carta de Tarot, para entender a essência da obra, que para mim ainda não era nada claro... Saiu o 9 de copas (tarot de Thoth) que, coincidência ou não, a carta nove fez relação com a pintura número nove, e para quem conhece o baralho também sabe que a carta tem as mesmas cores que essa pintura (que não foram de minha escolha, reproduzi as cores da foto de referência, registro da performance da Hölle Carogne). Relacionando as obras com as Sephiroth da Kabbalah, essa representa Yesod (lua), que mais uma vez, coincidentemente ou não, tem as cores correspondentes da obra. O eclipse representa a lua de Yesod sendo iluminada pela beleza de Typheret, as duas sephiroth alinhadas ao meio da árvore da vida. A exposição das obras juntamente com a última performance e registros irão representar Malkulth que é a manifestação física de todo o processo e quando o ciclo se encerra. XIII, 93,93/93!”

Fotografia: Martha Buzin

É estranho, mas parece que ela nos direcionou a criar tudo isso, exatamente da forma que foi criado.

 O tempo passou e estávamos esquecidos dela, quando ela, novamente, apareceu nos meus sonhos, contando o que eu deveria fazer. Eu sabia tudo sobre como seria o figurino, qual a música que eu deveria escolher. Ela pintou cada detalhe sobre uma terceira e última performance: Binamorph ~ Magenta. Lembro que no sonho eu refletia: “Mas é óbvio! Como posso ter trabalhado albedo e nigredo e não trabalhar rubedo?” Hahahahaha. A magia é diáfana!

 

Fotografia: Martha Buzin
 

"Quando já não havia outra tinta no mundo

o poeta usou do seu próprio sangue.

Não dispondo de papel, ele escreveu no próprio corpo.

Assim, nasceu a voz, o rio em si mesmo ancorado.

Como o sangue: sem voz nem nascente." 

(Mia Couto)


Bom, lá estávamos nós, organizando uma exposição para ela. Evento esse que seria também uma despedida. Estávamos todos muito ansiosos e felizes por contemplar um grande desfecho para este projeto que tanto nos nutriu e fortaleceu.

Na exposição, tivemos fotografias da Dani e todas as 9 pinturas do Yuri ao acesso do público e eu... Bom, eu pude uma última vez, encarnar esta, que ainda me acompanha e para quem direciono todas as minhas preces. 


Mais uma vez, ao buscar a luz, morri:


Mais uma vez, ao morrer, encontrei a luz que tanto procurava:


E, finalmente, comecei a entender o que era iluminação:


Aqui você confere o vídeo completo com todos os momentos da exposição, pelos olhos do Júnior Larethian:

 

 

Algumas curiosidades: 

  1. Uns dias depois da expo, fomos, Yuri e eu, em um evento xamânico, e além de comemorarmos o aniversário dele, nós queimamos as máscaras usadas nas performances. Foi triste e belo.

  2. Binamorph também inspirou Yuri a compor músicas, juntamente com sua banda Hokmoth (olha a mariposa aí, minha gente). A banda é formada por Tati Klingel (vocal), Yuri Seima (guitarra), Mario Kmiecik (bateria) e Lucas Rafalski (baixo).

 

Aqui você confere a música “Binamorph Part I ~ Albedo”

 

E aqui a “Binamorph Part II ~ Eros and Violence”

Arte do EP Neophytvs, por Yuri Seima

 

 

BINAMORPH pt-II - Eros and Violence

 In fear

my guts, flesh.. feelings

devoure me as you spread these wings

 

pure.. naked.. worm.. immaculate

touch me.. teach me.. kill me!

 

angel! i know that your bless is destruction

force me to die ... let me breathe!

 

who am i?!.. what am i?!.. as a storm

i see you, mother.. give me back!

illusions, restrictions, redemption..

Binamorph.. my transformation!

 

Fotografia: Martha Buzin


Bom, chegamos ao fim desta história...

Binamorph ensinou. Mas sua mão é pesada. Mão de mãe. Seus ensinamentos são dolorosos. Ela veio para devastar. Varrer tudo... Carne, músculos, vísceras, sentimentos, água. Vai roer até os ossos e então, algo novo surgirá.

Sua lição é como a de Saturno... Lição de maléficos, cuja artimanha está em segurar o grande espelho da vida. Eu não sei exatamente o que é a Binamorph, ou o que ela quer. Mas eu a sinto. Eu a vejo. Ela está em mim. Eu espero poder ressurgir do fundo do mundo, me reerguer de debaixo do pano. Eu estou no processo da larva, agora. E eu espero renascer, amanhã. Transformada. Transmutada em vida, em movimento, em vôos e bater de asas. Eu espero voar viva, eufórica. E se houver uma luz, morrer de novo. Transformar-me sempre. Trocar de pele quantas vezes forem necessárias. Estar viva, para poder morrer. Estar morta, para poder viver.

 Escrevendo isso, lembrei da Cecília, quando diz:

"Renova-te.

Renasce em ti mesmo.

Multiplica os teus olhos para verem mais.

Multiplica-se os teus braços para semeares tudo.

Destrói os olhos que tiverem visto. Cria outros, para as visões novas.

Destrói os braços que tiverem semeado para se esquecerem de colher.

Sê sempre o mesmo. Sempre outro. Mas sempre alto. Sempre longe. E dentro de tudo."

 

Obrigada, Yuri! Obrigada, Dani!

Obrigada à todos que, direta ou indiretamente, fizeram parte deste processo!

Parte inferior do forPor fim, obrigada Binamorph, quem quer que você seja, por me mostrar uma face de mim mesma que talvez não conhecesse: mais forte, mais corajosa, mais compreensiva com a vida cíclica e um pouco mais apaixonada pela morte! 

Obrigada a todos que leram até aqui!

Até a próxima!

93,93/93

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Venenum Saltationes

Hölle Carogne (Porto Alegre-RS) é  a alma por detrás do humano, do rígido. É curiosa, entusiasta e selvagem. Uma admiradora da arte, da dança, da literatura e da música.O "esquisito" a seduz. Seus poemas e seus movimentos estão impregnados de ideologias, de crenças. Compassos pouco convencionais, cheios de misticismo, de oposição, de agressividade.Ocultismo, caos e luxúria sendo mesclados às suas criações e retratados de forma crua, orgânica, uterina.

[Corpo & Dança] Eu respeito o meu corpo dançante?

 por Jossani Fernandes

Após uma breve introdução a respeito da consciência corporal, agora eu lhes pergunto, você realmente conhece o seu corpo? Conhece seus limites? Tem respeitado os avisos que seu corpo tem lhe dado? O que tem feito por você ultimamente?

Uma pessoa muito querida e talentosa uma vez me questionou se o fato de sermos bailarinos nos condenará o resto da vida a sentir dores. Essa pergunta me fez pensar e questionar minha abordagem profissional como profissional de educação física e massoterapeuta, por isso busquei estudar mais ainda para entender o motivo de tanta dor.

 

Afinal, o que é dor?

 

É uma resposta que alerta para a ocorrência de alterações na integridade ou na funcionalidade do organismo, permitindo que mecanismos de defesa ou de fuga sejam acionados. Em 1986, a International Association for Study of Pain (IASP) propôs a seguinte definição para dor: “É uma experiência sensorial e emocional desagradável que associamos com lesão tecidual ou descrevemos em termos de tal lesão”.

 

A partir disso, assim como os profissionais do esporte, bailarinos (não me refiro apenas à modalidade ballet clássico), seja profissional ou não, apresentam dores e limiar de tolerância à dor elevados e é comum encontrarmos bailarinos com diversas lesões decorrentes do esforço excessivo.


Vários são os fatores que estão relacionados com o aparecimento e a frequência das lesões na dança ou atividade física própria da dança. Porém, a fadiga muscular provocada pelo excesso de atividade, em especial na época em que se aproximavam os espetáculos, as competições, somadas às aulas aos ensaios e toda uma vida que temos fora deste ambiente, visto que muitos não vivem disso, pode ser um dos principais fatores desencadeantes e, muitas vezes, o que torna a lesão ainda mais incapacitante do ponto de vista funcional.





As dores possuem classificações:

Além disso existe uma relação direta entre hormônios e a dor. O tão falado cortisol que em grandes quantidades causa malefícios no nosso interior e exterior, pode aumentar quando estamos em situações de estresse, seja emocional, seja físico (excesso de treinos, exercício físico) e privação de sono, mas poucos sabem que a dor crônica também está relacionada a disfunção na produção desse hormônio, podendo até mesmo estar associado a problemas como diabetes, obesidade, hipertensão e por ai vai...

Nós mulheres temos o limiar aumentado para dor (afinal gerar uma vida não é tão romântico assim como nos filmes néh rsrs) e quem pratica exercício físico, vulgo nós da dança, também possuem essa característica. Embora possamos nos orgulhar disso, precisamos ter cuidado, pois muitas vezes seguimos dançando, competindo e exercitando com aquela “dorzinha” ou até mesmo com uma lesão que julgamos ser “boba”.

Estou aqui para desmistificar algo que acreditamos fazer parte de nós, A DOR.

- Não, nós não precisamos viver em função das dores.

- Não, não é normal sentir Dor 24h por dia.

- Dançar não é ter o joelho, a coluna e o ombro “bichado”.

- Dor é sinônimo de alerta, é preciso investigar!

- Dor nem sempre é sinônimo de lesão, as vezes o que estão errado é mais profundo...

 

Por fim, deixarei aqui algumas dicas para vocês dançarem por bem e por mais tempo e fiquem ligados nas proximas colunas, pois abordarei o que poderemos fazer para melhorar nossa dança!


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1º) Conheça o seu corpo!

Cada pessoa possui um corpo diferente, nossa estrutura óssea pode mudar e, por isso, o movimento que seu colega faz pode encaixar no seu corpo de outra maneira e tudo bem ser diferente, essa é a riqueza da nossa dança.

2º) Aqueça seu corpo

Nunca comece um treino, aula, apresentação ou espetáculo com o corpo frio, seus musculos e articulações precisam ser avisados sobre toda a carga que está por vir. Dê uns pulinho, faça uns polichinelos, use a criatividade mas se aqueça de 2 a 3 minutos pelo menos.

3º) Fortalecimento

Músculos fortes e bem cuidados evitam que ocorram compensações e principalmente lesões.

4º) Alongamento

Assim como precisamos fortalecer, precisamos alongar para equilibrar, executar movimentos completos reduzem a possibilidade de compensar.

5º) Descanso

As vezes menos é mais. Um treino curto pode ser mais produtivo que um treino longo e desgastante. Além disso, separe um tempo para um sono de qualidade, os hormonios mais importante que temos são produzidos durante o sono profundo e uma noite de sono é fundamental para a recuperação muscular.

6º) Nutrição e hidratação

O auto cuidado não é mesmo gente! Manter uma alimentação equilibrada, pode comer seu hamburguer, seu açai, mas façam boas escolhas também e bebam água! Pelo menos 2 litros por dia, nosso corpo precisa de combustivel para viver bem e sem dores.



Até breve... 

Atenciosamente,

Jossani Fernandes


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Corpo & Dança: Um olhar sob nosso Palácio Industrial

Jossani Fernandes (Belo Horizonte-MG) é professora e bailarina de danças orientais, profissional de educação física, atua na área como personal trainer e pesquisadora da área da flexibilidade, é apaixonada por anatomia e por tudo que diz respeito ao corpo humano e toda a sua complexidade.  Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 

[Organizando a Tribo] Ferramentas Criativas | Painel de Inspirações

 por Sarah Raquel

Você já ouviu falar de moodboard? É nada mais que um painel de inspirações que vai te ajudar a criar visualmente uma identidade para o seu projeto. Ele é composto por imagens, vídeos e até mesmo textos que trazem a essência de forma prática, com elementos visuais, a expectativa e sensações do projeto (sendo dançante ou não).

Sabemos que o processo criativo é individual e único, que pode vir a surgir de diversos caminhos psicológicos e o moodboard tem a proposta objetiva de alimentar sua atmosfera criativa. Quantas vezes nos encontramos frustrados por não conseguir expor e desenvolver algum projeto, o moodboard é uma grande ferramenta para te auxiliar nesse momento inicial, pré-maturo.

Moodboard vai facilitar a desenvolver um projeto de forma singular. Ele é composto por cores, sensações, elementos gráficos que vão desenvolver um valor ainda maior para o projeto com um conceito criativo palpável.

Como isso ajuda na dança?

Antes, é importante entender que a criatividade é como um músculo. Sabemos que um dia indo a academia não nos torna definidos, mas indo periodicamente com paciência, desenvolvera os músculos certos. A criatividade é da mesma forma.

Sendo formada em Designer Gráfico e trabalhando na área por em torno de dez anos, descobri que era possível aplicar meus modelos mentais dentro da dança, me vi criando com muita facilidade utilizando ferramentas criativas nos quais uso dentro da minha profissão.

Moodboard se tornou uma grande aliada para desenvolver sem perder o propósito do que será apresentado, seguindo uma narrativa.

Para tornar ainda mais prático, segue o passo a passo com um exemplo fictício:


1- Definição

Ao estudar sobre e definir que a minha dança, por exemplo, será sobre o tema “Natureza”, defino em palavras-chaves. Essas palavras serão fundamentais para criar a essência para o projeto. Não há limite para as palavras, podem ser escritas no papel, bloco de notas, onde for mais confortável.

Palavras-chaves: força, integridade, vibração e energia.

2- Referências

Esse é a parte mais divertida! É o momento de pesquisar na internet imagens, vídeos e qualquer elemento visual que esteja interligado com as palavras-chaves, assim você poderá desenvolver uma identidade de forma palpável, visível, para deixar o projeto ainda mais bem claro e definido.

Exemplos: Pinterest, Google, Instagram, Youtube, etc.



3- Montagem

A montagem do painel é livre, segue algumas sugestões de como podem ser feitas:

- Photoshop ou programas similares, a partir da união de todas as referências visuais (imagens que foram selecionadas a partir da pesquisa);

- Imprimir todas as imagens e juntá-las em uma cartolina, caderno, painel ou colá-las na parede de sua casa, estúdio, etc.

- Nas redes sociais em uma pasta no Pinterest, Facebook ou deixar as imagens salvas dentro de algum álbum no seu celular ou computador.


 

Ao finalizar o moodboard e visualizando o painel de inspirações como um todo, dentro do seu processo de pesquisa e criação, será possível ter uma clareza maior do conceito e analisar alinhando com a narrativa. É nesse momento que você poderá criar uma identidade do que será necessário para dar o pontapé inicial ao projeto.

Espero que essa ferramenta seja de grande ajuda. Até a próxima!

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Organizando a Tribo
(Participação especial)

Sarah Raquel (Fortaleza-CE) iniciou os estudos em danças orientais com a dança do ventre em 2015 e logo se redescobriu na vertente dark fusion, para melhor se expressar dentro desse estilo buscou estudar tribal fusion e o dark fusion. Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 

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