[Venenum Saltationes] Desvendando: "Isa"

por Hölle Carogne | Participação de Anath Nagendra

Gente, olha que surpresa maravilhosa: estou reabrindo a Série Desvendando, para compartilhar com vocês o trabalho lindo realizado pela bailarina gaúcha Anath Nagendra.

O trabalho dela fala sobre a runa Isa! Vem ler esta matéria incrível e saber o que a inspirou!

*Lembrem-se, qualquer trabalho de dança com conceito místico ou ocultista pode ser enviado para a coluna. Será um prazer divulgar a sua magia transformada em dança! 


ISA: uma encruzilhada em linha reta
Por Anath Nagendra

Sabe crise dos 30? Aquela época da vida em que certas fichas caem e parece que tudo está se desfazendo ao seu redor, vivida principalmente por mulheres? Então, sou cética quanto à essa crença popular em tempos atuais, principalmente por estar enraizada na cultura patriarcal (p.ex. a crise por não ter arranjado marido/filhos).

Mas devo admitir que uso a expressão, de brincadeira, pra ilustrar o melê atual da minha vida. Ainda mais porque a minha “crise dos 30” começou na margem de erro, por volta dos 28 (ou antes, até). Problemas financeiros e emocionais, estresse com o trabalho, preocupações com a família, com a saúde, o choque de realidade de entrar na vida adulta depois de anos dentro de uma bolha intelectual resumida à universidade, a depressão com o estado atual do mundo, autoestima no chão, etc.

Assim, às portas de completar 29 anos, criei “ISA”. E o que diabos isso tem a ver com o que falei acima? Simples, essa performance foi um ritual pessoal “multicamadas”, cuja intenção era quebrar essa onda da “crise dos 30”. Os resultados foram tão “WOW” que senti que essa apresentação merecia uma matéria só pra ela. Obviamente que a “crise dos 30” não sumiu magicamente após a dança, provavelmente precisarei de um tempo e de outros trabalhos internos pra dar continuidade a essa saga, mas certamente este foi o pontapé inicial desse concerto.

E como ocultistas no meio da dança não são exatamente numerosos, acho interessante dividir um pouco destas experiências e percepções, ainda mais por ser um mundo tão particular e subjetivo.


Sendo introvertida (INTJ, especificamente) e com ascendente em escorpião, costumo ser um livro fechado a sete chaves, que revelo somente pra pessoas extremamente íntimas. Mas isso não me impede de abrir certas brechas para o mundo, e aqui isso se faz necessário pra contextualizar os acontecimentos pré, durante e pós-performance. Uma destas coisas é que minha espiritualidade é, literal-metaforicamente, uma salada de frutas. Algo tipo o Tribal Fusion, ou seja, uma manifestação coerente e única que surge da fusão de diferentes elementos.

ISA, para mim e neste contexto da minha vida, canalizou a energia de si mesma, representou a despedida do meu cabelo gigante, deu um boost na minha autoconfiança e autoestima, me ajudou a calar a boca do superego, e foi o resultado de um pedido à um Exu!

Mas tia Anath, quem ou o quê é uma isa?

“Isa” é uma das 24 runas escandinavas, comumente usadas como um oráculo (como o tarot, por exemplo, ainda que diferente). Chamada também de “Is” ou “Isaz”, significa gelo (também correlata do inglês ice), é representada como um único traço vertical, e seu arquétipo é relacionado a questões como: inércia, estabilidade, eixo, cerne, estagnação, equilíbrio, resistência, controle, etc. 


E, como frequentemente acontece com muitos arquétipos – sejam runas, arcanos do tarot, deuses de algum panteão ou os signos do horóscopo –, seus aspectos negativos são enfatizados e o símbolo torna-se estereotipado. Quando comecei a estudar runas, anos atrás, via Isa sempre como um problema ou algo que eu não conseguia decifrar direito, análogo às intepretações, também estereotipadas, do arcano XII, “O Enforcado”, e o hexagrama 33 do I Ching, “Retirada”.

Foi no desenvolvimento da performance que eu fui mergulhando em suas camadas e percebendo sua complexidade e suas facetas positivas. Se Isa surge em uma leitura de runas, é praticamente impossível de se compreender o significado sem considerar bem o contexto da pergunta e ter uma boa intuição. Ela pode indicar que a situação da pergunta está estagnada (ou seja, rígida demais), mas também pode indicar instabilidade (ou seja, frouxa demais), de modo que a estabilidade deve ser buscada. Ela pode ser um bom agouro, indicando que as ações levarão ao centramento e equilíbrio, como também mostrar que tais ações podem levar à inércia. 

Não há motivos para “carimbar” a runa com apenas um significado, ou uma faceta. É impossível discernir isso apenas olhando pra ela. Isa é um arquétipo complexo em si mesmo, uma energia misteriosa presente em absolutamente tudo. Não é à toa que não há como ignorá-la quando construímos, por exemplo, um símbolo que é uma combinação de runas, ou mesmo quando utilizamos uma única runa, pois, sendo todas traços retos, Isa está sempre embutida no desenho, e portanto se faz presente em todas as situações.

A primeira camada de significado presente na minha dança foi: Isa como estabilidade. Estes foram os elementos que busquei canalizar ao construir sua performance, buscando trazer pra minha vida – interna e externa – ao menos um pouco de seu cerne. Para isso, utilizei a música “Isa”, da banda norueguesa Wardruna – que, aliás, criou três álbuns totalmente focados nas runas –, desenvolvi um figurino simples em tons de branco e prata claro, maquiagem artística branca e prata, e procurei evitar sair do lugar durante a dança. Afinal, uma runa toda voltada ao eixo e rigidez não clama por muito deslocamento, certo?


A performance, ainda que tenha sido improvisada, tem uma estrutura “narrativa”: inicio parada, enrijecida, trêmula de frio, como se despertando lentamente de uma longa inércia. Ao me erguer, os movimentos, ainda “quebrados”, com acentos e tickings, representam a quebra do gelo do corpo. Conforme a dança avança, vou me tornando mais fluída, permanecendo no eixo. As “unhas” que uso representam o gelo também, como estalactites, que vou me desfazendo (acreditem, esse simbolismo eu percebi apenas depois, assistindo ao vídeo). Mais para o final, me movimento de maneira circular, lenta e calmamente, mantendo o eixo, representando a fluidez centrada e estável como faceta positiva da energia de Isa.

Curiosamente, o vídeo está com um micro delay no áudio, o que conferiu um ar meio “creepy”, em especial no início. :p 

A segunda camada foi perceber o simbolismo referente ao equilíbrio fornecido pela runa. Tempos antes da apresentação, quando eu ainda estava cogitando dançar essa runa, estava escutando a música original (tive de editá-la para diminuir a duração), e devaneando minha performance mentalmente. Costumo fazer isso sempre, pois isso me ajuda a verificar se o que a música me transmite é passível de ser feita (considerando meu atual repertório e capacidades), a bolar o figurino, narrativa, etc. Pois desta vez, percebi que o devaneio se desenrolou de forma que a apresentação de Isa seria uma “despedida” do meu cabelo.

Contexto: como podem ver nas fotos, tenho um cabelo mega comprido. Sei que eu sempre quis ter um cabelão, mas não consigo mais me lembrar do motivo, apenas que eu adorava – e ainda adoro – quando as pessoas se chocam com o tamanho dele. Mas sempre tive muita dificuldade em fazê-lo crescer, pois passei a vida tingindo com tintas de farmácia, sem cuidar ou ir a salão, o que me impedia de deixa-lo muito grande pois as pontas ficavam horrendas. Quando troquei a química por henna, ele ficou muito mais saudável e pude atingir o comprimento atual sem ele estar detonado – ainda que precise de um tantin de tratamento. Mas, mesmo assim, meu cabelo é deveras fino, quebra e enoza fácil, fora que tenho pouquíssima quantidade de cabelo.



Quando eu finalmente atingi esse comprimento diferentão que eu sempre quis, comecei também a perceber que eu não estava exatamente feliz por isso. Praticamente nunca o uso solto – quente demais no verão, fica se enroscando em tudo, etc. –, e mesmo quando solto, não tem muito movimento ou expressividade. Mesmo na dança (do Ventre, ao menos) não conseguia utilizá-lo em movimentos, pois é leve demais. E como não costumo ir a salões pra deixa-lo ajeitado e nem fazer isso eu mesma, acaba que a aparência natural parece um tanto desleixada. Além disso, há algum tempo tenho sentido muita vontade de brincar com volume nas madeixas, mas nesse atual estado, é praticamente impossível avolumar qualquer coisa.

Foi aí que percebi que teimar em continuar com o cabelão não era o que eu queria, mas ainda assim, eu senti resistência em considerar um corte dramático. E essa resistência era um sinal de apego, mas um apego perigoso: aquele que, na realidade, é o medo da mudança. Aquele apego às expressões de espanto das pessoas, mas que não me agregam nada. Aquele apego que também tem raízes na cultura patriarcal, que diz que mulher tem que ter cabelão. Aquele apego a uma identidade que tentei construir por anos, mas que agora vejo que não sou eu. Não necessariamente.

Meu cabelo se tornou um excesso, um dos muitos que geram meu desequilíbrio interno.
Tem muito mais coisa por trás disso, mas não irei me alongar demais. Basta dizer que outro fator importante nesse contexto, e consequentemente para a performance da Isa, é que estou há algum tempo trabalhando internamente para destruir bloqueios e amarras que impedem a minha expressividade. Um deles é de libertar parte da minha Sombra (viés junguiano) que é o meu Sol em Leão, das “garras” do Superego (viés freudiano), e uma das ferramentas que estou usando para isso é uma ritualização do corte do cabelo.

Aí você vai pensar, “ah, então é por isso aquela enrolação de cabelo no vídeo, legal!”, e eu vou te responder, “sim e não”, e aí você vai ficar “WTF”. Explico: como disse acima, tive o devaneio em que a performance seria essa despedida, em que eu interagia com as madeixas. BÃT, eu acreditei que isso seria uma camada simbólica da dança, e não literal. Quando ensaiava a estrutura da dança, ignorei totalmente esse aspecto, o cabelo seria apenas um elemento estético. Ledo engano :p 



Logo que começou a apresentação, o cabelo enrolou forte numa das minhas mãos, já fazendo com que uma das unhas caísse. Isso não estava nos planos. Mas, ao invés de sentir aquela adrenalina e pensar “fudeufudeufudeufudeu”, eu percebi na hora que a performance QUERIA que eu interagisse com o cabelo e representasse o simbolismo da despedida. Assim, imbuí o acontecimento na dança e segui o baile. Ou seja, sim, estava nos planos, e não, não estava nos planos. Hehehe

E isto puxa a terceira camada, que aqui não relaciono a um simbolismo específico, mas à manifestação da runa: a tranquilidade. Tranquilidade como a consequência do centramento, do equilíbrio. Porém, isso não veio depois da performance, mas sim antes. Não sei exatamente quanto tempo antes, mas percebi, conforme se aproximava o dia do evento, que eu não estava nem um pouco preocupada com nada. Construí a performance com calma, testei figurino sem nenhum estresse, e nem um pingo de ansiedade surgiu antes ou durante, e mesmo depois tive apenas a ansiedade de ver como ficaram as fotos e vídeo, com uma expectativa bem animada.

Talvez você ache isso normal, mas, ao menos no meu caso, foi a primeira vez que isso aconteceu. Mesmo com quase sete anos de dança, continuo sentindo aquelas borboletinhas no mínimo logo antes de entrar no palco, mas desta vez, nem isso! E só depois da performance que fui perceber que isso provavelmente já era a Isa se manifestando em mim, me trazendo estabilidade mental e emocional que me permitiu cria-la sem nenhuma dor de cabeça, e que certamente influenciou a minha reação tranquila ao “causo” do cabelo enroscado. 


Finalmente, a quarta camada: a performance como resultado de um pedido a um Exu! <o>
Explico: há algum tempinho tenho tido contato com alguns elementos da Umbanda, pela primeira vez. Esse contato surgiu espontaneamente, e culminou na minha descoberta de que o meu Exu era especificamente o Zé Pelintra. Estudando sobre ele e tendo contato através de Imaginação Ativa, combinamos que ele iria me dar um auxílio na guerra contra o superego. E, algum tempo antes da performance de Isa, eu estava em um dia particularmente down e pedi a ele que me ajudasse com um pequeno boost na minha autoestima, em troca de uma vela. Ok, deixei isso de lado, quando eu percebesse que o favor foi concretizado, acenderia a vela.

Poucos dias após a apresentação, recebi as fotos e o vídeo. O que aconteceu foi algo que eu não estava esperando: pela primeira vez na vida, eu estava me admirando, tanto nas fotos quanto no vídeo. Pela primeira vez na vida, eu não dei bola para a barriga gordinha, tamanho o encantamento com o resto. Pela primeira vez na vida, me encantei comigo mesma da mesma forma que admiro minhas bailarinas favoritas.

Talvez você pense que isso é narcisismo, talvez você pense que é porque sou leonina, talvez você pense que isso é algo normal. Não para mim. Por mais que eu gostasse de uma performance/fotos minhas, sempre havia aquela vozinha crítica, aquela que aponta o que não tá legal, o que não tá bem feito, as gordurinhas, etc. Resgatar o meu amor-próprio e autoestima é um dos meus principais focos atuais, tamanha repressão que fiz da minha própria vaidade e autoconfiança.

E foi nessa hora, quando percebi como eu estava me admirando, que me toquei: o pedido que tinha feito ao Seu Zé foi cumprido. Com essa performance eu consegui realizar algo que outrora eu não acreditaria que pudesse fazer, que era calar a boca do crítico interno. Com essa performance, eu consegui, de maneira inédita e sincera, não dar bola para o meu sobrepeso. 

Obviamente, o resultado disso é um pequeno boost na minha autoconfiança.

Laroyê, Zé Pelintra!

Espero que esse textão tenha sido interessante, e que possam ter uma pequena noção do que a dança pode nos proporcionar como ferramenta de experimentações esotéricas. Logo abaixo deixo o vídeo, para quem quiser ver como tudo isso aí se manifestou.


A performance ocorreu na Mostra de Danças de Inverno do Centro Municipal de Dança de Porto Alegre, no dia 25 de julho de 2018. Registro em vídeo por Luhã Valença, e fotos por Fernando Espinoza. 



[Resenhando SP] Tribal no teatro


por Irene Rachel Patelli


Adorando ver o tribal se tornar cada dia mais conhecido, não só como dança mas como técnica de criação no teatro.


Esses dias estava em cartaz no SP Escola de Teatro – Sede Roosevelt (na capital de São Paulo) a peça ‘’Cabeças Trocadas’’ do grupo Caixa de Fuxico. Com a direção de Rosana Pimenta e as atrizes Andrea Cavinato e Estela Carvalho que, além de atuar, cantavam e tocavam instrumentos ao longo da apresentação. Para quem gosta de cultura indiana foi um prato cheio onde os personagens foram muito bem interpretados, inclusive a deusa Kali.





Não vou contar sobre a peça em si para que role uma curiosidade e, entrando em cartaz novamente, vocês possam assistir sem spoiler. O meu ponto nesse texto é sobre a atriz Andrea que fez aulas de dança indiana, tribal fusion e ATS (American Tribal Style) para compor e enriquecer os personagens interpretados por ela nessa peça. Então, assistir essa peça foi mais interessante ainda para quem conhece ver as nossas influências numa criação.


Para quem quiser saber mais sobre a peça é só procurar no facebook ‘’Cabeças Trocadas’’ ou também pela página do grupo Caixa de Fuxico.




É uma peça que espero que volte e que faça apresentações em outros estados para que a galera do tribal possa curtir, assim como a outra peça que também assisti e gostei muito, a "Àtma" que aconteceu em duas temporadas, uma delas no Teatro Satyros 1 na praça Franklin Roosevelt, também em São Paulo, capital. Com concepção e direção de Ciro Barcelos no elenco Daniel Falcão, Diógenes Gonçalves, Gustavo Galliziano, Jhonatan Hoz, Ju Messias, Patrícia Barbosa e Renata Toledo; músicos Vítor Deamo, Vítor Toledo, Rafa Diniz e Toi.





Esse espetáculo foi muito bom e, nele, além de todo o contexto ter muito a ver com o tribal, uma das atrizes e também dançarina Ju Messias mostrou um pouquinho de nossa tão amada dança, o tribal fusion. A foto a baixo mostra o momento em que se apresenta. Mais algumas fotos para verem o quanto tinha de tribal nessa peça e o quanto foi linda.


Para saber mais sobre essa peça, procure no facebook por Àtma – Um espetáculo de Ciro Barcelos.


As duas peças foram fantásticas e saí das duas com muitos questionamentos. Amo peças assim, que me acrescentam e me fazem desenvolver como artista e como pessoa.

Esperamos mais temporadas dessas peças que super recomendo para toda a galera do meio tribalístico.

E não posso me esquecer de contar que a primeira peça teve seus figurinos criados pela Juliana Bertonine, integrante do grupo Sisterhood ATS e a segunda peça as saias foram confeccionadas pelo ateliê Khalidah da professora de ATS Lilian Kawatoko

Quer mais tribal no teatro que isso?

No facebook vocês encontrarão muitas outras fotos fantásticas das duas peças e também informações super interessantes, não deixem de dar uma olhadinha.


 





[Folclore em Foco] Leitura Musical para ATS® - Parte 1

por Nadja El Balady– FatChance BellyDance Sister Studio


O que significa leitura musical para ATS®?
Significa que existe algo a mais na preocupação das dançarinas de ATS® além de coordenar movimentos, posicionamento no espaço e o toque dos snujs. Significa que sua escolha de passos e combinações, suas transições de liderança estão inspiradas pela música e em harmonia com seus arranjos e transições.

Vamos entender alguns componentes principais das composições musicais e tentar, de forma simples, encaixar com nosso entendimento da técnica de ATS® para aproveitar estes elementos da melhor forma possível.

Vale lembrar que todo o método do ATS® já foi pensado para você tirar o melhor proveito da sua leitura musical. O próprio método em si tem várias indicações de como entender e dançar determinados padrões musicais, mas leitura musical é onde reside a arte, ela é pessoal, revela como você percebe a música que está tocando e como reage a ela, revela como está a sua escuta e a sua capacidade de lidar com o todo que é improvisar em grupo dançando e tocando ao mesmo tempo.

Primeiro, vamos analisar dois elementos estruturais da música para nos dar embasamento: Ritmo e melodia.

Na minha percepção, compreender o ritmo de base de uma música é a primeira coisa que devemos fazer para entender a música dentro do conceito musical para ATS® que nos diz que são 3 linhas de leitura que podemos seguir: Músicas “rápidas”, “lentas” e “lentos dramáticos”.

A leitura rítmica dentro do ATS® não acontece de forma literal, não é nossa responsabilidade representar os taks e dums dos ritmos, como faz a Dança do ventre tradicional, mas é nossa tarefa entender a métrica que o ritmo deixa para a flutuação melódica e encaixar a nossa movimentação nesta métrica rítmica. É esta métrica que nos interessa, que vai fazer com que dança e música se tornem uma só coisa.

Os ritmos usados para dançar músicas consideradas rápidas no ATS®, em geral, serão ritmos cujos compassos serão contados em 2 ou 4 tempos. Existem algumas exceções para ritmos contados em 6 tempos. Mas o que é compasso? Compasso é a célula rítmica. A maneira como este ritmo é estruturado em sua forma e em quantidade de notas.



Como as músicas utilizadas para dançar ATS® em geral são orientais, vamos trabalhar com exemplos dentro dos ritmos árabes. Vamos ver dois exemplos de compasso de ritmos contados em 2 e em 4: Malfuf (ou Laff) e Maqsoum, no caso Malfuf com 2 tempos e Maqsoum com 4 tempos. Nas figuras abaixo, podemos ver o ritmo escrito na pauta, que são as cinco linhas usadas para escrever a música. Temos a imagem da clave de sol e em seguida uma fração. O numerador da fração representa quantos tempos tem o ritmo e o denominador é um indicativo do valor das notas, mas este valor, para entendermos a estrutura rítmica, agora não é importante. O mais importante para nós, no momento, é compreender o numerador da fração. O Malfuf é um ritmo cuja “célula” acontece e se repete de 2 em 2 tempos. Maqsoum é um ritmo cuja “célula” acontece e se repete de 4 em 4 tempos. A maioria dos ritmos populares, tanto orientais quanto ocidentais acontecem em 4 tempos, na fração 4/4.





MÚSICAS “RÁPIDAS”
Ok! Se os ritmos das músicas “rápidas” são contados em 2 ou 4 tempos em geral, por que contamos as músicas de 8 em 8 tempos?

Por causa da chamada “frase musical”. A frase musical é a maneira como o compositor se utiliza da métrica rítmica para compor a melodia. Uma ideia melódica usa 8 tempos para encontrar seu sentido e pode ir se complementando, repetindo ou encontrar resposta nos próximos 8 tempos e assim sucessivamente.  Escute estas músicas e conte de 1 a 8 desde sua primeira nota e perceba como a melodia flui de 8 em 8 tempos.

Significa que se o ritmo base tiver 2 tempos, a frase musical usa 4 compassos para acontecer, se o ritmo de base tiver 4 tempos, a frase usa 2 compassos.

2 tempos – Frase musical em 4 compassos:



4 tempos – Frase musical em 2 compassos:




NÃO CONTE APENAS OS PASSOS, CONTE A MÚSICA!


Sabemos que no ATS®, para que a estrutura de improvisação funcione, precisamos contar os passos e combos dos movimentos rápidos sem cessar, se não arriscamos deixar alguma coisa incompleta e a movimentação pode acabar não fazendo sentido para quem está sendo liderado. Será interessante que além de contar os passos que faz, a dançarina use a contagem para integrar os movimentos na própria música.

Tendo identificado o ritmo de base, a dançarina deve observar a maneira como a melodia se comporta: Como a música começa, onde entra a melodia principal e como ela pode fazer para distinguir um momento do outro.

Por exemplo: Na música “Kako Kolan” gravada pelo grupo Helm, temos uma entrada percussiva, uma melodia tocada com acordeom e a voz que entra em seguida. A entrada percussiva leva 8 tempos. O acordeom desenvolve sua primeira ideia em 16 tempos e depois a repete em mais 16 tempos, ou na linguagem de dança “4 oitos”. Em seguida a voz vai entrar igualmente usando “4 oitos” para desenvolver a primeira ideia, mais “4 oitos” para desenrolar uma continuidade e então “4 oitos” para fazer acontecer o refrão.

Tendo em vista uma estrutura como esta, tente fazer casar as ideias de movimentos com as ideias da música, por exemplo: Se temos 8 tempos iniciais apenas com a percussão, evite começar uma combinação longa neste momento, use movimentações simples e curtas como Shimmie, Bumps ou Arabic. Quando o acordeom entrar, tente pensar em movimentações que tenham 16 tempos, como Chico 4 Corners, ou mesmo uma sequência de Egyptians. Você pode escolher 2 sequencias de movimentos em 16 tempos ou se escolher fazer o Sunanda, por exemplo, ele sozinho poderá ocupar toda o momento inicial dos 4 oitos de acordeom. E assim sucessivamente.

A qualquer momento, evite iniciar um movimento mais longo no 5º tempo (ou qualquer outro tempo que não seja o 1º) de uma frase musical. Mesmo que dentro da métrica rítmica, sua sequência de movimentos vai acabar desencontrando da construção melódica e dos arranjos da música. Procure casar o tempo 1 dos movimentos com o tempo 1 das transições musicais. Assim você vai garantir que sua dança sempre vai estar em harmonia com a música.






[Venenum Saltationes] A Dança & O Tarot - A Sacerdotisa

por Hölle Carogne


Tarot de Marselha


93!

É chegada a hora de seguirmos com o nosso estudo! Eu estou adorando e vocês?

Nesta edição falaremos sobre o Arcano II: A Sacerdotisa, também conhecida como “A Papisa”, “A Alta Sacerdotisa” e “A Suma Sacerdotisa”!

A tradução exata do nome que o Tarô de Marselha dá a este arcano (La Papesse) é A Papisa. Outras versões, como A Sacerdotisa ou A Alta Sacerdotisa, vêm do nome que lhe é atribuído modernamente em inglês (The High Priestess).

Esta carta simboliza a sabedoria, o conhecimento, o mistério, a intuição, o crescimento, a gestação, a nutrição da alma e do corpo, a Gnose, a Casa de Deus e do homem, o santuário, a lei, a Cabala, a igreja oculta, a reflexão. De acordo com os baralhos clássicos, fala daquilo que é escondido e maquiado, de assuntos secretos que não podem vir à tona para que a situação permaneça a mesma, ou que precisem vir à tona para que a situação possa evoluir.

Seu reino é binário, uma etapa na distinção da polaridade do universo. Se o binário equivale a conflito, no sentido de rompimento da unidade, de abandono do caos essencial onde não existem as magnitudes nem os nomes, é também a primeira etapa dolorosa e imprescindível das vias iniciáticas, o começo da busca da identidade.

Esta carta se refere à letra Guimel, que significa camelo.

A referência da carta é à Lua. A Lua (sendo o símbolo feminino geral, o símbolo da segunda ordem correspondendo ao Sol, como o Yoni corresponde ao Lingam) é universal e vai do mais alto ao mais baixo.

A carta representa a forma mais espiritual de Ísis, a Virgem Eterna, a Ártemis dos gregos. Ela está trajada tão-somente do véu brilhante de luz. É importante para a alta iniciação considerar a Luz não como a perfeita manifestação do Espírito Eterno, mas, preferivelmente, como o Véu que oculta este espírito. Ela assim o faz sumamente efetiva devido ao seu brilho incomparavelmente deslumbrante. Assim ela é luz e o corpo de luz. Ela é a verdade atrás do véu de luz. Ela é a alma de luz. Sobre os joelhos dela está o arco de Ártemis, que é também um instrumento musical, pois ela é caçadora e caça por encantamento.

Agora que se considere esta idéia como a partir de detrás do Véu de Luz, o terceiro Véu do Nada original. Esta luz é o menstruo da manifestação, a deusa Nuit, a possibilidade da Forma. Esta manifestação primeira e maximamente espiritual do feminino toma para si um correlativo masculino ao formular em si mesma qualquer ponto geométrico a partir do qual se contempla a possibilidade. Esta deusa virginal é então potencialmente a deusa da fertilidade. Esta é a idéia por trás de toda forma; logo que a influência da tríade desce abaixo do Abismo ocorre a conclusão da idéia concreta.

É importante refletir que esta carta é inteiramente feminina, inteiramente virginal, pois representa a influência e o meio de manifestação (ou, de baixo, de obtenção) em si mesma. Representa possibilidade em seu segundo estágio sem qualquer começo de consumação.

 
Tarot de Rider Waite

Representação:
É representada, geralmente, pela imagem de uma mulher na casa dos 40 anos, vestida com trajes papais ou cerimoniais.

Em suas primeiras versões, como na de Visconti-Sforza, aparece como uma mulher de aparência atormentada e grávida.

Nos baralhos clássicos como o Marseille Convos, Marseille Marteau e Marseille Grimaud, a mulher olha para fora da carta, como que surpreendida por algo desagradável.

Ainda no baralho de Marselha, a sacerdotisa, sentada, segura um livro aberto sobre o colo e usa uma coroa tripla na cabeça. Olha para a esquerda (com a expressão surpresa e aflita comentada anteriormente) e veste uma túnica vermelha sobre a qual se desdobra um manto azul (em algumas versões as cores são opostas).

No Tarô de Rider-Waite, ela segura, na mão direita, o símbolo da sabedoria, um pergaminho. Na mão esquerda, tem espigas de trigo, símbolo do alimento que distribui generosamente. A lua sobre a sua cabeça remete para a intuição, um dom que lhe pertence. Tem um gato a seus pés, antigo símbolo da magia. Ela lembra uma mãe, mas também o poder fertilizante da mulher. Tudo o que ela planta, dá frutos.

Símbolos:
  • Caminho da Árvore da Vida - de Kether à Tiphareth.
  • Letra Hebraica - Gimel – Camelo.
  • Valor – 3.
  • Tattwa – Água.
  • Nome Místico - Sacerdotisa da Estrela de Prata.
  • Planeta – Lua.
  • Cor Azul - Paz Suprema, também pode ser uma referência a Binah.
  • Cor Branca - Pureza e virgindade.
  • Sete véus - Intuição (Os sete Planetas e as sete verdades).
  • Os seios expostos - Sensitividade e sentimento profundo.
  • Arco e Flecha - Ártemis a Caçadora, também representa os órgãos femininos.
  • Os Dois Pilares - Severidade e a Misericórdia.
  • A Lua sob os pés - Lilith, Qliphoth de Malkuth, é todo elemento que perturba e são os desejos não manifestos.
  • Flores e Frutas - O Domínio sobre os elementos.
  • Os Quatro Cristais - Claridade e pureza da mente, coração, mente, corpo e espírito.
  • Camelo - Sabedoria. Pode representar o elemento essencial para que se possa alcançar a Plenitude. Para atravessar o Grande "Deserto de Daath precisamos de uma Camelo", símbolo da paciência e resistência que temos que ter na travessia.
  • A lua na cabeça junto com o Chifre - Representação da Deusa Ísis (NUIT), Senhora dos Mistérios.


Tarot de Austin Osman Spare

Estrutura Mística:

  • Posição normal: estudo, sabedoria, intuição, fé, mulher, amor platônico, discrição, autocontrole.
  • Posição invertida: passividade, preguiça, ignorância, egoísmo, introversão, mentalidade totalmente fechada, preconceito, histeria.
  • Sentido geral: paciência, sensibilidade, compreensão, mediunidade, disposição para ajudar (carta de proteção).
  • Sentido espiritual: sabedoria materna, consciência lunar.
  • Símbolo: a faixa amarela significa a aceitação do destino.
  • Arquétipo: a virgem.
  • Objetivo: tornar-se uma unidade.


Interpretações usuais na cartomancia:

Reserva, discrição, silêncio, meditação, fé, confiança atenta. Paciência, sentimento religioso, resignação. Favorável às coisas ocultas.

  • Mental: Grande riqueza de ideias. Responde a problemas concretos melhor do que a questões vagas.
  • Emocional: É amistosa, recebe bem. Mas não é afetuosa.
  • Físico: Situação garantida, poder sobre os acontecimentos, revelação de coisas ocultas, segurança de triunfo sobre o mal. Boa saúde, mas com um ritmo físico lento.
  • Desafios e sombra: Dissimulação, hipocrisia, intenções secretas. Mesquinharia, inação, preguiça. Beatice. Rancor, disposição hostil ou indiferença. Misticismo absorvente, fanático. Peso, passividade, carga. As intuições que traz invertem seu sentido e se tornam falsas. Atraso, lentidão nas realizações.


Tarot de Thoth

 
Curiosidade:
Esta carta está intimamente ligada à lenda medieval sobre a existência da Papisa Joana, que foi “papa” de Roma por 2 anos entre 852 e 855, sendo deposto após ser descoberto se tratar de uma mulher disfarçada.

A tradição popular diz que uma mulher ocupou a cadeira de São Pedro sob o nome de João VIII.

Uma das versões da lenda conta que a papisa teria ficado grávida de um dos seus familiares e, como não se recolheu na época devida, o parto teria se dado em plena rua, durante uma procissão entre a igreja de São Clemente e o palácio de Latrão.

Com a dramática descoberta do embuste, o enfurecido séquito papal teria assassinado Joana e seu filho. Segundo tradições romanas, no lugar do homicídio, permaneceu durante séculos um túmulo ornado por seis letras “P”, que poderiam ser lidas de diferentes maneiras (jogando com a inicial comum de Papa, Pedro, pai e parto).


Trabalhos relacionados à dança:


1) High Priestess por Anandha Ray.


Tarot de Anandha Ray 

 
O Tribal Secrets Tarot Deck é um projeto de fotografia realizado por Anandha Ray, onde cada card mostra um líder da comunidade do Tribal Fusion Bellydance (incluindo Temple Tribal Fusion e Dark Tribal Fusion). Segundo minhas pesquisas, o baralho não está completo.

Na carta “A Sacerdotisa”, quem posa para Anandha é Suhaila Salimpour, a filha de Jamila.

Considerações:
Consigo ver apenas uma grande referência à idéia original da carta: os olhos que rodeiam a imagem da mulher. Na minha opinião, esse símbolo pode fazer alusão aos significados de sabedoria, conhecimento, intuição e o que precisa ser visto, mesmo estando maquiado/escondido.
A nudez dos seios remete à leitura de Crowley.
E o headpiece faz lembrar (meio que forçadamente) à idéia abobadada da coroa que a Papisa usa no baralho de Marselha.


2) The High Priestess por Rachel Brice:


Tarot de Rachel Brice 

Considerações:A Sacerdotisa de Rachel Brice, no Datura Tarot, traz várias simbologias da ideia original: o vestido branco, podendo fazer referência à descrição de Crowley (véu brilhante de luz) e à virgindade; a Lua; as flores; o livro que traz no colo (exatamente como a carta do baralho de Marselha).
Uma pena que as imagens do Datura Tarot sejam tão pequenas e com pouca qualidade.



 Desta vez, nenhum vídeo de dança (com referências significativas) foi encontrado.

Lembrem-se: Se souberem de algum trabalho envolvendo os Arcanos enviem para mim!

Até a próxima!

93,93/93

Bibliografia:
  • Antigo Tarô de Marselha – Nicolas Conver;
  • O Livro de Thoth – Aleister Crowley;
  • Clube do Tarô;
  • Ocultura. 


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