[Folclore em Foco] Leitura Musical para ATS® - Parte 1

por Nadja El Balady– FatChance BellyDance Sister Studio


O que significa leitura musical para ATS®?
Significa que existe algo a mais na preocupação das dançarinas de ATS® além de coordenar movimentos, posicionamento no espaço e o toque dos snujs. Significa que sua escolha de passos e combinações, suas transições de liderança estão inspiradas pela música e em harmonia com seus arranjos e transições.

Vamos entender alguns componentes principais das composições musicais e tentar, de forma simples, encaixar com nosso entendimento da técnica de ATS® para aproveitar estes elementos da melhor forma possível.

Vale lembrar que todo o método do ATS® já foi pensado para você tirar o melhor proveito da sua leitura musical. O próprio método em si tem várias indicações de como entender e dançar determinados padrões musicais, mas leitura musical é onde reside a arte, ela é pessoal, revela como você percebe a música que está tocando e como reage a ela, revela como está a sua escuta e a sua capacidade de lidar com o todo que é improvisar em grupo dançando e tocando ao mesmo tempo.

Primeiro, vamos analisar dois elementos estruturais da música para nos dar embasamento: Ritmo e melodia.

Na minha percepção, compreender o ritmo de base de uma música é a primeira coisa que devemos fazer para entender a música dentro do conceito musical para ATS® que nos diz que são 3 linhas de leitura que podemos seguir: Músicas “rápidas”, “lentas” e “lentos dramáticos”.

A leitura rítmica dentro do ATS® não acontece de forma literal, não é nossa responsabilidade representar os taks e dums dos ritmos, como faz a Dança do ventre tradicional, mas é nossa tarefa entender a métrica que o ritmo deixa para a flutuação melódica e encaixar a nossa movimentação nesta métrica rítmica. É esta métrica que nos interessa, que vai fazer com que dança e música se tornem uma só coisa.

Os ritmos usados para dançar músicas consideradas rápidas no ATS®, em geral, serão ritmos cujos compassos serão contados em 2 ou 4 tempos. Existem algumas exceções para ritmos contados em 6 tempos. Mas o que é compasso? Compasso é a célula rítmica. A maneira como este ritmo é estruturado em sua forma e em quantidade de notas.



Como as músicas utilizadas para dançar ATS® em geral são orientais, vamos trabalhar com exemplos dentro dos ritmos árabes. Vamos ver dois exemplos de compasso de ritmos contados em 2 e em 4: Malfuf (ou Laff) e Maqsoum, no caso Malfuf com 2 tempos e Maqsoum com 4 tempos. Nas figuras abaixo, podemos ver o ritmo escrito na pauta, que são as cinco linhas usadas para escrever a música. Temos a imagem da clave de sol e em seguida uma fração. O numerador da fração representa quantos tempos tem o ritmo e o denominador é um indicativo do valor das notas, mas este valor, para entendermos a estrutura rítmica, agora não é importante. O mais importante para nós, no momento, é compreender o numerador da fração. O Malfuf é um ritmo cuja “célula” acontece e se repete de 2 em 2 tempos. Maqsoum é um ritmo cuja “célula” acontece e se repete de 4 em 4 tempos. A maioria dos ritmos populares, tanto orientais quanto ocidentais acontecem em 4 tempos, na fração 4/4.





MÚSICAS “RÁPIDAS”
Ok! Se os ritmos das músicas “rápidas” são contados em 2 ou 4 tempos em geral, por que contamos as músicas de 8 em 8 tempos?

Por causa da chamada “frase musical”. A frase musical é a maneira como o compositor se utiliza da métrica rítmica para compor a melodia. Uma ideia melódica usa 8 tempos para encontrar seu sentido e pode ir se complementando, repetindo ou encontrar resposta nos próximos 8 tempos e assim sucessivamente.  Escute estas músicas e conte de 1 a 8 desde sua primeira nota e perceba como a melodia flui de 8 em 8 tempos.

Significa que se o ritmo base tiver 2 tempos, a frase musical usa 4 compassos para acontecer, se o ritmo de base tiver 4 tempos, a frase usa 2 compassos.

2 tempos – Frase musical em 4 compassos:



4 tempos – Frase musical em 2 compassos:




NÃO CONTE APENAS OS PASSOS, CONTE A MÚSICA!


Sabemos que no ATS®, para que a estrutura de improvisação funcione, precisamos contar os passos e combos dos movimentos rápidos sem cessar, se não arriscamos deixar alguma coisa incompleta e a movimentação pode acabar não fazendo sentido para quem está sendo liderado. Será interessante que além de contar os passos que faz, a dançarina use a contagem para integrar os movimentos na própria música.

Tendo identificado o ritmo de base, a dançarina deve observar a maneira como a melodia se comporta: Como a música começa, onde entra a melodia principal e como ela pode fazer para distinguir um momento do outro.

Por exemplo: Na música “Kako Kolan” gravada pelo grupo Helm, temos uma entrada percussiva, uma melodia tocada com acordeom e a voz que entra em seguida. A entrada percussiva leva 8 tempos. O acordeom desenvolve sua primeira ideia em 16 tempos e depois a repete em mais 16 tempos, ou na linguagem de dança “4 oitos”. Em seguida a voz vai entrar igualmente usando “4 oitos” para desenvolver a primeira ideia, mais “4 oitos” para desenrolar uma continuidade e então “4 oitos” para fazer acontecer o refrão.

Tendo em vista uma estrutura como esta, tente fazer casar as ideias de movimentos com as ideias da música, por exemplo: Se temos 8 tempos iniciais apenas com a percussão, evite começar uma combinação longa neste momento, use movimentações simples e curtas como Shimmie, Bumps ou Arabic. Quando o acordeom entrar, tente pensar em movimentações que tenham 16 tempos, como Chico 4 Corners, ou mesmo uma sequência de Egyptians. Você pode escolher 2 sequencias de movimentos em 16 tempos ou se escolher fazer o Sunanda, por exemplo, ele sozinho poderá ocupar toda o momento inicial dos 4 oitos de acordeom. E assim sucessivamente.

A qualquer momento, evite iniciar um movimento mais longo no 5º tempo (ou qualquer outro tempo que não seja o 1º) de uma frase musical. Mesmo que dentro da métrica rítmica, sua sequência de movimentos vai acabar desencontrando da construção melódica e dos arranjos da música. Procure casar o tempo 1 dos movimentos com o tempo 1 das transições musicais. Assim você vai garantir que sua dança sempre vai estar em harmonia com a música.






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