Nos dias 25, 26 e 27 de Maio, em Buenos Aires, tivemos a presença da Tiana Frolkina (Dragonfly
Tribe), direto da Rússia, num evento organizado pela Luisana Alvarez
Ricciotto (diretora de Tribaleuse e Numaras, e FCBD ®Sister Studio).
Começamos no dia
25 com o show de gala que reuniu várias profissionais da dança do ventre tribal
em todas as suas nuances. Segundo o público, o show foi de um nível
profissional poucas vezes visto num show de gala, com propostas cênicas e
vanguardistas desde a composição até nos figurinos. A Gala contou com a presença de Numaras, Florencia Benítez, La Nouvelle Tribal, Alba Marina, Saturnus Devi
Co., entre outros, além de alunas e ex-alunas avançadas da escola. Teve também a presença de Mannaz e Yamila
Mizrahi, ganhadoras de um concurso aberto a toda a comunidade do tribal para
participar na gala. A Tiana e a Luisana fizeram um emocionante duo que
recomendo que ninguém perca assistir.
No sábado, começaram as aulas com muitos alunxs do interior do país, além de muitxs brasileirxs que nos visitaram pro evento. Também, a noite, o evento teve show de mostras para que outros dançarinos pudessem compartilhar sua arte conosco. As aulas surpreenderam xs alunxs comtrabalho
expressivo e técnico, desde uma abordagem não tradicional no tribal e muito
semelhante com o utilizado na dança moderna (free dance, expressão corporal e
estilos afins).
Os workshops foram
integrais, de altoconteúdo emocional,
onde a partir das consignas e da exploração se desenvolveram conceitos, ideias
e movimentos. Tudo o que era trabalhado em cada exercício, juntava-senum resultado, numa criação final pessoal e
íntima, permitindo, assim, o nascimento de conteúdo inédito na dança dx alunx.
A Tiana provou ser uma professora completa, com
uma visão apaixonada e profunda da dança, e ao mesmo tempo exigente com oque esperava dxs alunxs, sempre exigindo-lhes
para ir um passo além e desenvolver ainda mais seu potencial.
A dinâmica dos workshops tiveram muita conexão entre a imaginação e o movimento, mas sem deixar de lado o tribal fusion. As técnicas experimentais ficaram em perfeita concordância com a dança do ventre, permitindo potencializá-las. A Tiana foi um exemplo de humildade, de amor pela dança e a docência, se entregando ao 100% com profissionalismo e exigência.
No ano que vem,
temos mais uma russa conosco: a Polina Shandarina. Ela estará em Buenos Aires em um evento organizado também pela Luisana.
Tomara que, mais uma vez,tenhamos a
visita de tantos irmxs brasileirxs!
Os vídeos do show
estarão disponíveis em breve no canal do YouTube da Luisana, você pode conferir
seguindo este link: https://www.youtube.com/user/Tribaleuse.
Enquanto
esperamos, convidamos vocês com estas fotos do Show de Gala, capturadas por Anna Harff.
Alba Marina | Foto de Anna Harff
Florencia Benitez | Foto de Anna Harff
Long Nu | Foto de Anna Harff
Luisana Ricciotto | Foto de Anna Harff
Mannaz | Foto de Anna Harff
Numaras | Foto de Anna Harff
Saturnus Devi Co. | Foto de Anna Harff
Tiana Frolkina (Rússia) | Foto de Anna Harff
Foto de Tiana Frolkina (Rússia) | Foto de Anna Harff
Templo da Lua é um festival organizado pelo Espaço Rayzel, uma
escola de dança árabe, danças ciganas e tribal fusion em Fortaleza. Apesar de
ser um festival anual, a cada edição é abordada uma temática, mas
diferentemente das duas primeiras, esta foi transformada e pensada em forma de
um espetáculo sensorial.
O espetáculo aconteceu no dia 26 de maio de 2018 e a ideia dele
era que trouxesse para as cenas cores, cheiros e imagens que dançassem juntos
com os corpos criando uma atmosfera mágica. Se constitui de sete contos que se
passam em épocas e lugares diferentes mas que têm em comum a imagens de
rituais, deusas e mulheres. Como a magia e os cultos ao feminino atravessam
fronteiras e o próprio tempo e se reinventam em cada uma de nós.
Para isso foi necessário muita pesquisa sobre deusas em várias
culturas, antiga suméria, Egito, índia, povos ciganos, África, povos celtas e
fantasia. Os círculos de mulheres sempre existiram e sempre existirão. E com
muito respeito e licença poéticas as histórias dançadas para o Templo da Lua.
Em especial, esta edição reuniu coreografias de dançarinas profissionais e
amadoras do Espaço Rayzel e de duas Cias: a Lunith e Etinique Tribe, mais
dançarinas convidadas.
Cia Lunith e Etinique | Foto de Jean Ribeiro
Para finalizar, tendo participado de três edições, esta foi a
favorita entre todas. Pela organização do espetáculo e todo o cuidado em
respeitar a proposta do sensorial, um verdadeiro show visual com iluminação de
palco calculadamente pensado, projeções que trouxeram algo palpável ao público
e músicas que respeitavam a época e proposta de cada história contada.
Sendo uma das bailarinas convidadas, é incrível estar novamente
rodeada com as mulheres do Espaço Rayzel. No mais, aguardo ansiosamente pelos
vídeos do espetáculo, onde será possível ver pelo youtube oficial da escola.
Este texto foi baseado nos artigos “The Ouled Nail” de Maggie Mcneil e “Dancing for Dowries part 2 – Earning Power, Ethnology and happily ever after” de Andrea Deagon.
No sul da Argélia, nas montanhas do Atlas, desde tempos imemoriais até hoje em dia (ainda) encontramos diversas tribos berberes vivendo e, de acordo com o possível, mantendo suas tradições. Estas tribos, islamizadas entre os séculos VII e VIII, têm seus nomes antecedidos pela palavra “ouled”, que funciona como um tipo de designação: Ouled Abdi; Ouled Daoud; Ouled Nail. Suas tradições se tornaram, a partir da década de 60, objeto de estudo das dançarinas de dança oriental no ocidente, sobre tudo das norte-americanas, que passaram a usar elementos desta etnia como inspiração para suas criações em dança.
Dentre as tribos citadas, Ouled Nail (leia-se: "wil-ed na-il") ganharam maior atenção por conta das características memoráveis das suas tradições femininas. Diversos pesquisadores ocidentais se interessaram pelo tema e em comum encontraram a informação de que as mulheres desta tribo, chamadas Nailiyat (singular Nailiya), costumavam se dedicar à dança e às artes eróticas durante um determinado período de sua vida. Segundo Maggie Macneil, as meninas nailiyat não eram forçadas a exercer esta atividade, possuíam poder de escolha e ainda assim muitas delas optavam por este caminho.
A partir dos 12 anos, as meninas eram ensinadas por mulheres mais velhas da família (que poderia ser a mãe, uma avó, uma irmã mais velha, uma prima ou uma tia) e eram levadas para as cidades abaixo das montanhas para viver durante uma parte do ano e a trabalhar como dançarinas e prostitutas. Estas mulheres mais velhas eram responsáveis pelo bem estar da menina, cuidavam da casa e ajudavam a administrar os negócios. Esta era uma tradição que objetivava acumular dinheiro e joias de modo que, ao retornar definitivamente para suas vilas de origem, esta menina, já tornada mulher, pudesse ter independência financeira, pudesse comprar uma casa própria, investir em um negócio e, se quisesse, procurar casamento. Ao se casarem, tomavam uma vida comum, em um casamento fiel, como se espera de toda mulher casada.
Ninguém sabe dizer ao certo o período de origem desta tradição, mas é provável que seja muita antiga, anterior ao Islã, pois foram encontrados registros da presença das nailiyat na ocasião da chegada dos árabes na cidade de Bou Saâda no século VII. Bou Saâda (que significa “Lugar da Alegria”) era um dos principais destinos das nailiyat para sua morada temporária e comunidades inteiras compostas apenas por mulheres eram encontradas por lá.
Nestas comunidades, segundo Andrea Deagon, os homens eram admitidos temporariamente como amigos, aliados, admiradores, parceiros de negócios ou parceiros sexuais, mas nunca em caráter definitivo. Algumas mulheres não chegavam a voltar para sua vila natal, preferindo a vida na cidade, abriam negócios, ou se casavam com estrangeiros.
Segundo Marnia Lazreg (1994), as mulheres das tribos Ouled Abdi e Ouled Daoud, conhecidas como Azriyat, também tomavam as profissões de dançarinas e prostitutas, mas somente quando eram órfãs, se tornavam viúvas, divorciadas, repudiadas, incapazes de se casar por algum motivo. Exerciam estas atividades até que conseguissem casar ou permaneciam sós.
É possível que a tribo Ouled Nail, tanto mulheres quanto homens, cultivassem conceitos diferenciados a respeito de sexo, casamento e amor. Encontramos no texto de Maggie Macneil uma passagem retirada do livro “Flute of Sand” (1956) de Lawrece Morgan que nos dá uma pista a respeito. Trata-se de depoimento de um homem da tribo sobre o casamento com uma mulher que tivesse seguido a tradição:
“Nossas esposas, sabendo o que é o amor, e sendo proprietárias de sua própria riqueza, vão casar apenas com o homem a quem amarem. E, diferentes das esposas de outros homens, vão permanecer fiéis até a morte, graças a Allah.”
Alguns pesquisadores adotam a linha de pensamento que as nailiyat dançavam para acumular dote, que o dinheiro arrecadado servia para atrair bons partidos. Esta ideia se tornou popular entre algumas dançarinas norte-americanas, ignorando sua prostituição e menosprezando sua independência financeira. É possível que esta interpretação seja fruto direto do machismo vigente no pensamento ocidental e tem origem na interpretação de observadores franceses que desde a ocupação francesa na Argélia, em 1830, que consideravam a tradição das nailiyat como uma espécie de rito de passagem antes do casamento. Andrea Deagon aponta para a importância de não diminuir, ou omitir, a atividade de prostituição destas mulheres, pois era um aspecto de uma cultura complexa onde as mulheres eram sexualmente livres e independente financeiramente.
Segundo Maggie Macneil, o contato com a cultura europeia, a partir da ocupação francesa, ao mesmo tempo em que as fizeram famosas, se tornando objeto de pinturas de artistas do período orientalista, trouxe a estas mulheres grandes transformações. Ainda na virada do século XIX para o século XX, mercenários franceses matavam as mulheres para roubar seu dinheiro e suas joias. Oficiais franceses passaram a sobretaxar as viagens e a residência em outras cidades que não suas vilas de origem. Durante a primeira guerra mundial, foram coagidas a trabalhar em cafés e casas específicas onde eram exploradas por homens. Algumas aderiram aos bordéis móveis de campanha, usados pelo exército francês até 1954 e pela legião estrangeira até a década de 90.
No final da segunda guerra mundial, a vida de todo o povo berbere argelino mudou muito, pois o governo autoritário da época os obrigou a trabalhar nos campos da agricultura estatal.
Na década de 70, a dançarina norte-americana Aisha Ali encontrou um pequeno grupo de mulheres ainda vivendo e dançando em Bou Saâda. Sua pesquisa nos deixou registro muito importante do modo como se vestiam e movimentavam. A estética de movimento e figuro influenciou diretamente Jamila Salimpour e seu trabalho no grupo Bal Anat e como consequência, todo o Estilo Tribal de Dança do Ventre.
Seu modo de dançar, apesar de cobertas dos pés à cabeça, era considerado lascivo e escandaloso pelos estrangeiros. Muitos movimentos de encaixe pélvico e redondos, shimmies de ombro, lateralização de cabeça, movimentos de mão, cambrés, giros e o uso ocasional de lenços em ambas as mãos.
Esta foi a minha quarta
participação no Tribal Massive e Massive Spectacular (já pude desfrutar desse
evento nas edições de 2013, 2015 e 2016). A oportunidade surgiu quando recebi
um e-mail de Tori Halfon, diretora do evento, em meados de 2012 me convidando
para fazer parte das aulas e do show principal. Neste e-mail ela relata que me
contatou após acompanhar meu desempenho nos vídeos postados na internet e que
gostaria de ter o meu trabalho entre os outros do lineup. Fiquei surpresa e
muito lisonjeada com o convite e, desde então, participo sempre que posso.
A primeira edição em que
estive presente, em 2013, foi a mais emocionante de todas. Por ter sido minha
estreia no intensivo de aulas e no show, muitas sensações tomaram conta de mim:
um mix de nervosismo e alegria me acompanharam do início ao fim, afinal era a
primeira vez que eu dividia o palco e a sala de aula com profissionais tão
renomados e talentosos. Fui muito bem recebida e acolhida por todos (diretora,
professores e colegas) o que me fez querer fazer parte daquilo mais vezes. Nas
edições de 2015, 2016 e 2018 me senti completamente ambientada e pertencente
àquela comunidade de dança e o nervosismo deu lugar ao entusiasmo e a
segurança.
Tori Halfon e Joline Andrade
Preparação
Em todas as edições que
estive presente concorri a projetos de financiamento de intercâmbio de artistas
da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia e do Ministério da Cultura. Fui
contemplada em 2 deles, o que me permitiu participar de 2 edições com as
despesas totalmente custeadas. Nos outros 2 em que não tive projeto contemplado
em editais precisei reunir fundos particularmente.
Sempre animada com o
conteúdo programático das aulas e ciente do necessidade de preparo para poder
fazer 8 horas de práticas diárias no período de uma ou duas semanas
consecutivas, frequentei aulas de Vinyasa Flow Yoga meses antes do evento para
harmonizar o corpo em todas as suas esferas físico-psicológicas agregando
resistência muscular e equilíbrio emocional em uma só prática.
Desafios e expectativas antes do evento
Eu já imaginava que minhas
expectativas seriam superadas a cada edição do Tribal Massive e, na medida que
eu conhecia mais profundamente o trabalho de cada profissional, me permiti
confiar e entregar de corpo e alma às propostas técnicas e laboratoriais. Tinha
receio de encontrar professores dogmáticos e fundamentalistas, com verdades
absolutas, mas o que acessei ali foi o trabalho de artistas que buscam renovar
e inovar cada vez mais as próprias produções e estimular os seus seguidores
criativamente para tornar a comunidade de dança mais democrática e
diversificada em suas fusões, o que me fez cair de amores por cada uma delas.
Novidades da edição de 2018
Uma mudança que tenho
observado no decorrer de cada edição é a opção da diretora/curadora Tori Halfon
de oferecer um elenco mais enxuto de professores com carga horária de trabalho
mais extensa. Em 2013, por exemplo, eu fiz aulas com Zoe Jakes, Kami Liddle,
Sharon Kihara, Mira Betz, Lady Fred, Sera Solstice, Jill Parker e Heather
Stants. Já em 2018 as aulas foram ministradas apenas por Zoe Jakes, Kami
Liddle, Mira Betz e April Rose. Por um lado, com o elenco mais concentrado os
participantes podem desfrutar mais profundamente das pesquisas de cada
professor, permitindo um aproveitamento maior dos conhecimentos compartilhados
em sala (qualidade). Por outro lado, um elenco maior dava a oportunidade de
estudar uma pluralidade de conteúdos com mais profissionais, mesmo que de
maneira mais breve (quantidade).
Além disso, observo uma
forte tendência das professoras em trabalhar FUSÕES com outras técnicas de
dança como também uma retomada no estudo da dança do ventre tradicional (um
profundo mergulho nas tradições das danças do Oriente Médio), dando-nos
subsídio para descobrir formas de expressão heterogêneas e consistentes e para
buscar uma voz interior, um estilo pessoal. Eu estou contente de ver que esta
comunidade está evoluindo e cada vez mais aberta ao estudo de novas linguagens
de dança sejam elas contemporâneas, modernas ou tradicionais. Essas mudanças
estão nos permitindo expandir, como alquimistas, as possibilidades de
experimentação nos garantindo uma ascensão como intérprete-criadores.
Percusso para o evento
Esta foi a primeira edição
que estive numa casa alugada através do AirBnb, junto com outras colegas. Nas
edições anteriores me hospedei no Boulder Station Hotel & Casino. Foi a
melhor estadia de todas por dois grandes motivos: o primeiro por poder
compartilhar a rotina com outras dançarinas e o segundo por estar num ambiente
mais saudável, longe da atmosfera “down” e pesada de um casino. Diferente das
experiências que tive no Boulder Station (barulho, cigarro e bebidas 24 horas
por dia no térreo), o cotidiano da casa era maravilhoso. Me senti como se
estivesse na universidade novamente, numa residência artística. Éramos 6
pessoas numa casa de 4 quartos: eu, Sundari (Croácia), Kerima (Suíça), Stacey
(EUA), Austine (EUA) e Rachel (EUA). A casa tinha uma super estrutura e nos
acolheu muito bem. Cozinhamos, brindamos, conversamos, trabalhamos e dançamos
muuuuito juntas (havia uma sala enorme e empurramos os móveis para ensaiarmos
os nossos solos). A casa ficava a 5min do estúdio de dança e juntas pegávamos o
Uber diariamente para ir e voltar.
Infra-estrutura do evento
A infraestrutura do estúdio
onde as aulas do Tribal Massive ocorrem e do teatro que recebe as performances
do Massive Spectacular é exemplar. O Backstage Dance Studio tem salas amplas,
com espelhos, piso, iluminação e controle de temperatura ideais para um prática
intensa e prolongada de dança. Em 2018, o Massive Spectacular ocorreu em um
teatro diferente das edições anteriores. Desta vez dançamos no Sam’s Town Live,
um espaço ainda melhor com equipamentos de luz e som mais profissionais, palco
mais amplo e camarins mais confortáveis. Neste ano, inclusive, podíamos
assistir todo o show através da transmissão em tempo real em TVs nos camarins.
Esta super produção, dirigida por Tori Halfon, me faz ter certeza que
participar deste evento é um grande investimento, pois de fato a estrutura
oferecida gera um verdadeiro aproveitamento de todas as experiências que podem
ser vividas alí.
Workshops
Tori e professoras oferecem a opção de turma Profissional
com apenas 18 dançarinxs selecionadxs. Mesmo tendo o aval delas para estar
nesta turma, em 2018 optei mais uma vez por participar da turma
Avançada/Profissional, com 40 dançarinxs, pois fazer parte do grupo reduzido
aumentaria a minha inscrição em $500USD (cerca de R$1800,00 a mais). As turmas
PRO e ADV/PRO têm o mesmo conteúdo programático, com os mesmos professores. Há
uma pequena diferença na carga horária com um e outro professor: na ADV/PRO
temos 4 horas a mais de aula com Zoe enquanto na PRO há 4 horas a mais com Mira.
No cronograma de aulas da ADV/PRO começamos as aulas com Zoe e Kami, no início
da semana, e finalizamos com April e Mira, sendo o turno matutino com uma
professora e o vespertino com a outra.
Curso com Zoe Jakes
As primeiras aulas são ao mesmo tempo estimuladoras e muito exaustivas. Como eu não tenho o hábito de praticar 8 horas de dança diariamente o meu corpo passou a responder melhor aos exercícios somente no segundo dia quando pude ultrapassar o ponto de fadiga muscular e atingir uma resistência e melhor propriocepção. Após superar esta condição física, as informações puderam ser melhor processadas e aproveitadas.
Os temas de aula possuem uma diversidade muito grande e
cada um contribuiu significativamente em minha formação com suas especificidades.
Joline e Zoe Jakes
Zoe está cada vez mais dedicada as técnicas circenses e aos exercícios de
layerings. Suas aulas apresentam os conteúdos mais intensos tecnicamente e eu
adoro isso. Além disso, Zoe trouxe muitos dos movimentos do tribal old school,
todos baseados no formato de Jamila Salimpour, numa proposta laboratorial de
composição, estrutura de aula que também costumo aplicar em meus cursos.
Joline e Kami Liddle
Kami
Liddle apresentou este ano suas novas pesquisas com dança contemporânea e foi
ótimo revisitar alguns métodos que já estudei na universidade com o olhar e
mecanismos de fusão de Kami. Os aquecimentos feitos através de técnicas do Buti
Yoga e a aula de imersão em shimmies também foram muito estimulantes.
Joline e April Rose
April nos
fez mergulhar novamente no estudo rítmico e de movimentos da dança do ventre
clássica erudita, dando-nos um aporte teórico profundo e cheio de complexidade,
como de praxe (como acadêmica, April também faz um excelente trabalho).
Joline e Mira Betz
Por
fim, Mira Betz ministrou aulas teórico-práticas de sua nova pesquisa em otimização
do sistema neuromuscular, além dos laboratórios de experimentação e jogos
teatrais que fazem parte do seu repertório.
Para mim o maior desafio deste ano foi dedicar total
energia nos 9 dias de aula, com carga horária extensa e intensa, sem deixar de
manter o foco no show Massive Spectacular que ocorreu, diferentemente dos
outros anos, no último dia da programação do evento. A exaustão física,
psíquica e emocional tiveram que ser severamente combatidas para que o meu
desempenho na apresentação do solo, no nono dia da programação, pudesse ser do
nível que eu almejei. Mesmo diante deste desafio, estou satisfeita com o
resultado.
Na minha opinião, não houveram cobranças nem tampouco
postura autoritária por parte dos professores. Havia um desejo de presença
(prontidão física e mental) e correspondência aos exercícios propostos,
principalmente os laboratoriais.
Curso com April Rose
Fission X The
Massive Spectacular
Fission é o espaço que as
participantes têm para apresentar seus trabalhos. Neste show a formação do
elenco é por livre demanda, isto é, a oportunidade de apresentar é dada para
cada dançarina envolvida no evento. As incríveis coreografias criadas nos
Intensivos com Amy Sigil e Jill Parker também foram apresentadas no Fission.
O Massive Spectacular é um
show que tem a curadoria de Tori Halfon (ela seleciona os artistas que irão
compor o elenco). Geralmente as professoras levam seus trabalhos de grupo e
solos, como também outros grupos e solistas renomados são convocados para
participar. Nesta edição, o show foi divido em 2 atos. Meu solo foi apresentado
ao final do segundo ato, junto com Zoe e seu grupo Coven, Kami Liddle, April
Rose, Amy Sigil, Jill Parker, Michelle Sorensen, Claudia Carbone, Sera e seu
grupo Solstice Tribe, Kelli Li e Kimberly Larkspur.
Apresentações favoritas
Zoe Jakes & Coven (EUA):
Mira Betz (EUA):
Jill Parker (EUA):
Claudia Carbone (Itália):
Michelle Sorensen (EUA):
Performance & Experiências
Joline com Aco Yamazaki, Hannah Lily, Antonella Sciahinna, Kerima Edmond, Sundari Sunchi, Michelle Sorensen e Kami Liddle
Joline, Sundari, Antonella Sciahina e Hannah Lily
Joline e Sera Solstice
Joline e Serena Spears
Joline e Christina Hidalgo
Joline e Claudia Carbone
Joline e Jill Parker
Partilhar do palco, bastidores e da sala de aula com toda
essa gente talentosa e inspiradora é um sentimento indescritível. Estar ali é o
resultado de um trabalho cotidiano, duro e envolto de amor. Carrego desde jovem
uma energia que me move adiante, que não me faz estagnar, mas acredito muito que
parte das minhas conquistas veio do estímulo que tenho das minhas alunas,
colegas e familiares. Quero então aproveitar o ensejo para agradecer cada uma
das pessoas que me acompanham, colaboram e alimentam o meu trabalho e dizer que
participar do Tribal Massive e Massive Spectacular, às vezes como única
brasileira, às vezes como a única Latina, é também uma conquista motivada por
vocês! Muito obrigada por fazerem parte disso!!!
O novo solo
chamado "Soprano Dance" é uma fusão do meu repertório de tribal fusion com dança clássica
e moderna. Foi a quinta vez que apresentei este trabalho num palco (já havia
dançado em Maceió, Fortaleza, Buenos Aires e Camaçari). Soprano Dance é
dividido em duas partes: a primeira com a música lenta e dramática The Host of
Seraphim (conduzida pela voz da fantástica soprano australiana Lisa Gerard e a banda
Dead Can Dance) e a segunda mais explosiva e estimulante com uma versão
eletrônica da música Syla Doli (da soprano ucraniana Solomiya Krushelnytska) tendo
mais velocidade e drama, causando intimidação para o público. É um solo que
traz uma atmosfera etérea, fluida e delicada e, ao mesmo tempo, densa, escura e intrigante.
O figurino tem uma estética clássica/vintage e esvoaçante: tutu preto romântico
e top de renda confeccionados pela estilista Jacqueline Teixeira (minha mãe), e
uma coroa prateada do atelier venezuelano MaMa Desings.
Tive
excelentes feedbacks das professoras e colegas de classe. Após assistirem ao
solo passaram a me chamar de "Black Swan" no backstage. Rs! Creio que pude
tocá-las de alguma forma e espero que o público em geral tenha uma boa
receptividade quando o vídeo for lançado.
Sem dúvidas
pretendo participar novamente das próximas edições!Tive os melhores e maiores
aprendizados de uma comunidade que se apoia, respeita, inspira e estimula!
Mitos e verdades sobre o festival
É um festival feito para
muitos! O nível ADV/PRO e os intensivos que ocorrem paralelamente ao programa
principal apesar de possuírem pré-requisitos, têm uma flexibilidade em relação
a prática dx dançarinx, podendo ser elx experiente em dança do ventre e/ou tribal.
Em minha visão, dançarinxs com experiência a partir de 3 anos poderão
aproveitar bastante e ter um bom rendimento nas aulas. É ideal para quem gosta
de ser desafiado, seja técnica ou criativamente.
Pontos positivos O Tribal Massive e Massive
Spectacular oferecem os conteúdos e produções artísticas mais atuais do
universo da dança tribal e sua fusões. É um ambiente provocativo e germinador
de fusões autorais e bem embasadas.
Pontos negativos
O único ponto negativo é a
localização do evento. Eu, particularmente, não gosto da cidade de Las Vegas,
do ambiente dos casinos e atmosfera de festas e entretenimento artificial 24
horas por dia. Porém como estamos imersos nas atividades do festival, essas
questões não afetam potencialmente o seu desenrolar.
Inspirações para a comunidade brasileira
Gostaria de ver mais eventos
brasileiros dedicados a fusões do tribal com outras linguagens de dança. Que xs
dançarinxs locais expandissem seus estudos buscando outras técnicas, métodos,
fontes de inspiração, assim como artistas competentes de outras linguagens
pudessem colaborar com as misturas interculturais que esse tipo de fusão
demanda. Criaríamos uma rede de profissionais ainda mais competentes e
multifacetados!
Dicas e conselhos
Junte suas economias e faça
esse favor a si mesmo! Este é o tipo de festival libertador que propicia um
real intercâmbio com artistas de todo o mundo que compartilham da mesma
frequência: aprender, criar e evoluir!