Entrevista #32: Caíque Melo


Nossa entrevista de abril é com Caíque Melo, bailarino de Salvador -BA. Caíque foi "Destaque Tribal Masculino" aqui no blog em 2012 e 2014. Neste último ano, nossa Entrevista  Especial de Aniversário do Blog seria destinada à categoria em questão =D Vamos conferir a trajetória do nosso tribalesco?

  
BLOG: Conte-nos sobre sua trajetória na dança do ventre/tribal; como tudo começou para você? 

Comecei a estudar dança com 14 anos de idade, quase 15. Nasci em Vitória da Conquista,
Dabke
sudoeste da Bahia, onde uma das escolas de dança, a Arabesk, me abraçou. “Caí meio que de paraquedas”... Em 2009 fiz uma pergunta à uma amiga sobre as aulas de dança e ela me convidou. No dia combinado eu fui à Escola fazer aula de Balé Clássico. Me lembro do primeiro dia, onde conheci a professora e diretora da Escola, a Suzanni Rabelo, ou carinhosamente chamada de tia Suzi. Digo que ela abriu as portas da dança pra mim, pois, foi ela me concedeu aulas como bolsista e sempre que eu sugeria algo novo como trabalho, como a dança tribal, por exemplo, estava de braços abertos. E em meio às dores de alongar, as faltas de coordenação e direção, como todos que começam a mover o seu corpo que não somente do cotidiano, fui percebendo o quanto gostei de fazer “aquilo”. Me sentia vivo e estar vivo me levava à um outro ambiente, que me fazia bem e mais contente. Após esse primeiro contato, me apaixonei. E foi rápido demais. Mas sei que é um amor pra toda vida, porque partiu de dentro de mim. Só estava escondido. Dancei no meu primeiro espetáculo, em 2009, pela Arabesk, ainda envergonhado, mas com uma sensação INENARRÁVEL, que quem pisa nos palcos (e digo qualquer palco: italiano, a rua, na casa de um amigo, num restaurante, etc.) sabe como é.

Caíque e Stefanny Garcia
No mesmo ano, a minha amadíssima professora de danças folclóricas árabes, e professora da Escola na época, a Stefanny Garcia, me convidou para participar de uma coreografia de Dábke, no espetáculo de danças orientais que ela promove anualmente na cidade. NOOOOOSSAAAAA! Que energia é essa da dança oriental, meu povo?! Nos ensaios eu ficava alucinado pelas músicas e movimentações. Assistia vídeos e ficava admirando a dança e os dançarinos. Adoro muito os brasileiros dançando orientais. Temos uma autenticidade e respeito pela dança. O espetáculo lindo, com coreografias lindíssimas, de uma cultura que poucos conhecem e/ou já viram e quando viram pensam logo na dança do ventre, na sensualidade feminina e nos preconceitos que rodeiam sobre a dança. Ia além disso. São danças culturais, como as nossas, brasileiras, que conta a história de um povo. Que coisa linda de se ver! J

Encantadíssimo, continuei a estudar as danças orientais, o balé clássico e surge uma nova professora de dança oriental na minha vida, que admiro imensamente, onde me viu dançar no espetáculo da Stefanny (e ela também se apresentou), a Gal Novais. Num dia de aula de balé, ela me convida para participar de uma coreografia onde dançávamos balé clássico e dança do ventre misturado (até então, ainda pensava assim, rs). Achei bem interessante a proposta e fui fazer aulas de Dança do Ventre. Amei, amei. E não é que me dei até bem? (rsrs) Ali conheci minhas amigas Grazi Cardoso, May Cardoso, Samara Aguiar, Virgínia Rosa e Ane Carine, que SEMPRE me apoiaram à dançar, amigas de turma, juntamente com a Gal Novais sendo nossa professora. Era uma delícia ir às aulas, encontrá-las e dançarmos juntos. Formamos nosso primeiro grupo de danças orientais, o “Thuraya”, que significa “Estrelas ou Planetas”, em árabe. Nos divertíamos muito nas apresentações, viagens e ensaios. Saudades...

Caique e Gal Novais
No dia da apresentação com a professora Gal Novais, da “mistura” entre balé e ventre, conheci a Joline Andrade. Ela estava organizando a mostra de dança “EtnoTribes” em Vitória da Conquista, em 2010. E quando a vi dançar, fiquei encantado com as movimentações do corpo que ela realizava na coreografia, juntamente com a sonoridade da música, com aquela aura misteriosa por detrás. Fui logo pesquisar sobre a dança Tribal Fusion. Assisti logo de cara a Rachel Brice, o auge da dança tribal. Ia pesquisando em alguns blogs, vídeos, músicas, até conversei com alguns profissionais na época, como a Joline, a Bia Vasconcelos, a Bela Saffe, sobre a dança, pois realmente estava querendo entender melhor aquele universo. Também fiz algumas aulas com a Gal Novais. Ela me ensinou movimentações básicas do tribal, como postura, algumas movimentações, bem enfatizada no Belly Dance.

SOBRE O TRIBAL FUSION: Sempre fui autodidata quanto a dança tribal, mas tudo que me interessava eu lia, fazia, estudava os movimentos, assistia e sempre que possível, participava de workshops. Então, sempre estive pesquisando e estudando a dança. Lembro-me de uma frase que norteia a dança tribal e que eu ouvia bastante, mas não exatamente assim: “Procure a sua dança tribal”. Sempre busquei e busco essa autenticidade, essa minha dança, pois acredito que a dança é universal e cada um tem sua dança. A dança tribal foi e está sendo a minha escolha de buscar essa autenticidade que se muda constantemente e me apetece. Estudo a dança tribal fusion há 5 anos, e comecei estudar dança há 7 anos. Tenho 20 anos, completo 21 em julho. =)

Joline Andrade e Caíque Melo
BLOG: Quais foram as professoras que mais marcaram no seu aprendizado e por quê?
Com certeza todos os professores deixaram alguma informação importante para mim. Vivemos informando e adquirindo informação a todo instante. Mas alguns tem marcos maiores pelos seus conhecimentos e simpatia, como: a Stefany Garcia (Vitória da Conquista-BA), que me convidou a conhecer a cultura e as danças árabes, sempre sendo carinhosa.Tem um espaço de Dança Oriental, onde dá aulas. Já foi premiada no Mercado Persa, junto com a Gal Novais e tem uma beleza ao dançar. Ela é verdadeira. Por isso sempre chamou minha atenção e admiração. Gal Novais (Vitória da Conquista-BA), que me ensinou que a dança do ventre tem homens sim, mas que não por isso deixamos de desrespeitar os costumes da cultura. Obrigado por todos os ensinamentos. Sheyla Nascimento (Vitória da Conquista-BA), a discopédia (rs) – incentivando-me sempre; a Joline Andrade, pelo carinho e apoio; a Hilde Canoodt (UK), que no workshop no Dramofone I, me deu um start para pensar em estética de movimento e alinhamento, e isso me ajudou MUITO (thank you, Hilde) ; e a Antonia Ribeiro, que sempre tem as ideias mais deliciosas de se trabalhar, que sempre elabora coreografias incríveis e me incentiva a fusionar sempre.


Não por isso, agradeço a todos professores que passaram, passam e passarão por mim. Com certeza, em qualquer circunstância, o aprendizado e o conhecimento são certos.

BLOG: Além da dança tribal você já fez ou faz mais algum tipo de dança? Há quanto tempo?
Sempre procuro fazer aulas que não somente a dança tribal, pois são novos aprendizados e possibilidade de fusão. Mas, quase que diariamente eu paro um tempo e pesquiso ou danço a dança tribal.

1)     Balé Clássico (2009-2012 – Arabesk) (2015 – FUNCEB)
2)     Dança do Ventre (2010-2012 – Arabesk)
3)     Danças Folclóricas Árabes (2009-2012-Stefany Garcia)

Atualmente faço o curso técnico profissionalizante da Fundação Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB), onde tenho estudos de cinesiologia, balé clássico, dança moderna, dança contemporânea, dança afro-brasileira, danças populares brasileiras, etc., conjuntamente com a graduação superior de licenciatura em dança da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Estudos Independentes: Waack Fusion, Tribal Fusion, Dança Fusão, Tribal Ragga Jam, Improvisação, Experimentações, Intervenções Urbanas  e o que mais for atraente para mim.

BLOG: Quais foram suas primeiras inspirações? Quais suas atuais inspirações?
Sem dúvida, na dança tribal, a Joline Andrade é uma das minhas referências. Foi um incentivo para fazer a faculdade e estudar a dança tribal a partir desse viés acadêmico também.

A Zoe Jakes e a banda Beats Antique. Acho que não tem esse que quando escuta e a vê dançar, não admire o trabalho deles. A Zoe pelas propostas de dança dela, as movimentações, o enredo, as novidades, tudo... Ela é uma artista que, para mim, será sempre um referencial para meus trabalhos.

A Rachel Brice, como não, né?! (rs) Aquela fluidez, aquele controlo corporal, aquele beleza de vê-la dançar. Não tem outra... É a Rachel Brice.

Muitas (os) por mim foram inspirações nas épocas, mas ainda assim, admiro os trabalhos de todos...

Me inspiro por andar na rua, por abaixar e arrumar o tênis, por olhar um objeto e pensar ser outro... Acho que artista não para de pensar e criar. Pode muitas vezes não ter tempo ou vontade para continuar com alguns, mas, o artista auto se inspira. E eu me inspiro e expiro diariamente com os aprendizados diários de minha vida. Pois viver é dançar, dançar é viver e eu sou os dois. Eu sou dança e vivo.

BLOG: O quê a dança acrescentou em sua vida?
Além de alegria e felicidade...?

A dança é um dos regentes da minha vida. Muitas situações resolvi a partir da minha relação com essa arte. Tive coragem para seguir com meios desejos; conheci e continuo conhecendo pessoas amadas; além de adquirir respeito por muitos que vivenciaram meu pequeno trajeto até aqui. São muitas coisas boas que acontece quando estamos de coração aberto para sermos nós mesmos. E para continuar tendo todas essas boas vibrações, danço.

BLOG: O quê você mais aprecia nesta arte?
Dançar não é só expressar um sentimento, um acontecimento, uma história. Dançar é política, é crítica, é pensamento, é observação. Tenho estudado muitas danças, muitos contextos, principalmente contemporâneos, que me mostram outras formas de se dançar, de se trabalhar com o seu corpo e de movimentos capazes para o (meu) corpo. Dança com fundamentos técnicos, dança improvisação, dança contemporânea, dança teatro, etc. Mover o meu corpo ao som da música me apetita. Ver como o outro se mexe me instiga. É muito bom ver as formas que as pessoas se movem e perceber diversas questões corporais. Entender e perceber o corpo, em meio a questões sociais, ambientais e transpô-las, através de nossas experimentações, essas percepções.

BLOG: O que prejudica a dança do ventre e como melhorar essa situação? Você acha que o tribal está livre disso?
Acredito que em todo e qualquer ambiente, também nos da dança, há situações que desagradem, bem como pessoas (sim, ainda existem pessoas más). O auto ego, a rivalidade, a traição, as trocas de alfinetadas, o prejudicar o outro para conquistar algo, são, por mim, abominadas. Há espaço para todo mundo e, com certeza, se formos mais companheiros com nossos colegas de trabalho, nossos alunos, nossa plateia, as conquistas serão muito maiores e gratificantes.

BLOG: Você já sofreu preconceitos na dança do ventre ou no tribal? Como foi isso?
Somos preconceituosos sem ao mesmo perceber, devido a nossa cultura, situação social e muitos fatores que influenciam para isso. Com certeza, alguém já deve ter me olhado torto, ou sussurrado para outra pessoa sobre minha sexualidade, por exemplo, somente por dançar. Quando isso chegava até a mim, e foram poucas as vezes, eu simplesmente escutava, balançava os ombros em sinal de interrogação, como que querendo dizer “Posso fazer o quê?” e continuava. Se houvesse alguma forma de eu poder mudar essa concepção, fazia, mas, nem sempre isso acontece.

Preconceitos agressivos verbais e/ou físicos nunca sofri, pelo menos não tão agressivamente. No colégio ou em qualquer outro ambiente em que eu falava sobre meu trabalho, me respeitaram, muitas vezes me chamando para parcerias. Além disso, sempre fui respeitoso com os outros para eles poderem respeitar minhas escolhas e quem eu sou.

BLOG: Houve alguma indignação ou frustração durante seu percurso na dança?
Houveram algumas poucas desavenças com pessoas por conta de falsidade, lealdade e outras situações constrangedoras que ocorre na dança (infelizmente), como a inveja e os falsos julgamentos e levantamentos. Quando isso ocorre, procuro ter tranquilidade e paciência para poder passar. Depois se esquece e se for de boa valia, porque não retomar o contato?!

BLOG: E conquistas? Fale um pouco sobre elas.
Em premiações, já fui selecionado como “DESTAQUE TRIBAL MASCULINO” nos anos de 2012 e 2014 aqui pelo blog. (Yeeep)
Em 2012 fui selecionado por votação online para participar da abertura do show de Gala do GOTHLA BR, no Rio de Janeiro. No mesmo ano fui premiado em Vitória da Conquista como a 2ª melhor apresentação no IV Mini Fest, organizado pela Cia Dançart.

Com o decorrer da carreira, alguns trabalhos surgiram, como, por exemplo, assistência no show SIMBIOSE da Joline e até mesmo intercâmbios com alunas regulares dela.
Outras conquistas, essas mais acadêmicas, como os cursos técnico e superior, me surgiram pelo meu desejo de profissionalização na área.

BLOG: Como é o cenário da dança tribal na Bahia? Pontos positivos, negativos, apoio da cidade/estado, repercussão por parte do público bem como pela comunidade de dança do ventre/tribal?
Nos meios acadêmicos, poucos ainda conhecem a dança na sua história, bem como em estudos de movimentações. Na Escola de Dança da UFBa, por exemplo, o tribal fusion é conhecido através de apresentações que realizo, bem como de colegas que também estudam e praticam a dança. A mesma situação se repete na Escola de Dança da FUNCEB. Os que se interessam a conhecer mais profundamente costumam participar de aulas e workshops ministrados pela cidade.

Nos eventos específicos de dança tribal, costuma-se ter uma quantidade consideravelmente boa de público nos teatros. Muitos familiares, outros curiosos, outros convidados por alguém. Em eventos de dança num contexto mais amplo, ou pequenas apresentações, o público também é participativo, admira e passa a acompanhar os trabalhos. Muitos já me adicionaram nas redes sociais após eventos, a fim de conhecer meus trabalhos e trocar informações. Em suma, conhecem como uma derivação da dança do ventre, como é comum para quem não conhece. Depois de explicar, eles mudam os pensamentos sobre a dança.


São produzidos poucos eventos destinados à dança tribal, devido à dificuldade que é para conseguir apoios e patrocínios. E para a produção cultural é preciso de renda.

A Bahia é muito grande comparado com outros estados e tem muitas pessoas que não tenho informações que pratica, estuda e/ou conhece a dança tribal. Tenho uma vasta noção da cena tribal baiana através do blog com os “Destaques” e outras informações que pesquiso. Tão pouco não somos, rs.

Outros campos que estamos sendo bem recebidos são nos eventos e haflas orientais. Tanto as bellydancers quanto o público são bem receptivos.

BLOG: Em 2012, você participou do show de abertura do Gothla Brasil. Gostaria que comentasse como surgiu esta oportunidade e sobre a experiência de dançar no palco mais obscuro das fusões tribais.
Após minha participação na votação online para poder participar do show no Gothla Brasil, na qual fui premiado, dancei no palco mais obscuro das fusões tribais...Foi minha primeira viagem para fora da Bahia e minha primeira participação juntamente com artistas da cena tribal que são referenciais no Brasil e adjacentes. No primeiro dia de workshops já fui me encantando ao ver artistas que você admira ao seu lado, tendo aulas com eles, podendo ter uma conversa cabeça ou mais descontraída e até uma dança improvisação em meio a boate, como foi com a Ariellah (me lembro até hoje dessa noite.


Alan, Marcelo e Caíque


Além do meu solo, fui convidado pela Jhade Sharif a dançar com mais dois bailarinos queridíssimos: o Alan Keippert (RJ) e o Marcelo Justino (SP). Foi lindo poder dançar com eles.


Quando fui dançar o meu solo, o nervosismo era grande. Mantive a calma e ao realizar o primeiro movimento, só me deixei ser conduzido por mim mesmo, ao som de Beats Antique (fã não tem jeito, rs). Saí do palco contente e espero logo voltar. Quem sabe até dançando no show de gala e ministrando workshop? #FicaDica




BLOG: Em 2014, você participou do EtnoTribes Festival (Salvador – BA), como assistente de produção. Gostaria que comentasse sobre essa faceta e também seu envolvimento com o evento.
Fazer parte de uma equipe de produção de um evento de dança nos traz um olhar diferenciado para nossa vivência. É estar do outro lado do palco, orientando, ajudando, procurando e informando a respeito de tudo sobre o evento.

Minha participação no Etnotribes foi como assistente da produção do show SIMBIOSE, estando junto da produção por um dia. Porém, foi crazy, porque são muitos detalhes para realizar, cumprindo horários, para que dê tudo certo. Estive nessa tarefa ao lado da Samile Dias. Fomos buscar a banda “Pedra Branca” no aeroporto, transportar os convidados, buscar elementos cênicos, da produção, do próprio evento... UFA!! Além de nós, a Priscila Sodré e a Trupe Mandhala também estavam na produção e esse conjunto ajudou o evento na sua melhoria e totalidade.


Bastidores: Caíque Melo e Samile Dias

Apesar de cansativo (e fazer produção de evento é bem desgastante), foi uma experiência muito enriquecedora, onde,pude perceber com maior clareza os processos para fazer com que um evento seja realizado.  


BLOG: Neste mesmo ano você participou do festival Bailares, em Feira de Santana – BA, ministrando workshop de “Waack Fusion” e também dançando como solista e com a Trupe Mandhala. Conte-nos um pouco sobre o tema do seu workshop. Como surgiu esta oportunidade e como foi a experiência de dançar em grupo com a Trupe?
Trupe Mandhala e Caíque Melo
O Bailares é uma produção da Trupe Mandhala que consiste basicamente em workshops e shows gratuitos. Participei das duas edições realizadas (2012 e 2014) e no último fui convidado para ministrar um workshop e participar do show de gala. Quando eu recebi o convite estava estudando sobre as danças Waacking, Vogue, Stilletto, Pop, Street Jazz e me interessei logo de cara, pois, a partir do convite, desenvolvi uma pesquisa de fusão entre as danças mencionadas ao tribal fusion belly dance. O Waack Fusion é um estilo que ainda estou pesquisando, mas que tem um caráter diferenciado do que tem-se visto da dança tribal. O caráter de hibridação de estilos de dança é difícil de se trabalhar, pois exige de estudos dos estilos para poder ser coerente com o caráter que é de fusionar. E misturar elementos de ambos e dar uma nova roupagem é trabalhoso. Pesquiso movimentações quase que diariamente, em meios de improvisação para possuir maior repertório e conhecimento do que eu tenho produzido.




O workshop foi bem recebido, com participação alta e ativamente. Todas minhas aulas e workshops eu disponibilizo uma apostila/programação da aula, com todos os movimentos estudados. São materiais importantes para se estudar e até relembrar depois de algum tempo sem contato com o mesmo.

BLOG: Em 2015, você está ministrando, juntamente com Antonia Ribeiro da Trupe Mandhala, o “Cozy Work”. Como surgiu a idéia? Qual a proposta do curso? Como chegaram ao número ideal e limitado de três alunos.
O Cozy Work foi uma idealização minha e convidei a Antonia para participar, parceria essa que consiste há um tempo e também somos colegas de casa. A primeira edição foi realizada em março e foi muito interessante como o acontecer da aula foi se dando. O projeto, que pensamos em realizá-lo mensalmente, consiste em estudar sobre o corpo e a dança de forma teórico-prática, com um número de alunos bem reduzido, para que assim tenhamos um olhar mais apurado para os ensinamentos e as observações. Fizemos algumas experimentações de disposição no espaço para podermos chegar ao número de 3 participantes.

Além disso, por ser realizado em uma casa, traz uma ideia de conforto, de bem-estar, de aconchego. Não somente isso, almoçamos juntos... uma refeição saborosa, leve e energética para continuar com os estudos. O nome, de tradução, “Trabalho Aconchegante”, foi pensado para informar diretamente essa ideia.

Muitas ideias estão sendo estudadas por nós dois para poder ir avante com o projeto que pode ser bem interessante para difundir.

BLOG: Conte-nos um pouco sobre suas principais coreografias. O quê o inspirou para a formulação da parte conceitual e técnica das suas coreografias, assim como o processo de elaboração dos figurinos e maquiagens. Como essas coreografias repercutiram na cena tribal? 
Alguns vídeos que tenho disponível na internet são improvisos. Mas, por ser improviso, não quer dizer ser feito de qualquer maneira. Sempre há uma pesquisa por trás, com processos de improvisação para investigação de movimentos, cênica, de figurino e etc. Tenho trabalhado muito com improvisação-investigação, sendo muitas vezes estudados em casa para depois ser apresentado. Esse processo que dá norte ao que será a coreografia, a ideia, ao figurino. Algumas vezes me vejo um pouco frágil em relação ao compor figurinos e maquiagens. Apesar de todos os adereços que se usa, há uma concepção por detrás da coreografia, há um gênero que está dançando, há renda, há o ambiente, etc. Tenho amigos que me ajudam sempre com esses dois quesitos. São uns anjos  – e pesquiso sobre.

BLOG: Apesar de estar cada vez mais se consolidando e ganhando força, a dança tribal ainda é recente no universo da Dança no país. Como a dança tribal está ganhando espaço na cena acadêmica? E o quê você considera importante ainda ser trabalhado no âmbito acadêmico para a dança ser mais valoriza e reconhecida?
Mesmo nas academias de dança, bem como de profissionalização, é preciso explicar os caráteres da dança. Pelo desconhecimento, muitos não procuram aprender a dança tribal e poucos já viram ao menos uma apresentação. Acredito que quanto mais produção e divulgação dos trabalhos, da história e das pesquisas houver, mais atraentes para a dança vamos ter. Os trabalhos devem ser contidos de identidade, de autenticidade. A contemporaneidade nos embarca em pesquisar a nossa dança, novas maneiras de mover. A beleza que tem a dança tribal com sua técnica, com suas movimentações e seus figurinos belíssimos também chama muita atenção, pois é uma dança diferente, parecida com... –como alguns já me descreveram-, mas diferente. E essas diferenças que cada tribalista leva, e acredito eu, que se deve procurar sempre, nos dá mais espaço para apreciadores, participantes e público.

BLOG: O quê você mais gosta no tribal fusion?
A estética, o místico, as roupas, os movimentos...

Tudo me atrai na dança tribal. Fico vendo vídeos e percebendo as diferenças e semelhanças de cada um, o como está lidando as novas coreografia e pensamentos dos artistas. A dança tribal deve ser pesquisada nas academias, deve ser aprofundada. Quando vou fazer isso, em uma movimentação que faço, já me vem “n” questionamentos para entender a execução e como é no meu corpo, por exemplo. Faço muito isso quando produzo os workshops e as aulas. Me ajuda bastante. 


BLOG: O quê você acha que falta à comunidade tribal?
Pensar na dança como teoria-prática, com pesquisas de cinesiologia, psicologia, sociologia, etc. Acredito que a dança tribal é muito enriquecedora nos meios de pesquisa de movimento, consciência corporal, bem-estar e demais campos de estudo. Isso vai muito do interesse de cada um, claro, mas, quando pensamos a dança não somente e puramente numa estética, numa execução/repetição de movimentos (e vejo isso necessário, pois, é uma dança que possui técnica), percebemos nosso corpo e nossas possibilidades de trabalho muito mais amplamente.

BLOG: Como você descreveria seu estilo?
Digo que estudo dança tribal fusion e dança fusão. Apesar de procurar não rotular tudo, sendo às vezes necessário, vejo que meus trabalhos e pesquisas estão de abrangendo e tomando outros caminhos que não somente a dança tribal. Procuro mantê-la sempre, pois gosto do estilo, mas não me fecho somente ao estudo do mesmo. Vou procurando fusionar o que me interessa e que eu ache interessante. 

BLOG: Como você se expressa na dança?
Me vejo diferente nos palcos, como se fosse um outro Caíque. Ao dançar eu me sinto aberto, me expressando através das movimentações que realizo. Mas, se faz necessário também, invocar uma outra persona, um personagem, para que se possa passar as impressões desejadas. A depender da apresentação, a forma de se mover, o olhar, o figurino, etc., se diferencia.

BLOG: Quais seus projetos para 2015? E mais futuramente?
Estou com um projeto de espetáculo solo que está em construção. O espetáculo tem sido pensado há alguns anos, sendo retomado a ideia no final do ano passado, com os trabalhos de Waack Fusion e tenho trabalho nele agora. Se trata de hibridações (sexual, movimentação corporal, religiosa, tecnológica). Ainda está engatinhando, mas pretendo apresentá-lo na sua totalidade até o final desse ano.

Tenho outras ideias, alguns planos ainda no papel (ou Word, rs), mas que com certeza serão realizados. Projetos como eventos de dança, workshops, aulas, exposições e escritas (quem sabe não passo a escrever para o blog, rsrs) estão dentre projetos futuros.

BLOG: Improvisar ou coreografar? E por quê?
Os dois!

Meus trabalhos são partidos muito de improvisação e até sendo apresentados em improvisação. Mas se faz necessário, para o entendimento e também criação de movimentações, o estudo coreográfico. Além do que, coreografar também nos permite fazer as ditas “limpezas coreográficas”, que são modificações realizadas na coreografia para uma melhor estética, por exemplo.

A improvisação tem seu papel também. Improvisar em uma música não é fácil e exige de um conhecimento sobre espaço, repertório de movimentos, musicalidade, etc., que faz com que a dança improvisada seja bela, sem muitos erros técnicos.

BLOG:  Você trabalha somente com dança?
Sim. Sou bolsista do Pibid/Dança (Programa da CAPES), onde dou aulas de dança para crianças, além dos meus trabalhos autônomos.

BLOG: Deixe um recado para os leitores do blog.
Agradeço por ter lido tudo isso até o final (rsrs). São muitas coisas que gostaria de falar, mas tentei resumir ao que achei mais importante de se dizer aqui e agora. Espero, logo mais, poder escrever, conversar e papear mais sobre a dança, anseios, receios e vontades, a fim de compartilhar conhecimento com quem se interessar.
E para conhecer os meus trabalhos, acompanhar os futuros e se quiser, conversar, é só me seguir nas redes sociais. :D

Para finalizar, deixarei uma frase que descreve um pouco sobre o que procuro e o que devemos procurar para nossa vida ser bem melhor.

“Não me interessa o que você faz da vida. Quero saber os seus desejos – e se você ousa sonhar em sucumbir aos anseios do seu coração. Não me interessa a sua idade. Quero saber se você irá arriscar parecer um tolo – por amor – pelos seus sonhos – pela aventura de estar vivo.”
Oriah Mountain Dreamer
  
E que aventura é a vida... =)

BEIJOS bem tribalescos pra todos!
Gratidão. :D


Contato

Tel/cel: 
(71) 9383-6054 / (77) 9813-6401 [WhatsApp]

E-mail:
 caique-melo@live.com

O Tribal Brasil e a mística implícita na dança

por Kilma Farias


Cia Lunay


                O corpo festivo das danças populares traz em si não apenas gestos e passos das manifestações profanas, mas também uma gama de símbolos e indícios de uma religiosidade atrelada ao sagrado.

            Sendo danças como a Afro, o coco, o Cavalo Marinho, o Jongo, a Capoeira, o Maracatu, entre outras, pontos de partida para investigações de movimento no Tribal Brasil, assimilamos, contudo, a espiritualidade que as permeiam, mesmo que de modo não intencional.


            Muitos são os grupos que se utilizam dessa mística na composição coreográfica para Tribal Brasil. Só para citar alguns grupos e solistas temos Carla Brasil, Carol Marques, Cia Lunay, Shaman Tribal, Trupe Mandalah, Aquarius Tribal Fusion, Bela Saffe, entre outros.
                  Em 2014, a Shaman Tribal Company apresenta a Catimbozada no Tribal Fest, sendo, ao meu vez, um marco histórico e memorável para esse assunto que venho conversar.


           Mas, antes da dança trazer símbolos, mitos e assuntos referentes ao sagrado, evoco a dança como um ato intimamente ligado ao “algo mais”, para além da própria dança. Dançar é um modo de estar no mundo. Ao mesmo tempo êxtase [1] e racionalidade. “Não apenas jogo, mas celebração, participação [...].” (GARAUDY, 1980, p. 13). Nesse sentido, a dança passa a ser, para além da técnica, uma forma de viver, de perceber e ser percebido, trazendo a experiência de que o sagrado passa pelo corpo físico, revelando através do movimento e suas implicações simbólicas, plenas de memória, uma narratividade que se escreve sem palavras, que a dança é ao mesmo tempo, ciência, arte e religião.


Shaman Tribal Co.

            Vejo a dança essencialmente como uma forma de comunicação com o mundo e entre mundos. A dança se faz dança pela percepção do outro, tornando o sobrenatural presente e o homem potente. O corpo que dança se estabelece como um mediador de realidades que se constituem em um dado contexto, sendo expressão representativa de determinada sociedade, fomentando emoções diversas no bailarino que dança e em quem o percebe, transformando o ato de dançar em uma experiência fenomenológica.

            Carla Brasil desenvolve em São Paulo uma nova linha do Tribal Brasil, trata-se da Dança Tribal Ritualística Performática. O estilo ganhou projeção nacional, inclusive através de participação no programa Encontros de Fátima Bernardes, na Rede Globo de Televisão.

            No vídeo, solo de uma aluna de Carla Brasil, explorando o estilo: 



            O estado do corpo que dança plasma em si, no outro que testemunha e no espaço onde a cena acontece, realidades concomitantes que se estabelecem através de relações.


            Assim, podemos supor que aquele que dança é o mesmo ator que se percebe a si mesmo, pois não estão um diante do outro. Em vez disso, são concomitantes em uma mesma realidade. Desse modo, as sensações que uma dança traz não são nem causa nem consequência, mas percepção. Da mesma forma, aquele que observa o corpo que dança, não o percebe apenas com os olhos ou com os ouvidos, ou com qualquer um dos sentidos, mas o percebe além dos cinco sentidos. Essa relação coloca a dança como uma experiência mística ou espiritual, para além da objetividade captada pelos cinco sentidos.


Carla Brasil

            Na Lunay, os temas referentes à mística que permeia as danças populares e afro-brasileiras é uma tônica. No vídeo, alusão à rainha Nzinga e seu mito: 



            Tive a oportunidade de pesquisar os arquétipos de Iansã, Iemanjá e Oxum para compor três solos distintos. O que teriam tanto em comum esses três trabalhos, além da matriz Afro? Penso que a simplicidade de aliar o “algo mais” à técnica para conseguir “arrepiar” os presentes no teatro. Não pelo virtuosismo ou complexidade, mas pelo contrário, pelo simples. Porque o corpo simplesmente dança.

                Quando esse corpo se move, no ato da dança enquanto expressão de arte cênica, todo um mundo se move com ele. A dança é uma das mais antigas formas de comunicação entre o homem e seu criador. Por esse motivo, muitas das danças tornaram-se sagradas, não pela dança em si, mas pelo que elas representam. Desse modo, a importância da nossa vida e possíveis entendimentos de mundo, assim como possíveis entendimentos de formas estar no mundo, perpassam pela dança. O universo dança constantemente, pois tudo está ao mesmo tempo em perfeito equilíbrio e em movimento: as estrelas, as galáxias, os cometas, os planetas e tudo que existe. E porque estão em movimento e em equilíbrio, estão em evolução – é a dança da vida. Na natureza, tudo dança. E nessa dança, podemos decifrar os traços dos antigos valores religiosos.

Referências bibliográficas

ALVES DOS SANTOS, Rosileny. Entre a razão e o êxtase: experiência religiosa e estados alterados de consciência. São Paulo: Edições Loyola, 2004.

GARAUDY, Roger. Dançar a vida. São Paulo: Nova Fronteira, 1980.

GIL, José. Movimento Total. O corpo e a dança. São Paulo: Iluminuras, 2004.




[1] “[...] êxtase é um estado de alegria indizível ou de tristeza profunda. Além de estado de excitação física generalizada ou estado de apatia extrema, trata-se de uma comoção psíquica que, dependendo do valor motivacional, exprime sua intensidade no próprio evento.” (ALVES DOS SANTOS, 2004, pg 38).



Amostra Steampunk PARTE 2

por Geisiane de Araújo

Doctor Steel

Doctor Steel foi o personagem de palco de um músico e personalidade de internet americana de Los Angeles. Ele se apresentou em raras ocasiões, com o nome "backup band". Os shows incorporam marionetes, multimédia e performances com  um exército de soldados de brinquedos.



Voltaire

Aurelio Voltaire Hernández, profissionalmente conhecido por Voltaire , é um músico cubano-americano de dark cabaret. Seu nome artístico é seu nome do meio dado, que ele divide com o famoso iluminista francês escritor François-Marie Arouet .



Emilie Autumn

Emilie Autumn Liddel, é  cantora, compositora e violinista, residindo atualmente em Chicago. É conhecida por seu estilo de performance teatral e maestria na mixagem de música clássica e música eletrônica.


Rasputina 


Rasputina é uma banda de violoncelos e apalaches do Brooklyn, Nova Iorque, quando Melora Creager colocou um anúncio procurando integrantes para um banda de violoncelos. A violoncelista Julia Kent respondeu e as duas formaram um grupo chamado Traveling Ladies' Cello Society.

O Grupo é conhecido pelo seu estilo de música não convencional com alegorias históricas e de moda, especialmente da Era Vitoriana.



Vermillion Lies

É uma banda de cabaret de Oakland, Califórnia. A banda é formada pelas irmãs Kim Boekbinder e Zoe Boekbinder. Elas são conhecidas por incorporar elementos de circo e folk e steampunk em sua música. 



Johnny Hollow 

Johnny Hollow é uma banda de Guelph, Ontario, Canadá. Criada em 2003, Vincent Marcone, Kitty Thompson e Janine White se conheceram quando foram contratados para criar a trilha sonora de um jogo e, logo depois, decidiram montar uma banda.



Vernian Process


Vernian Process é um avant-garde duo musical formado em São Francisco. Levando o nome das obras de autor do século 19 Júlio Verne, Processo Vernian é uma banda que cria música temático em torno Vitoriano, romance científico e sua contraparte moderna steampunk. Seu som é uma fusão de estilos modernos e do velho mundo, incluindo gótico-rock darkwave, rock progressivo, neoclássico, trip hop, ragtime e outros gêneros relacionados. A banda é composta pelo vocalista Joshua A. Pfeiffer, e multi-instrumentistas Martín Irigoyen, Brian Figueroa, Anton Van Oosbree e Vincent Van Veen.


The Cog Is Dead


The Cog Is Dead é uma banda de Steampunk de DeLand, na Flórida, que produz músicas baseadas em histórias de steampunk , em uma variedade de estilos musicais de várias épocas. Suas influências vão desde o rock and roll para ragtime a música popular e do cinema russo.


[Notícia Tribal] Nomadic Tribal na Hypeness


























O grupo de ATS® de São Paulo, Nomadic Tribal, participou de um  ensaio aberto para uma performance em estilo de "duelo" que  reunirá  as bailarinas de tribal com outros bailarinos de street dance no evento Venga Venga. Para conferir a cobertura da Hypeness, clique aqui.

Ainda no portal da Hypeness, o Nomadic  participa de uma segunda matéria sobre a marca Absolut Vodka, que cria ação com artistas de São Paulo para transformação artística da cidade. Para conferir esta matéria, clique aqui.



[Notícia Tribal] Blusas Mariana Quadros Tribal


A bailarina Mariana Quadros (SP) estreou sua mais nova coleção de blusas no Mercado Persa 2015.

Em seu perfil no facebook, a bailarina comenta sobre seu novo projeto:

Essa pequena coleção é o resultado de uma vontade antiga! Sempre quis fazer blusas minhas, mas nunca quis estampar meu nome (ou minha cara!) numa camiseta, e pronto. Achava que tinha que ser alguma coisa que EU gostaria de usar, alguma coisa que tivesse a cara do nosso estilo, uma identidade tribal... Depois de muito tempo amadurecendo a idéia, o resultado é essa pequena coleção de blusas tingidas, estampadas e etiquetadas uma a uma. Cada blusa é exclusiva, tanto pelo processo de tingimento no qual o resultado não pode ser completamente controlado, quanto na hora de estampar, onde cada uma recebeu o desenho de acordo com a cor e o modelo. Os desenhos são inspirados na elegância e simplicidade dos trabalhos tribais ao redor do mundo, e feitos um a um. Estou muito contente com o resultado final, queria ficar com todas!



Para adquirir sua blusa, solicite através do e-mail:

marianaquadros@outlook.com 


[Notícia Tribal] Sublime com Sara Félix e Katia Iwanousk

Sara Félix lançou recentemente seu novo registro coreográfico, mas dessa vez realizando dueto com Katia Iwanousk.

O duo de dança "Sublime" oferece uma reflexão sobre “mulheres obstinadas”. Partindo de um lugar pessoal, as questões vão sendo compartilhadas, tornando-se universais. A transitoriedade dos sentimentos no decorrer do tempo, o conflito entre aquilo que é perpétuo e efêmero, o arquétipo e o real, o que ainda é e o que deixa de ser.

A composição possui como principal desafio a ausência de uma estrutura coreográfica pré-estabelecida, trazendo para a cena um corpo atualizado e presente. Diferentes linguagens se juntam com o corpo que dança, dando ao duo um aspecto contemporâneo.
(Texto por Sara Félix)

Sobre os limites do corpo, respeito e diversão

por Valdi Lima | Nomadic Tribal




O ATS®, como conhecido, é uma dança em grupo. Um grupo compõe-se de pessoas únicas nas suas características, opiniões e comportamento singular. É sabido que o ATS® é um estilo de dança cheio de regras, porem em nenhuma dessas regras esta escrito que você DEVE conseguir executar determinado passo. Precisamos respeitar o limite do corpo do outro, assim como devemos respeitar sua essência e sua opinião.

Quando dançamos entre as integrantes do próprio grupo, sabemos o limite das nossas amigas, sabemos quem não gosta de "puxar chão" (como chamamos informalmente passos em que agachamos ou ajoelhamos), sabemos quem não se sente confortável fazendo tal passo, sabemos quem não consegue fazer um super Cambret por causa da sua coluna. Portanto, quando estamos dançando com tal amiga, não vamos puxar o passo que ela não consegue fazer, por coleguismo e respeito a ela. Por que você puxaria um passo que sua amiga não consegue executar com perfeição? Apenas para parecer que você sabe mais do que ela? Esse comportamento é desnecessário no ATS®, porque somos todas iguais, o bonito da dança é a sintonia do grupo e ninguém deve se destacar.

Sim, devemos dançar com um "filtro" na cabeça, assim como devemos pensar rápido em qual passo encaixa naquela parte da música, também devemos pensar nas nossas amigas e no conforto de todas. Coleguismo e coletivo. 

Na ocasião do meu General Skills em 2012 na California, Carolena Nericcio nos disse que, antes de uma apresentação, nos bastidores, podemos e devemos perguntar às amigas se todas estão bem naquele dia e se estão em condições de executar todos os passos. Isso é respeito, respeito ao próximo, respeito aos limites do corpo das suas companheiras, respeito ao publico que esta lá para te assistir e aplaudir. Também é recomendável dar uma espiadinha no local onde vamos dançar, no tipo de piso e conversar entre nós. O Nomadic já se apresentou em vários lugares onde foi possível conhecer o "palco" somente no momento da apresentação, já dançamos sobre tapete, já dançamos em picadeiro coberto por lona onde ficamos pisando "raso e fundo", já dançamos em pista de dança no meio da galera onde sempre tem alguém que derrubou alguma bebida e o piso fica escorregadio, já dançamos em cascalho, em grama e em terra batida. A gente se adequa! Mas em todos esses casos usamos maturidade para saber qual passo não devemos fazer pelo perigo de queda ou nos enroscarmos nas saias. 

Mas e quando dançamos pela primeira vez com alguém que não conhecemos e não tivemos a oportunidade de conversar previamente? Na dúvida, fique sempre no ATS® clássico, o básico bem executado é sempre receita de sucesso. 

Por mais que algo seja planejado ou ensaiado, precisamos sempre contar com o imprevisto. Mas sendo o ATS® uma dança de improviso, o que fazer? Dançar com o corpo e mente! Quem nunca se pegou dançando no "automático" e de repente percebeu que estava pensando em outra coisa, não estava com a cabeça ali, naquele momento? Isso nos tira a atenção, nos tira o foco e o reflexo. Devemos estar sempre alerta, ciente que algo pode acontecer fora do esperado e ter pensamento rápido para contornar e erro de modo que o publico não perceba. 

Nós que dançamos e conhecemos os passos e as regras, quando erramos é praticamente inevitável um sorriso mais largo por parte de quem errou e isso é muito engraçado de ver nos videos, praticamente todo mundo que erra tem a mesma reação! Mas o público não conhece as regras e os passos e o que pode parecer um super erro para nós, para eles talvez passe despercebido. É nosso dever, como coletivo, contornar todo e qualquer deslize. Como? Quem puxou um passo e percebeu que as colegas não conseguiram acompanhar, se atrapalharam, não repita mais esse passo naquela apresentação. E quem esta seguindo e por acaso errou, o mais importante é não se afobar, contorne, se encaixe novamente de onde conseguir e lembre-se sempre que a sua expressão facial fala mais do que suas palavras, precisamos prestar atenção sobre a mensagem que o nosso rosto esta passando. De nada adianta seu figurino estar rico, a execução dos seus passos estar perfeita, se o seu semblante esta fechado. Dança é diversão e alegria! Dança não é obrigação. 

Mas e sobre quem errou? Será que eu não estava dançando com a cabeça aqui no momento? Será que eu não estava prestando atenção suficiente? Será que ela não foi clara na senha? Não devemos julgar, apenas contornar e consertar. Claro que DEPOIS isso deve ser falado, se possível visto em vídeo, conversado com suas amigas do grupo, e melhorado, mas no momento da apresentação e após a mesma, não adianta ficar de cara feia para a colega porque não gostou da pisada de bola dela. Ninguém acorda e pensa "Humm, hoje decidi errar feio na apresentação", ninguém! Porém estamos passiveis de erros. Eu já dancei com uma pessoa que fazia um carão tão marrento quando alguém cometia um engano, que o clima ficava tão pesado a ponto de ninguém mais aproveitar e curtir o restante do evento. E isso é péssimo. 

Ninguém é perfeito na vida, e se ninguém é perfeito na vida, por que algumas pessoas acham que precisam ser perfeitas na dança? Estudo e técnica são imprescindíveis, isso é fato, mas não se culpe demasiado por errar um passo de ATS®, quando o que conta é a harmonia, a sintonia do grupo em si, a beleza do coletivo. Erros acontecem, isso é tão comum no ATS®, apenas aceite e divirta-se! 

Uma das lições mais importantes que guardei do meu General Skills, foi quando Carolena nos disse que a ideia do ATS® é se divertir, por isso o sorriso, e que se você não estiver se divertindo é porque algo está muito errado, e cabe a você refletir sobre isso. Estou me cobrando demais? O problema é com alguém do grupo? Conversa e reflexão sempre resolvem esses pontos, e como eu já disse lá no inicio, precisamos respeitar a opinião dos outros, assim como devemos respeitar os limites do seu corpo. 

Deixo com vocês um vídeo da nossa mestra e inspiração, aquela que sempre nos espelhamos para (tentar) um dia ser igual. Na primeira música desse vídeo Carolena se engana algumas poucas vezes e o que ela fez??? Riu e continuou, soberana rainha como ela é! Entendam que a minha ideia não é apontar defeitos ou erros, o que eu pretendo com isso é mostrar para você que se ela, quem criou o estilo e o pratica há mais de 20 anos, se ela se engana e contorna e se diverte com isso, porque nós, simples súditos, nos cobramos tanto a perfeição? Reflita... e divirta-se! Essa é a ideia do ATS®! 





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