[Resenhando-RJ] Mini- Gothla Brasil 2014

por Samantha Monteiro


Olá pessoal!


Nesse meu primeiro post na coluna "Resenhando", vou contar um pouquinho de como foi o Mini-GOTHLA BR !

Para quem não sabe do que se trata, o Gothla (hoje formado pela junção das palavras "gothic" e "hafla") é um evento dedicado ao "Gothic Bellydance". Seu formato é de um grande encontro entre os praticantes dessa modalidade e de segmentos alternativos do Tribal Fusion, com workshops, mostra de dança, expositores com venda de acessórios e um grande show fechando o evento.

Sua primeira edição aconteceu em 2007 no Reino Unido. Desde então, o evento cresceu e se expandiu para outros países, chegando ao Brasil em 2012, produzido por Jhade Sharif, diretora da Asmahan Escola de Artes Orientais.

Em 2014, o evento contou com um workshop ministrado pela bailarina Raphaella Peting, mostra de dança e o show "Coexiste".

A data escolhida para a mostra+show foi significativa: 01 de novembro de 2014!
Eventos temáticos de Halloween são uma tradição do Asmahan. Esse ano o Gothla assumiu também esse papel!





Pontos fortes do evento:

A Mostra de Dança e o show foram apresentados em sequência. Isso deu dinamismo ao evento e evitou que o público se dispersasse. Também foram priorizados os números em grupo, e menos solos. Isso reduziu o número das apresentações e deixou o show do tamanho certo, com aquele gostinho de quero mais!


A Mostra de Dança estava bem no clima Halloween! Além das apresentações de Tribal Fusion, tivemos Monster High, Morticia Adams, bailarinas caveiras e zumbis... 


Tahoser Sharif

Grupo Monster High

Regina Lopes


Carol Marques 

Nadhirrah Farag 

Helena Amynthas

Gostei muito do Corvus Corax Group, formado por alunas de Rhada Naschpitz; e do solo da Natália Espinosa, como uma fantástica "haunted doll".


Corvus Corax  
Natália Espinosa

O show "Coexiste" contou com a participação de todos as professoras do Asmahan, inclusive as de Dança do Ventre, e isso deu um toque de diversidade nos números de dança. Também curti!!

Darah

Rayzel

Nadhirra
Raphaella e Alunas

Entre as apresentações que me chamaram mais atenção, posso destacar Aline Muhana e Rapha Peting com um duo lindo com a música "Bring me to life" que arrepiou a platéia.

Raphaella Peting e Aline Muhana

Lalitha, Kyia Sharif e Noor Farag apresentaram um número baseado no musical "Wicked" (que eu não conhecia, confesso, mas depois que entendi a referência gostei mais ainda!)

Wicked

Jhade Sharif e Rhada Naschpitz arrasaram nos seus solos!

Jhade Sharif

Rhada Naschpitz

Para terminar, um ATS® na melhor vibe Piratas do Caribe!



E assim foi o Mini-GOTHLA BR 2014!! 


Elenco





Esse ano teremos o festival em sua versão completa, com diversas bailarinas internacionais e diversos workshops inéditos no Brasil, e as inscrições JÁ ESTÃO ABERTAS!

Eu não vou perder, e você??






[Índia em Dia] A Índia e o Tribal - rastreando a presença da arte hindu nas fusões (PARTE 1)

por Raphael Lopes
Pintura tradicional indiana retratando bailarinas Rajastanis dançando Kalbelya


Olá leitores,


Gostaria de iniciar hoje uma conversa sobre as influências indianas sobre o Tribal. E quando digo Tribal não me refiro unicamente ao ATS®, mas ao Fusion principalmente, justamente por ele dar uma infinitude de possibilidades por meio de cada bailarino(a). Não conheço os trabalhos individuais de todos os bailarinos, logo posso apenas pincelar aquilo que está mais visível no mercado contemporâneo. 

Primeiramente, gosto de lembrar que toda arte é uma expressão cultural e, basicamente, é fundamentada em dois pilares: Estética e Filosofia. Assim, as danças "do Ventre" (lembrando que diversos países do Médio Oriente possuem suas particularidades) possuem uma estética e uma filosofia, enquanto o flamenco possui sua estética e sua própria filosofia, o mesmo com o Ballet, e assim por diante. Cada estilo é único, e de certa forma é "fechado". O paradigma da dança tribal é justamente aceitar o desafio de abrir esse circuito fechado que existe em cada estilo, permitindo um diálogo onde danças de estilos diferentes possam convergir numa mesma arte.

Ghagra Choli Bollywood Style

A nível estético, o desafio é grande: danças diferentes possuem padrões rítmicos singulares, e uma colagem apenas tornará mais visível as diferenças. A proposta do Tribal é fluída, e isso deve em primeira instância significar que a bailarina deve diluir as técnicas numa linguagem coesa e, acima de tudo, fluída. Não consigo conceber plágio de coreografias ou combos "prontos", colados e costurados, como uma fusão. A fusão deve ser sempre criativa, uma expressão do entendimento que a bailarina detêm organicamente dos estilos que se propõem a trabalhar.

A estética indiana está fortemente impressa na cultura do Tribal. O uso de Pashminas, Dupatas e Sarees é ampla, sejam como turbantes, xales para amarrar ao torso ou quadril, ou ainda costurados como os mais diversos arranjos, sendo o Choli um dos mais populares. O top Choli a princípio é sempre com os ombros cobertos, e com o fecho na parte da frente. Na cultura indiana mostrar os ombros é reservado para a intimidade do casal, deixando a sensualidade por conta da barriga à mostra. Esse modelo de figurino surgiu há mais de mil anos no período "Chola", tendo sido criado a pedido do próprio Rei Chola (dai o nome Choli).

Colleena Shakti in Kalbelya costumes

Além do mais temos as famosas saias rajastanis, Jaipur Silks, oriundas das tribos "ciganas" do norte da Índia que carregam seus tecidos com pequenos espelhos que criavam um brilho e fascinio nas bailarinas que dançavam ao redor das fogueiras em noites de Lua Cheia. O mesmo encanto se preservou nas bailarinas radiantes sob os holofotes de um palco. 

As jóias, assim como a maquiagem e o uso de Bindis (bijous para a testa) também possui raiz na regionalidade cultural da Índia, onde as mulheres se adornam como Deusas.

As danças Bhanjaras das ciganas de Jaipur também possui o uso dos Snujs (conhecidos como Kartalas), assim como o padrão de giros e movimentos em combo improvisado que tanto vemos ecoar no American Tribal Style®. 

Rachel Brice em postura Tribhanga

Muito embora se diga que a dança indiana seja uma raiz do Tribal, eu me atrevo a afirmar que o grande pilar que a dança indiana fundamenta no tribal seja muito mais a Estética do que o próprio repertório de movimentos. As danças clássicas possuem linhas corporais mais rígidas e poligonais, o que dificilmente se encaixaria nos sinuosos movimentos de quadril. Recentemente o Tribal parece flertar com o Odissi, que é considerado o estilo mais sinuoso entre as oito formas clássicas de dança indiana, e vemos bailarinas como Coleena Shakti, Moria Chappell e Rachel Brice introduzirem os movimentos de torso (conhecidos como Chalas) e a postura de corpo inspirada nas esculturas das Deusas, a posição em Tribhanga (tripla curvatura - pernas, tronco e pescoço).

Na próxima matéria irei abordar as influências conceituais e filosóficas da dança indiana no estilo Tribal. E lembre-se sempre, ao fusionar um estilo tenha certeza de conhece-lo com o próprio corpo, partindo de estudos e  experimentações concretas.

Moria Chappell in Odissi costumes


Até a próxima,

Raphael Lopes


A Espanha e o Nordeste: Sobre flamenco, flamenco fusion e tribal brasil

por Karina Leiro



Na última publicação comecei a falar do flamenco fusion como fruto de uma inquietação, da contraposição de tradição e contemporaneidade manifesta no guarda-roupas de Takatatá, das pesquisas de movimento que surgiram dos meus primeiros contatos com o tribal e os trabalhos que resultaram disso. A próxima etapa desse percurso foi me questionar quem sou eu no meio de todo esse processo. Nordestina, nascida na Bahia, morando em Recife, filha de pai e mãe espanhóis, perpassada pela cultura dos meus pais, em contato constante com a Espanha desde pequena, contato ora presencial, ora através da minha família de imigrantes, dos seus costumes, da convivência com a colônia espanhola em Salvador. Contudo, por outro lado, se eu sou geneticamente espanhola e com traços dessa cultura no meu cotidiano, também sou nordestina de nascimento e imersa na cultura do nordeste. Sou aquela que, desde pequena, comia as comidas espanholas que a minha mãe fazia, misturando-as com farinha de mandioca.

Quando vim pra Recife em 2010, fui chamada por Alê Carvalho para dançar no seu grupo, o Aquarius, no qual fiquei de meados de 2010 até meados de 2011. Nesse período, baseada numa belíssima proposta musical de Andressa Máximo, Alê Carvalho e Tamyris Farias e, tendo Tamyris como co-coreógrafa, montei Andaluz. Trabalho cujo título faz referência à Andaluzia, região ao sul da Espanha onde o flamenco nasceu. A música, foi uma montagem que iniciava com um canto de aboio (canto do vaqueiro na sua lida com o gado), passava por um trecho de música armorial, entrava na música "A Devastação da Calma" ou "A Tempestade", do grupo pernambucano Cordel do Fogo Encantado, e terminava com uma marcação de compasso por Sevilhanas, música flamenca de ramificação folclórica.

Ao ouvir a proposta musical, as relações foram surgindo, as imagens e os sons: o aboio gravado no sertão, que me remete ao cante jondo do flamenco (aquele canto andaluz de profundo sentimento), o boi do bumba e o touro das touradas espanholas, a viola nordestina, de comprovada influência ibérica, tocada pelo Cordel do Fogo Encantado num ternário que me remetia às minhas tão conhecida sevilhanas. Os passos do coco nordestino e sua semelhança em mecânica e marcação com os passos das sevilhanas. A dança flamenca, o flamenco fusion, o tribal brasil. O sertão nordestino e a aridez da Andaluzia!!!

Segue vídeo do Andaluz que apresentamos, já pela Cia Lunay, no Campo das Tribos em 2012. Nesse vídeo, dançamos Daniela Albuquerque, Tamyris Farias e eu.









Dança Tribal transforma vida de estudante com depressão - Programa Bem- Estar



Clique na imagem acima para assistir ao vídeo

Carla Brasil e sua aluna estão novamente no programa Bem-Estar da Rede Globo. Dessa vez o programa dá enfoque na dança como caminho para obter-se um estilo de vida mais saudável, como o caso relatado de Julia Alfaya  Behring que tinha depressão.

Tribal Skin por Gabriela Miranda e Yoli Mendez

Tribal Skin
Gabriela Miranda & Yoli Mendez, Tramandaí - RS, Brasil

Sobre a Coluna:

Nessa coluna nos dedicaremos a compartilhar com nossas irmãs e irmãos de dança pensamentos, histórias, questionamentos, curiosidades, eventos e muitas outras coisas que fazem parte do universo do nosso amado Estilo Tribal, visto através de nossos olhos e de experiências vividas em nossa jornada pessoal.

Sobre a(s) Autora(s):




Gabriela e Yoli são bailarinas do Elenco Tribal da Cia de Danças DSA – Dancers South America, sob direção de Adriana Bele Fusco. Gabriela também é coreógrafa e diretora artística da Cia, em parceria com Adriana e Simone Takusi. Gabriela e Yoli fizeram parte dos grupos Pandora e Pashmina de ATS®, sob direção de Mariana Quadros e Rebeca Piñeiro, respectivamente. Fizeram parte do júri de Tribal da Revista Shimmie e de diversos outros concursos. Em 2010 fundaram o Ateliê Tribal Skin onde desenvolvem, criam e confeccionam figurinos e acessórios para o Estilo Tribal e moda alternativa, além de produzirem eventos, aulas e workshops, ensaios fotográficos, e diversos projetos relacionados ao Estilo Tribal. Em 2013 produziram o festival “Tribal Skin”, que contou com a participação de Sonia Ochoa (EUA). Nas horas vagas cuidam dos seus três cachorrinhos salsichas. ;)






Gabriela Miranda:
Gabriela Miranda começou a dançar ainda criança, passando pelo Street Dance e diversos outros estilos de dança até começar a estudar Dança do Ventre em 1999, se formando como professora em 2004. Paralelamente estudou Ballet, Jazz, Dança Contemporânea, Danças Clássicas Indianas, Danças Africanas e Flamenco, além de praticar Yoga regularmente. Pelo ano de 2005 conheceu as fusões da Dança do Ventre, se apaixonando pela Gothic Bellydance e pelo Estilo Tribal. Começou a estudar de forma autodidata e a compartilhar o que entendia do estilo com suas alunas de Dança do Ventre, passando assim a dar aulas de Ventre e Tribal informalmente. Em 2008 fez seu primeiro workshop de ATS® com Bárbara Kale em Porto Alegre, e se encantou pelo estilo, sendo esse um dos seus focos dentro da Dança até hoje. A partir de 2008 começou a estudar com bailarinas internacionais referências no Estilo Tribal, entre elas: Ansuya (EUA), Sharon Kihara (EUA), Mardi Love (EUA), Ariellah (EUA), Mira Betz (EUA), Moria Chappel (EUA), Kami Liddle (EUA), Sonia Ochoa (EUA), The Lady Fred (EUA), Tjarda Van Straten (NLD), Heather Stants (EUA), Kristine Adams (EUA) e Rachel Brice (EUA), além de diversas profissionais brasileiras, de outros países e de outros tipos de dança. Atualmente continua estudando diversos estilos de dança e práticas corporais para incluir em sua própria fusão, produz eventos de Tribal, confecciona figurinos, ministra workshops, traduz para bailarinas internacionais, dança por todo Brasil e escreve sobre o Tribal para blogs e para a Revista Shimmie, sendo uma das colunistas fixas do ano 5.





Yoli Mendez:
Yoli Mendez começou ainda pequena dançando Jazz. Conheceu a Dança do Ventre em 2008 e logo em seguida o Estilo Tribal, se apaixonando pelo mesmo. Fez aulas regulares com Mariana Quadros e com diversas profissionais brasileiras. Estudou com diversas bailarinas internacionais, tais como: Sharon Kihara (EUA), Mardi Love (EUA), Ariellah (EUA), Mira Betz (EUA), Moria Chappel (EUA), Mira Betz (EUA), Kami Liddle (EUA), Sonia Ochoa (EUA), The Lady Fred  (EUA), Tjarda Van Straten (NLD), Heather Stants (EUA), Kristine Adams (EUA) e Rachel Brice (EUA). É administradora e idealizadora da marca Tribal Skin, desenvolvida em parceria com Gabriela Miranda.







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DUST: An Experimental Dance Film

DUST é um filme de dança experimental que irá explorar o conceito de beleza visual, mágica, energia e mortalidade com a dança, cinema e música original. 


Neste projeto conta com vários ícones do tribal fusion, como Zoe Jakes, Kami Liddle, Amy Sigil,Raven Ember,Jennifer Faust(produtora e coreógrafa) Pixie Fordtears, Rose  Harden, Kendra Katz, Sharon Kihara e muito mais!





Você pode ajudar nesse projeto, doando através deste site (clique aqui).

Zaar, a Dança Ritual

por Hölle Carogne


 O Estilo:

Zaar é uma dança de transe do Alto Egito, também praticada no Sudão e Somália. O ritmo (Ayoub) é pesado, marcado por apenas duas notas. Os movimentos  tradicionais são jogadas de cabeça e gingadas. Movimentos pélvicos e de braços também podem ser utilizados. O objetivo é o transe coletivo levado à  exaustão.

O Zaar, mais do que um estilo de dança, é uma expressão religiosa, um ritual. O ritmo -Ayoub - usado para promover o transe, também pode ser conferido em rituais afro-religiosos, como o candomblé, e serve para afastar maus espíritos.




A Cerimônia:

Apesar do Zaar ser tecnicamente proibido pelo Islã, ele continua a ser parte essencial dessas culturas.

É melhor descrito como um culto de cura que usa tambores e dança em suas cerimônias. Também funciona como um compartilhamento de conhecimento e solidariedade social entre as mulheres dessas culturas tão patriarcais. A maioria dos líderes do Zaar são mulheres, e a maioria dos participantes também. Muitos escritores notaram que enquanto a maioria dos espíritos possuidores é masculina, as possuídas são geralmente mulheres. Isso não quer dizer que os homens não contribuam para as cerimônias de zaar: eles podem ajudar com os tambores, na matança dos animais, ou podem ser requisitados para fazer oferendas ao espírito possuidor.

As cerimônias de Zaar se estabeleceram no Sudão nos anos 1820. Foram ilegalizadas pela lei de Shari'a em 1983, mas, ao invés de diminuir, parecem ter aumentado. Elas dão às mulheres uma forma única de consolo em sociedades patriarcais rígidas. O próprio Islã sempre acreditou na existência de “espíritos”, que eles chamam de “Jinn”. Além disso, o Zaar foi oficialmente banido do Sudão em 1992, mas os tambores ainda soam - possivelmente, devido ao suporte de esposas de homens influentes.



A possessão no zaar é normalmente herdada. É também “contagiosa” e pode vir a qualquer hora. O zaar é basicamente uma dança de espíritos ou dança religiosa - resquício das antigas deidades africanas, uma variante do que aqui no ocidente chamamos de “vudu”. As antigas deidades africanas são chefiadas por duas figuras: Azuzar (o masculino, associado a Osíris) e Ausitu (o feminino, associada à Ísis). É descrita como uma dança ritual que é mais observada por mulheres, especialmente mais velhas. Isso corresponde à prática das religiões africanas mais antigas, onde as mulheres mais velhas eram as sacerdotisas. Mulheres mais jovens, especialmente não-casadas, não são tidas como merecedoras da visita do espírito de zaar, que escolhe a residência na pessoa que quiser.

No Egito, é mais dançado pelas pessoas que vivem nas áreas de vilas do sul, que foram menos expostas aos muitos invasores que vieram, através dos séculos, da Grécia, Roma e Oriente Médio, culminando nos árabes muçulmanos. A maioria dos praticantes é encontrada no Sudão, Etiópia e Somália - lugares que mantêm tradições já desaparecidas no Egito. O zaar, hoje, é praticado mais para relaxamento e cura espiritual por pessoas estressadas ou com problemas. O animal de sacrifício pode ou não fazer parte dessa cerimônia moderna.



“Cada mulher movida pela pulsação do tambor... O movimento da mulher crescendo em intensidade e velocidade, seus olhos meio fechados, ela parecia não notar nada ao seu redor, abandonando completamente a si mesma para a dança. Seus movimentos fluíam livremente de dentro para fora, ganhando força e velocidade à medida que ela completava o círculo ao redor do altar imponente onde os ajudantes estavam... até que, finalmente, jogava seus braços para cima e estava prestes a cair, mas a Kodia a guiou para o chão...” (descrição de uma cerimônia de zaar egípcia).

“Fumar, dançar ousadamente, se soltar, arrotar e soluçar, beber sangue e álcool, vestir roupas masculinas, ameaçar homens publicamente com espadas, falando alto sem pensar em etiqueta... esses são comportamentos comuns e esperados das mulheres que praticam o Zaar.”



Como um culto, os grupos de zaar têm um líder e os membros devem ir a seções regularmente. Pode haver rituais públicos ou privados; em um ritual privado apenas os familiares próximos podem estar envolvidos.

A líder pode ser chamada de “Kodia” (Egito), Shaykha (Sudão) ou “Umiya” (Sudão), dependendo da região. A própria líder é possuída. Ela tem que entrar em acordo com seu “Jinn” ou espírito para estar pronta a ajudar os outros. A liderança é normalmente passada de mãe para filha ou por membros femininos da família. Homens não podem herdar a possessão, mas podem reivindicar terem sido “chamados”.

O zaar egípcio é normalmente feito num quarto amplo com um altar. Em qualquer país, é importante que o espaço de uso doméstico seja separado do espaço sagrado, ou do lugar de sacrifício. O altar é coberto com um pano branco e empilhado de castanhas e frutas secas. A Kodia e seus músicos ocupam um lado do quarto, e os participantes o resto dele. Os convidados devem contribuir com uma quantia de dinheiro de acordo com sua posição. Ter uma cerimônia de zaar pode ser muito lucrativo, mas entende-se que o líder é alguém a quem as mulheres podem recorrer em tempos de necessidade - assim ele serve também como uma sociedade solidária, na qual os membros tanto dão como recebem ajuda.

A mulher para quem o zaar é preparado pode vestir-se de branco, geralmente uma galabiya de homem ou saia. Ela usa henna nas mãos e corpo, e kohl nos olhos. Ela também pode ser fortemente perfumada, como os convidados. Perfumes (especialmente olíbano) são as oferendas mais comuns aos espíritos do zaar. No começo das cerimônias, passa-se um turíbulo entre os convidados, para purificarem seus corpos.

Espera-se que a Kodia seja uma cantora treinada, que conheça as músicas e ritmos de cada espírito. Ao cantar a música de um espírito e observar as reações, ela pode diagnosticar que tipo de espírito baixou e como “tratá-lo”. Os instrumentos musicais usados são o tar, um tipo de pandeiro, e a tabla. O número de ajudantes vai de 3 a 6; eles dão o apoio rítmico. Durante as cerimônias, os vários espíritos são invocados por sua própria batida de tambor característica (ou linha). A Kodia também tem um acervo de roupas, que passa ao possuído a fim de acomodá-lo.



Se o sacrifício animal é usado, deve ser com uma galinha, pombo, ovelha ou, até mesmo, um camelo, se a mulher for rica. Em todo caso, prover algum tipo de comida ou refeição é parte essencial da cerimônia. Dizem que os espíritos etíopes gostam de café. Espíritos não-mulçumanos podem exigir bebidas alcoólicas, enquanto espíritos femininos podem preferir bebidas doces, como refrigerante. No Sudão, nas áreas onde sacrifício animal é considerado necessário, o restabelecimento do paciente não é considerado completo até que a refeição do sacrifício é consumida na noite final. Ela geralmente consiste em carne, pão, arroz e caldos.

O Zaar não é um exorcismo, como geralmente as pessoas o descrevem, porque o espírito é acomodado e conciliado; e não exorcizado. À paciente é aconselhado ser continuamente atenciosa com seus espíritos, fazer as tarefas diárias que eles requerem, evitar poeira, e fugir de emoções negativas. Falhar nisso pode resultar numa recaída.

O ritual de Zaar é uma experiência purificante, que funciona com tanta eficácia para as mulheres dessas culturas quanto a psicoterapia na cultura ocidental. Ele envolve vários aspectos críticos que contribuem para seu sucesso como terapia: o paciente é o centro das atenções e recebe ajuda e atenção de seus amigos e parentes, sua experiência e sentimentos são reconhecidos como válidos.



O zaar proporciona uma experiência multisensorial com visões, sons e cheiros. A partilha ritual de comida cria companheirismo em toda cultura e época. Então, é importante entender esses rituais no contexto da experiência total. Os principais elementos da experiência do zaar podem ser usados por mulheres na nossa cultura para criar experiências de dança mais significativas, no contexto ritual que preferirem. Isso poderia ser feito no contexto religioso ou mesmo leigo.

É importante ressaltar que o Zaar, como ritual, é algo bem diferente daquele praticado para a dança do ventre, pois carrega uma simbologia e uma religiosidade fortíssima, que não deve ser menosprezada.
 
Fonte: The zar revisited by Me'ira.




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