O novo ensaio fotográfico da bailarina Bruna Gomes (RS) teve como tema a figura da Catrina, a Dama da Morte, da cultura mexicana, cujas caveiras são ornamentadas no Dia de Los Muertos. Tal temática é bastante apreciada pelas bailarinas tribais, as quais aderiram à sua estética em suas performances.
Grupo Al-málgama de Dança
tribal e afins apresenta:
Sirena
Da concepção ao nascimento
Bruna Gomes (Direção
artística e concepção)
Há tempos
pensava em montar um espetáculo cujo roteiro apresentasse unicidade, não apenas
na temática das coreografias, mas também numa linha de desenvolvimento
narrativo que permitisse ao grupo contar uma história com início, meio e fim através
da dança tribal, dança experimental e teatro. Além disso, existia também a
vontade de explorar com mais profundidade a temática das sereias apresentada na
coreografia “Sirena”, montada originalmente em 2006 e que pretendia mostrar o
ser mítico, que não era nada bonzinho, mas tampouco malvado, e sim instintivo, agindo
conforme a ocasião pedia. Sendo este trabalho, até hoje, uma das montagens
coreográficas mais queridas do grupo, pois todas as alunas falam em se tornarem
sereias um dia.
No início
de 2014, o desejo de elaborar um novo projeto de show a partir da concepção
narrativa única permanecia forte e tive a plena convicção de que o momento de
começar havia chegado. Contudo, ainda não tinha clareza quanto ao roteiro,
muitas ideias fervilhavam em meus pensamentos. A fim de organizar as ideias em
ebulição, conversei com as minhas parceiras, alunas, amigas e colegas: Patricia
Nardelli, Taís Cunha e Paula Trombetta; expus a elas a grande vontade que tinha
quanto ao espetáculo a ser montado. Então, a partir desta conversa, chegamos a
conclusão que o momento de juntar meus dois desejos antigos havia chegado e,
por isso, Sirena ganharia corpo, forma e uma história só sua.
Porém, até
o mês de maio a ideia estava amornada, devido à minha entrada em um período de
falta de estímulo e apatia, porque, o meu visto para os Estados Unidos havia
sido negado e não mais poderia participar do Tribal Fest, uma ótima oportunidade
que se abria para mim, mas sem o visto tornava-se impossível. Devido a isso, não
conseguira, ainda, por a energia necessária na concepção do novo espetáculo.
Eis que as oportunidades começam a brilhar novamente, pois fui convidada pela
prefeitura de POA para compor o júri do prêmio Açorianos, o que além de vir a
ser uma experiência ímpar, também acabaria por possibilitar a obtenção do
documento necessário para a minha entrada nos EUA. Desta forma, consegui a tão
almejada autorização! Fui para os EUA e lá pude renovar as minhas energias, me
encher de inspirações e ânsia de produção a partir do contato com grandes nomes
da dança tribal, workshops e a apresentação de um de meus trabalhos.
Quanto voltei
a Porto Alegre, bolei alguns esboços de roteiro para o show e, com a ajuda de
cada integrante e amigo participante desse processo, o roteiro foi se definindo
e, aos poucos, ganhando uma direção única de acordo com meus desejos quanto a
este projeto. Durante o processo de elaboração o espetáculo tornava-se mais
intenso e a cada momento as bailarinas e eu descobríamos cenas novas, pois
Sirena ganhava vontades e desejos próprios, inclusive até um dia antes da
apresentação estávamos alterando e revendo cenas.
Em meio aos
preparativos, conseguimos a ocupação de temporada através de um edital, porém
ainda sem ter o trabalho no corpo, estando apenas no papel, ou melhor, na
mente. E, para meu desespero, a data que conseguimos foi bem antes do que eu
gostaria, por muitas vezes pensei em cancelar a temporada, porque o tempo
passava e faltava muito! Em meio ao processo febril e para o desespero total, o
ator com o qual estávamos contando para o papel de domador das sereias não
pode se comprometer com os ensaios e tivemos que procurar alguém com o perfil adequado
para o papel faltando menos de dois meses para a estreia.
A sorte é
que TODO o elenco foi maravilhoso, entrando de cabeça na proposta, participando
de todos os ensaios, trazendo propostas e ideias; juntos pintamos e bordamos
(literalmente), um ajudou ao outro numa sensação de equipe e grupo
verdadeiramente engajado na proposta. Devido ao tempo de organização, acabou
sendo uma produção louca para o curto espaço de tempo que tivemos, se não fosse
o grupo unido nunca teria sido possível realizarmos o espetáculo. Isso porque
todos os participantes se envolveram desde a construção dos figurinos,
pinturas, cenário, busca de apoios, além do trabalho durante os ensaios. Sendo
bastante cansativo, mas uma delícia, ensaiávamos três vezes por semana e muitas
madrugadas trabalhamos juntos, era lindo ver a importância pessoal e coletiva
atribuída pelo elenco ao Sirena e o espírito colaborativo de cada um.
Além disso,
no processo da produção tiramos fotos e fizemos algumas filmagens externas, para
o material de divulgação do espetáculo, estes momentos forma uma loucura, um “friozão”
e nós, lindas, maquiadas e engajadas nas personagens, tudo isso dentro da água
fria num dia nublado de setembro. Ainda uma semana antes da estreia tive uma
contratura lombo-sacral que me deixou travada...
Neste clima
de euforia, companheirismo e entrega, Sirena nasceu e foi muito bem acolhida, a
energia do público foi uma delícia, não poucos disseram ser o melhor show do
Al-málgama até hoje. Mesmo assim, sabemos que temos muito a amadurecer ainda,
muitos passos a dar, e que estamos num processo de desenvolvimento e
crescimento. Atualmente estamos trabalhando para que esta proposta seja a cada
momento mais madura, pois em 2015 tem mais e será ainda mais “foda” do que já
foi da primeira vez.
O elenco apresenta Sirena
Elenco artístico do Grupo
Al-málgama
O
espetáculo Sirena remetendo ao conto
da Pequena Sereia de H. C. Andersen, pois se trata da história de um domador de
circo que afirma ter acalentado durante toda a vida o sonho de cuidar de sereias
e, certa vez, ao conseguir pescá-las, coloca-as em seu freak show juntamente com demais atrações. Ao longo do espetáculo o
espectador é convidado a olhar no fundo dos olhos de Sirena e assistir ao processo
de como ela percebe sua história com o tratador. Assim, vemos o desenrolar de uma
história de amor e obsessão através do ponto de vista da sereia. Desta maneira,
a peça desenvolve-se através do conto narrado na visão da sereia e não temos
como saber se esta história é real ou fictícia, ficando a decisão de descobrir
se é verdade ou não ao público.
O
espetáculo une dança tribal, dança experimental, canto, teatro e show de luzes,
sendo assim, a união de todos esses elementos faz com que o espectador vivencie
um processo inovador e seja transportado para a atmosfera magicamente bizarra
criada pela junção entre o processo narrativo e o processo vivencial ofertado
pelo Grupo Al-málgama. Neste contexto, a presença do bizarro, do absurdo e do
fantástico proporciona ao espetáculo uma dimensão altamente simbólica, causando
impacto no espectador e fazendo com que ele reflita sobre o sentido da
transfiguração da realidade apresentada e sobre as temáticas transversais
abordadas na peça.
Também cabe
destacar que outro aspecto importante para proporcionar um universo possível em
que o que acontece na peça seja crível dentro da lógica interna narrativa
(verossimilhança interna) é a personagem do domador, cujo ator sustenta a peça
com maestria do início ao fim. Além disso, as personagens de apoio também são
importantes para o desenvolvimento da história contada.
Com a
finalidade de atingir a plenitude da experiência vivenciada pelo expectador o
grupo elaborou conjuntamente cada detalhe dos figurinos, das maquiagens e do
cenário num processo conjunto de elaboração e criação. Assim sendo, a
cumplicidade estabelecida pelas horas de ensaio, os momentos de criação e
discussão transparece no espetáculo através da sintonia e ideia de conjunto que
perpassa todo o show apresentado chamando a atenção para a capacidade do Grupo
Al-málgama de transformar sonhos e ideias em realidade. Além disso, o grupo
apresenta uma variedade notável em relação à diversidade de corpos, energias e
vivências do elenco, o que enriquece a experiência quanto à apresentação da dança
e estabelece uma aproximação para com o público demonstrando que qualquer corpo
tem a capacidade de ser gracioso e prender a atenção de quem está assistindo.
Assim, o
espetáculo Sirena é uma experiência coletiva em todas as suas dimensões desde a
criação, elaboração e vivência tanto do público quanto do grupo de dança,
proporcionando inúmeras reflexões, experiências, criações e suscitando
pensamentos, ideias e, porque não, momentos de incômodo para com o
estabelecido, para com o que deve ser e abrindo a possibilidade de explorar situações
conhecidas de maneira bizarra, inusitada e profunda.
A bailarina Bruna Gomes e seu grupo Al-málgama do Rio Grande do Sul em entrevista à Estação Cultura. Na entrevista , Bruna fala um pouco sobre o tribal fusion, um breve histórico sobre sua carreira e grupo, e sua seleção no Festival de Dança de Joinville, um dos maiores festivais de dança do Brasil e o mundo, em Santa Catarina.
Nossa Entrevista Especial de Aniversário é com a bailarina de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Bruna Gomes. Ela nos conta sobre sua trajetória, sobre suas origens com Karina Iman, seu grupo Al-málgama, a cena no sul do país e muito mais! Vale a pena conferir ;)
BLOG: Conte-nos sobre
sua trajetória na dança do ventre/tribal; como tudo começou para você?
As danças do ventre e tribal surgem para mim quase que misturadas,
embora eu não soubesse disso. Iniciei meus estudos na Dança do ventre em 2000,
pois me apaixonei ao ver uma bailarina, chamada Karina Iman, a qual
admiro e considero ainda uma referência na dança, dançar num bar alternativo de
Porto Alegre. Achei inusitada e linda aquela apresentação. Comecei o meu estudo
na dança do ventre clássica com a professora Alessandra Padilha, e
continuei sempre buscando em mim aquele tipo de dança que eu vira pela primeira
vez: uma dança bela, exótica e lúdica. Por cinco anos mantive os estudos na
Dança do Ventre desconhecendo a Dança Tribal. Porém, nunca me achei enquadrada
no estilo clássico de dança do ventre. Meus figurinos eram exóticos e elaborados
por mim, minhas composições coreográficas partiam muito de um processo criativo
e nunca usava músicas clássicas ou folclóricas nas minhas criações.
Grupo Iman
Em 2005, eu já participava do Grupo Iman (grupo da professora
que inspirou o meu percurso), e surgiu a oportunidade de apresentarmos uma
coreografia no show de 10 anos de carreira da bailarina Brysa Mahaila,
representando o estilo de dança tribal. Fomos à busca desse novo estilo, que
desconhecíamos. Na época, o que tínhamos de referência eram apenas alguns
textos retirados da internet e o DVD Foulis Berger – Superstars (não
existia ainda o youtube no Brasil, o qual hoje é uma das principais fontes de
pesquisa no campo da dança). Desenvolvemos uma coreografia de tribal, trabalho
dirigido por Karina Iman e interpretado por mim, Daiane Ribeiro,
Niriane Neumann e a própria Karina. Identifiquei-me na hora com o
estilo e busquei pesquisar mais sobre este e, desde então, mantenho os meus
estudos. Percebi que a estética de dança que eu sempre busquei e fiz foi de
dança tribal.
BLOG: Quais foram as
professoras que mais marcaram no seu aprendizado e por quê?
Bruna e Karina Iman
Primeiramente, a Karina Iman, pois foi quem me trouxe a inspiração
para iniciar meus estudos.
Sharon Kihara, pois foi o primeiro workshop internacional do estilo que participei e
entendi a necessidade de um preparo físico para um bom desenvolvimento da
dança.
Ariellah Aflalo, que trouxe bastante material para
desenvolvimento corporal no workshop do Gothla Brasil.
BLOG: Além da dança
tribal você já fez ou faz mais algum tipo de dança? Há quanto tempo?
Constantemente busco workshops ou
estudos de curto prazo em outros estilos de dança.
Dentre tais estudos estão: Dança
Indiana (bharatanatyam), Danças
africanas, tango, street dance.
Na faculdade de Dança da Ulbra me deparei com
distintos estilos, apesar de eu ter feito mais tempo cadeiras relacionadas à dança
Contemporânea (em média dois anos).
Atualmente, estudo no Grupo
Experimental de Dança da cidade de Porto Alegre/RS, que aborda diferentes linguagens
de dança, como dança moderna, contato, improvisação e educação somática, entre
outros diversos que se alternam constantemente.
BLOG: Quais foram suas
primeiras inspirações? Quais suas atuais inspirações?
Minha primeira inspiração na
Dança Tribal foi a Rachel Brice e o
seu grupo, The Indigo. Hoje, com mais
facilidade de acesso, me deparei com outras brilhantes referências, destacando
aqui, além da Rachel Brice: Sera Solstice,
Zoe Jakes, Olivia Kissel, Morgana, Desert Sin, Anasma; e minhas colegas Fernanda Razi e Daiane Ribeiro, Cia Lunay
e Joline Andrade.
BLOG: O quê a dança
acrescentou em sua vida?
A dança acrescentou autoestima,
percepção corporal, liberdade criativa e uma boa dose de fantasia diária. Certamente
sou uma pessoa melhor e mais feliz porque danço.
BLOG: O quê você mais
aprecia nesta arte?
Principalmente o
processo criativo; a liberdade artística.
BLOG: O quê prejudica a
dança do ventre e como melhorar essa situação? Você acha que o tribal
está
livre disso?
Acho que a dança do
ventre, por assumir uma estética pin-up e
glamorosa, muitas vezes, pode pender para o fútil. É claro que há bailarinas
que conseguem transcender tal mote e encantar, sensibilizar, emocionar o
público com uma dança do ventre clássica, mostrando técnica e entrega à dança, mas
percebo muitas vezes que o maior interesse de algumas está em ficar linda para
subir num palco... E? Cadê a dança, a paixão? Não acho que o tribal esteja
livre desse conceito, mesmo que a estética seja diferente, vejo uma galera se
vestindo de tribal, se enchendo de tattoo,
fazendo “cara de mau” e dançando de qualquer jeito, sem a menor entrega. Como
melhorar? Vivenciar, se entregar para o corpo, internalizar para então poder
externar (não há possibilidade de inverter esse processo).
BLOG: Você já sofreu
preconceitos na dança do ventre ou no tribal? Como foi isso?
Sim. Principalmente na Dança do
Ventre, por ter todo aquele imaginário oriental que chegou deturpado até nós,
ocidentais. Além dos assédios, o que toda bailarina de dança do ventre sofre
constantemente. Uma vez eu fui convidada, por um vizinho meu que descobriu que
eu era bailarina de dança do ventre, para fazer strip-tease em uma casa noturna de Porto Alegre; outra vez, estava
dançando voluntariamente em um evento comunitário para crianças quando fui
barrada de continuar dançando porque o diretor do local, que era um centro
espírita, entendia que a Dança do Ventre era vulgar; em 2005 participei do meu
primeiro concurso de dança, o Bento em
Dança, e tive premiação de destaque na categoria dança do ventre. A
universidade na qual eu cursava Dança (curso que ainda não concluí) estava
apresentando uma divulgação do curso, e a professora de dança contemporânea me
convidou para apresentar a minha coreografia vencedora na divulgação, mas a
diretora do curso vetou a minha participação com a justificativa preconceituosa
de que dança do ventre é uma “dancinha”, o que não pegaria bem para um curso
sério; com a dança tribal não sofri nenhum preconceito até agora, mas percebo
que existe certa resistência de algumas bailarinas de dança do ventre com o
tribal.
BLOG: Houve alguma
indignação ou frustração durante seu percurso na dança?
Frustro-me com a desvalorização
da arte de uma forma geral. E acho que a dança tem um espaço ainda menor nesse
meio.
Antes de 2005, eu basicamente dançava em
restaurantes, lojas de artigos árabes e eventos de escolas de dança do ventre.
Foi um período de muito investimento e pouquíssimo lucro. Foi aí que sofri
muito assédio de alguns donos de lojas que vendiam artigos árabes e que me
contrataram para divulgar as suas lojas através da dança. Depois do serviço
feito, eles, via de regra, marcavam um encontro para acertar o pagamento e, aí,
tentavam me convencer a ter um “casinho” com eles, pois eles poderiam me ajudar
a crescer no meio, argumentavam que era assim mesmo, que várias outras meninas,
como fulana, beltrana e sicrana já tinham “passado” por eles, e, por isso,
tinham o prestígio que tinham (hoje nem sei mais o paradeiro delas, mas há época
realmente eram, dentro do possível, conhecidas no cenário de dança do ventre do
sul do Brasil). Tais acontecimentos me fizeram duvidar que eu pudesse crescer
pelo meu trabalho, suor e talento, o que me deixou muito frustrada e indignada.
Cheguei a pensar em desistir da dança. Mas fui e sou perseverante. Hoje, acho
que comecei a colher os frutos do meu esforço.
BLOG: E conquistas?Fale
um pouco sobre elas.
Fico feliz por minhas realizações
pessoais dentro desse meio. Em todos os festivais de dança dos quais eu
participei levei grandes premiações e aos poucos tenho recebido um
reconhecimento dentro do universo da dança na minha cidade e no estado,
principalmente. Ano passado, o espetáculo Movie-mento, do Grupo Masala, conquistou a premiação maior de arte do município,
que é o Prêmio Açorianos. O meu grupo
individual, Al-málgama, por vias de
festivais conseguiu visibilidade na Secretaria Municipal de Cultura e estamos
conquistando um espaço na agenda dos programas culturais da cidade.
Prêmio Açorianos
BLOG: Como é o cenário
da dança tribal no Rio Grande do Sul? Pontos positivos, negativos, apoio da
cidade, repercussão por parte do público bem como pela comunidade de dança do
ventre/tribal?
O cenário da Dança Tribal no Rio
Grande do Sul está engatinhando. O primeiro trabalho de estudo dentro do estilo
Tribal aqui no estado partiu do Grupo
Iman, do qual eu era uma das integrantes, e as pesquisas iniciais eram autodidatas.
Daí surgiram novas vertentes e algumas bailarinas que buscaram esse estudo
paralelamente. Eu fundei o Grupo Al-málgama,
a primeira escola de Dança Tribal de Porto Alegre (e talvez do RS), em 2008. Lá
ministro eu e alunas minhas que seguem os estudos e os ensinamentos desde
então; em 2010, eu, Fernanda Razi e Daiane Ribeiro (três das alunas de
tribal mais antigas da Karina Iman),
fundamos o Grupo Masala, o qual ministrou por dois anos um curso anual de Dança
Tribal, com o objetivo de aprofundar os estudos no estilo teórico e prático. Este
curso movimentou muitas bailarinas de todo o estado e daí surgiram novos
professores que estão movimentando o cenário do estilo.
Grupo Massala - Espetáculo Especiarias
Apesar de estarem surgindo novas
fontes de Dança Tribal constantemente, sinto que falta um espaço maior de
visibilidade, faltando criar um público próprio para o estilo. As demonstrações
tem sido feitas principalmente em teatros e eventualmente em eventos de Dança
do Ventre, portanto, limitada à um público que já conhece o estilo. Esse ano, como
disse anteriormente, o meu grupo, Al-málgama,
alcançou um espaço na agenda cultural da cidade, o que está sendo muito bom
para divulgar o tribal por aqui. Mas retorno a dizer que estamos engatinhando
nesse processo.
BLOG:Conte-nos
como surgiu o grupo Al-málgama, a
etimologia da palavra, seus integrantes, qual estilo marcante do mesmo e se ele
sofreu alguma mudança estrutural ou de estilo desde quando foi criado
até agora.
O grupo Al-málgama representa a minha trajetória como bailarina e
professora de dança. O meu primeiro trabalho coreográfico de dança tribal em
grupo com as minhas alunas batizei de “Al-málgama”, que é o resultado da fusão
da palavra portuguesa “amálgama” com a árabe “al-madjmaHa”. O Dicionário
Houaiss da Língua Portuguesa, entre outras definições da palavra
“amálgama”, dá a seguinte:
Grupo Al-málgama
“4 fig. Mistura, reunião ou ajuntamento de
elementos diferentes ou heterogêneos, que formam um todo (...) ETIM pelo lat.
dos alquimistas amalgama, este prov.
do ár. al-madjmaHa ‘fusão’ ”
Todos os trabalhos, a partir
deste, mantiveram o caráter hibridizado, fusionado, que representa a Dança
Tribal. Senti a necessidade de criar uma identidade de grupo, do qual batizei
como Al-málgama. Os integrantes do
Grupo são flutuantes, e estamos em processo de fixação deste. Hoje contamos com
24 integrantes na escola com um bom nível de dança, que se apresentam como
Grupo Al-málgama, sendo algumas
destas os pilares do nosso grupo, por serem mais antigas, e/ou mais ativas nos
projetos do grupo: Áurea Becker, Claudia
Goulart, Diedry Ludwig, Estela Santos, Iasodara Ruiz-Tagle, Karine Neves, Kriscyelle Sant, Letícia Gomes, Mayara Ahlan, Pátia Mihr, Patrícia
Nardelli, Priscilla Leppich e Taís Cunha.
BLOG: O espetáculo Movie-Mento, sob direção e produção sua
e de Fernanda Zahira Razi, teve uma
boa repercussão no meio da dança, contando com duas edições em 2012. Conte-nos o
quê a inspirou para a formulação da parte conceitual e do roteiro do espetáculo.
Como foi o processo de elaboração das coreografias e figurinos, bem como a
repercussão do mesmo.
Na verdade foram três edições ao
longo do ano. A idéia surgiu com a parceria minha entre as colegas Daiane Ribeiro e Fernanda Razi. Desde 2010, desenvolvemos um projeto de cursos
juntas: o Curso Anual de Dança Tribal
Masala. Neste ministramos aulas e o finalizamos com um espetáculo.
O
primeiro foi o “Especiarias”, que teve uma repercussão bem bacana.Pensamos um tema para o curso seguinte e
achamos que seria interessante unir as ferramentas do audiovisual à dança. A
montagem, direção e coordenação foram feitas por mim e pela Fernanda Razi. A proposta foi criar leituras
baseadas em filmes consagrados que pudessem se adequar aos estilos da dança
tribal de forma que as danças interagissem com as projeções e alcançamos um
lindo resultado. Esse espetáculo recebeu indicação ao Prêmio Açorianos (o maior para a arte no município de Porto Alegre)
e o conquistou, além de lançar eu e a bailarina Fernanda Razi com a indicação de melhor bailarina da categoria.
O
processo de construção durou mais de um ano. Neste, assistimos a alguns filmes juntamente
com o elenco e direcionamos todos os trabalhos coreográficos para construções
de acordo com a intenção de cada filme. Queríamos manter presente as emoções
mais intensas de cada filme estudado através das performances de dança. Além do
curso que acontecia uma vez ao mês, tínhamos as audições dos ensaios que também
eram mensais.
O roteiro das coreografias em grupo foi estabelecido em aulas,
incluindo movimentações e interações com as cenas dos filmes que queríamos
desenvolver. Para os solos foram abertos alguns para livre interpretação,
apesar de estarmos sempre ajudando e participando da construção de alguma
forma. Fizemos um concurso de solo criativo relacionado a cinema, de escolha
livre, do qual um dos trabalhos foi selecionado para entrar no espetáculo.
A
criação dos figurinos foi baseada nos filmes escolhidos, porém, sempre buscando
características de vestimentas do estilo tribal de dança. E as escolhas destes
partiam de propostas e votações em grupo.
BLOG: Como e
quando você descobriu o tribal fusion e porquê se identificou com esse
estilo?Quando começou a praticar o tribal fusion?
Descobri com o DVD Foulis Berger que comprei numa feira de
dança do ventre e conheci o grupo The Indigo,
da Rachel Brice, em 2005. Neste mesmo
período eu estava participando de um projeto coreográfico junto ao Grupo Iman, onde deveríamos representar
a dança tribal num evento e o trabalho do The
Indigo, juntamente com pesquisas literárias sobre o assunto, foram o ponto
de partida do meu estudo. Identifiquei-me na hora com o estilo devido à
estética e criatividade nas leituras coreográficas.
BLOG: O quê você mais
gosta no tribal fusion?
Gosto de tudo: da leitura
musical, dos movimentos, dos isolamentos, das emendas, do hibridismo. Mas o que
mais me atrai, sem dúvida, é o espaço para a criatividade.
BLOG: O quê você acha
que falta à comunidade tribal?
Mais mídia, talvez.
Mais visibilidade para conhecer os trabalhos que estão sendo desenvolvidos.
BLOG: Como você
descreveria seu estilo?
Difícil essa! Meu estilo... parto
às minhas coreografias de momentos internos, aproveitando a peculiaridade de
cada situação. Sempre que estou pensando muito em alguma coisa, encucada,
feliz, ou talvez inspirada por uma leitura, filme , teatro ou mesmo dança,
começo o meu processo de experimentação, e destes normalmente surgem
coreografias, e esse processo de diversidade é visível na versatilidade de meus
trabalhos.
BLOG: Como você se
expressa na dança?
Em termos
técnicos, minha movimentação (de uma forma geral) parte do centro para
expressar para fora. Gosto de vivenciar os movimentos e a dramaticidade das
minhas questões que proponho nas coreografias. Preciso sentir para expressar. Busco
a dança, ainda, como uma aproximação expressiva e visceral entre o público e
minhas vivências.
BLOG: Quais seus
projetos para 2013? E mais futuramente?
Para 2013 estamos com o projeto Al-málgama Tribal- 13 Anos, que consiste na realização de pequenos, porém
impactantes trabalhos ao longo do ano, culminando na apresentação de um
espetáculo que conta a trajetória de dança tribal no Estado do Rio Grande do
Sul ao longo desses anos, sob a perspectiva do Grupo Al-málgama na busca de identidade e de visibilidade junto ao
público e ao campo artístico. Sobre o projeto como um todo, ainda não é
possível revelar muitas coisas, só o que posso dizer é que será surpreendente!
Posso adiantar que o espetáculo contará com releituras de trabalhos consagrados
em festivais e eventos importantes para nosso cenário, além de contar com
participação de bailarinos convidados que representam o estilo ou usam de
experimentações na dança do ventre e algumas cositas más.
BLOG: Improvisar
ou coreografar?E por quê?
Ambos. Acho que o improviso é uma
boa ferramenta de entrega e um bom termômetro para perceber como anda a
técnica. A coreografia é ótima, pois é um trabalho estudado, elaborado,
construído, gosto muito desse processo.
BLOG: Você
trabalha somente com dança?
Atualmente, eu trabalho também
como tatuadora.
BLOG: Deixe um recado
para os leitores do blog.
A linguagem
corporal é a forma mais intensa e tocante de exercitar a interação, a dança é
uma ferramenta para essa leitura. Seja interessado para poder ser interessante,
só é possível emocionar se partir de dentro. Fica a dica! ;)