[Resenhando-SP] Show: The Moon

por Irene Rachel Patelli


No dia 13/12/20 ocorreu o show “The Moon” organizado pela Mariana Quadros, com a participação de Yuu Moon, Priscilla Peregrino, Thais Carvalho, Carla Mimi Coelho, Aline Muhana, Lanna Patrícia, Natália Espinosa, Thaisa Martins e claro, a própria Mariana Quadros.


O evento teve uma aura super etérea, as músicas, coreografias, cenários, tudo muito bem organizado, os locais com decorações lindas, figurinos maravilhosos. As bailarinas passam a sensação de estarem na mesma energia, conectadas. Embora estivesse cada uma num local diferente da outra, pois ainda seguimos em quarentena. Me senti no espaço, num lugar diferente, com uma visão e sensação bem diferente sobre o tema “a Lua”. Achei bem diferente e com uma pegada contemporânea. Tudo combinou perfeitamente, inclusive cores e efeitos da edição.


O evento foi todo online e muito bem editado, as gravações ficaram bem interessantes. Quem tentou fazer algum vídeo nessa quarentena sabe bem as dificuldades que temos com cenários, ambientação, luz, filmagem, etc. Não está fácil, a gente tem que fazer um monte de coisas que não tínhamos o costume de fazer como edição e ou direção de vídeo, estudar iluminação, etc. Na minha opinião ficou muito profissional.


Tirei alguns prints do evento, peço até desculpas, minha internet não é tão boa e nada fica em uma qualidade legal, rsrs, ossos da quarentena. Mas recomendo assistir o show, está muito gostoso de ver e depois vem comentar aqui o que achou, me conte se reparou em algo que não reparei.



Lanna Patrícia (Belo Horizonte-MG):




Natane Circe (São José do Rio Preto-SP):




Aline Muhana (Rio de Janeiro-RJ):





Mimi Coelho (Belo Horizonte-MG/ Portland):





Priscilla Peregrino (Brasília-DF):





Mariana Quadros (São Paulo-SP):




Thaís Carvalho




Natália Espinosa (Campinas-SP):




Yuu Moon (Rio de Janeiro-RJ):





Thaisa Martins (Rio de Janeiro-RJ):





Ainda não assistiu? Segue o link para conferir esse evento elegante e misterioso.



Aproveite e conheça o trabalho destas profissionais maravilhosas!!!


Beijos e até a próxima resenha.


Se cuidem!!!


______________________________________________________________________________

Resenhando-SP


Irene Rachel Patelli (São Paulo-SP) é técnica em dança formada pela Etec de Artes/SP, coreógrafa, bailarina/dançarina, performer, professora de tribal fusion, dark fusion e ATS. Formação em yôga, pesquisadora de ghawazee e zaar. Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>

[Corpo & Dança] Flexibilidade: Por que devo alongar e como organizar meus treinos?

 por Jossani Fernandes

E o assunto mais esperado, pelo menos pela pessoa aqui que ama fala sobre, finalmente chegou. Nossa tão amada, ao mesmo tempo condenada, mas que nunca nos abandona, a capacidade FLEXIBILIDADE.

 

Antes de tudo, nós como bailarinas e/ou professoras precisamos compreender alguns conceitos para que nunca mais ocorra confusão, afinal se trabalhamos com nosso corpo ou ensinamos movimento é essencial saber diferenciar e conhecer umas coisinhas e evitar as vergonhas neh.

1- Flexibilidade: É uma capacidade física, ou seja, todos nós temos! Ela pode ser definida como a capacidade executar os movimentos dentro da amplitude que cada músculo permite.

É dependente de alguns fatores, tais como: estado dos nossos ossos, músculos, tendões e ligamentos, além do sexo, idade, genética, força, nível de atividade física e IMC.

2- Elasticidade: É uma propriedade do nosso músculo, ou seja, é o que permite que ele retorne ao seu tamanho original (lembra do conceito de flexibilidade que falei? Citei a palavra “temporariamente” e não foi atoa rsrs)

3-Mobilidade: É a capacidade executar os movimentos dentro da amplitude que cada articulação permite.

E como falei antes, a flexibilidade depende da saúde de nossos tendões e ligamentos e aí entra outro conceito de: 

4-Extensibilidade: que é a capacidade do musculo se alongar além do seu comprimento. Ambas, flexibilidade e extensibilidade são componentes da mobilidade.

 


 

Por que todos esses conceitos, se vocês não são profissionais da área? Constantemente nos deparamos com frases, que falamos mesmo sem perceber do tipo:

- Tô precisando melhorar meu alongamento?

- Como melhoro minha elasticidade?

- Fulana é elástica demais, nem osso tem.

- Vou dar uma esticadinha aqui para melhorar minha mobilidade.

E por aí vai..., mas o que nos importa é que o nosso corpo é complexo e precisamos saber o que é necessário trabalhar e o que buscar para isso.

Então o que os bailarinos desejam aprimorar é a capacidade flexibilidade e alcançamos isso através:

5-Alongamento: É a técnica utilizada para melhorar a capacidade flexibilidade.

 

 

Importância do alongamento:



Porque alongar?

  1. Alguns estudos citaram o fato de a flexibilidade não ser algo que precisamos colocar como prioridade ao se referir a saúde, entretanto é necessário colocar em mente que uma grande amplitude de movimento é aquela necessária para conseguir executar movimentos de forma natural (Todo movimento articular, precisa de flexibilidade). Então se você possui limitação de movimento por encurtamento muscular. Você deve sim alongar.

  2. Existe um princípio chamado especificidade do treinamento, ou seja, modalidades como ginástica, dança e outras demandam dos praticantes a capacidade flexibilidade bem desenvolvida, por isso o treinamento de flexibilidade se faz tão necessário para este público. 

 

Alongamento previne lesões?

Não existe nenhum consenso sobre o fato de alongar antes de se exercitar irá prevenir a possibilidade de se lesionar, é importante saber que você precisa ter a flexibilidade necessária para evitar que seu corpo busque compensações.

 

Alongamento no Início X Final dos treinos?

Sobre o alongamento no início ou final da pratica não existe o que é melhor e sim um objetivo!

O treino destinado para a aprimoração da flexibilidade, desgasta e traz consigo no pós-treino uma certa analgesia, ou seja, o corpo relaxa e as fibras musculares estarão em um estado de alongamento que certamente reduzirão a sua força, principalmente o alongamento estático.

Resumindo, penso que se você for alongar antes, seja porque gosta, por ser costume ou quer alongar antes, opte pelo alongamento dinâmico, ele servirá como preparação e aquecimento do corpo e após a pratica faça um alongamento estático (se forçar muito) para relaxar os músculos.

 

Carga de treinamento:

Já me deparei diversas vezes com a pergunta: Quanto tempo devo alongar para ser flexível? E coincidentemente eu fui a campo pesquisar isso, realizei uma pesquisa durante um ano, na qual eu alongava as pessoas através da técnica de alongamento dinâmica.

Enfim, quando falamos de carga de treinamento no alongamento, falamos de duração, intensidade e frequência e através do que venho estudado, posso dizer que de uma maneira geral:

- Se o objetivo é de fato aumentar os níveis de flexibilidade, seja para um cambret, aberturas, pivots e outros movimentos na dança seria interessante repetir o treino pelo menos 3x na semana, com intensidade máxima, ou seja, vai ao máximo que conseguir sem perder a postura correta (LEMBRANDO QUE O MÁXIMO NÃO É A MORTE)*, embora o processo para ser flexível possa doer e eu não vou mentir para vocês, não há necessidade de chegar a um nível de dor insuportável.

*Então o que é o máximo Jossani? Vou dar o exemplo da perna no alongamento da imagem abaixo, eu vou enumerar meu nível de dou de 0 a 10, no qual 0 seria o momento em que comecei a sentir o alongamento e 10 o nível em que a dor não me permitiria dar continuidade ao alongamento*.

 

 

  • Se o objetivo é apenas saúde, ou seja, manter uma ADM natural que lhe permita movimentar, 2x na semana já é suficiente com intensidades chegando a um leve desconforto.

  • Sobre o tempo de estímulo de 20 a 60 segundos, podendo ser divididos em séries como nas fichas de musculação, lembrando que é importante respirar nem que seja 15 segundos entre séries.

    Por fim deixo aí para vocês os benefícios do alongamento de de ter um corpo com a capacidade flexibilidade em dia. Vejo vocês na próxima.


Benefícios do alongamento:


  • Proporciona o bem estar físico e mental.
  • Estimula o cérebro a liberar a serotonina, o hormônio do bem estar.
  • Estimula e desenvolve a consciência corporal.
  • Pode reduzir a probabilidade de desenvolver lesões musculares.
  • Pode reduzir os riscos de disfunções da coluna.
  • Melhora a postura.
  • Diminui a tensão muscular.
  • Ameniza cólicas menstruais em atletas.
  • Induz o relaxamento.
  • Melhora a mobilidade articular.

______________________________________________________________________________

Corpo & Dança: Um olhar sob nosso Palácio Industrial


Jossani Fernandes (Belo Horizonte-MG)
 é professora e bailarina de danças orientais, profissional de educação física, atua na área como personal trainer e pesquisadora da área da flexibilidade, é apaixonada por anatomia e por tudo que diz respeito ao corpo humano e toda a sua complexidade.  Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 


[Tribal Brasil] Brasil, do Tribal ao Fusion

 por Kilma Farias


"Tribal" por Shiko

A bellydancer que sente o sangue ferver quando escuta uma evolução de bateria de Maracatu ou o som ancestral de um berimbau, com certeza já dançou um Tribal Brasil.

Venho desenvolvendo esse estilo com a Cia Lunay, grupo que coordeno e que comemorou no último 19 de abril o marco histórico de 18 anos de produção em dança, militando culturalmente de modo ininterrupto.

Particularmente tenho o maior carinho pela nomenclatura “Tribal”. Sinto e compreendo esse termo como algo que agrega, que aproxima, que acolhe numa identidade – um só corpo, uma só tribo.

Aqui na Paraíba, estado que faço morada nessa desafiadora travessia que é viver, temos dois povos, ainda muito denominados de tribos: Os Potiguaras e os Tabajaras. E o encanto que é vivenciar os saberes desses povos, dessas tribos, emergir nas histórias, cantos, juremas, artes e visões de mundo. Entender a tradição como algo vivo que dialoga também com as tribos urbanas é de grande valia para não cair no romantismo da tradição estanque.

"Yanomami"por Shiko

É justamente dessa problematização do termo “Tribo” como algo que ficou parado no tempo e no espaço e por isso não evoluiu sendo algo menor, à margem do mundo, que as discussões acerca da nomenclatura “Tribal Fusion” ganharam corpo e espaço em nosso meio.

Apoio a epistemologia decolonial por compreender que parte de nossa iniciativa romper com as colonialidades, produzindo formas múltiplas de pensar o mundo em todos os seus campos – econômico, político, artístico-cultural, relacional, educacional, entre tantas outras esferas. Que possamos também com nossa dança romper com verticalizações históricas que trazem heranças malditas.

Nessa compreensão, passamos a utilizar a partir de então o termo “Fusion Brasil”, desapegando do querido, porém problemático, termo “Tribal”.

“Fusion” significa “fusão” na maioria das línguas latinas que têm o espanhol como idioma, assim como significa o mesmo na língua inglesa. Desse modo, podemos construir uma ponte de mão dupla comum às Américas do Sul ao Norte. Trazendo um pensamento de equanimidade entre culturas e visões de mundo.

c.c.eletronicband por Shiko

Somos Fusion – uma amálgama de traduções, resistências e (re)existências!

As culturas popular e afro-brasileira, fonte base de pesquisa para o agora “Fusion Brasil” buscam olhar para as histórias não oficiais da dança. A diversidade aqui importa e não há juízo hierárquico de valor. Há respeito, apreciação, equanimidade e acolhimento. Não só no âmbito da nossa dança, mas na nossa construção de sujeito como seres humanos mais plenos e integrais.

Abraçar o termo “Fusion” é acolher e não segregar. É compreender que cada corpo é ator da tradução do mundo. E que toda tradução é legítima, é liberdade poética, é estética de revolução.

Que venha o “Fusion Brasil”!

_____________________________________________________________________________

Tribal Brasil - Identidade no Corpo


Kilma Farias (João Pessoa-PB) é bailarina, professora, coreógrafa, produtora e pesquisadora na área da dança. É formada em Licenciatura em Dança e Jornalismo pela Universidade Federal da Paraíba. Mestra em Ciências das Religiões pela UFPB, desenvolveu dissertação voltada para a relação entre presença cênica e espiritualidade na Dança Tribal.  Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 

[Resenhando-PR] Mostra Paraná: Entrevista Aerith sobre o Coletivo Tribal

por Esther Haddasa

Para a Coluna desta rodada, trago um evento que falou sobre o próprio Coletivo Tribal.

Na semana dedicada ao Tribal Fusion no Instagram do Éden Estúdio de Danças, nossa anfitriã e idealizadora do Blog Aerith Tribal Fusion, cedeu uma entrevista incrível que hoje ficará registrada em seu próprio lar!

Antes de ser conhecido por Coletivo Tribal, o "Blog da Aerith" já tinha alcançado o status de maior blog sobre tribal fusion da América Latina, reunindo para a crescente comunidade e curiosos desta dança material de pesquisa seguro, entrevistas e links de apresentações. Hoje conta com 28 profissionais que se revezam na produção de conteúdo como artigos e resenhas. 


 1- Como surgiu essa iniciativa de catalogar a cena tribal fusion ? 

O blog surgiu em 2010 de maneira despretensiosa e informal, inspirado pelas discussões das comunidades do Orkut e Tribe.net, dos blogs da Aline Muhana (RJ) e Mariana Quadros (SP) e alguns Multiply da época.

Acho que foi só em 2012 que eu comecei a ter uma visão mais centrada do blog e menos de hobby.  Eu observava um universo amplo das bellydancers no mundo virtual e o Tribal tinha pouca coisa. Eu queria conhecer mais as pessoas que faziam a nossa cena crescer, conhecer suas trajetórias, suas histórias, suas motivações para seguir esse caminho da dança,  suas perspectivas sobre o que era essa dança, o que acontecia em cada canto do país, pois parecia tudo tão distante! Eu queria que a gente se aproximasse de alguma forma. 

Nessa época, eu decidi criar a série de "entrevistas", pois percebi que tinha poucas entrevistas de tribalistas nacionais e latino-americanas disponíveis na internet. Logo depois, veio o "Destaques  Tribais", que foi resultado de 3  ideias: 


  • Eu já tinha uma seção pequena no blog com esse nome, em que eu a trazia um vídeo  de alguém, cuja performance eu tinha gostado muito para compartilhar no blog;

  •  Eu também já fazia o "Retrospectiva Tribal", que era um post de final de ano, através de uma retrospectiva dos principais acontecimentos que eu tinha acesso.

  • E a última foi inspirada numa enquete que tinha no blog Amar El Binaz. Eu decidi unir isso tudo para criar o "Destaques Tribais, cujo intuito principal sempre foi de divulgar e conhecer essa dança.

    Por isso, a ideia da enquete era que o público indicasse os trabalhos do ano, pois como a cena cresce muito rapidamente, eu não tinha ciência de tudo que acontecia; além disso, seria muito injusto esses trabalhos não aparecerem por falta de conhecimento da existência deles. A segunda motivação da enquete era homenagear, de forma singela,  os artistas que faziam nossa comunidade se movimentar com o apoio do público. O objetivo nunca foi competição, e sim divulgação, criar espaço e fomentar a cena.

    À medida que o blog crescia, outras categorias foram criadas por necessidades que me eram apresentadas pelo público do blog. Então, criei seções para divulgar as aulas e eventos também com esse intuito do blog ser uma plataforma para dar suporte à nossa comunidade que se desenvolvia pelo Brasil à fora.

 

2 - Como foi registrar o Tribal Fusion acontecendo no Brasil?


Muita coisa mudou em 10 anos. A cena mudou e eu mudei nesse processo também. hahaha Mas é muito saudosista rever o que aconteceu na época que eu comecei na dança (e logo depois com o blog) e acompanhar esse crescimento de perto.




Cada grupo procurava ganhar espaço e respeito em suas cidades/estados como forma de dança e arte.  Eu vejo que esse início não foi nada fácil, ainda mais para as cidades que estavam longes do eixo Rio-São Paulo.




3 - Quando e como você entendeu que o Blog extrapolou o registro pessoal e ganhou uma dimensão documental ?
 

Muito antes de conhecer o Tribal, eu já tinha blog e fotolog. Então, sempre gostei de escrever e compartilhar minha ideias, sentimentos e impressões ( e antes da internet ser algo comum na nossa vida, sempre gostei de escrever e trocar cartas com meus amigos). 

Em 2010, inspirada por vários blogs de Tribal e dança do ventre da época, decidi criar um para falar sobre o Tribal, mas também sobre outras coisas que eu gostava naquele momento. "Panda-chan" era meu apelido naquela época e eu utilizava esse nickname no Orkut, então decidi chamar o blog de Panda no Sekai ( "O mundo de Panda", em japonês).  

Um ano depois, acabei percebendo que o meu amor pelo Tribal ofuscava todos os outros assuntos e decidi focar nisso: em ser um blog  voltado para a cena Tribal brasileira. Então, a partir daí troquei o nome para "Aerith Tribal Fusion", que passou a ser o nome artístico que eu decidi utilizar.

O blog começou a ficar sério em 2012, quando eu criei categorias para conhecermos melhor a cena, entender o que se passava em cada canto desse Brasil, como nossa comunidade se desenvolvia. 

Eu percebi que tinham muitos assuntos para dialogar e compartilhar com a comunidade e que muitos deles eu não tinha propriedade e/ou conhecimento para falar. Então decidi convidar pessoas que eu já acompanhava o trabalho pelas redes sociais e sabia que elas iam desenvolver com amor, carinho e profissionalismo. A partir de 2014, eu abri o blog para colunistas e cada um trabalhava com um tema específico. Nessa mesma época também surgiram colunistas para representar suas localidades através das resenhas de eventos, proporcionando essa ponte, essa aproximação do que estava sendo realizado na cena Tribal de suas cidades.

Em 2017, eu percebi que o blog precisava de um novo nome que representasse o que ele tinha se tornado, pois eu sentia (e sabia) que não era mais o "blog da Aerith" e sim uma força de expressão da nossa cena brasileira, principalmente. Foi apenas em 2020, por conta da quarentena,  que passei por um processo de reflexão, esclarecimento e  coerência em todas as áreas do meu trabalho e o blog foi um deles. Nesse tempo, minhas amigas e colunistas do blog me mostraram a importância de voltar com esse projeto e chegamos em um nome que agora parece óbvio, mas não foi assim quando estive procurando. hehehe Então, desde agosto de 2020, passamos a nos chamar "Coletivo Tribal" (clique aqui para lr sobre a mudança do nome)

 


4- Como você vê o amadurecimento da cena tribal e toda esta produção de artigos e resenhas que endossam o conteúdo do Blog?

Eu acho fascinante e empolgante!  

Quando eu entrei no Tribal o conhecimento era muito escasso e de difícil acesso. Não existiam versões em pdf para download dos artigos, livros e revistas como temos hoje. Então, as pessoas precisavam encomendar ou ir até os EUA para adquirir o seu exemplar do Tribal Bible, por exemplo. Quem não tinha condições financeiras para isso, ficava caçando conhecimento nas redes sociais da época , como comunidades brasileiras de Tribal no Orkut, nas comunidades sobre essa dança na plataforma estrangeira Tribe.net, no Multiply e Myspace para entender um pouco sobre a dança. Existiam alguns poucos blogs dos EUA que traziam conhecimentos e reflexões sobre a cena, como o blog  Bellydance Palladin da bailarina Asharah (que hoje utiliza seu nome original, Abigail Keyes), além dos blogs brasileiros estarem começando a fazer esse movimento em prol de compartilhar conhecimentos, impressões, reflexões, etc, como o "Divagações Tribais e afins" da Mariana Quadros (SP), o "ATS/ITS" da Aline Muhana (RJ), outros blogs que vieram posteriormente e que ajudaram a fomentar a pesquisa foram: "Tribal Mind" da Ana Harff ( brasileira que era da Shaman Tribal e se mudou para a Argentina), "Nossa Tribo & Nossa Dança" da Carine Würch (RS), "Tribalices" da Natália Espinosa (SP) , "Tribal Archive" da Melissa Souza (SP) , "Pilares do Tribal" da Maria Badulaques (SP), entre outros.

Eu amo ler, estudar e pesquisar. Ter os colunistas do blog nesse movimento em prol da comunidade brasileira de compartilhar seus saberes, facilitar o acesso, estimular o estudo teórico, pra mim,  é cativante. Fazemos esse trabalho com muito carinho para ajudar a nossa comunidade a ter uma base, estimulando a curiosidade, vontade de estudar e  buscar por mais conhecimentos! 

Sinto que esse amadurecimento bateu na porta da consciência com dois fatores que nos obrigou a dar atenção à necessidade do estudo teórico. Vou deixar para desenvolver na próxima questão.

 


5 - Quais suas perspectivas e avaliação da comunidade Tribal nacional?

Pegando o raciocínio da questão anterior, minha perspectiva como pesquisadora e observadora da nossa cena é que, apesar de haver pessoas interessadas em criar espaços para compartilhar conhecimentos, sejam eles de formas informais (blogs, podcasts, vídeos, etc) ou formais, através do desenvolvimentos de artigos do âmbito acadêmico e ações em universidades, tudo isso ainda era muito devagar e isolado no contexto do estado/região em que aquele "divulgador" se encontrava.

Mas sinto que 2020 foi um marco nesse sentido, pois foi um ano que veio como uma lanterna no meio do escuro, direcionando o caminho e mostrando que estávamos perdidos, cada qual no seu canto e que, agora, mais do que nunca, precisávamos nos unir de alguma forma. Dois fatores impactaram drasticamente nossa comunidade de forma difícil de lidar e que pela indignação, se tornaram em várias ações positivas. 

O primeiro, em janeiro de 2020, quando Carolena Nericcio (EUA) decidiu retirar o termo "Tribal" do nome dessa dança. Isso gerou todo um conflito interno em cada indivíduo que se identificava com o nome 'Tribal' ; e externo pelas discussões mundiais acerca do assunto pelo modo em que isso foi anunciado e "resolvido", sem se preocupar com as consequências para o resto do mundo.

Alguns meses depois (final de março de 2020), o mundo todo entrou em quarentena por conta da pandemia do Covid-19. Todos fomos obrigados a migrar seus trabalhos, estudos, práticas de lazer, ou seja, boa parte da nossa vida social para o universo virtual, às pressas, sem adaptações, de forma abrupta. Portanto, a quarentena fez com que buscássemos esse SABER, que está sendo a forma de manter nossa mente saudável frente a tantas calamidades acontecendo. 

O lado positivo disso tudo foi que o modo online permitiu com que nos aproximássemos quanto comunidade. Acho que esses fatores proporcionaram uma fase de maior introspecção da nossa cena que começou a se voltar mais para si, quanto cena brasileira  e a se indagar mais intensamente quais são os nossos problemas e necessidades sociais, econômicos e mercadológicos? Como solucionar essas questões?  

Além disso, houve a necessidade de estudar e pesquisar;  concomitantemente, cresceu a vontade de divulgar, instruir, esclarecer, desmitificar, politizar, enfim, criaram-se várias ações nesse ano turbulento para que as pessoas compreendessem melhor vários aspectos importantes da nossa dança que estavam em colapso. Vários grupos se mobilizaram em se reunir, discutir e buscar possíveis caminhos para os problemas apresentados.  Cada um com seu enfoque, seja ele histórico, social, mercadológico, etc. Dessa maneira, surgiram o Hunna Coletivo, Simpósio Praksis, Coletivo Guia, Fórum Tribal, Coletivo Drusa, entre outros.  

Acredito que esse movimento nacional, em busca de conhecimento para aproximar os membros de cada localidade desse país continental e fortalecer a cena, é importante. Eu espero que esse ambiente online que criamos como ferramenta de comunicação, estudo, pesquisa, fomentando rodas de conversas, eventos, palestras, etc continue a existir mesmo após a pandemia. Esse lugar que criamos não é mais opcional, ele é necessário! Espero que essa força  e determinação brasileira continue ainda mais enraizados e o olhar para as questões e necessidades do nosso povo e da nossa cultura não se percam. Não é tempo de retrocesso (apesar de estarmos em confinamento e nos sentirmos dessa forma por causas das incertezas que nosso país enfrenta)! Nunca se produziu tanto de forma conjunta como agora! Portanto, é tempo de continuarmos esse movimento, em prol de uma comunidade mais forte, unida e saudável para quando voltarmos ao presencial, o primeiro passo seja cheio de sentidos. 

--

 Aerith também é idealizadora e diretora do festival Underworld FusionFest, carioca, hoje residindo e dando suas aulas em Curitiba.

Teve sua iniciação na dança em 2008 com a professora Kristinne Folly.

Para concluir fica a afirmação: Vida Longa ao Coletivo.

 Esse espaço de construção e fundamentação para nossas danças.

Aerith, em nome de todas que fazem parte desse projeto incrível posso dizer:

Obrigado! Continue!


| Montagem das imagens por Paula Marumo para Éden Estúdio de Dança.

Inté!

 ______________________________________________________________________________

Resenhando-PR


Esther Haddasa (Londrina-PR) é mineira de Conselheiro Lafaiete, graduada em Moda pela Universidade Estadual de Londrina, membro fundadora da cia Caravana Lua do Oriente, formada em danças árabes pelo método da Escola Rhamza Alli – Londrina ,PR.  Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 

[Sankofa] Adinkra

 por Monni Ferreira

Na coluna deste mês gostaria de apresentar um pouco do legado da cultura africana na nossa sociedade através do conjunto ideográfico conhecido como Adinkra. Pertencente aos povos Akan da antiga Costa do Ouro (atual Gana), Costa do Marfim, Togo e outros países da África Ocidental, os Adinkras representam um grupo linguístico de ideogramas com significados específicos que visam preservar e valorizar as tradições africanas. São mais de 80 símbolos e cada um preserva e transmite não apenas um valor estético, mas principalmente a história e as normas socioculturais desses povos. 


Presentes em documentos escritos, nas estampas de tecidos, na arquitetura, na cerâmica, em peças de madeira, objetos de ferro, bronze e etc, os Adinkra são símbolos gráficos utilizados para representar uma palavra ou conceito abstrato, estão relacionados a algum provérbio ou conjunto de ideias, fazem referência a algum evento histórico ou simplesmente expressam uma característica de um animal, vegetal ou simplesmente um comportamento humano. Eram muito utilizados em cerimônias formais e especiais como os funerais onde as roupas eram estampadas com os símbolos à mão para transmitir uma mensagem de despedida, como forma de homenagear pessoas importantes como líderes espirituais e da realeza. Adinkra significa “adeus à alma”, é a mensagem que se dá a um outro ao sair.


Homem estampando um tecido com símbolos adinkra


Um dos mais conhecidos Adinkra é o Sankofa, que representa a sabedoria de aprender com o passado para construir o presente e o futuro. Já comentamos um pouco sobre o seu conceito quando esta coluna foi criada, mas agora vamos aprofundar um pouco mais sobre o seu significado. Sankofa vem de “Sanko” que significa voltar, retornar, e de “fa” que significa buscar, trazer, procurar; é um provérbio tradicional do povo Akan que diz “se wo were fi na wo sankofa a yenkyi” (não é tabu voltar atrás e buscar o que esqueceu). O símbolo Sankofa é representado por um pássaro que tem sua cabeça voltada para trás e carrega em seu bico um ovo, uma semente, que representa o futuro. Outro símbolo que também representa Sankofa é um coração estilizado muito similar ao desenho de coração que conhecemos.

Símbolos Sankofa



O principal ensinamento deste Adinkra é quanto a importância de se aprender com o passado, com as lições que a vida nos deu, para ressignificar o presente e construir o futuro. No Brasil, Sankofa está muito presente na história dos negros escravizados e na arquitetura do período colonial. Sendo a mão de obra majoritariamente dos povos africanos escravizados e seus descendentes, houve influência direta das suas raízes e memórias na construção e desenvolvimento das cidades brasileiras, como por exemplo o próprio Sankofa muitas vezes esculpido em ferro e que até hoje pode ser encontrado em portões e janelas antigas nas cidades construídas no período colonial.


Imagem 3 - Grade de janela com o "coração estilizado" na rua da Liberdade, em Salvador-BA


Sankofa do “coração estilizado” em portões

Acredita-se que naquela época muitas mensagens eram transmitidas através do uso dos Adinkra e que muitos desses símbolos se popularizaram sem ter o seu real significado conhecido pelos colonizadores, mas aqueles recém chegados do continente africano identificavam os símbolos de luta, resistência e preservação de sua história.

Ficou curioso(a) pra conhecer outros símbolos Adinkra? Então não perca as próximas edições desta coluna, pois vamos descobrir muito mais do rico legado africano.

Para saber mais:

  • NASCIMENTO, Elisa Larkin. GA, Luiz Carlos. Adinkra, Sabedoria Em Simbolos Africanos. Pallas, 1ª edição (11 setembro 2009).

  • WILLIS, W. Bruce. The Adinkra dictionary: A visual primer on the language of Adinkra. Pyramid Complex (1998).

  • SLOLEY, Patti Gyapomaa. Ghana’s Adinkra: Symbols from our African Heritage. Emmalily Ltd (17 dezembro 2012).


______________________________________________________________________________

Sankofa

 
Monni Ferreira (São Paulo-SP) entrou para o mundo da dança com 10 anos de idade e durante toda a sua trajetória nesta arte teve a oportunidade de vivenciar diferentes estilos de dança, como: árabes, contemporâneo, afro, moderna, street dance, brasileiras, flamenco, indiana, ballet, entre outras.Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...