[Folclore em Foco] Snujs - Ancestralidade na dança

 por Nadja El Balady


Snujs, sagat, zills, finger cymbals, crótalos, címbalos. Se você é uma dançarina de qualquer estilo de dança do ventre, você já está familiarizada com algum destes termos. Você sabe que são importantes acessórios para a prática da dança, sobretudo para as dançarinas de ATS®/FCBD Style® e folclore árabe. Mas você sabe por que nós dançamos tocando?  Sabe qual a importância este instrumento tem em suas culturas de origem?

Venha comigo descobrir um pouco da história dos snujs e entender o que estamos representando quando simplesmente os colocamos nos dedos e tocamos na nossa dança.

Snujs são instrumentos musicais, da classe das percussões leves, que atuam como guia para os outros músicos, ajudando a manter o andamento da música igual para todos os instrumentos. São pequenos pratos de metal, que se prendem aos dedos com elásticos e que em conjunto de quatro unidades formam dois pares de címbalos, sendo um par para cada mão.

Existem inúmeros tipos, formatos, variedades e tamanhos de snujs, bem como diferentes nomes, como demonstrado na primeira linha deste artigo. Isso acontece porque são instrumentos ancestrais, existentes há milhares de anos e em culturas de diversos locais do planeta: Da África à Ásia, do Marrocos à Índia, sobretudo no Oriente Médio, encontramos indícios de que este instrumento atravessou o tempo e permanece como traço identitário da musicalidade de diversos povos. A palavra snujs, é proveniente do dialeto sírio/libanês utilizados por imigrantes árabes no Brasil. Sagat é a palavra egípcia e zills é como o instrumento é chamado na Turquia.

Os snujs podem ser feitos de materiais diferentes, com espessuras diferentes e tamanho do diâmetro diferente também. Cada especificação gera um som diferente. Dependendo da região, são tocados de maneira diferente também. Snujs mais finos tendem a ressoar por mais tempo, snujs mais grossos tendem a ter um som mais seco. Dependendo do som que se quer produzir, pode-se usar técnicas diferentes para tocar. Existe um artigo em inglês bem interessante a respeito de diferenças entre sagat tradicional egípcio e os zills produzidos nos Estados Unidos, no site Gilded Serpent, escrito pela Yasmin Henkesh em 2011. O link de acesso estará no final deste artigo.

No Egito, existem sagat de diversos tamanhos: Entre 3 e 6 centímetros de diâmetro, normalmente usados por dançarinas, entre 8 e 10 centímetros, para músicos e entre 12 e 15 centímetros para rituais religiosos.

Muito se especula a respeito de uma origem sagrada para o instrumento. Mas não são de origem sagrada todos os instrumentos? A própria arte nasceu da catarse para expressão dos sentimentos humanos e a tentativa de comunhão com o divino: A música, a dança, a pintura. A arte servia aos antigos como forma de conexão entre o visível e o invisível. Existem comprovações de uso de címbalos com diversos formatos em algumas culturas ancestrais como antigo Egito, Babilônia, Tibete e muitos outros países da África e da Ásia. Algumas pessoas escrevem a respeito da elevação do astral do ambiente, atribuindo ao som emitido pelos címbalos características positivas e alegres. Outras pessoas ainda afirmam a capacidade de que o som teria de afastar os maus espíritos e por isso serem tão importantes em templos e atividades religiosas. Apesar destas afirmações terem mais ou menos indícios de comprovação, nunca foi de meu especial interesse estabelecer certezas neste sentido, pois ao longo do tempo os címbalos foram mudando de formato, material e também de função cultural, antes que chegasse na prática da dança do ventre como conhecemos.

Ainda sobre o uso sagrado dos snujs, é importante saber que a música árabe tem uma tradição antiga de música religiosa. A música islâmica medieval se voltava constantemente para o sagrado, assim como sagrado era o uso dos instrumentos. A partir do momento em que a música atinge outros objetivos sociais além do louvor, também o uso dos instrumentos musicais ganha um outro significado, servindo para celebrações, para a guerra, para situações cotidianas e assim se torna um elemento da identidade cultural de cada povo e é a partir deste ponto de vista que os snujs ganham importância para quem dança.


Sendo usado como acessório fundamental da dança em locais diversos do norte da África, vamos encontrar registros abundantes do uso de snujs no Egito, onde o instrumento é conhecido como “sagat”. O sagat está integrado ao cotidiano musical do povo egípcio e o uso em conjunto com a dança faz parte da tradição cultural. Não conheço registro preciso de quando o sagat foi incorporado à dança, mas se sabe que durante a idade média já era utilizado inclusive como forma de entretenimento agregado a apresentações de grupos de músicos e dançarinas em celebrações e ocasiões especiais. A partir de meados do século XIX, encontramos evidências de duas classes de dançarinas profissionais atuando no Egito: As Awalen e as Ghawazee. Ambas as classes de dançarinas profissionais existiam durante a idade média, desde o período otomano, sobrevivendo e se adaptando às transformações da cultura egípcia. Awalen era uma classe de mulheres profissionais da música e da dança que, eram educadas para se tornarem artistas. Atuavam principalmente nos centros urbanos do Cairo e Alexandria. Ghawazee é uma palavra para descrever a função de artista desempenhada pelas mulheres de etnias relacionadas ao povo Dom, entre eles algumas famílias que se identificam como etnia Nawar, que teriam migrado para o Egito na idade média, trazendo em sua tradição a prática da performance pública como forma de sustento. Essas pessoas são conhecidas como os “ciganos egípcios” (termo pejorativo, com o qual muitos não se identificam), tendo sofrido toda sorte de preconceitos ao longo da história recente do Egito. A dança ghawazee é uma arte considerada vulgar desde a invasão francesa no final do século XVIII, forçada a deixar os centros urbanos e migrar para as regiões rurais, se adaptando aos costumes de cada local. Seguiram realizando sua forma de arte espontânea e familiar a contento do povo da zona rural em suas celebrações, levando consigo a identidade cultural da região onde atuam, sendo reconhecidas como tal. Ghawazee e Awalen, apesar de diferentes em termos sociais e étnicos, eram semelhantes em suas performances no período do final do século XIX até a metade do século XX. Usavam figurinos semelhantes e sempre usavam sagat em suas performances. Uma marca das performances ghawazee e awalen.


Nos centros urbanos do Egito, estas duas classes de profissionais da dança aos poucos foram sendo substituídas por uma terceira classe: A dançarina oriental (raqisah), educada no contexto artístico para performances em teatro, casas de show e cinema. Podemos ver nos filmes do período considerado como “era de ouro” do cinema egípcio, performances de dançarinas que sempre usavam sagat para ilustrar cenas de celebrações populares e folclóricas. Pouco a pouco o uso dos sagat foi sendo limitado à representação folclórica nos shows de dança. Embora exímias tocadoras de sagat, as dançarinas profissionais foram deixando de tocar nos longos shows egípcios, deixando para tocar no trecho folclórico do show. Nos dias de hoje alguns shows não têm nem mesmo o uso do sagat pela dançarina, principalmente tendo em vista que uma grande parte das profissionais que atuam no Egito são agora estrangeiras.

Nos Estados Unidos, o instrumento chegou junto com as ghawazee que para lá migraram e influenciaram as primeiras dançarinas de belly dance profissionais. Os zills, como são mais conhecidos por lá, se tornaram parte imprescindível da performance do estilo “cabaré americano”, que é como a estilização da dança do ventre passou a ser conhecida nos Estados Unidos. Dominar diferentes padrões de toque para zills é fundamental para a dançarina profissional estadunidense. Elas usam os instrumentos para diversos fins, inclusive para abrilhantar solos de percussão, onde exibem destreza e agilidade de toque na composição musical. Zills são importantes para cativar a atenção do público e criam uma conexão cênica perfeita entre música e dança.

A famosa Jamila Salimpour, que durante as décadas de 60 e 70 formou muitas dançarinas profissionais, tinha o uso de zills como obrigatório em seu formato. Sua filha Suhaila deu continuidade ao seu legado formando pelas décadas subsequentes incontáveis dançarinas que precisam dominar os zills para terem sua formação completa. O formato Salimpour foi o ponto de partida para o surgimento da estética tribal que se desenvolveria ao longo das décadas de 80 e 90, levando este elemento étnico e ancestral como parte fundamental do estilo tribal americano.

As praticantes das fusões aprendem a tocar os snujs, mas muitas vezes não entendem bem o porquê. Quem estuda o folclore árabe, aprende a relação do instrumento com as danças populares.

Toda a estética tribal se inspira na música, movimentos e figurinos usados pelas mulheres em suas danças populares no norte da África: Das tribos nômades do povo Amazigh (Berberes), das ghawazee egípcias aos povos beduínos do Oriente Médio. O estilo tribal carrega em si estas referências importantíssimas da origem popular da dança do ventre, tendo no uso dos zills a conexão definitiva com povos que ao longo do século XX sofreram inúmeras perseguições culturais, tendo suas tradições massacradas pelo colonizador europeu, sofrendo preconceitos e limitações sociais e econômicas.

A classe das awalen não mais existe e as ghawazee estão em extinção. As dançarinas naiyliat (ouled nail) da Argélia também. Para nós ocidentais, praticantes de uma arte que tem origem tão antiga e diversa, saber quem são, quem foram e qual a importância da dança nas vidas destas mulheres é uma questão de se reconhecer como mulher que dança. É entender a ancestralidade da dançarina, suas raízes. Uma arte que muitas vezes era transmitida de mãe para filha. A dança era para elas meio de vida, como é para muitas de nós. Meio de vida não apenas como forma de pagar as contas, mas também como forma de afirmação da vida e de celebração de suas tradições. A arte é parte fundamental da identidade de um povo. Ao colocar os snujs nos dedos, estamos fazendo algo muito maior do que simplesmente tocar um instrumento musical na intenção de demonstrar agilidade. Estamos nos conectando a mulheres de povos distantes, de tempos remotos, estamos dando prosseguimento a uma tradição. A dança do ventre se espalhou pelo mundo no século XX e seguiu, se adaptando, se transformando de acordo com a passagem do tempo, de acordo com o local e história corporal das mulheres que a praticam. Uma prática que nos conecta a estas mulheres da história, às suas descendentes e respectivas culturas. Quando tocamos snujs, trazemos um pouco delas conosco. Quando tocamos snujs, as representamos para o nosso público. Quando tocamos snujs, evocamos os mistérios do tempo e de coisas que fogem à nossa compreensão.

Que possamos elevar a nossa consciência no uso das coisas por entender que as coisas carregam consigo memórias escondidas de sua história e que ao usá-las estamos fazendo parte, nos integrando a este fluxo de tempo que dá continuidade a esta mesma história. Olhe para seus snujs e pense nas mulheres que tocam desde tempos remotos até hoje. Honre estas mulheres e os povos de sua origem. Propague a beleza da cultura viva que se espalha em forma de arte e não esqueça que você também faz parte disso.


☛ Indicação de leitura complementar:

You say zills, I say sagat - Yasmin Henkesh, Gilded Serpent, 2011.

http://www.gildedserpent.com/cms/2011/04/25/yasmini-zills-sagat-difference/


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Folclore em Foco


Nadja El Balady (Rio de Janeiro-RJ) é diretora do grupo Loko Kamel Tribal Dance e proprietária do Oriental Studio de Dança no Rio de Janeiro, dedicando-se há 21 anos a estudar danças orientais. Professora de Dança do Ventre, American Tribal Style® e Tribal Fusion, com experiência internacional na Europa em shows e workshops. Estuda o Estilo Tribal desde 2005 e é uma das pioneiras da Fusão Tribal Brasileira. . Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 

[Resenhando-SC] Temporada Tribal - 2ª edição (2018)

 por Aline Pires


 

Continuando o Resenhando-SC com eventos que ocorreram durante o período que o blog estava em hiato. Vamos falar agora da segunda e última edição da Temporada Tribal, festival que aconteceu em 2017 e 2018 em Florianópolis, Santa Catarina. A Temporada Tribal foi organizada por mim e por Cíntia Vilanova, e nossa idéia era criar uma "temporada" para o tribal, como se diz aqui para se referir a estação turística onde tudo acontece, com a diferença que escolhemos a primavera. Queríamos um festival que abraçasse o estilo tribal e oferecesse aulas com professoras de fora de Santa Catarina, para atualizar as bailarinas e fazer a dança crescer em qualidade na cidade e no estado. A primeira edição também teve um Resenhando-SC, e você pode conferir aqui: https://coletivotribal.blogspot.com/2018/03/resenhando-sc-festival-temporada-tribal.html

 

Na segunda edição, em 2018, tivemos a honra de receber as professoras Aline Muhana (RJ) e Mariana Quadros (SP). Nesta edição, eu e Cíntia também oferecemos workshops.


Os workshops aconteceram na ordem que segue:


PERÍODO DA MANHÃ


Repertório Rachel Brice e Desconstruções, Tribal Fusion com Aline Pires:








TRECHO DO WORKSHOP:




Explorando Contrastes, Tribal Fusion com Mariana Quadros:





TRECHO DO WORKSHOP:




PERÍODO DA TARDE

Os Quatro Básicos e Variações, FTBD Style® * com Cìntia Vilanova:






TRECHO DO WORKSHOP:









TRECHO DO WORKSHOP:


         

 * No ano de 2018 ainda se chamava ATS®.

 

FEIRA


A Feira da Temporada contou com um Flash Day tattoo com o tatuador Lucas De Abreu, e também ateliers locais expondo seus produtos.








MOSTRA & SHOW DE GALA 


Para a mostra e show dispomos apenas de material fotográfico, infelizmente tivemos problemas com a filmagem do dia, e não temos vídeos das apresentações.

Algumas fotos da mostra de dança:





Tanto a mostra como o show aconteceram no Teatro Álvaro de Carvalho, e o show de gala contou com a presença das professoras convidadas, organizadoras e bailarinas da região.


Elenco: Aline Muhana, Aline Pires, Bia Carneiro, Cintia Vilanova, Julic Carboni, Julieta Furtado, Mariana Quadros, Mari Mallet, Silvia Bragagnolo, Tamiris Madeira.







 

Confira os álbuns completos na página do evento:


| Fan Page Temporada Tribal |



Gostaria de agradecer os participantes e o público, e agradeço o blog pela oportunidade de mostrar o festival de tribal que movimentou nossa ilha da magia, assim como minha colega Cíntia por termos feito este belo trabalho juntas.

 

 

 

No próximo resenhando falaremos da Jornada Tribal que aconteceu em 2019, não percam!


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Resenhando-SC


Aline Pires (Florianópolis-SC) é bailarina e professora de dança oriental árabe e fusion bellydance/tribal fusion natural de Florianópolis, Santa Catarina e proprietária do La Lune Noire Estúdio de Dança. Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 

[Organizando a Tribo] Pensando em uma comunicação organizada

 por Isadora Oliveira

Eii bailarinx! Como está a organização da vida por ai?

Vai chegando final de ano e diferente do que estávamos acostumadxs, a correria de festival agora deu espaço para a correria de aulas, cursos e atenção exclusiva para xs alunxs. Tocando nesse assunto, como anda a comunicação com seus alunos? Cheios de grupos no WhatsApp, mensagens pelo Telegram, comunidades no Facebook e Perfis particulares no Instagram?

Principalmente nesse período extremamente digitalizado, acertar a forma de se comunicar com o seu público alvo é primordial. Investir em estratégia de comunicação digital, não trará apenas retornos positivos com a sua relação com as suas alunas e alunos, mas te aproximará da vida prática, organizada e produtiva que um profissional de qualidade precisa ter.  Então vamos pensar juntxs algumas maneiras de otimizar, organizar e facilitar a comunicação.

 

 

Sintetize informações!

Quando for abordar algum assunto importante que precisa da atenção dxs alunxs o faça de maneira rápida, visualmente agradável e direta. Aproveite os artifícios gráficos para chamar a atenção dx alunx e não para confundi-lx.

 

WhatsApp

Caso queira escrever um texto, faça pequenos parágrafos utilizando emojis como alerta e tornando em negrito as informações mais importantes (para isso, *basta colocar o texto entre marcadores*). 

  • Vantagens: Um texto bem escrito não deixa margem para erro e facilita o entendimento de quem está lendo.

  • Desvantagens: Nem sempre xs alunxs se atentam às informações escritas! Dica: crie um grupo apenas para comunicados ou faça uma lista de transmissão exclusiva.

Se preferir mandar áudios, que sejam áudios rápidos, diretos e claros. Às vezes nos distraímos e deixamos o áudio rolando, isso não é eficiente para comunicação com alunxs! Faça um mini roteiro com as informações importantes antes de enviar os áudios e se atente em abordá-las de forma explicativa além de informativa.

  • Vantagens: Áudios podem ser rápidos e eficientes, além de criar uma abertura maior para a comunicação e melhor interação com xs alunxs.

  • Desvantagens: Muitas pessoas não escutam áudios com mais de um minuto, por isso dê preferência para áudios de até 40 segundos.


Explore novas formas de se comunicar!

 

Nem sempre a informação reproduzida de forma clássica, através de um texto será a mais eficiente. Abuse de artifícios gráficos e visuais, utilizando postagens assertivas e bem elaboradas e stories fáceis, rápidos e eficientes para a sua divulgação.

Dica: organize as suas postagens de forma interligada. Abuse das ferramentas: Stories/ Publicações / IGTV’s / Reels. Pense em conteúdos diários, pílulas de informação, com qualidade e clareza informacional, uma boa média são 3-4 posts diários variando as suas formas. Existem aplicativos ótimos de programação de postagens e conteúdo (Segue lista de sugestão:https://www.apptuts.net/tutorial/android/aplicativos-agendar-postagens-no-instagram/ )

 

Instagram

Utilizar as ferramentas que o instagram possibilita, é uma boa forma de cativar e informar xs alunxs de maneira simples e fácil. Por ele, você conseguirá organizar as informações de maneira visualmente fácil e organizada.

Utilize a ferramenta de melhores amigos nos stories para dar informações importantes, lembretes e dicas. Por lá, você conseguirá também administrar quem  visualizou e medir as interações com os conteúdos que você publicar, através dos medidores de integração da plataforma.

 


 

Facebook

O facebook é uma rede que não está tão em alta como as outras no momento, mas mantê-lo atualizado é primordial para que as suas informações sejam difundidas da melhor maneira possível. Você pode conectar as postagens do Instagram através da vinculação de conta (Link do passo a passo de como fazer: https://www.facebook.com/help/instagram/176235449218188 )

Mantenha a sua página sempre cheia de informação e alimente as suas interações para ampliar cada dia mais a sua network.

 

Seja dinâmicx e certeiro!

 

Mantenha-se sempre atento e disponível! É importante você separar algumas horas da sua semana exclusivamente para: responder mensagens, alimentar suas redes, dar atenção à sua equipe e alunxs. Tenha sempre em mãos uma lista de mensagens padronizadas para as informações que são genéricas, como: horários de aula, disponibilidade do seu espaço, telefones de contato e valores tabelados, bem como as informações de cursos que você esteja promovendo.

 


 

Mensagens automáticas são uma ferramenta inteligente e muito eficiente, te trará mais tempo de resposta além de facilitar a comunicação. É possível criar mensagens automáticas no WhatsApp e no Instagram! Seguem links que irão te ajudar ; )

 

Bailarinxs, tenham uma ótima e organizada semana!

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Organizando a Tribo

Isadora Oliveira (Belo Horizonte-MG) é bailarina semi-profissional, estudante e mobilizadora social. Com 19 anos de idade, graduanda em Bacharel em Direito e amante da Cultura Árabe Oriental, tem uma vasta experiência em organização grupal (apesar da idade), são aproximadamente 10 anos de trabalho e serviços sociais voluntários. É integrante da equipe VIDES Brasil (Voluntariado Internacional de Desenvolvimento e Educação Social) e está à frente da Iniciativa da Nova Geração das Danças Árabes Orientais no Brasil.  Clique aqui para ler mais posts desa coluna! >>


[Campo em Cena] Composição coreográfica e Pesquisa de movimento: Quais as diferenças e como estou criando a minha Fusão?

 por Thaisa Martins


Quantas vezes nos pegamos assistindo uma apresentação de Tribal e pensando “Uau! Isso que ela está fazendo é tão diferente de tudo o que já vi!!" ou então “Nossa, a dançarina tal tem umas coisas que só ela faz, é algo DELA”?  E quantas vezes nos vimos assistindo uma apresentação em que nos sentimos conectadas com cada passo da dançarina que quase dançamos junto na nossa cabeça? Qual a diferença entre esses dois tipos de obras coreográficas? Uma é melhor do que a outra? Essas são algumas das perguntas que vamos tentar responder neste artigo.

Nos estudos teóricos do campo da Dança, existem dois conceitos muito imbricados mas que nos levam a caminhos bem diferentes na criação de uma obra coreográfica. Eles são a composição coreográfica e a pesquisa de movimento.


Podemos entender como composição coreográfica o processo de organização dos códigos já inseridos no corpo de quem o cria. Assim, quando criamos uma obra partindo do ponto da composição coreográfica, pegamos os passos que já conhecemos e dominamos, geralmente de uma modalidade (ex: shimmy, batida lateral, ondulação de coluna e etc), e os organizamos de uma maneira específica. Seja numa camada da música, na contagem do pulso ou qualquer outro caminho que a dançarina escolher. Eu estou compondo, pegando os elementos e criando algo que será apresentado. 


Pesquisa de movimento é um processo mais longo, anterior à composição coreográfica e  que exige um maior investimento de tempo para a criação da coreografia pois nele partimos para uma investigação de movimento, construindo e reconstruindo códigos corporais. Diferente do que possa parecer, nós não partimos “do zero” numa pesquisa de movimento, uma vez que os códigos que conhecemos e dominamos fazem parte de nossa corporeidade e da nossa forma de mover. O que fazemos aqui é uma busca por percorrer diferentes caminhos nessas inscrições corporais. O passo torna-se insumo, torna-se base para “uma coisa outra” que irá surgir. A composição vem em um segundo momento, quando eu organizo os resultados da pesquisa de movimento em uma obra.

E qual é o melhor caminho a ser seguido? A resposta aqui é bem simples. Aquele que for mais interessante para você! O estudo teórico da Dança não tem como objetivo delimitar “passos a serem seguidos” ou criar regras gerais para o fazer artístico em dança. O que ele nos propõe são ferramentas que visam potencializar a criação. Com essa reflexão buscamos mostrar que existem caminhos diferentes  que você pode escolher o que melhor se adequa a sua coreografia.


Buscando Referências

Um caminho que pode ajudar a identificar o que você está buscando é apreciar coreografias de outras dançarinas,  destacando o que mais te chama nessas obras. Esse é um bom termômetro para o seu estudo. Note que não se trata de copiar outra dançarina, mas sim compreender o que você admira no trabalho dela e que pode servir como um parâmetro investigativo na sua criação. Para fins de exemplificação, vamos analisar duas obras de dançarinas muito conhecidas, identificando se a obra trata-se de uma composição coreográfica ou pesquisa de movimento. Por favor, assista o vídeo antes de ler a análise, se necessário volte ao mesmo para tentar identificar os pontos destacados.

  

"Glide" por Rachel Brice | Intérpretes: Rachel Brice, Danielle Elizabeth, e Tabra Bay.    


 

Em “Glide” (“deslizar” ou “planar”) podemos observar que trata-se de um trabalho que parte da composição coreográfica para sua criação. Apreciando a coreografia é possível identificar que todos os movimentos fazem parte do repertório do Datura Style (criado pela coreógrafa). Esse tipo de criação exige uma limpeza e alto nível técnico em sua execução. Observe que a dramaturgia está presente na obra, e o aprofundamento investigativo é tão necessário quanto numa pesquisa de movimento, uma vez que não se trata apenas de juntar passos. Nesse tipo de construção, pontos de execução como espaço, forma, dinâmica e ritmo serão cruciais para as alterações nas qualidades do movimento. Vale ressaltar que é mais difícil imprimir sua identidade nesse tipo de processo de criação, uma vez que se apropriar de uma técnica a ponto dela “ser você” e vice- versa demanda muito tempo de treino e dedicação. Esse é o caminho de criação que mais identificamos  na cena brasileira, e como referência na composição coreográfica do Tribal Fusion podemos citar a dançarina Mariana Quadros


"March" por  Tiana Frolkina | Intérpretes: Dragonfly Tribe 


A obra "March" (“Março”) da dançarina e coreógrafa Tiana Frolkina é um exemplo de trabalho desenvolvido a partir de pesquisa de movimento. Ao apreciar a obra com bastante atenção, podemos identificar que além de uma dramaturgia bem definida, a obra apresenta uma identidade coreográfica muito peculiar. Mais do que uma junção de movimentos, conseguimos identificar padrões da estética Tribal associados a movimentos bem incomuns e a gestos do cotidiano como o ninar o bebê, a oração, o tecer e o tocar um instrumento de corda. A obra te leva para muitas cenas, uma das “marcas registradas” do trabalho de Tina Frolkina.


Em 2018, tivemos a oportunidade de estudar com a mesma esta coreografia (quando Luisana trouxe-a à Argentina). Ao compartilhar seu processo de criação, Tiana nos contou que ele envolveu a observação dos movimentos das mulheres camponesas durante as 4 estações do ano. O frio e o calor, o semear e o colher, o parir e o envelhecer, o cozinhar e o cuidar foram algumas das qualidades que ela se inspirou para produzir a obra. Sem sair da estética Tribal, a coreógrafa imprimiu todas essas informações na sua pesquisa de movimento. Na cena Tribal brasileira, temos como referência na pesquisa de movimento a dançarina Paula Braz.


E a Fusão com outros estilos?


Esse é um caminho mais complicado de analisar que o anterior, pois a dançarina precisa dominar as duas técnicas que se propõe a fusionar para desenvolver um trabalho de excelência. O grande problema desta questão é o tempo e dedicação que são necessários para que os códigos sejam devidamente dominados pelas intérpretes. Os “recorte e cola”  ficam bastante evidentes quando utilizados em uma obra. Geralmente é por meio da composição coreográfica que caímos nesta falha,  pois partimos da premissa de junção de passos para a criação. Acreditamos que este é um dos pontos-chave para compreender os problemas da apropriação cultural que estão tão evidentes nos dias de hoje (mas isto é assunto para um outro artigo). Apresentaremos em seguida um trabalho de fusão que nos evidencia essa diferença entre ter propriedade das modalidades ou não.



“Tanta Flores” | Interpretes criadoras: Flamenco Moria Chappell & Silvia Salamanca | Tribal Fusion Bellydance: Odissi Fusion & Gypsy 




Na obra colaborativa “Tanta Flores”, podemos identificar duas dançarinas de Tribal que se especializaram em uma segunda modalidade de dança e resolveram colocar as suas fusões para dialogar. Observem a propriedade da Salamanca com o Gypsy Flamenco e da Chappell com o Odissi. Quando uma se propõe a fazer uma movimentação da estética da outra, salta aos nossos olhos a diferença técnica, evidenciando quando a dançarina está fazendo a sua fusão e quando ela apenas imita a outra, sem a mesma propriedade. Isto não é um problema para a obra em questão, pois a proposta das intérpretes-criadoras foi o diálogo entre as técnicas e não o fusionamento em si. Mas se você está desenvolvendo um trabalho de fusão, é importante refletir sobre esse lugar de apropriação técnica antes de qualquer coisa. Como referência na pesquisa de fusão brasileira podemos citar a dançarina Kilma Farias com o Tribal Brasil.


Conclusão

Buscamos apontar as diferenças entre uma obra coreográfica que trilha o caminho da  composição coreográfica em seu processo criativo da que segue pela pesquisa de movimento. Apresentamos de forma sucinta a diferença entre esses dois caminhos criativos, trazendo exemplos de obras de coreógrafas renomadas na cena Tribal internacional. Também buscamos refletir sobre a questão da fusão, destacando a importância do aprimoramento técnico nas duas modalidades para uma fusão de excelência, 

Esperamos com esse artigo, que dançarinas amadoras e profissionais sintam-se instigadas a refletir como estão criando suas obras coreográficas e que desperte a curiosidade de experimentar esses diferentes caminhos. Gostaríamos de inspirar dançarinas a fazer algo totalmente diferente do que estão acostumadas, ao mesmo tempo em que se aprofundam com mais propriedade no que já fazem hoje. Acreditamos que nossa cena tem muito espaço para diferentes produções artísticas e o estudo das teorias do campo da Dança podem nos auxiliar a alcançar novos direcionamentos e amadurecimento da cena enquanto uma manifestação artística.

Sigamos criando unidas!    


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Campo em Cena


Thaisa Martins (Rio de Janeiro-RJ) é graduada em Teoria da Dança (UFRJ) e mestranda em Arqueologia (UFRJ) onde pesquisa processos de reconstrução de dança na Índia antiga. É sócia do Medusa Tribal Studio, estúdio de dança dedicado ao Tribal Fusion, suas derivações e origens no RJ,  junto com a dançarina e fisioterapeuta Maya Felipe. Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 

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