O Portal do Egito realizou no último dia 05 de junho, no Teatro Polytheama - Jundiaí/SP, mais um festival. Este ano com os musicais como tema, nem precisa dizer como foi divertido!!!
Em meio ao Corpo de Baile do Portal, dirigido por Débora Spina, vários convidados levaram seus talentos e energia; o importante era se divertir e por para fora toda dança acumulada com meses de ensaio e anos de prática.
O clima dos camarins era de puro deleite e confraternização, revendo velhos e novos amigos, tudo pronto, maquiagens carregadas no glamour....Abraaaa suas asas, solta suas feras....Caia na gandaia!!! Bem assim!!!
Os musicais escolhidos foram:
1-Família Adams – CORPO DE BAILE - PORTAL DO EGITO Coreógrafa: Débora Spina 2-Priscila a Rainha do Deserto – GRUPO UBUNTU E CONVIDADOS Coreógrafo: Marcelo Justino 3-Mary Poppins - CORPO DE BAILE - PORTAL DO EGITO Coreógrafa: Silvia Gatti 4-Grease - CORPO DE BAILE - PORTAL DO EGITO Coreógrafa: Débora Spina 5-Cats - CORPO DE BAILE - PORTAL DO EGITO Coreógrafa: Débora Spina 6-Mamma Mia – CORPO DE BAILE – PORTAL DO EGITO Coreógrafas: Priscila Kubo e Gisele Silva 7-Fantasma da Ópera – CORPO DE BAILE – PORTAL DO EGITO Coreógrafa: Débora Spina 8-Hair Spray – GRUPO UBUNTU E CONVIDADOS Coreógrafo: Marcelo Justino 9-Rei Leão – A Savana – AMIRA DANÇA E MOVIMENTO Coreógrafas: Juliana Santos e Raquel Agnelo 10-Moulin Rouge – CORPO DE BAILE – PORTAL DO EGITO Coreógrafa: Débora Spina 11-Dançando na Chuva – SABATUM – CIA DE SAPATEADO Coreógrafo: Samuel Faz 12-Hair – RAINHAS DO NILO Coreógrafa: Lu Batista 13-Os Miseráveis – CORPO DE BAILE – PORTAL DO EGITO Coreógrafa: Débora Spina 14-Pequena Sereia – Academia Corpo e Arte Coreógrafo: Marcelo Justino 15-Chicago – CORPO DE BAILE – PORTAL DO EGITO Coreógrafa: Eliane Rezende 16-Mágico de Óz – CORPO DE BAILE – PORTAL DO EGITO Coreógrafa: Priscila Kubo 17-Carmen – Gira Ballo Trupe Coreógrafa: Maria Badulaques 18-Entre nessa Dança – DANCE COMPANY Coreógrafo: Caio Barbuena 19-A Bela e a Fera – CORPO DE BAILE – PORTAL DO EGITO Coreógrafa: Débora Spina 20-FINAL
As fotos do espetáculo ainda não saíram, mas essa geral dá uma noção do clima vivenciado.
Realizado no dia 04 de junho em Jundiaí-SP, Teatro Polytheama, sob a batuta de Lu Batista, rolou o espetáculo e os signos foram representados por suas características mais marcantes, com coreografias de bellydance, tribal fusion, dança indiana e fusões. Dando cola as histórias contadas através da dança um astrólogo, interpretado pelo ator Fernando Baesso, conectava as apresentações e assim seguimos viagem.
Com um sorriso acolhedor e muito bom-humor assim Lu recepcionou todos seus convidados, a esperada oração para entrar em cena e zaaaz, abriram-se as cortinas. A sensação, pelo que ouvimos do público, foi que realmente rolou uma viagem pelos signos e seus encantos. Missão cumprida!
Entre os presentes, além do corpo de baile das Rainhas do Nilo, marcaram presença: Débora Spina e o corpo de baile Portal do Egito, Selena Dilber bailarina da Khan el Khalili, Maria Badulaques da Trupe Gira Ballo, Sáa Flor de Lótus, Eliane de Rezende , professora de dança indiana, Samira Suhair da Bele Fusco e Marcelo Justino bailarino e coreógrafo; todos em apresentações inspiradas.
O espetáculo será reapresentado dia 11 de julho em Barra Bonita-SP, vamos?
A bailarina NagaSita (EUA) recentemente divulgou um vídeo promocional de seu trabalho dentro do estilo Ritual Theatre. Segundo a bailarina, o local da filmagem foi na ilha de Oahu (Havaí), local em que a mesma nascerá.
Dias 16 e 17 de maio aconteceu, a convite de Christina
Pontes, professora, coreógrafa e proprietária da academia Arte Sagrada, o 2°
Workshop de Tribal Fusion em Porto Velho, município do estado de Rondônia.
Desde o ano de 2011, Christina Pontes vem fazendo um trabalho que inclui diversos estilos de
danças étnicas, sendo a dança do ventre
e a dança cigana os pontos fortes da academia.
Quando Joline Andrade esteve em Porto Velho neste mesmo ano
(2011), ministrando então o 1º workshop de Tribal Fusion na cidade, despertou o
interesse dos artistas quanto ao estilo e, naturalmente, agregou bailarinas e
estudantes da dança do ventre a pesquisarem e a fazerem experimentos voltados
para o estilo.
Em 2015, no início do mês de maio, em conversas com Christina
Pontes, decidimos nos conhecer e propor as alunas da academia e aqueles
interessados a terem mais uma experiência com o Tribal Fusion na intenção de
agregar mais adeptas e estabilizar o estilo na região norte.
Como a academia possui um conceito de fusão, porque a Christina
trabalha outros estilos dentro de suas criações coreográficas, houve interesse
e disposição, tendo em vista que entre os participantes estavam professores e
praticantes de yoga, dança de salão, dança do ventre, dança cigana, jazz e
balé.
Foram pontuados como importantes o estudo de teoria e
prática, bem como os fundamentos estéticos e de movimentações características do
Tribal Fusion.Ao todo, o workshop
contou com cinco horas de curso prático e uma hora de teórico, sendo distribuídos
para que se inserissem naturalmente entre as práticas para melhor absorção e
entendimento.
Depois dessa maravilhosa troca, senti como é importante
ressaltar as origens do Tribal Fusion para que sempre haja uma conversa a nível
de entendimento e esclarecimento entre nós praticantes e para que aqueles que
chegam consigam sentir espontaneamente tudo o que cerca o cenário Tribal.
Algumas linguagens conversam com a dança do
ventre naturalmente, como por exemplo, o balé, mas e as outras fusões? Até que
ponto podemos ressaltar o que é Tribal e o que é Fusion dentro de uma dança? Essa
é uma pergunta que deixei no ar no workshop e que sempre me faço para que eu
tenha um senso crítico do como nomenclaturar o trabalho proposto nas minhas
criações.
O Norte é bebê em se tratando de algumas técnicas e
linguagens, o cenário Tribal mais ainda, eu tive a grande oportunidade de
estudar com uma das pessoas que ajudaram a acontecer o Tribal no Brasil, o que
me dá segurança para continuar o meu trabalho como professora e como bailarina,
mas a verdade é que é necessário se atualizar e aprender sobre outros estilos e
linguagens de dança, pois isso melhora o
processo criativo e a didática das aulas, e pesquisar teoria é parte do
processo de absorção do estilo a qual nos propomos estudar.
Gostei de ver o interesse se estendendo pelo Norte e o
respeito e visibilidade que o Tribal Fusion vem conquistando, penso que é
nessas parcerias que nos propomos é que vamos crescer e aparecer.
Espero um dia poder contar com um grupo grande de bailarinas
tanto de Porto Velho quanto de Rio Branco que podem ser da dança do ventre ou
não, pois penso que o importante é ter a vontade e o prazer de aprender, tendo
consciência que não é de uma hora pra outra, e sim com trabalho contínuo que
inclui prática e pesquisa, pois assim o alicerce do estilo se estabilizará de
verdade no Norte do Brasil.
Quando estamos aprendendo os passos do ATS® sempre tendemos a
ficar com movimentos mais mecânicos, pois estamos preocupados em fazer o passo
corretamente, em tocar snujs e fazer a troca de um passo para o outro.
Então
aqui vão algumas dicas e exercícios para melhorar a fluidez da sua dança:
1 - Comece a dançar
Dê asas a essência. Apesar da técnica, curta
os movimentos; não tenha pressa para fazer, não fique preocupado em puxar
somente movimentos difíceis. Curta todos porque um movimento simples bem feito
vale mais e dançar pra você não tem preço.
2 - Ligue os movimentos
Algumas alunas me perguntam como fazem para
partir de um movimento para o outro, como faz a troca. E a resposta é simples:
Primeiro não tenha medo da passagem dos
movimentos. Em aula, não tenha medo de fazer algo que não existe porque com o
tempo o seu corpo mesmo vai saber o que fica esteticamente bom ou não. No
repertório lento, quanto mais ligado e lento conseguir fazer mais hipnótico
será; desacelere e tente.
3 -Relembre seu repertório
Essa é uma dinâmica que a Kae Montgomery
ensina. Coloque uma música e nela eleja somente um passo que você poderá usar a
música toda. Esse treino faz com que você relembre todas as variações dos
passos e serve para tirar alguns vícios também.
4 - Estude snujs
Todos nós sabemos que os snujs podem ser a
parte mais difícil do ATS® para muitos.
Dicas de como treinar:
Primeiro use elásticos largos e bem
apertados nos snujs,pois se ele ficar mexendo durante a dança atrapalha sua
concentração.
Coloque uma música de andamento não tão
rápido e só toque. Depois repita andando pelo ambiente; depois repita andando e
movimentando os braços; depois inclua giros no meio da caminhada; depois tente
uma música mais rápida e assim por diante. Vá dificultando seu treino.
5 – Sua postura e braços sustentam você
Se tem uma coisa que tem poder no ATS® é sua postura e seus
braços, pois se eles não estiverem sustentados, é como se nada mais funcionasse
direito. Treinar ondulações de braços acima da linha dos ombros pode ajudar; fazer algum tipo de resistência para acostumar a musculatura com essa altura
também ajuda.
Para a postura, você pode se filmar dançando e depois assistir e
ver em qual ponto você tem mais dificuldade de manter, dando assim mais atenção
a ela.
6 – Tente controlar sua euforia
Principalmente nos passos rápidos, a nossa ansiedade pode
nos tirar da contagem certa da música e nos atrapalhar na troca dos passos.
Respire fundo e treine o repertório rápido várias vezes. Você pode pedir para
uma amiga analisar como você está dançando.
Se apresentar mais vezes em público ajuda nisso e também
traz mais segurança para sua performance.
7 – Eleja um passo coringa
Todos têm um passo que gosta mais ou um que tenha mais
facilidade. Na hora que você está na liderança e tem um “branco”, normalmente
você vai buscar por esses passos.
No começo a tendência quando erramos é fazer uma
careta, falar ou parar a dança, principalmente em aula, então eu começo a
treinar essa ideia de passo coringa com as minhas alunas para prepará-las para
apresentações em público, onde elas não poderão fazer isso. Com o tempo isso vai
amenizando até o momento em que elas não param mais de dançar quando cometem um
erro.
Essas são apenas algumas dicas de aula que podem melhorar
sua performance. No geral é importante não deixar de estudar e também não
deixar de se divertir enquanto dança.
Realizado no dia 24 de maio, em São Caetano do Sul no Restaurante Dona Rô, Bruminha (a Danny) recebeu amigos e convidados com muita alegria e aquele conhecido sorriso. Com direito a feirinha de produtos e um delicioso almoço,fomos todos nos acomodando para reverenciar os amigos e esperar a nossa hora em cena.
Algo que chamou atenção tanto quanto as lindas performances foi a plateia!!! Olhares atentos, famintos eu diria....desejosos de ver as danças e senti-las. Surpreendente!!! Aplausos entusiasmados para cada pessoa que se propôs a mostrar sua alma colérica em cena e silêncio para ouvir e entender qual nova proposta surgiria no palco. São momentos assim em que sinto a nossa amada amiga CONEXÃO!
O que procuro, numa apresentação de dança, é a simbiose técnica e expressão. A técnica isoladamente produz encantamento, mas quando seguida de emoção adquire outro tônus. Difícil jungir esses elementos, até porque isso envolve anos de dedicação, estudo, prática...Além do que cada pessoa responde a seu tempo e cada corpo requer um olhar diferente. Com isso em mente, as vezes devemos "esquecer" a técnica e simplesmente apreciar aquilo que nos apresentam. Apreciar a dança como uma das mais belas formas de expressão e com esse olhar nos permitir viajar na proposta do dançarino.
A viagem proposta pelo Sarau Cigano trouxe um aroma de felicidade ao ambiente, todos estavam muito felizes em compartilhar sua dança, sua técnica e sua alma em movimento. Vi libertação, sorrisos, emoção...Lindas mãos em floreios, ciganas dançando em cadeiras, rodas circulando a magia da fraternidade, o tilintar dos snujs e fechando a noite a passagem do Cinturão Circular Pataxó ( opa, isso é uma longa história...conto qualquer dia).
Não cito um(a) dançarino(a) em específico, entendo que TODOS SÃO GALA E ESPECIAIS! Toda dança é digna e exprime nosso melhor, eis a real POLÍTICA DO ENCANTAMENTO e sim a DANÇA É INCLUSIVA E DEMOCRÁTICA, portanto se jogue, não há limites a não ser aqueles que nossa mente reproduzem.
Que venham sempre eventos como este para nos lembrar que dançar é a frenética busca da LIBERTAÇÃO. É apresentar sua dança, mas ter humildade de sentar e ver os amigos e os desconhecidos que naquele momento também se libertam em movimentos compassados....é ver para ser visto. Dançar é desnudar a alma. Liberdade de expressão para todos.
Se você é professor de dança tribal das capitais que fazem parte deste projeto, não deixe de participar, pois esta é uma boa oportunidade para a cena tribal dentro do âmbito da dança brasileira, fazendo-se, assim, conhecida e respeitada como arte.
As inscrições da primeira etapa estão abertas até o dia 11 de agosto, compreendendo as cidades de Belém, Curitiba, Fortaleza, Goiania, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.
Conheça um pouco mais sobre esse projeto:
"(...)O Mapeamento é uma pesquisa de diagnóstico que identificará agentes da dança (indivíduos, grupos e instituições) que atuam nas áreas de formação e produção artística. Além de dados cadastrais serão coletados dados quali-quantitativos, via questionário de pesquisa auto-respondente e anônimo, o que viabilizará a construção de um panorama da dança que abrangerá aspectos da dimensão social, econômica e artística da área. A pesquisa está sendo desenvolvida no âmbito do grupo de pesquisa PROCEDA (Processos Corporeográficos e Educacionais em Dança), com coordenação geral da profa. Dra. Lúcia Matos (PPGDança – UFBA) e vice coordenação da profa. Dra. Gisele Nussbaumer (Pós-Cultura – UFBA).
A primeira etapa do Mapeamento inclui cinco regiões e oito capitais do país e está sendo realizada em parceria com as seguintes universidades: UNESPAR Campus Curitiba II, UNESP, UFRJ, UFPE, UFC, UFPA, UFG e UPE.Estão envolvidos 20 pesquisadores, um técnico e 33 alunos de graduação, oriundos de nove universidades. A constituição dessa rede nacional assegurará uma colaboração acadêmica e um olhar especializado sobre o conhecimento a ser gerado, com a atuação de pesquisadores experientes e outros em processo de formação, bem como possibilitará uma ação participativa, dada a inserção dos mesmos no campo de estudo a ser investigado.
Como resultados do MAPEAMENTO DA DANÇA NAS CAPITAIS BRASILEIRAS E NO DISTRITO FEDERAL serão gerados: um banco de dados com informações básicas dos informantes que permitirem a divulgação e uma publicação digital com um diagnóstico sobre a formação e a produção em dança nas capitais brasileiras, levando-se em consideração os multifacetados modos de organização, processos e configurações da dança no Brasil. Esses dados serão triangulados com as diretrizes e ações propostas no Plano Nacional da Dança (MINC/ CNPC, 2010)."
Sim! Agora o blog Divagações Tribais e Afins de Mariana Quadros (SP) também possui um vlog no Youtube! O primeiro vídeo estreou ontem, dia 16/06/2015, e o tema abordado pela bailarina foi o "Solo de Improviso no Tribal Fusion". Vale a pena conferir o vídeo e acompanhar o canal.
Mambembe Trupe Tour é o mais novo projeto da bailarina Mari Mallet (SC)em conjunto com o malabarista e clown Marcelo Marchand.
O show tem o formato de pocket show, cuja estória se passa em um bar dos anos 20 com números de malabares, equilibrismo, pirofagia e tribal fusion, além de muito humor e interação com a platéia.
Nossa entrevistada do mês de junho é a bailarina Carla Brasil de São Paulo capital.. Carla nos conta sobre sua trajetória na dança tribal, sobre o seu lado ritualístico ligado à dança e ao feminino, além de muitas curiosidades. Confira a entrevista!
BLOG: Conte-nos sobre
sua trajetória na dança do ventre/tribal;como tudo começou para você?
Desde muito pequena estive envolvida com artes, corpo e dança. A família do meu pai é de artistas. Desde minha avó, que era artista plástica e estudiosa de espiritualidade, astrologia, astronomia, etc, passando por minha tia, que é maestra, e meu pai, que também é percussionista; e eu ter crescido em um ambiente onde sempre as festas familiares eram regadas a muita música, canto e dança. Até hoje comemorações como Natal, aniversários, etc sempre terminam em “saral”. Então sempre fui acostumada a dançar muito com os familiares e também na frente deles. Na escola sempre participei de projetos de dança e teatro, e comecei a praticar ginástica olímpica aos 8 anos, o que também levou a me apresentar em público frequentemente em eventos escolares. Nessa época participei de grupos de jazz e, aos 10 anos de idade, escrevi em conjunto com minha professora da 4ª série, Ivone Leite, uma peça teatral para os alunos da 4ª série - que depois foi apresentada também para os pais dos alunos e o corpo docente do Colégio Dante Alighieri – sobre os 500 anos do Brasil, onde eu atuava como índia na peça. E foi nesta época que me conectei muito fortemente à uma das minhas raízes familiares por parte de mãe, a raiz indígena, já que meu bisavô era índio. Quando fiz intercâmbio escolar para os EUA (2004-2005), por um ano, fui membro do grupo oficial de animadoras de torcida da Brandon High School.
Em
2008, já no último ano da faculdade de Relações Internacionais (Fundação
Armando Alvares Penteado - FAAP) conheci o Estilo Tribal de Dança pesquisando
as culturas dos povos do Norte da África durante a elaboração de minha
monografia para a graduação, que escrevi sobre a influência das fusões
culturais de povos tribais africanos, árabes e europeus na formação da
identidade do Sudão. E pesquisando referências bibliográficas sobre as culturas
tribais, religiões tribais, cultura e religião árabe, sufis, povos do Norte da
África, acabei caindo “por acaso” em fotos do Fat Chance Belly Dance®,
Carolena Nericcio, Rachel Brice. E aí achei o estilo lindo e me chamou a
atenção principalmente pelas roupas, adornos, cabelos, por ser exótico (sempre
me interessei muito por tudo que é exótico), mas não tinha ideia nem de onde
procurar fazer aulas daquilo na época, porque nunca tinha nem ouvido falar de
pessoas que dançassem aquela dança aqui no Brasil.
Então, em 2009, fui assistir uma apresentação de Dança do Ventre da Renata Camargo (que fazia faculdade comigo na época) e outras alunas da professora de Dança do Ventre dela – Simone Martinelli – em um café em Moema. E aí no meio das apresentações de Dança do Ventre, vi duas meninas dançando uma dança que, para mim, claramente era bem diferente do que estavam dançando ali, apesar de reconhecer referências e movimentos parecidos! Me identifiquei profundamente com as roupas, adornos e linguagem corporal da dança e no fim da apresentação fui prontamente conversar com uma delas, que era a Rebeca Piñeiro. Ela me explicou um pouco do estilo que tinha feito ali, de fusão, falou de Tribal Fusion e contou também que na altura tinha acabado de voltar dos EUA, onde havia estudado o ATS® por 5 meses com uma Sister Studio na Carolina do Sul. E eu disse para ela que queria aprender aquela dança e que gostaria que ela me ensinasse e ela disse: “Você será minha primeira aluna, tudo bem?” e eu disse: “Claro! E você será minha primeira professora de Dança Tribal!” Aí comecei a fazer aulas particulares com ela, que a princípio eram numa sala que ela alugava na Vila Sônia, depois começamos a ter aulas no Espaço Hateva (espaço de saúde, psicologia, terapias, do meu companheiro, onde dei aulas por 6 anos, posteriormente). Aí junto com estas aulas particulares, comecei a fazer aulas em grupo de ATS®/ITS (o estilo não estava tão bem definido como é hoje) com a própria Rebeca em um outro espaço de uma conhecida nossa em comum da época, o Instituto Gamaya, e junto comecei a pesquisar cada vez mais o Estilo Tribal de Dança, onde descobri um universo de etnias, povos, culturas, ancestralidade e história por detrás.
E aí me encontrei! Foi um resgate de mim mesma, de partes da minha alma que estavam fracionadas em diversas culturas e que nesta dança poderiam se unir numa linguagem única, que mesclava um pouco de cada parte de mim, de cada antepassado meu, me tornando UNIDA à mim mesma, à minha história, à minha ancestralidade. Foi imergindo nesta dança - não somente na parte física, corporal e técnica dela, mas na pesquisa de sua filosofia, entrando em contato com a possibilidade de unir todos os povos em uma alma só - que me senti totalmente em casa. E comecei a me entender melhor, parecia que minha caminhada na vida agora começava a fazer sentido, que minha escolha profissional de me formar em Relações Internacionais agora tinha encontrado seu verdadeiro significado: reunir os povos através da arte, da dança, da cultura.
Sempre tive uma ligação muito forte - mesmo que inconsciente quando mais nova - com as fusões culturais e danças de raízes tribais, já que dentre os povos dos quais sou descendente, estão libaneses, índios, judeus, portugueses, espanhóis e italianos. Uma grande miscigenação que deu em arte! De 2009 em diante, minha trajetória de imersão e dedicação com a dança não teve mais fim.
BLOG: Quais foram as
professoras que mais marcaram no seu aprendizado e por quê?
Rebeca Piñeiro, Kilma Farias e Carla Brasil (2010)
De fato, é inevitável não reconhecer a minha primeira professora, que me abriu os caminhos para a Dança Tribal - a Rebeca - como uma pessoa marcante no meu aprendizado. Bom, porque “a primeira vez agente nunca esquece!” – rsrsrs. Mas brincadeiras à parte, a Rebeca me ensinou muita coisa! E acho que a mais importante delas foi a de acreditar que a Dança Tribal poderia ser seguida como uma profissão. Até porque acho muito bonita a troca que tivemos durante os 3 anos que convivemos bastante juntas. Foram algumas descobertas juntas, o meu desabrochar enquanto dançarina foi parte do desabrochar enquanto professora e profissional dela, muitas conversas, confissões, estudos, encontros. E me lembro bem, que desde o meu segundo mês de aula, ela sempre me incentivou muito a me apresentar e colocar para fora os processos que eram construídos em aulas e isso foi o que, posteriormente, me levou à meu caminho como professora também. Afinal, foi a partir de uma apresentação que fiz, que também me apareceu minha primeira aluna particular. Então vi a “tradição” ser levada adiante, eu dei continuidade ao que me foi ensinado, compartilhando os ensinos recebidos e ela me ajudou muito nesta época, tanto me nutrindo como aluna, mas também como professora. E isso é muito bonito! Muito tribal! É como a Masha Archer fez com a Carolena Nericcio! Deu os fundamentos e depois Carolena voou com suas próprias asas. E expandiu, cresceu e criou sua história, mas sempre admirando e reconhecendo sua matriz. E eu levo esse aprendizado sempre comigo. Ensino as minhas alunas hoje até onde elas quiserem ir e eu puder nutri-las, seja como alunas minhas ou até mesmo as indicando para outros profissionais que possam ter mais a ver com o que elas estão necessitando. E isso foi um ótimo aprendizado que tive com a Rebeca também quando ela me ensinava para ser professora, “incentive suas alunas a estudarem não só com você, mas buscarem também outras fontes para ampliarem sua visão e seu leque de oportunidades na dança”. Inclusive, eu e a Rebeca, recentemente em algumas oportunidades de conversarmos quando nos encontramos em alguns eventos da cena Tribal, nos lembramos de que ela foi minha primeira professora e eu fui a primeira aluna dela, então acredito termos sido ambas pessoas-chave na trajetória uma da outra.
Uma outra pessoa que é muito querida e foi muito importante durante meu processo de construção de identidade na Dança Tribal foi a Kilma Farias. Eu acho que durante uns 2 anos eu fiz todas as modalidades de workshops que ela dava. Também é uma pessoa que tive muitas trocas pessoais muito especiais. Uma das vezes que ela veio à São Paulo dar workshop, ela se hospedou com a Cia Lunay na minha casa e foi um fim de semana muito divertido, de muitas risadas e de muita troca principalmente intelectual! A Kilma é jornalista e tem uma mente muito aberta e uma visão bastante ampla sobre temas que me tocam muito, como a cultura, e as possibilidades de fusionar linguagens de diferentes povos e nações. Além disso, ela faz paralelos culturais entre danças, cantos e tradições de diferentes países de maneira que você possa encontrar a semelhança entre eles, por exemplo, ela traça afinidades entre os nômades, sua música e o clima do deserto do Saara com o povo, música e clima do sertão nordestino. Acho isso fantástico! Porque a realidade é que tudo tem uma ligação, é uma coisa só mesmo! E fazer estes links, que só ajudam a aflorar mais a consciência de UNIÃO da humanidade e de que somos todos UM, é um trabalho muito importante em tempos de tanta guerra e separação no mundo. Acho que a Kilma, na minha opinião, é a representante mais fiel da nossa cultura brasileira tanto aqui no país, quanto internacionalmente. Ela é uma pesquisadora e incentivadora da cultura brasileira e da nação brasileira, e para uma Internacionalista (graduada em Relações Internacionais) como eu, que me interesso muito pelas questões da Antropologia e que escrevi minha monografia sobre formação de identidade, ela contribui muito com seu movimento. Além disso, gosto muito da leitura “espiritualista” que ela tem nas construções dela. A ligação com as Danças de Orixás e toda uma simbologia que está por detrás desta sua pesquisa. Ela contribuiu muito para o início do meu caminhar em direção à dança que expresso hoje.
Com Carolena Nericcio - Vancouver, Canadá 2013
Outra pessoa muito importante na minha caminhada foi uma mulher incrível que me trouxe um conhecimento espiritual muito forte na dança, a Estelamare dos Santos (i.m). Ela me ensinou como unir a paixão pela dança com o amor pelo serviço de expressá-la como canal de comunicação. Me ensinou como desenvolver minha autenticidade, a expressão pura da minha alma-essência na dança. Ela era uma bailarina completa, ao meu ver, sabia unir perfeitamente a técnica com a expressão. Ela era professora de Dança Clássica Indiana e fazia fusões lindíssimas de dança com teatro, rituais e misturava sua dança com suas crenças espirituais.
Mariana Quadros e Joline Andrade também foram pontos de referência em meu aprendizado. Elas me ensinaram muito sobre como também é importante estudar a técnica, o alinhamento postural e a limpeza na dança.
Não posso deixar de mencionar as grandes mestras com quem tive a oportunidade de fazer imersões de formação, Carolena Nericcio e Rachel Brice. Além delas serem ícones da cena Tribal, acho que o aprendizado com elas vai muito além da Dança Tribal. São pessoas maravilhosas, seres humanos conectadas com tudo. Começando pela espiritualidade, pois as duas trazem muitos conceitos espiritualistas em seus discursos, em suas práticas, em suas criações; até a prática física destes conceitos expressados em suas artes e em seus trabalhos. Acho que elas possuem o dom de manifestar em ações físicas e concretas as inspirações artísticas e ideias que têm. Além disso, vejo que o movimento todo em que estão engajadas(artístico, cultural, profissional) é realmente a missão de vida delas e que, a partir desta missão, elas abrem outras portas para pessoas no mundo todo. E acredito que quando as pessoas trabalham empenhadas em desenvolver sua missão, elas contribuem muito para o mundo, deixam um legado, fazem história e isso é o que a cultura tribal verdadeiramente busca: deixar algo de bom aqui, para que os outros que vêm depois possam usufruir e continuar aperfeiçoando o que veio primeiro e consequentemente evoluindo. Admiro muito o trabalho delas!
Curso de formação profissional em Tribal Fusion com Rachel Brice - Março 2014
E por fim, mas não menos importantes, minhas grandes mestras são minhas alunas e as mulheres com quem tenho a grande oportunidade de conviver diariamente ou frequentemente. Trocar experiências com elas e vivenciar na prática diária o verdadeiro espírito de tribo é especial demais.
BLOG: Além da dança
tribal você já fez ou faz mais algum tipo de dança? Há quanto tempo? Fiz aulas de Dança do Ventre com Aysha Almeé há 3 anos atrás; Dança Clássica Indiana com Estelamare dos Santos há 3 anos atrás e com Elaine Lilli há 1 ano atrás. Também estudei Danças dos Orixás, Dança Afro, Flamenco, Dança Contemporânea e continuo sempre estudando, aperfeiçoando técnicas e pesquisando novas possibilidades de linguagens para a dança. Também participo de alguns grupos onde praticamos e estudamos Danças Ritualísticas.
BLOG: Quais foram suas
primeiras inspirações? Quais suas atuais inspirações?
Minhas primeiras inspirações foram Sharon Kihara, Kami Liddle, Rachel Brice, Zoe Jakes, Fat Chance Belly Dance®. Hoje existe muita gente boa por aí, caminhando pela linha que acredito da Dança Tribal e que também me inspira profundamente: o estilo Temple Tribal Fusion, Apsara Tribal Nouveau, Nagasita, Dragonfly Tribe, Tenley Wallace, Moria Chappell e seu grupo Wild Saffron, Cia Shaman Tribal, e poderia citar diversos outros nomes, mas, em suma, qualquer pessoa/grupo que expresse sua dança com a alma, conectado com sua verdadeira essência, me inspira.
BLOG: O quê a dança
acrescentou em sua vida?
A dança é minha vida! Minha alma dança! Respiro dança desde pequena! E com certeza ela me traz consciência em diversos níveis – espiritual, mental, emocional e corporal, arte, desprendimento, alinhamento, ritmo, fluxo, força e cura! A dança é uma poderosa chave para a cura de qualquer resistência, qualquer mal, qualquer incompreensão. Ela traz plenitude de alma!
BLOG: O quê você mais
aprecia nesta arte?
A possibilidade de acessar e vivenciar a compreensão da palavra UNIÃO. União de tribos, de culturas, de linguagens, de movimentos. De poder se unir à conhecimentos diversos, infinitas expressões criativas, desconstruir você mesmo para depois construir novamente, permeando e se deixando permear pelo outro. Na realidade, ver que não existe OUTRO, mas sim UMA ÚNICA ENTIDADE formada por diversos fragmentos. E são esses fragmentos que ao serem observados de perto, tomados consciência, serem trabalhados, possibilitam que haja uma identidade, que cada um identifique qual é seu papel no meio desta grande Entidade Única. E cada um que se conscientiza do seu ser, na sua potencia máxima, contribui muito para que o coletivo se torne melhor, para que a união seja a grande tônica da humanidade. Vejo esta arte como uma ferramenta de autoconhecimento e evolução.
BLOG:O quê prejudica a
dança do ventre e como melhorar essa situação?Você acha que o tribal está livre
disso?
O que eu já vi muito na dança do ventre e que ainda vejo bastante é uma exacerbada exposição intencional do corpo, misturada com uma excessiva necessidade de atenção dos olhares e do desejo alheio. Ainda existe muita gente que escolhe fazer dança do ventre para seduzir o outro, para ser aceito, para satisfazer o ego. Existe um estereótipo padrão da dança do ventre que dificulta o caminhar dela para novos horizontes. Fica sempre dentro daquela mesma “caixinha”. Traz muito do padrão conservador de culturas repressoras, onde a mulher é submetida à condições mesquinhas de vida. E vejo muito desse padrão se repetindo, mesmo em locais onde a cultura é até mesmo liberal. E isso começa com as próprias bailarinas que se submetem à dançar sob certas condições de ambiente, sem condições dignas de cachê, aceitando qualquer situação que aparece. E o pior nisso tudo é que não é nem o caso de serem obrigadas, é escolha. Mesmo que inconsciente, tem bailarinas que estão no meio da dança do ventre para serem reconhecidas como “mulherões da sexualidade”, desejadas, aceitas, receber carinho, elogios...
No Tribal também existe isso, na realidade qualquer dança, qualquer dançarino no Brasil, em particular, pode cair neste buraco. Porque o ponto é que a dança e a sexualidade caminham de mãos dadas, mas tudo depende de como tudo isso é tratado. Mesmo assim, ainda vejo em escala muito menor isso acontecer em outras danças ou no Tribal do que na do Ventre. Primeiro porque o Tribal é uma dança que não carrega toda uma ancestralidade cultural de milênios de patriarcado. O Tribal já nasceu num momento histórico em que a humanidade estava justamente voltando à conscientização da Matriz, Mãe-Natureza, o papel da mulher estava sendo ressignificado e uma atenção especial estava sendo dedicada à ela. Então os fundamentos da filosofia da Dança Tribal já trazem um outro padrão por natureza. Mas tudo isso realmente só depende de cada bailarina, de cada um fazer sua parte para melhorar tanto sua situação pessoal, quanto a situação coletiva da cena.
Performance Movimento à Nação Indígena - Tribal Brasil 2011
BLOG: Você já sofreu
preconceitos na dança do ventre ou no tribal ? Como foi isso?
Hoje não mais. Mas em outros tempos, quando decidi levar a dança como profissão, teve gente que achou que era só um devaneio. Gente que não acreditou que sim, você pode fazer dar certo o que você quiser na sua vida, e que isso só depende de você fazer com seu coração, acreditar e se empenhar para manifestar a realidade que quer ver. Preconceitos de pessoas que vivem encaixotadas naqueles mesmos padrões comuns que já citei. Mas normal! Acho que sempre quando você quebra padrões, você está sujeito a isso.
BLOG: Houve alguma
indignação ou frustração durante seu percurso na dança?
Acho que o que tive de frustrações e indignações, se é que posso chamar assim, já foram hoje compreendidas e por isso nem os nomearia assim. Vejo que tudo que se apresenta em nossas vidas tem uma razão de ser, tem um aprendizado para tirarmos. Então, com certeza, das poucas que tive, estas se tornaram grandes libertações, lições, experiências ou posteriores conquistas.
BLOG: E conquistas? Fale
um pouco sobre elas. Destas tive algumas recentes que são frutos de anos de trabalho com a Dança Tribal e com mulheres. A maior neste momento é poder abrir meu próprio espaço, de Sagrada Sabedoria Feminina, onde posso colocar em prática tudo que aprendi e que sou desde minha existência. É um sonho que tenho há uns três anos já e que no meio do ano passado começou a ganhar corpo muito rapidamente. A Imadamah não é somente um espaço, mas tempo, dedicação, valores espirituais, ideológicos e estudos que se materializam em frutos que agora podem ser compartilhados com muito mais gente. É conhecimento, saúde, bem-estar, arte, desenvolvimento, movimento, coragem, libertação... Com certeza está sendo uma grande prova de fé, maturidade, dedicação, amor, desafios, que vêm com uma força de cura, de luz, de beleza, de transformações enormes que só têm se manifestado em bênçãos na minha vida e na vida de mais pessoas que estão envolvidas e comprometidas com os propósitos dela. Passei por uma obra grande que a princípio duraria 20 dias e duraram três meses, me mudei do espaço que dava aulas para lá, e enfim, estou abrindo este empreendimento com todos os aprendizados que abrir um novo negócio tem. Tenho tido respostas tanto de pessoas, quanto de oportunidades na vida muito positivas que funcionam como um “termômetro” que deixa claro que o plantio foi fértil e, por isso, a colheita está de acordo com ele. Agora é só manter esse fluxo de plantar boas sementes para continuar colhendo-as lá na frente. Particularmente essa compreensão de “como fazer dar certo” e plenitude profissional é a grande conquista do momento.
BLOG:Como
é o cenário da dança tribal em São Paulo? Pontos positivos, negativos, apoio da
cidade/estado, repercussão por parte do público bem como pela comunidade de
dança do ventre/tribal?
Acredito que São Paulo é um grande palco de oportunidades para a Dança Tribal, pois assim como a cidade que é cosmopolita e tem diversidade de culturas e estilos, o cenário para esta dança não poderia ser diferente. Podemos encontrar repercussão desta arte desde piqueniques no parque, festivais de Dança do Ventre/Tribal, projetos culturais, até eventos de entretenimento, como festas de aniversário e baladas noturnas. Vejo isso como um ponto muito positivo, pois é uma dança para todas as tribos, literalmente. Só depende qual/quais linha/s se quer seguir e se engajar.
Mas ainda não existe um real fomento à esta dança por parte do governo e outras entidades menores, até primeiro por ser relativamente nova em comparação com outras danças que têm até mais de 500 anos de história, e também por ser exótica demais para uma sociedade demasiadamente previsível de comportamentos como a paulistana. Este sistema necessita de certos enquadramentos para que se faça parte disso ou daquilo e isso é um ponto que dificulta um pouco a expansão desta arte a níveis mais amplos, ao meu ver.
Na comunidade da Dança do Ventre acho que existe até mais abertura e apoio para a Dança Tribal do que o inverso sabia? Pois como uma das bases principais do Tribal é o Ventre, nos festivais de Dança do Ventre vejo bastante interesse por este estilo, enquanto o oposto já é bem mais raro. Sinto que como já existem muitas coisas de Dança do Ventre rolando por aí, a comunidade tribal se sente no direito de criar coisas mais voltadas somente para este estilo, e não vejo isso como um ponto negativo não, mas como uma forma de fortalecer uma identidade de algo que querendo ou não, no Brasil ainda é muito novo. Agora, de 5 anos para cá, que está começando a ganhar muito mais corpo do que já teve há 10 anos atrás.
BLOG: Você é adepta ao
estilo Tribal Ritualístico. Conte-nos um pouco sobre esse trabalho. Em sua
opinião, por que a dança tribal pode ser considerada uma dança ritualística?
A Dança Tribal Ritualística vem fazendo parte da minha vida desde que comecei a escrever minha monografia na faculdade de Relações Internacionais, pois foi nesta pesquisa que encontrei muito material sobre danças tribais, cultura e religião, conectados numa coisa só. Ao começar a dançar o Tribal Fusion, meu interesse desde o início foi em expressar histórias, ou encontrar simbolismos na minha própria dança que tivessem uma ligação com algo maior, que passassem alguma mensagem. Mas isso começou de maneira bem sutil, uma pesquisa aqui e outra ali, até porque na época estava primeiro entendendo como meu corpo se encaixava naquele novo padrão. Participo de alguns grupos de vivências e estudos de Xamanismo, Kabbalah e espiritualidade, e foi neste meio que começou a se desenvolver danças mais voltadas para o contexto ritualístico. Ao longo dos anos e do meu aprofundamento tanto nos estudos espiritualistas quanto no estudo da dança, tive a certeza de que tudo é uma coisa só.
Dança Tribal Ritualística Performática - GANESHA
A dança é a forma de oração, de conexão com o divino, de linguagem, mais antiga que existe na humanidade. Ela veio antes mesmo da escrita. Comecei a estudar as danças de tribos muito antigas, de devoção, de possessão, de comunicação com os espíritos, elementos e animais da Natureza, danças dos templos sagrados desde a Índia, passando pela cultura Egípcia, Judaica, povos nômades, rituais de louvação à Grande-Mãe Terra de culturas no mundo todo, as danças sagradas na Grécia, Roma e aí inevitavelmente toda minha pesquisa só poderia ser 100% completa se eu a vivenciasse na prática. Então comecei a ser chamada para dançar em rituais dos grupos que participo, a dar palestras nestes mesmos grupos sobre danças no contexto ritualístico, dar vivências destas danças, e aí fui percebendo o poder de transformação e cura que dançar dentro destes contextos tinha para mim e para quem estava envolvido também, além de ter vivenciado expressões divinas belíssimas de arte, de conexão e comunicação com outros planos e fui trazendo tudo isso para a minha realidade física do dia-dia, para o contexto profissional da dança, das minhas aulas, das minhas construções e da minha vida.
A Dança Tribal é uma dança que traz nas suas origens, lá atrás com os primeiros nomes da cena(Jamila Salimpour, Bal-Anat e Masha Archer), essa conexão com as danças de louvação à Grande-Mãe. O próprio nome do grupo de Jamila - Bal-Anat - significa “Dança da Deusa/Grande-Mãe”. E pronto! Acho que aí já não preciso nem me estender muito para explicar a ligação da Dança Tribal com as danças ritualísticas, pois em sua raiz ela é sim uma dança ritualística. Seja de louvação, de oração, de invocação, de evocação, de comunicação com o divino presente em cada ser e com a ancestralidade. E o ritual nada mais é que o conjunto de gestos e ações imbuídos de valor simbólico, que contém técnicas, instrumentos (sejam eles externos ou o próprio corpo enquanto instrumento), objetivos, regras (como no ATS®), ideologias, tradições, ensinamentos. Existem vários gestos com técnica, que estão embutidos na Dança Tribal que podem ser considerados ritualísticos. O próprio “Puja” do ATS® é um exemplo disso. Todo o significado dele traz um valor simbólico, que quando usado com consciência e presença, tem objetivos e ensinamentos bem claros.
BLOG: Conte-nos sobre seu gosto pelo Tribal
Brasil. Como surgiu a afinidade por tais fusões?Como você encara o ritualismo desenvolvido dentro desta temática? Você
acha que essa fusão entre a dança tribal e a cultura brasileira ajuda a abrir
espaço para o tribal fusion no Brasil?
Bom, como eu já disse antes vejo o Tribal Brasil como um estilo que - até por ter sido desenvolvido pela Kilma, que a meu ver é uma pessoa bastante espiritualizada também – contém uma leitura “espiritualista”, que traz muitos simbolismos, tem uma linguagem que comunica muito. A ligação com as Danças de Orixás e toda uma simbologia que está por detrás desta construção foi o que desde o início da minha caminhada na dança chamou muito a atenção. Foi o Tribal Brasil que me abriu as primeiras portas em direção à dança que expresso hoje. A cultura brasileira tem seus ritos criados por influência da cultura africana, dos caboclos, dos índios e no Tribal Brasil vejo toda essa nossa ancestralidade sendo expressa, saudada, reverenciada. Acho lindo! Acho forte! Acho que é um gesto de gratidão e humildade você reconhecer sua pátria, suas raízes, a terra que te acolhe como casa e se comunicar através da arte e da dança (que são patrimônios imateriais tão relevantes no Brasil) com os antepassados deste país. Como eu já discorri anteriormente aqui, com certeza acho que como brasileiros nativos, quando expressamos nossa cultura, estamos com certeza fazendo algo que é 100% original. E contribuímos para divulgar nosso país, nossas belezas, nossas potências, nossa arte para o mundo sim! Isso é um incentivo ao intercâmbio cultural, à possibilidade de o mundo olhar para nós, investir em nós, e mais, nos conhecer em nossa autenticidade, em nossa verdade! É uma forma de sairmos daquele padrão de país colonizado, que teve sua cultura mesclada com tantas outras e que perdeu parte de sua força por isso. É uma forma de resgatarmos a nós mesmos enquanto povo, enquanto essência. E com certeza abre portas para o Tribal Fusion no Brasil ser visto como uma arte de origem nobre, de raízes, de tradição.
BLOG: Além da dança,
você tem a loja Hippie & Chic.
Apesar de não ser um atelier de dança, as roupas são bem próximas a essência
tribal, não? Comente um pouco sobre a loja e essa linha tênue entre o místico,
natural e feminino.
A Hippie & Chic tem por princípio disseminar a beleza, a arte, o feminino, a história dos povos contidas em suas peças, a graça, aflorando a verdadeira essência da moda genuína, autêntica e atemporal de cada mulher. A loja vem com o intuito de disseminar a tendência Hippie Chic trazendo acessórios e peças exclusivas e diferenciadas, vindas de muitas regiões do mundo, como Marrocos, Índia, África, Tailândia, Guatemala, Peru, Argentina, Brasil... Trazendo a arte e cultura de cada país, de cada tribo, contida em suas peças.
Desde
adolescente, sempre tive uma veia artística, como já disse, e dentre as artes
que eu praticava, incentivada pela minha avó Helena (paterna) eu fazia colares
e pulseiras de miçangas, brincos de casca de árvore, sementes, penas e vendia
na escola. Quando comecei a dançar Tribal, muita gente me perguntava de onde
era isso e aquilo e eu tinha coisas que eu mesma fazia, como meu primeiro
figurino, que eu bordei um cinturão e um top todinho (que por sinal uso até
hoje para dançar), com algumas peças relíquias da minha avó. E conforme fui me
aprofundando na dança, cada vez mais resgatava peças de família, como xale de
crochê da minha bisavó, acessórios de prata egípcia da minha avó... Aí, quando
eu fui para o Egito, em 2011, algumas alunas minhas, colegas do Tribal,
professoras, me pediram para trazer algumas coisas, desde lenços, snujs, até
espadas para dança e derbaks. Obviamente eu fui no Khan el Khalili no Cairo e escolhi
a dedo muitas coisa para trazer, inclusive o que não haviam me pedido. E quando
cheguei aqui, logo de cara teve o Festival Campo das Tribos, do qual eu
abri um stand com as peças que havia comprado, coloquei para vender e “voilà”,
vendi tudo! As pessoas amaram as coisas e começaram a me pedir mais peças;
e eu comecei a ir atrás de peças exclusivas com amigas estilistas e comecei a
resgatar meus dons de criação artística para moda também. Comecei a desenvolver
tanto acessórios, quanto roupas, que pudessem trazer o estilo tribal contido
nelas.
Aí fui fazendo algumas viagens espirituais, outras mais turísticas e sempre nos lugares que vou, busco trazer um pouco da cultura de cada país para a loja, expressados pelas peças que trago. Comecei a ir a tribos buscar os significados simbólicos de algumas artes e fui unindo novamente tudo numa coisa só. Porque tudo é uma coisa só. A espiritualidade, a natureza, a arte, a mulher, caminham todos na mesma linha. A mulher é expressão pura de arte e natureza, com suas curvas que representam montanhas; os líquidos que se ligam às águas das cachoeiras, rios, mares; os humores cíclicos que se comunicam com os ciclos e estações; e a essência/natureza de cada uma, nas diversas fases que passa é manifestada, mesmo que inconscientemente, através do que se veste, das cores que usa, das formas geométricas que escolhe, dos acessórios que carrega...
BLOG: O seu primeiro grupo de ITS foi oUlan Daban, dirigido por Rebeca Piñeiro. Como foi ser membro
desse grupo? Aproveitando a sua vivência e experiência, quais as diferenças que
você poderia destacar entre o ATS® e ITS?
Participar do Ulan Daban foi um grande aprendizado. Tanto sobre coisas que eu faria em um grupo de dança, quanto o que não faria. Fiz parte do grupo desde as primeiras formações em 2010 até três meses antes dele se desmanchar por completo em 2012. No primeiro ano me diverti muito e crescemos bastante em termos de técnica e criatividade, depois algumas questões foram aparecendo e culminaram no fim do grupo. Foi uma fase de transição para todas nós que fizemos parte dele, acredito. Falando de mim, posso dizer que no início dele eu era uma pessoa e quando saí, já estava totalmente diferente de quando entrei. Até meu estado civil mudou nesses 2 anos... rsrsrs
Ulan Daban
A principal diferença entre o ATS® e o ITS é que no primeiro você segue os movimentos, senhas, formações, filosofia e estética que Carolena Nericcio e FCBD® Studio criou e mantém. Além disso, se você consegue se comunicar com outros grupos de ATS® quando está liderando, de maneira que todas sigam na dança, sem confusões, sem ter que pensar ou discutir antes sobre o assunto, bingo! Você está dançando ATS®. Se você dança em grupo, considera o sistema desenvolvido para o ATS®, mas cria sua linguagem própria, seja de passos, seja de estética e quando se encontra com outra dançarina de ATS® que você nunca dançou antes e não consegue fluir na dança com ela, então você está dançando ITS. Carolena diz que, fluir é dançar no inconsciente coletivo, lugar este que a memória muscular dos passos, interpretação da música e nível de qualidade das dançarinas é o mesmo. Quando uma dançarina tem uma versão de um passo diferente da versão da outra, estas duas pessoas terão que conversar antes sobre isso, terão que pensar e por tanto, terão que estar conscientes enquanto dançam. Não é melhor nem pior, só é necessário ciência disso.
BLOG: Anteriormente, você fundou e dirigiu a Trupe Tribal Gaia com Renata Camargo. Conte-nos um pouco sobre a história desse grupo.
Trupe Tribal Gaia
A Trupe
Tribal Gaia nasceu logo após eu e a Renata Camargo sairmos juntas do
Ulan Daban. Como éramos amigas e tínhamos saído juntas do grupo por
algumas questões que se apresentavam na época, e realmente amávamos dançar em
grupo, decidimos montar um grupo eu e ela. Começamos só nós duas e depois
chamei algumas alunas minhas e mais algumas amigas do Tribal para participarem
do projeto conosco. Nossa ideia era ser um grupo de ATS®, mas conforme fomos
caminhando havia um desejo de criar movimentações novas, de dançar de uma forma
diferente e acabamos levando um pouco do que estávamos acostumadas a vir
dançando com o Ulan Daban para dentro do Gaia também. Porém
queríamos abrir o Tribal para novos horizontes, além do circuito dos festivais
de Tribal. Esse objetivo foi alcançado e durante o período que estivemos
atuando todas com os mesmos objetivos e ideais, funcionou. Porém após eu voltar
de Vancouver – Canadá, onde tirei o Sister Studio com Carolena Nericcio
e Megha Gavin, decidi que gostaria de estudar e praticar fielmente o ATS®
enquanto grupo de ATS® que estávamos nos propondo a ser, e isso acabou sendo um
pouco difícil de levar adiante, quando o grupo já tinha iniciado numa outra
linha de raciocínio. Vi que foi o mesmo que aconteceu com o Ulan Daban.
Tinha que começar de novo. Eu e a Renata estávamos em momentos
diferentes de nossas vidas pessoais, algumas das outras integrantes do grupo,
na época, também estavam com atenções mais voltadas para outras questões
pessoais e então decidimos encerrar com o grupo naquele momento. Encerramos o
ano de 2013 e encerramos junto a Trupe Tribal Gaia.
BLOG: Conte-nos como surgiu o Imadamah, a etimologia da palavra, seus
integrantes, qual estilo marcante do mesmo, se ele sofreu alguma mudança estrutural desde quando foi criado
até agora e como é o processo de introdução de novos integrantes.
Imadamah - ATS® 2015
Bom, depois de duas experiências, que ao todo
somaram quase 4 anos com grupos, decidi me “fechar para balanço” (rsrsrs) por
um tempo. Fiquei de Novembro de 2013 (que foi a última dança que fiz em grupo
como Trupe Tribal Gaia) a Novembro de 2014 (quando iniciamos os primeiros
ensaios com o Imadamah - ATS®) em
“stand by” de grupos. Neste ano estudei bastante, pesquisei muito, fortaleci
meu trabalho pessoal com a Dança Tribal, dando aulas tanto de ATS®, quanto de
Dança Tribal Ritualística Performática, que também nasceu com este nome ao
longo deste período. E neste tempo surgiram novas oportunidades e realizações na
minha vida, como uma formação de Moon-Mother
que fiz em Benção do Ventre/Útero, a abertura dos trabalhos com Sagrada Sabedoria Feminina, a decisão de
abrir o Espaço Imadamah para estes
trabalhos com mulheres e o convite da Rede Globo para divulgar meu trabalho no
programa Bem-Estar. Foi justamente
quando veio o convite, que decidi que era hora de voltar com um grupo formado,
nomear o que era o quê, quem era quem, até para nos apresentar para o Brasil
todo. Somos hoje em três integrantes oficiais, eu, Marília Lins (nos conhecemos no meio tribal, somos amigas há quase
7 anos e desde meu convite à ela para participar do Gaia, dançamos juntas em grupo, e hoje só continuamos o trabalho já
iniciado lá) e Julia Behring (uma
aluna e grande amiga também).
A Imadamah – Sagrada Sabedoria Feminina, significa “Mãe-Terra” em hebraico, onde Ima = Mãe e Adamá = Terra. E com este trabalho que vem para resgatar, vivenciar, compartilhar e fortalecer o universo da mulher e do conhecimento ancestral da sabedoria feminina,e a Dança Tribal é a raiz deste trabalho, onde tudo começou. Então, dentro dele existe o grupo Imadamah - ATS®, que como já diz o nome, é puramente desse estilo, mas existe também o Imadamah Tribal, que é por enquanto, um grupo de pesquisas e estudos de Dança Tribal em sua abrangência de possibilidades. No início do Imadamah - ATS®, o grupo contava com outra aluna minha, também ex-integrante da Trupe Tribal Gaia, Bruna Naswaty, mas ela está numa fase da vida que não está podendo se dedicar mais à dança, então somos nós três agora e nos manteremos assim até que chegue o momento de novas integrantes entrarem.
Por enquanto não estamos abertas para novas integrantes oficiais, mas nossos ensaios estão abertos para quem quiser conhecer o grupo, nossos ideais, o Espaço Imadamah, onde ensaiamos oficialmente todas as sextas-feiras das 18hs às 21hs. Quem quiser assistir a um ensaio pode vir. Se houver realmente interesse em fazer parte do grupo, temos um processo de integração no grupo que a pessoa passa para conhecer nossa dinâmica, além do comprometimento com aulas de ATS®, estudo, dedicação e tempo, tudo isso junto dirá se a pessoa poderá ingressar no grupo ou não.
BLOG:
Como é fazer parte de um grupo de ATS® e qual a importância que você
encara no estudo do estilo?
Olha! Sou suspeita para falar, pois amo dançar em grupo e amo o ATS®! Mas, além disso, amo estudá-lo! Realmente fazer parte ou dirigir um grupo de ATS® é algo incrível, que traz muitos aprendizados, trocas humanas e profissionais, ensina sobre sintonia, sobre trabalho em grupo, sobre profissionalismo, sobre comprometimento, mas realmente posso dizer que pela minha experiência pessoal, não foi tão fácil assim chegar ao momento de plenitude que encontro com meu grupo hoje. Porque fazer parte de qualquer grupo tem suas alegrias e seus desafios... Acredito que o maior aprendizado neste contexto é o de saber ceder e saber a hora de colocar limites. Saber o momento de ser coração, ser humana, e o momento de ser profissional, razão. E hoje no Imadamah - ATS® somos isso. Somos amigas em primeiro lugar, mas sabemos a hora certa de bater-papo, de falar, de escutar, e de trabalharmos. A hora certa de sairmos como amigas e a hora certa de nos encontrarmos para estudar ou trabalhar. Estamos num ritmo muito legal de estudo, ensaios, sintonia, trabalho, eventos!
E com certeza estudar, pesquisar e se dedicar ao nosso trabalho é o mínimo! Isso é o mais importante para que tudo caminhe de maneira harmônica e profissional. Fluirmos na mesma sintonia, na equivalência de níveis de dança, no conhecimento sobre o que se está divulgando sobre o estilo para quem não conhece (ainda mais no nosso caso, que leva a Dança Tribal também para fora da cena Tribal e Ventre), no investimento em figurinos equilibrados para todas, é com certeza uma caminhada que pede disciplina e comprometimento, mas estamos bem focadas neste objetivo e temos conseguido resultados muito consistentes em pouco tempo. Então tem sido um prazer enorme e definitivamente uma conquista!
BLOG: Em 2013, você obteve sua certificação em
ATS® com a criadora do estilo,Carolena
Nericcio. Gostaria que nos explicasse melhor sobre o processo de
certificação(General Skills/ Teacher Training1 e 2) e como se alcança o tão
estimado selo deSister Studio.
E qual importância de conseguir tal certificação, em sua opinião?
Realmente conhecer a Carolena de perto é uma oportunidade incrível! Além dela ser nossa “Grande-Mãe” do Tribal e conhecê-la representa estar em contato com a matriz, com o princípio gerador de tudo isso, ela é uma personalidade muito forte, de um conhecimento enorme, seja espiritual, seja profissional. E acho ela genial! O método que criou e a repercussão que o trabalho dela tem, é digno de ser respeitado e admirado. Porque não é qualquer pessoa que cria um estilo de dança contemporâneo nos EUA, registra ele e consegue ter uma visibilidade a nível mundial, da forma que tem, com gente de toda parte do planeta vindo fazer workshop no seu estúdio, curso de formação, convidando ela e seu grupo para fazer shows e tendo um desdobramento de crescimento cada vez maior!
Megha Gavin, Carla Brasil e Carolena Nericcio (2013)
Quando fiz o curso, estava tentando vaga desde 2 anos antes (até porque na época que fiz, se você quisesse fazer o curso, tinha que se inscrever com mais ou menos 1 ano de antecedência) e então estava desde o final de 2011 tentando me inscrever, aí só consegui a vaga finalmente no ano de 2012 para fazer o curso no meio de 2013 e ele seria fora da Califórnia. Por um lado fiquei um pouco chateada por não ir conhecer o estúdio dela e o berço do Tribal, mas por outro lado foi ótimo para mim que tenha sido em Vancouver, pois tenho amigos morando lá e pude ficar na casa deles durante a viagem, teve alguns eventos que foram criados para as estudantes do curso, teve show, hafla, música ao vivo, roda de ATS®... foi demais! No ano que fui, foi a primeira vez que teve o curso no novo formato dividido em 4 categorias:
General Skills CLASSIC, que são ensinados os passos OLD SCHOOL, passos clássicos.
General Skills MODERN, que são ensinados os passos modernos, criados pela Megha Gavin, Devyani e outras Sister Studios.
Teacher Training I – Somos ensinadas sobre metodologia de aulas, recebemos dicas de como lidar com diversas situações enquanto professoras, passamos por uma prova onde ensinamos alguns passos que foram ensinados nos dias anteriores para a classe toda.
Teacher Training II – O ATS® enquanto negócio – Neste fórum de discussão, todas as questões sobre como levar o ATS® enquanto um negócio, questões burocráticas, dúvidas sobre possíveis problemas entre grupos, competitividade, valores de aulas, de cursos, etc são levantados e discorridos. Essa parte funciona como uma consultoria de negócios mesmo, uma espécie de coaching da Carolena e Megha para as estudantes.
Fazer uma imersão dessas foi muito importante para
mim, pois com certeza é o que me dá embasamento e segurança para ensinar no
nível que eu gostaria de aprender. Além disso, faz toda diferença fazer o curso
pessoalmente e tirar suas dúvidas direto com ela, pois na tradição oral, às
vezes pequenos detalhes se perdem e podem viram grandes equívocos lá na frente.
Ainda mais quando se trata de um método de improviso com senhas (mesmo que coordenado). Percebi que, assistindo só os vídeos, você
pode dançar ATS com certeza, mas tem detalhes que podem passar facilmente despercebidos
sim, e que quando você faz o curso, não restam dúvidas sobre isso.
É importante deixar claro que Carolena mesmo diz, que a única diferença entre ATS® e ATS é que, quem tem a certificação fez a imersão para pegar a informação em primeira mão e teve o desejo de passar um tempo com Carolena tirando dúvidas, e recebendo uma completa educação sobre cada passo, formação e aplicação. Mas isso não significa que é necessário você fazer o curso para ser considerado um grupo de ATS ou até mesmo para ensinar ATS. Ela diz que desde quando começou a dar aulas e eventualmente produzir vídeos, as pessoas consideraram que uma compreensão secundária da dança era experiência suficiente para começar a ensinar e se apresentar. Com certeza essa foi a forma que a dança se espalhou pelo mundo todo e ela não contesta isso.
BLOG: No final de 2014,
você participou do programa Bem-Estar
da Rede Globo. Como foi a experiência em participar de um programa de âmbito
nacional? Qual foi a repercussão do programa na cena tribal e para a cena
tribal?
Imadamah no programa Bem-Estar (2014)
Ter participado do Bem-Estar foi, em primeiro lugar, um convite maravilhoso e surpreendente
que recebi do apresentador Fernando Rocha,
via uma aluna minha que é jornalista. Ela comentou sobre minhas aulas com ele e
falou o quanto estavam fazendo bem para ela e aí a produção da Globo me ligou
convidando para participar do programa especial de Reveillon de 31/12/2014, que
seria para falar justamente de como a dança tem esse poder de movimentar e
renovar as energias para o novo momento do Ano Novo... E a Dança Tribal aí
entrou em cena como uma forma de dança que empodera, que conecta você com sua
essência, de autoconhecimento e transformação em todos os níveis. Acho que tudo
que já citei aqui sobre o que acredito que de fato essa dança é e representa
particularmente pôde ser compartilhado em rede nacional. Foi com certeza uma
ótima oportunidade de divulgação e reconhecimento de um trabalho que venho
servindo com tanto amor, esmero e dedicação! Foi uma confirmação de que o que
venho fazendo está no caminho certo e que realmente a Dança Tribal é muito mais
do que se pensa e do que a própria cena tribal, em sua grande maioria, ainda se
limita a mostrar e fazer por ela. A Dança Tribal é arte, mas, além disso, é uma
ferramenta de cura, conscientização, conhecimento, conexão com a Natureza, traz
muitas mensagens implícitas nela que devem, no mínimo, ser decodificadas por
quem as expressa e principalmente por quem as ensina.
Recebi muitas mensagens carinhosas de
reconhecimento, de celebração pela conquista e pela matéria, tanto de alunos,
simpatizantes, dançarinos, quanto de profissionais da cena Tribal no Brasil
todo e também de profissionais de Dança do Ventre e outras artes. Algumas
aberturas de portas surgiram também. E o mais importante nisso tudo que
percebi, foi essa ampliação de horizontes para a cena tribal, que ainda vejo
muitas vezes limitada a se movimentar somente dentro do circuito tribal/ventre,
quando acredito que deva ampliar mais suas fronteiras. Agora realmente eu
gostaria até de saber de outros profissionais do meio como a entrevista
repercutiu para eles. Se chegaram mais pessoas interessadas, se houve mais
procura por aulas, enfim... Essa é uma pesquisa interessante a ser feita... Com
certeza foi uma semente plantada e esta matéria esta aí gravada, e pode servir
de vídeo de divulgação para outras pessoas, é só compartilhar...
E depois desta matéria me convidaram novamente do programa
Bem-Estar para participar de um
quadro onde falavam sobre Depressão e fizeram uma matéria, que saiu dia
05/03/2015, com uma aluna minha, que no caso hoje dança no Imadamah - ATS®, a Julia. Ela se curou dessa doença, parou de tomar
remédios, descobriu fazendo as minhas aulas que existia muito mais do que
pensava para ela mesma, se movimentou, despertou seu poder criativo, e modificou todo o seu ritmo interno, sua
percepção de mundo, sua forma de se comunicar consigo mesma, suas emoções e com
o meio externo. Foi com a Dança Tribal que ela recuperou sua autoestima, sua
conexão com a arte, com a Natureza, com o meio externo. Ela é só um caso destes, mas
eu tenho outros e tenho certeza que essa dança tem esse poder mesmo e que
outros profissionais já devem ter ouvido algum depoimento de alunos seus que
remeta a essa libertação de alma, essa transformação da vida, etc! E tem
presente maior do que esse? Vidas que são inteiramente ressignificadas por meio
desta dança?
BLOG: O quê você acha
que falta à comunidade tribal?
Mais abertura: para a conscientização do que se está
fazendo, para ampliar novos horizontes, para ser original e não mais do mesmo. E
tudo bem se ser mais do mesmo for ser você mesmo, mas que isso fique claro para
cada um de verdade. Que não sejamos somente mais um que “vai na onda”... que
aprendamos a pensar e sentir por nós mesmos... Porém, para isso, disciplina e
consciência é o primeiro passo.
BLOG: Como você
descreveria seu estilo?
Dança Tribal. Para não haver limitações caso eu
transite de uma linguagem à outra, de um estilo a outro... Acho que se precisar
de maiores explicações é só pesquisar melhor textos, imagens e vídeos, que já
ajudam a ilustrar qualquer possível dúvida do tipo “de qual tribo”.
BLOG: Como você se
expressa na dança?
Inteira! Luz e sombra... Legítima e verdadeira! De
corpo e alma!
BLOG: Quais seus
projetos para 2015? E mais futuramente?
Firmar e ampliar as atividades e equipe do Espaço Imadamah, continuar conseguindo
fazer tudo que me propus para a dança, com as alunas, vivências, workshops,
cursos e filantropia com mulheres de rua e que vivem em situações de risco,
abusos e violência. Continuar trabalhando para expandir os horizontes do Tribal
e levar esta dança para onde não se conhece. Ter acesso a mais projetos
artísticos e culturais tanto solo, como com os grupos. E mais para frente tenho
projetos de montar um espetáculo.
BLOG: Improvisar
ou coreografar?E por quê?
Depende muito do momento e contexto que estou. Para
certos lugares, como na natureza, com música ao vivo, rituais e certas
performances, improvisar. Para alguns shows, para algumas temáticas
ritualísticas, coreografar. E às vezes até os dois na mesma dança, em momentos
pré-definidos.
O improviso me leva a explorar o que tenho de mais
genuíno, me conecta com o inconsciente coletivo, com o que aquele ambiente pede
para ser feito naquele momento, com o que minha parte mais divina deve
comunicar naquele momento. Traz à tona meus instintos, trabalha minha intuição,
liberta, extravasa e incorpora aprendizados, é o lado Yin-feminino-passivo. A
coreografia exige estudo, disciplina, trabalho mental, memorização, explora
muitos níveis de uma bailarina, desde o ouvido para as nuances da música, até a
criatividade para codificar ou decodificar, escrever as frases daquela
história, é razão, é inteligência é o lado Yang-masculino-ativo. Acho os dois
importantes para haver equilíbrio e para ser uma bailarina completa.
BLOG: Você
trabalha somente com dança?
Não. Sou empresária de uma loja de
roupas e acessórios femininos, de um espaço de atividades diversas, desde
medicina, terapias, até dança e outras práticas corporais. Sou professora de
dança, coreógrafa, dançarina profissional, dirijo um grupo profissional de
dança, sou facilitadora de vivências, palestras, workshops de dança, círculos
de mulheres e outras atividade de Sagrada Sabedoria Feminina e Trabalhos de
Expansão da Consciência. Sou voluntária em uma ONG que cuida de mulheres em
situação de risco, terapeuta Moon-Mother, doula, dona de casa, modelo e atriz
nas horas vagas (rsrsrs).
BLOG: Deixe um recado para
os leitores do blog.
Gostaria de
deixar um trecho do livro “Mulheres que correm com os lobos” como reflexão para
todas as mulheres (e quando digo mulheres, incluo os homens também, trazendo
sua parte divina feminina à tona) buscarem sempre a conexão com sua verdade,
com sua essência, com sua natureza, sua matriz, sua Mãe-Terra, pois isso é o
que nos fortalece e nos liberta, nos curando e transformando:
“Apesar de ter
seus aspectos negativos, a psique selvagem consegue resistir ao isolamento.
(...) faz com que tenhamos um anseio ainda maior no sentido de liberar nossa
própria natureza verdadeira, e provoca em nós um desejo intenso por uma cultura
que combine com essa natureza. Só esse anseio, esse desejo já faz a pessoa
prosseguir. Ele faz com que a mulher continue a procurar. E, se não consegue
encontrar a cultura que a estimule, geralmente ela resolve criar, ela mesma,
essa cultura. Isso é bom, pois se ela a criar, outras que vinham procurando há
muito tempo chegarão misteriosamente um dia, proclamando com entusiasmo o fato
de estarem procurando por ela o tempo todo.”