Tive
a oportunidade de participar como espectadora, bailarina e co-produtora do
evento Psycho Circus Tribal Fest no dia 8 de maio de 2015, organizado pela
bailarina de tribal fusion Alinne Madelon, em Fortaleza-CE. Tudo aconteceu no
teatro mais fofo da cidade, o teatro e museu do humor Chico Anysio, o que
contribuiu muito para o clima mágico e circense proposto pelo espetáculo.
O
evento fez parte da programação do workshop do bailarino Lukas Oliver (SP) em
Fortaleza. Ele foi aberto com uma apresentação impecável de Lukas, que nos
impressionou pela sua técnica desde o primeiro momento.
Logo
depois, as alunas do Studio Alinne Madelon deram um show a parte representando
fielmente a proposta de um circo psicodélico, vintage e steampunk, com direito
a encenação teatral.
A
anfitriã da noite, a bailarina Alinne Madelon, representou o Studio e a proposta
do evento em uma coreografia inspirada no personagem referente à domadora de
cavalos do circo.
Representando
o Dark Fusion do Ceará, as meninas do grupo Hexen encantaram o público com uma
coreografia misteriosa e sensual, criando um clima místico na sala do teatro.
O
Khaleege iraquiano que conquistou o público é de autoria da bailarina de dança
do ventre Naty Sousa. Como muito carisma e vivacidade fez a plateia vibrar com
uma apresentação enérgica.
O
grupo Dagaz e a bailarina de tribal fusion Thyara Matos fizeram uma linda
apresentação inspirada em um clã de vampiras. Movimentos delicados e sincronia
foram a marca registrada do grupo. Em seguida, Thyara apresenta um solo bem
construído, deixando a marca do seu trabalho no Tribal cearense.
Agora,
nada de rótulos, a bailarina de tribal fusion Alinne Madelon e a bailarina de
dança do ventre Ayla Mércia protagonizaram um lindo duo com referencias
clássicas das duas danças, transbordando emoção. Foi lindo!
Não
poderia deixar de falar da apresentação das meninas do tribal do instituto
IDAJJA, onde dou aula. Com uma coreografia com referências tradicionais, como o
ATS, as meninas agitaram nos snujs.
A
segunda e última apresentação do bailarino convidado, Lukas Oliver, foi de cair
o queixo. Em homenagem ao evento, Lukas fez uma coreografia especial para o
tema do espetáculo e nos deixou atônitos com tanta técnica.
Para
finalizar, o evento contou com estréia do grupo de tribal fusion Antique Soul,
composto pela bailarina Alinne Madelon, Camila Miranda e Gabriela Farias (oi,
eu). Entrando no clima Psycho Circus, apresentamos uma coreografia inspirada no
elementos circenses ao som de Carrossel.
Um
evento feito com muito amor! Todas unidas por um objetivo: celebrar a dança e
fortalecer o tribal fusion cearense e nordestino.
No dia 12 de julho, no AOCA Bar, na cidade de Curitiba-PR, foi realizada a oitava edição do evento steampunk da Loja Paraná do Conselho Steampunk, o Café a Vapor.
Este era o tipo de evento que eu sempre sonhei em participar, mas não imaginava que este momento seria tão logo quanto eu esperava. Eu já "namorava" o Café a Vapor há algum tempo via internet e achava incrível existir um evento assim no Brasil, pois, na época que tomei conhecimento sobre o mesmo, não existiam outros do estilo no país. Eu ficava fascinada vendo fotos e vídeos da cena steampunk curitibana, mas nunca imaginava que, um dia, faria parte dela. Eis que o destino concedeu-me a oportunidade de vir morar nestas terras. =D
O evento começou às 17 horas, mas eu me apresentaria por volta das 19 horas, abrindo as atrações da casa. Como eu me mudei recentemente para a cidade, ainda não conhecia o local e seu trajeto. Eu e meu marido nos guiamos pelo Google Maps para saber a trajetória, duração e quais ônibus pegar. Contudo, o Google sugeriu um ônibus errado e, por sorte, no meio do caminho meu marido teve a ideia de confirmar com o motorista, o qual avisou-nos que aquele ônibus não mais passava por aquela rota e teríamos que saltar do mesmo e pegar outro, o que me faria chegar muito atrasada para a minha apresentação. Felizmente, descemos na Praça Rui Barbosa e resolvemos pegar um táxi, que nos deixou na porta.
Foto de Carlos Machado
Então, entramos por uma porta estreita em que um dos steamers nos recepcionou. A primeira impressão que tive do local foi de taverna. O local é pequeno e com iluminação baixa e, por isso, bem intimista e acolhedor. Lá tinha pães, torradas, patês de variados sabores, bolo e café de coffee- break. Logo de início você se deparava com o pessoal caracterizado e, rapidamente, veio em minha mente aquela sensação de estar num local alternativo com pessoas que gostam das mesmas coisas que você!
Procurei o Carlos Machado, um dos principais organizadores do evento e o steamer curitibano que eu tinha contato há mais tempo (senão o único até aquele momento rsrsrs). Ao encontrá-lo, eu me apresentei formalmente e fomos até o andar de cima para eu guardar minhas coisas e terminar de me arrumar.
Capitão Escarlate ou Carlos Alberto Machado - um dos organizadores do evento | Foto de Moacir Chiarello
Após algum tempo estava pronta para a apresentação. Um tanto nervosa e ansiosa por ser a minha primeira apresentação em Curitiba, mas muito animada por dançar algo na temática steampunk. Escolhi para esta apresentação trechos de três músicas. No final do post eu abordo sobre o processo de desenvolvimento da minha performance para quem tiver interesse em ler. =)
Aerith, bailarina de tribal fusion | Foto de Moacir Chiarello
Após a minha apresentação, a próxima atração foi o recital de poesia por André Felipe Wielgosz, o Russo, em homenagem à Maria Quitéria. Todo evento do Café a Vapor há uma homenageada histórica =D André dividiu sua declamação em duas partes, deixando todos curiosos com o desenrolar da sua poesia que seria ouvida após a apresentação da cantora lírica.
André Felipe Wielgosz - o Russo | Foto de Moacir Chiarello
Assim, Vanessa Rafaelly, vestida de dieselpunk, além do figurino impecável, deixou-nos boquiabertos por sua bela e melódica voz, que nem precisou de microfone para ser apreciada.
Vanessa Rafaelly | Foto de Moacir Chiarello
Seguindo a programação, tivemos muitos sorteios \o/ O primeiro "sorteio" foi por votação do publico, que escolhia, dentre todos os costumes presentes, o melhor. A escolhida para ser presenteada foi a cantora lírica vestida de dieselpunk (que eu votei hohoho =P) que ganhou um lindo kilt da Majesty.
Exposição de desenhos de Carolina Marcondes | Foto de Carlos Alberto
Após o "sorteio por voto popular", passamos para a próxima etapa da programação que era a apresentação dos personagens dos steamers presentes. Então, subimos as escadas do AOCA Bar para aguardarmos a chamada ao palco. Enquanto isso, admirávamos o Museu Steampunk realizado pela Loja Paraná. Ali estavam expostos armas, máscaras, desenhos de Carolina Marcondes, fotografias, relógios, câmeras e demais bugigangas steampunks. Havia também a exibição de clipes com as principais bandas internacionais da cena e também a fotonovela "A Maldição da Múmia" realizado pelos próprio steamers da cidade (você pode assistir clicando aqui).
Museu Steampunk | Foto de Moacir Chiarello
Voltando a próxima atividade da noite, cada um que quisesse participar do Desfile SteamPunk subia ao palco e falava sobre seu personagem e figurino, tendo o Capitão Escarlate, Carlos Machado, como apresentador.Sob os olhos atentos dos juízes, Renata Kamarowski, Lincoln Schindlere e Anne Karoline, foram escolhidos as caracterizações que mais se destacaram em qualidade. A premiação dos três primeiros lugares eram por meio de medalhinhas parecidas com essas medalhas de honra ao mérito da força militar. Carlos explica que objetivo é premiar os steamplays que mais se destacaram, de forma igualitária, pois, segundo ele, a diferença de pontos entre os três é muito pequena. A intenção não é competir, e sim estimular o desenvolvimento da cena steampunk através da customização. Os Jurados:
Anne Karoline
Lincoln Schindlere | Foto de Moacir Chiarello
Renata Kamarowski | Foto de Moacir Chiarello
Os Premiados:
1º lugar do Desfile SteamPunk | Foto de Moacir Chiarello
1º lugar do Desfile SteamPunk | Foto de Moacir Chiarello
2º lugar do Desfile SteamPunk - inspirada no País das Maravilhas | Foto de Moacir Chiarello
2º lugar do Desfile SteamPunk - inspirada no País das Maravilhas | Foto de Moacir Chiarello
3º lugar do Desfile SteamPunk - inspirado no Velho Oeste | Foto de Moacir Chiarello
Terminado o desfile, André retomou à parte final e decisiva de seu poema histórico em homenagem à Maria Quitéria.
Ao final, tivemos mais alguns sorteios através dos números que cada pessoa recebera na chegada do evento na recepção. Os itens sorteados foram:
Livros sorteados: " O Leviatã" e "Mortal Enginers"
Um colar e bracelete customizados pelo Guiro Luan:
Bracelete sorteado
Não encontrei foto para ilustrar o cordão.
A atração final ficou sob os holofote de Raoni Paes e Ana Both, membros da banda de música celta, o Jornada Ancestral, que empolgaram a noite com tunes irlandesas e música antiga portuguesa.
Jornada Ancestral
Além disso, tivemos a presença dos profissionais do Câmera Off gravando um documentário sobre a cena steampunk brasileira! Eles também estarão presentes no III Steamcon, evento nacional steampunk, convergindo todas as Lojas para uma grande confraternização, que acontecerá nos dias 08 e 09 de agosto, na cidade de Paranapiacaba (SP).
Encerro minha resenha já ansiosa pela próxima edição! =D E já pipocaram idéias para a minha apresentação de 2016 hohoho ÒÓ E da próxima vez vou tirar fotos com o pessoal. Eu estava um pouco acanhada ^^' Conheci pessoas adoráveis e muito gente boa! Com certeza me senti acolhida por esse grupo movido a vapor.
Você pode conferir um resumo visual do que rolou no evento através do vídeo da Débora Puppet do Canal Steampunk:
Se você é de Curitiba ou do estado do Paraná e aprecia o Steampunk, acompanhe o grupo da Loja Paraná do Conselho Steampunk e seu site para ficar por dentro das próximas atividades do grupo, como as oficinas de criação medalhas(já realizada no dia 25 de julho), de peças em couro, cartola e EVA, armas de madeira, braço mecânico com papel, floretes, compras em brechó (sem data definida). Além da Convescote Steampunk, pique-nique steampunk do grupo, que agora será realizado só em 2016, assim como a próxima edição do Café a Vapor.
Mais algumas fotos do evento por Moacir Chiarello:
Informações Gerais: Loja Paraná do Conselho SteamPunk: | Grupo | Site | Fotógrafo: Moacir Chiarello |Facebook| Steamcon de Paranapiacaba: | Fan Page | Site| Débora Puppet - Canal Steampunk: |Fan Page | Youtube |
"Making Of" da minha performance
Sempre que danço, transmito, de alguma forma, um pouco de mim, da minha essência, experiência ou história. Quando penso num enredo para dança, falo também um pouco da autora por trás da personagem. A primeira parte era uma música sugerida pelo Carlos, a abertura da série Demolidor. Quando criança, o personagem principal, Matt Murdock, sofre um acidente químico, tornado-se cego. Posteriormente, para quem conhece o personagem (seja pelos quadrinhos, filme ou a série), sabe que ele se torna um advogado na fase adulta. Contudo, a noite ele usa um capuz preto cobrindo seu rosto,protegendo sua identidade. Desta forma, Matt se torna um justiceiro que tem o objetivo de limpar a cidade da corrupção, contudo sem matar seus adversários.
A abertura da série também é bem interessante, pois aparece, em vermelho e de aspecto viscoso, a imagem da deusa grega Dice, que segura a espada mais abaixo (simboliza a força,coragem, ordem, regra,cumprimento das leis)em uma das mãos,e a balança mais acima (simboliza o equilíbrio, igualdade) na outra, surgir escorrendo como o sangue. Os olhos da deusa estão vendados, pois significa a nivelação do tratamento jurídico sem distinção.
Interessante o jogo de imagens retratado pelo vermelho, a ideia de sangue associada ao simbolo da justiça, tornando irônico o simbolismo da venda que deveria demonstrar imparcialidade, já que todos seriam tratados iguais perante a lei, o que não acontece na estória. A abertura mostra alguns locais da cidade também sangrando, já que a mesma é corrompida por mafiosos. O sistema é corrompido e, por isso, sangra. A Justiça é cega, pois ela olha para a balança que está em uma perspectiva mais elevada, ou seja, se foca mais no ideal de aplicar as leis, porém não pune os ímpios, pois esses se beneficiam das leis; a Justiça é falha, por isso a espada estaria em um nível inferior, um pouco "escondida" atrás da estátua, já que sua função de punir não é verídica. A ordem é estabelecida pela corrupção do sistema,existe ai uma falsa sensação de segurança.No final, aparece a figura do herói caracterizada por um demônio vermelho, que também tem todo um significado por trás que é explicado na série (não vou me prolongar muito para não dar spoilers rsrs).
A minha ideia era utilizar a venda preta, que estaria associada à figura da Justiça e ao personagem do Demolidor,que é cego e utiliza o capuz preto ao longo de quase toda a trama da série. A Justiça, na minha dança, estaria tentando ser pura e justa, contudo, por tentar ser tão correta, acaba não enxergando a corrupção bem em frente de seus olhos. Nesta parte da música, percebe-se a pureza, inocência, ingenuidade sendo exploradas.
A segunda parte é quando a venda é tirada à força. A realidade cai a tona, de forma brusca e bruta. Você percebe que ,tudo que falavam para você sobre o mundo, era mentira. O mundo é sujo, cruel, envenenado e doentio. À medida que você "experimenta" o mundo, você é contaminado. Você perde a noção da sua existência. O mundo te sufoca a ponto de esquecer quem você é; esquecer sua verdadeira face. Você esquece seus ideais e valores. O mundo lhe corrompeu de forma inebriante.
Para essa parte eu escolhi uma música que há muito tempo tinha vontade de dançar, mas nunca tive oportunidade: "Extravaganza" do filme O Retrato de Dorian Gray. O filme conta a história do jovem Dorian Gray, um jovem com intenções e aspirações puras. Contudo, gradativamente, ele é corrompido. Ele imortaliza sua beleza e juventude em um quadro com seu retrato pintado, ao vender sua alma. A partir daí ele não mais envelhece e desfruta de todos os pecados possíveis. Contudo, seu retrato é que toma as dores e consequências do tempo e de suas atitudes impulsivas a ponto de não mais se reconhecer.
Uma curiosidade interessante na escolha dessa música é que o personagem Dorian Gray também aparece no filme A Liga Extraordinária, que aborda muito sobre a temática steampunk.
A última parte da performance, eu usei a música "Roundtable Rival " da Lindsey Stirling :3 Esta é a segunda vez que uso uma música dela para dançar, e acho que super combina com o tribal. Eu procurava uma música alegre e festiva. A música dela caiu perfeitamente,pois, além de ser bem descontraída, a temática que ela utiliza no videoclipe é totalmente steampunk *---*
A minha idéia com essa parte era como o acordar de um sonho (na verdade, um pesadelo, né?), assim como Alice parece ter acordado da sua viagem ao País das Maravilhas. A personagem acorda em um soluço de susto, como reflexo de tudo de ruim que passou. Ao acordar, ela olha para os lados tentando se lembrar do que aconteceu e aonde ela estava naquele momento. Ao perceber de que tudo fora um sonho(será?), ela percebe que está num lugar acolhedor,um lugar em que as pessoas são como ela e gostam dela pela pessoa que ela é. Ela tenta festejar esse momento especial, um momento pós-adversidades. Este é um momento descontraído em que ela se encontra consigo mesmo, recuperando sua essência, lembrando-se de quem é.
Apesar de possuir essa estória, essa mensagem, a minha apresentação não é de toda coreografada. Ela é uma semi-coreografia. A primeira parte da dança eu coreografei por inteiro. A segunda eu mesclei momentos de coreografia com improviso. A terceira parte eu fiz algumas marcações coreográficas, mas a maioria foi improvisada. Eu sou uma pessoa extremamente auto-crítica . Cerca de 90 % das minhas apresentações eu não gosto de cara, pois só vejo os defeitos. Essa apresentação foi a primeira vez que eu gostei mais do todo, enfocando nos pontos positivos. Sim, eu errei em alguns momentos...mas acredito que o saldo foi mais positivo do que negativo, e isso foi um avanço para mim. Com o erro eu aprendi o quê preciso melhorar para a próxima vez.
O figurino foi uma copilação de peças que eu já possuía rsrs. A maior parte do figurino foi da minha apresentação do Gothla Brasil de 2012 (você pode conferir a resenha aqui). A saia eu já tinha e era de um brechó. E decidi fazer um topete, mas não ficou como eu queria. Preciso de mais prática rsrs
Então, é isso =) Espero que gostem ^^ E aceito críticas construtivas \o
No segundo capítulo da Série Desvendando,
a bailarina gaúcha Michelle Loeffler revela os significados ocultos por trás da
coreografia In Meine Dunkelheit, que chocou alguns e encantou muitos! Espero
que gostem! Eu sou fã!
Em alemão “In Meine Dunkelheit” quer
apenas dizer “na minha escuridão”. Não costumo nomear coreografias, apenas
descrevi nesta, o estado ao qual me encontrava quando a fiz.
Ir para o inferno às vezes é necessário.
E é tão somente nele que observamos com clareza a estupidez com a qual
costumamos conduzir nossas vidas. Colocar coisas ou pessoas em pedestais é uma
atitude obsessiva de negar repulsivamente a própria escuridão. Este foi o maior
aprendizado, que em parte resultou nesta coreografia.
Sou aluna da Fernanda Zahira Razi, que
está arquitetando há um tempo já, um belo espetáculo, o qual tem instigado nós
alunas a fazermos mergulhos nas nossas mais belas, ou não, ideias.
Michelle e sua professora Zahira Razi
Para mim, a arte é o mais alto grito de
libertação das nossas emoções. Não consigo resumir a dança como uma prática
exclusivamente técnica e teórica. Na verdade, a dança é ainda mais curiosa e
única quando expressa o que somos de verdade. Este é outro aprendizado que tive
ao ter coragem de mostrar essa coreografia em público.
Desde criança sempre amei cabelos
longuíssimos, mas por conta dos piolhos só pude deixá-los gigantes depois de
adulta. E foi neles que, estupidamente, depositei por anos o único raio de autoconfiança
que tinha. Mas a natureza é sábia. Por desventura me coloquei em situação a
qual eu mesma tive de cortá-los, totalmente contra minha vontade.
Michelle, ainda com cabelos longos
Estraçalhar a única coisa que eu acreditava
ser forte em mim foi um ato profundamente simbólico, que observei por meses.
Aprendi tantas coisas que certamente me transformei em uma pessoa bem diferente
do que eu era.
Essa coreografia mostrou apenas parte do
tamanho da raiva que explodia dentro de mim mesma. Foi um alívio pôr um pouco
para fora. Eu sentia raiva de mim; sentia raiva da forma competitiva e escrota
como muitas vezes a dança é vivenciada por aí; sentia raiva de tudo e todo
mundo. Eu queria berrar: “Seu estúpido, não adianta se achar tanto, se tu não põe
perfume fede pior que porco e acaba no mesmo buraco que todo mundo, então
deixa de tanta frescura”.
Nela, além de expressar a raiva que eu
sentia, “tirei onda”, da forma “bonitinha” como muitas bailarinas tentam ser
iguais a alguma bailarina famosa, renegando sua própria personalidade
artística.
Todo o tempo que ensaiava em casa, era um
alívio, ao mesmo tempo que achava engraçado a brutalidade do sarcasmo impresso
nela. Foi quando assumi: "Sim, essa sou eu". Fiquei com vergonha de mostrar ao
público essa coreografia, mas sentia que precisava me libertar e pôr para fora.
A Zahira, como sempre, me incentivou bastante, afinal esta é também a forma que
a Fê tem de ensinar arte para as alunas. É comum sentir vergonha de se expor, afinal, eu estava mostrando meu pior lado para muitas pessoas. Tomei coragem e
mostrei. Esperei tomates, mas, para minha surpresa, muitas pessoas gostaram
bastante do que viram.
Devo confessar que nunca me senti tão à
vontade, tão eu mesma para dançar uma coreografia como esta, pois essa coisa
sou eu. Quando mostro o vídeo, geralmente aviso: “Não tem nada de bonito nessa
coreografia, ela é estranha”.
Na ocasião da mostra, eu usava um
megahair, o qual eu chamava de “bengalahair” que minha amiga Paula Knecht,
cabeleireira de elite, tanto me ajudou colocando e ajustando. Foi necessário
usar, para não andar de cabelos ridículos por aí.
Michelle, já com megahair, acompanhada de sua cabeleireira e amiga, Paula Knecht
Além de pôr para fora um pouco da raiva,
foi também uma forma de dizer ao público, quem eu sou, que eu estava mudando e
que eu iria aparecer de cabelos curtos. Foi uma forma de contar minha
desventura.
Hoje, pouco mais de um ano, tô curtindo
bastante meus cabelinhos curtos.
Michelle, com cabelos curtos
Desapegada de padrões e aberta aos
movimentos que a natureza faz para nos tirar do lugar e nos fazer andar para
frente, sigo, imprimindo acima de qualquer coisa, minha personalidade artística
em todas as coreografias que tenho desenvolvido. – Michelle Loeffler