Eu fui: 7º Festival
Campo das Tribos, realizado por Rebeca Piñeiro – Carolena Nericcio: A mãe do
Tribal pela primeira vez no Brasil!
O evento foi tão bom que deu no que falar, então resolvi
escrever minha própria resenha! Espero que gostem =D
Expositores
Ana Harff Artesanía no Festival Campo das Tribos
Os ateliers foram bem preparados e garanto que venderam bem. Havia estandes de variados produtos, desde trajes completos da Khalidah, xales de crochê pelo atelier Shaman Tribal, camisetinhas personalizadas da Shimmie, uma riqueza de acessórios, inclusive steampunks, e bolos caseiros deliciosos da Valfenda Doces que saciaram minha necessidade de açúcar durante o evento.
Show de Mostras
Anamaria Marques e alunas
O Show de Mostras surpreendeu pela qualidade das apresentações, onde alunos e professores deram seu melhor no palco. Minhas performances preferidas foram de Anamaria Marques, Nadja El Balady, Thalita Menezes e Laura Gutierrez. Destaque para as gracinhas do dançarino Brendo, professor de danças urbanas, que divertiu as tribalescas com sua sátira bem humorada.
Show de Gala
Shaman Tribal Co.
Uma introdução com música ao vivo e apresentações de improviso abriu o evento e encantou a plateia. Vale citar a participação especial de dançarinos de folclore árabe, as performances com bastão e a dança com jarro. Com enfoque nas danças folclóricas, o Show de Gala alternou
um bom ATS® com dança cigana, flamenco, clássica indiana e folclore árabe, além
da excelente apresentação de Tribal Brasil pelas especialistas no assunto,
Shaman Tribal Co.
As convidadas da noite deixaram todos muito emocionados pela
empatia e profissionalismo. Contar com a presença de ícones como Carolena e
Megha Gavin prova que estamos no caminho certo em nossos estudos tribais,
tamanha a credibilidade de recebê-las em nosso país. E aguardem: com a
finalização dos cursos oferecidos pela mãe do ATS®, a probabilidade é que esse
estilo se propague ainda mais com a quantidade de professoras qualificadas e
aprovadas no ensino da técnica.
Pontos Altos e Baixos
Com exceção do probleminha técnico com o som, que desde o
Show de Mostras apresentou instabilidade, o evento foi delicioso. Confesso que
senti falta da participação ativa e bem humorada de Guigo Alves como mestre de
cerimônia, como no ano passado, todavia naquele momento sua intervenção se
encaixou com a temática do evento e talvez neste ano não tivesse o mesmo
efeito.
Fui para casa com os ouvidos tinindo depois de tantos snujs
e uma baita dor de cabeça pelos males da sinusite que foi acionada com o ar
condicionado do teatro, mas valeu a pena: uma produção como esta merece nossa
atenção e, cá entre nós, não há muitos festivais na área que agreguem tanto
para a cena tribal quanto o Festival Campo das Tribos. Expectativa alta para o
que será preparado para nós no próximo ano! #lililili
Nossa entrevista de abril é com Caíque Melo, bailarino de Salvador -BA. Caíque foi "Destaque Tribal Masculino" aqui no blog em 2012 e 2014. Neste último ano, nossa Entrevista Especial de Aniversário do Blog seria destinada à categoria em questão =D Vamos conferir a trajetória do nosso tribalesco?
BLOG:
Conte-nos sobre sua trajetória na dança do ventre/tribal; como tudo começou
para você?
Comecei a estudar
dança com 14 anos de idade, quase 15. Nasci em Vitória da Conquista,
Dabke
sudoeste
da Bahia, onde uma das escolas de dança, a Arabesk,
me abraçou. “Caí meio que de paraquedas”... Em 2009 fiz uma pergunta à uma
amiga sobre as aulas de dança e ela me convidou. No dia combinado eu fui à
Escola fazer aula de Balé Clássico. Me lembro do primeiro dia, onde conheci a
professora e diretora da Escola, a Suzanni
Rabelo, ou carinhosamente chamada de tia Suzi. Digo que ela abriu as portas
da dança pra mim, pois, foi ela me concedeu aulas como bolsista e sempre que eu
sugeria algo novo como trabalho, como a dança tribal, por exemplo, estava de
braços abertos. E em meio às dores de alongar, as faltas de coordenação e
direção, como todos que começam a mover o seu corpo que não somente do
cotidiano, fui percebendo o quanto gostei de fazer “aquilo”. Me sentia vivo e estar
vivo me levava à um outro ambiente, que me fazia bem e mais contente. Após esse
primeiro contato, me apaixonei. E foi rápido demais. Mas sei que é um amor pra
toda vida, porque partiu de dentro de mim. Só estava escondido. Dancei no meu
primeiro espetáculo, em 2009, pela Arabesk,
ainda envergonhado, mas com uma sensação INENARRÁVEL, que quem pisa nos palcos
(e digo qualquer palco: italiano, a rua, na casa de um amigo, num restaurante,
etc.) sabe como é.
Caíque e Stefanny Garcia
No mesmo ano, a
minha amadíssima professora de danças folclóricas árabes, e professora da
Escola na época, a Stefanny Garcia, me
convidou para participar de uma coreografia de Dábke, no espetáculo de danças
orientais que ela promove anualmente na cidade. NOOOOOSSAAAAA! Que energia é
essa da dança oriental, meu povo?! Nos ensaios eu ficava alucinado pelas
músicas e movimentações. Assistia vídeos e ficava admirando a dança e os
dançarinos. Adoro muito os brasileiros dançando orientais. Temos uma
autenticidade e respeito pela dança. O espetáculo lindo, com coreografias
lindíssimas, de uma cultura que poucos conhecem e/ou já viram e quando viram
pensam logo na dança do ventre, na sensualidade feminina e nos preconceitos que
rodeiam sobre a dança. Ia além disso. São danças culturais, como as nossas,
brasileiras, que conta a história de um povo. Que coisa linda de se ver! J
Encantadíssimo,
continuei a estudar as danças orientais, o balé clássico e surge uma nova
professora de dança oriental na minha vida, que admiro imensamente, onde me viu
dançar no espetáculo da Stefanny (e
ela também se apresentou), a Gal Novais.
Num dia de aula de balé, ela me convida para participar de uma coreografia onde
dançávamos balé clássico e dança do ventre misturado (até então, ainda pensava
assim, rs). Achei bem interessante a proposta e fui fazer aulas de Dança do
Ventre. Amei, amei. E não é que me dei até bem? (rsrs) Ali conheci minhas
amigas Grazi Cardoso, May Cardoso, Samara
Aguiar, Virgínia Rosa e Ane Carine,
que SEMPRE me apoiaram à dançar, amigas de turma, juntamente com a Gal Novais sendo nossa professora. Era
uma delícia ir às aulas, encontrá-las e dançarmos juntos. Formamos nosso
primeiro grupo de danças orientais, o “Thuraya”, que significa “Estrelas ou
Planetas”, em árabe. Nos divertíamos muito nas apresentações, viagens e
ensaios. Saudades...
Caique e Gal Novais
No dia da
apresentação com a professora Gal Novais,
da “mistura” entre balé e ventre, conheci a Joline
Andrade. Ela estava organizando a mostra de dança “EtnoTribes” em Vitória
da Conquista, em 2010. E quando a vi dançar, fiquei encantado com as
movimentações do corpo que ela realizava na coreografia, juntamente com a
sonoridade da música, com aquela aura misteriosa por detrás. Fui logo pesquisar
sobre a dança Tribal Fusion. Assisti logo de cara a Rachel Brice, o auge da
dança tribal. Ia pesquisando em alguns blogs, vídeos, músicas, até conversei
com alguns profissionais na época, como a Joline,
a Bia Vasconcelos, a Bela Saffe, sobre a dança, pois
realmente estava querendo entender melhor aquele universo. Também fiz algumas
aulas com a Gal Novais. Ela me
ensinou movimentações básicas do tribal, como postura, algumas movimentações, bem
enfatizada no Belly Dance.
SOBRE O TRIBAL
FUSION: Sempre fui autodidata quanto a dança tribal, mas tudo que me
interessava eu lia, fazia, estudava os movimentos, assistia e sempre que
possível, participava de workshops. Então, sempre estive pesquisando e
estudando a dança. Lembro-me de uma frase que norteia a dança tribal e que eu
ouvia bastante, mas não exatamente assim: “Procure a sua dança tribal”. Sempre
busquei e busco essa autenticidade, essa minha dança, pois acredito que a dança
é universal e cada um tem sua dança. A dança tribal foi e está sendo a minha
escolha de buscar essa autenticidade que se muda constantemente e me apetece. Estudo
a dança tribal fusion há 5 anos, e comecei estudar dança há 7 anos. Tenho 20
anos, completo 21 em julho. =)
Joline Andrade e Caíque Melo
BLOG:
Quais foram as professoras que mais marcaram no seu aprendizado e por quê?
Com certeza todos
os professores deixaram alguma informação importante para mim. Vivemos informando
e adquirindo informação a todo instante. Mas alguns tem marcos maiores pelos
seus conhecimentos e simpatia, como: a
Stefany Garcia (Vitória da Conquista-BA), que me convidou a conhecer a
cultura e as danças árabes, sempre sendo carinhosa.Tem um espaço de Dança
Oriental, onde dá aulas. Já foi premiada no Mercado Persa, junto com a Gal Novais e tem uma beleza ao dançar.
Ela é verdadeira. Por isso sempre chamou minha atenção e admiração. Gal Novais (Vitória da Conquista-BA),
que me ensinou que a dança do ventre tem homens sim, mas que não por isso
deixamos de desrespeitar os costumes da cultura. Obrigado por todos os
ensinamentos. Sheyla Nascimento
(Vitória da Conquista-BA), a discopédia (rs) – incentivando-me sempre; a Joline Andrade, pelo carinho e apoio;
a Hilde Canoodt (UK), que no workshop
no Dramofone I, me deu um start para
pensar em estética de movimento e alinhamento, e isso me ajudou MUITO (thank
you, Hilde) ; e a Antonia Ribeiro,
que sempre tem as ideias mais deliciosas de se trabalhar, que sempre elabora
coreografias incríveis e me incentiva a fusionar sempre.
Não por isso,
agradeço a todos professores que passaram, passam e passarão por mim. Com
certeza, em qualquer circunstância, o aprendizado e o conhecimento são certos.
BLOG:
Além da dança tribal você já fez ou faz mais algum tipo de dança? Há quanto
tempo?
Sempre
procuro fazer aulas que não somente a dança tribal, pois são novos aprendizados
e possibilidade de fusão. Mas, quase que diariamente eu paro um tempo e
pesquiso ou danço a dança tribal.
Atualmente
faço o curso técnico profissionalizante da Fundação
Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB), onde tenho estudos de cinesiologia,
balé clássico, dança moderna, dança contemporânea, dança afro-brasileira,
danças populares brasileiras, etc., conjuntamente com a graduação superior de
licenciatura em dança da Universidade
Federal da Bahia (UFBA).
Estudos
Independentes: Waack Fusion, Tribal Fusion, Dança Fusão, Tribal Ragga Jam,
Improvisação, Experimentações, Intervenções Urbanas e o que mais for atraente para mim.
BLOG:
Quais foram suas primeiras inspirações? Quais suas atuais inspirações?
Sem
dúvida, na dança tribal, a Joline Andrade
é uma das minhas referências. Foi um incentivo para fazer a faculdade e
estudar a dança tribal a partir desse viés acadêmico também.
A
Zoe Jakes e a banda Beats Antique. Acho que não tem esse que
quando escuta e a vê dançar, não admire o trabalho deles. A Zoe pelas propostas de dança dela, as
movimentações, o enredo, as novidades, tudo... Ela é uma artista que, para mim,
será sempre um referencial para meus trabalhos.
A
Rachel Brice, como não, né?! (rs)
Aquela fluidez, aquele controlo corporal, aquele beleza de vê-la dançar. Não
tem outra... É a Rachel Brice.
Muitas
(os) por mim foram inspirações nas épocas, mas ainda assim, admiro os trabalhos
de todos...
Me
inspiro por andar na rua, por abaixar e arrumar o tênis, por olhar um objeto e
pensar ser outro... Acho que artista não para de pensar e criar. Pode muitas
vezes não ter tempo ou vontade para continuar com alguns, mas, o artista auto
se inspira. E eu me inspiro e expiro diariamente com os aprendizados diários de
minha vida. Pois viver é dançar, dançar é viver e eu sou os dois. Eu sou dança
e vivo.
BLOG:
O quê a dança acrescentou em sua vida?
Além
de alegria e felicidade...?
A
dança é um dos regentes da minha vida. Muitas situações resolvi a partir da
minha relação com essa arte. Tive coragem para seguir com meios desejos; conheci
e continuo conhecendo pessoas amadas; além de adquirir respeito por muitos que
vivenciaram meu pequeno trajeto até aqui. São muitas coisas boas que acontece
quando estamos de coração aberto para sermos nós mesmos. E para continuar tendo
todas essas boas vibrações, danço.
BLOG:
O quê você mais aprecia nesta arte?
Dançar
não é só expressar um sentimento, um acontecimento, uma história. Dançar é
política, é crítica, é pensamento, é observação. Tenho estudado muitas danças,
muitos contextos, principalmente contemporâneos, que me mostram outras formas
de se dançar, de se trabalhar com o seu corpo e de movimentos capazes para o
(meu) corpo. Dança com fundamentos técnicos, dança improvisação, dança
contemporânea, dança teatro, etc. Mover o meu corpo ao som da música me
apetita. Ver como o outro se mexe me instiga. É muito bom ver as formas que as
pessoas se movem e perceber diversas questões corporais. Entender e perceber o
corpo, em meio a questões sociais, ambientais e transpô-las, através de nossas
experimentações, essas percepções.
BLOG:
O que prejudica a dança do ventre e como melhorar essa situação? Você acha que
o tribal está livre disso?
Acredito
que em todo e qualquer ambiente, também nos da dança, há situações que
desagradem, bem como pessoas (sim, ainda existem pessoas más). O auto ego, a
rivalidade, a traição, as trocas de alfinetadas, o prejudicar o outro para
conquistar algo, são, por mim, abominadas. Há espaço para todo mundo e, com
certeza, se formos mais companheiros com nossos colegas de trabalho, nossos
alunos, nossa plateia, as conquistas serão muito maiores e gratificantes.
BLOG:
Você já sofreu preconceitos na dança do ventre ou no tribal? Como foi isso?
Somos
preconceituosos sem ao mesmo perceber, devido a nossa cultura, situação social e
muitos fatores que influenciam para isso. Com certeza, alguém já deve ter me olhado torto, ou sussurrado para outra pessoa sobre minha sexualidade, por exemplo, somente por dançar. Quando isso chegava até a mim, e foram poucas as vezes, eu simplesmente
escutava, balançava os ombros em sinal de interrogação, como que querendo dizer
“Posso fazer o quê?” e continuava. Se houvesse alguma forma de eu poder mudar
essa concepção, fazia, mas, nem sempre isso acontece.
Preconceitos
agressivos verbais e/ou físicos nunca sofri, pelo menos não tão agressivamente.
No colégio ou em qualquer outro ambiente em que eu falava sobre meu trabalho,
me respeitaram, muitas vezes me chamando para parcerias. Além disso, sempre fui
respeitoso com os outros para eles poderem respeitar minhas escolhas e quem eu
sou.
BLOG:
Houve alguma indignação ou frustração durante seu percurso na dança?
Houveram algumas poucas desavenças com pessoas por conta de falsidade, lealdade e outras
situações constrangedoras que ocorre na dança (infelizmente), como a inveja e
os falsos julgamentos e levantamentos. Quando isso ocorre, procuro ter
tranquilidade e paciência para poder passar. Depois se esquece e se for de boa
valia, porque não retomar o contato?!
BLOG:
E conquistas? Fale um pouco sobre elas.
Em
premiações, já fui selecionado como “DESTAQUE TRIBAL MASCULINO” nos anos de
2012 e 2014 aqui pelo blog. (Yeeep)
Em
2012 fui selecionado por votação online para participar da abertura do show de
Gala do GOTHLA BR, no Rio de Janeiro. No mesmo ano fui premiado em Vitória da
Conquista como a 2ª melhor apresentação no
IV Mini Fest, organizado pela Cia
Dançart.
Com
o decorrer da carreira, alguns trabalhos surgiram, como, por exemplo,
assistência no show SIMBIOSE da Joline
e até mesmo intercâmbios com alunas regulares dela.
Outras
conquistas, essas mais acadêmicas, como os cursos técnico e superior, me
surgiram pelo meu desejo de profissionalização na área.
BLOG:Como é o cenário da
dança tribal na Bahia? Pontos positivos, negativos, apoio da cidade/estado,
repercussão por parte do público bem como pela comunidade de dança do
ventre/tribal?
Nos
meios acadêmicos, poucos ainda conhecem a dança na sua história, bem como em
estudos de movimentações. Na Escola de Dança da UFBa, por exemplo, o tribal
fusion é conhecido através de apresentações que realizo, bem como de colegas
que também estudam e praticam a dança. A mesma situação se repete na Escola de
Dança da FUNCEB. Os que se interessam a conhecer mais profundamente costumam
participar de aulas e workshops ministrados pela cidade.
Nos
eventos específicos de dança tribal, costuma-se ter uma quantidade
consideravelmente boa de público nos teatros. Muitos familiares, outros
curiosos, outros convidados por alguém. Em eventos de dança num contexto mais
amplo, ou pequenas apresentações, o público também é participativo, admira e
passa a acompanhar os trabalhos. Muitos já me adicionaram nas redes sociais
após eventos, a fim de conhecer meus trabalhos e trocar informações. Em suma,
conhecem como uma derivação da dança do ventre, como é comum para quem não
conhece. Depois de explicar, eles mudam os pensamentos sobre a dança.
São
produzidos poucos eventos destinados à dança tribal, devido à dificuldade que é
para conseguir apoios e patrocínios. E para a produção cultural é preciso de
renda.
A
Bahia é muito grande comparado com outros estados e tem muitas pessoas que não
tenho informações que pratica, estuda e/ou conhece a dança tribal. Tenho uma
vasta noção da cena tribal baiana através do blog com os “Destaques” e outras
informações que pesquiso. Tão pouco não somos, rs.
Outros
campos que estamos sendo bem recebidos são nos eventos e haflas orientais.
Tanto as bellydancers quanto o público são bem receptivos.
BLOG:
Em 2012, você participou do show de abertura do Gothla Brasil. Gostaria que comentasse como surgiu esta
oportunidade e sobre a experiência de dançar no palco mais obscuro das fusões
tribais.
Após
minha participação na votação online para poder participar do show no Gothla Brasil, na qual fui premiado,
dancei no palco mais obscuro das fusões tribais...Foi minha primeira viagem
para fora da Bahia e minha primeira participação juntamente com artistas da
cena tribal que são referenciais no Brasil e adjacentes. No primeiro dia de
workshops já fui me encantando ao ver artistas que você admira ao seu lado,
tendo aulas com eles, podendo ter uma conversa cabeça ou mais descontraída e
até uma dança improvisação em meio a boate, como foi com a Ariellah (me lembro
até hoje dessa noite.
Alan, Marcelo e Caíque
Além
do meu solo, fui convidado pela Jhade
Sharif a dançar com mais dois bailarinos queridíssimos: o Alan Keippert (RJ) e o Marcelo Justino (SP). Foi lindo poder
dançar com eles.
Quando
fui dançar o meu solo, o nervosismo era grande. Mantive a calma e ao realizar o
primeiro movimento, só me deixei ser conduzido por mim mesmo, ao som de Beats Antique (fã não tem jeito, rs).
Saí do palco contente e espero logo voltar. Quem sabe até dançando no show de
gala e ministrando workshop? #FicaDica
BLOG:
Em 2014, você participou do EtnoTribes
Festival (Salvador – BA), como assistente de produção. Gostaria que
comentasse sobre essa faceta e também seu envolvimento com o evento.
Fazer parte de uma equipe de
produção de um evento de dança nos traz um olhar diferenciado para nossa
vivência. É estar do outro lado do palco, orientando, ajudando, procurando e
informando a respeito de tudo sobre o evento.
Minha participação no Etnotribes foi como assistente da
produção do show SIMBIOSE, estando junto da produção por um dia. Porém, foi crazy, porque são muitos detalhes para
realizar, cumprindo horários, para que dê tudo certo. Estive nessa tarefa ao
lado da Samile Dias. Fomos buscar a
banda “Pedra Branca” no aeroporto, transportar os convidados, buscar elementos
cênicos, da produção, do próprio evento... UFA!! Além de nós, a Priscila Sodré e a Trupe Mandhala também estavam na produção e esse conjunto ajudou o
evento na sua melhoria e totalidade.
Bastidores: Caíque Melo e Samile Dias
Apesar de cansativo (e fazer produção de evento é
bem desgastante), foi uma experiência muito enriquecedora, onde,pude perceber com maior clareza os processos para fazer com que um evento seja realizado.
BLOG:
Neste mesmo ano você participou do festival Bailares,
em Feira de Santana – BA, ministrando workshop de “Waack Fusion” e também
dançando como solista e com a Trupe
Mandhala. Conte-nos um pouco sobre o tema do seu workshop. Como surgiu esta
oportunidade e como foi a experiência de dançar em grupo com a Trupe?
Trupe Mandhala e Caíque Melo
O Bailares é uma produção da Trupe
Mandhala que consiste basicamente em workshops e shows gratuitos.
Participei das duas edições realizadas (2012 e 2014) e no último fui convidado
para ministrar um workshop e participar do show de gala. Quando eu recebi o
convite estava estudando sobre as danças Waacking,
Vogue, Stilletto, Pop, Street Jazz e me interessei logo de cara, pois, a
partir do convite, desenvolvi uma pesquisa de fusão entre as danças mencionadas
ao tribal fusion belly dance. O Waack
Fusion é um estilo que ainda estou pesquisando, mas que tem um caráter
diferenciado do que tem-se visto da dança tribal. O caráter de hibridação de
estilos de dança é difícil de se trabalhar, pois exige de estudos dos estilos
para poder ser coerente com o caráter que é de fusionar. E misturar elementos
de ambos e dar uma nova roupagem é trabalhoso. Pesquiso movimentações quase que
diariamente, em meios de improvisação para possuir maior repertório e
conhecimento do que eu tenho produzido.
O workshop foi bem recebido, com
participação alta e ativamente. Todas minhas aulas e workshops eu disponibilizo
uma apostila/programação da aula, com todos os movimentos estudados. São
materiais importantes para se estudar e até relembrar depois de algum tempo sem
contato com o mesmo.
BLOG:
Em 2015, você está ministrando, juntamente com Antonia Ribeiro da Trupe
Mandhala, o “Cozy Work”. Como surgiu a idéia? Qual a proposta do curso?
Como chegaram ao número ideal e limitado de três alunos.
O
Cozy Work foi uma idealização minha e
convidei a Antonia para participar,
parceria essa que consiste há um tempo e também somos colegas de casa. A
primeira edição foi realizada em março e foi muito interessante como o
acontecer da aula foi se dando. O projeto, que pensamos em realizá-lo
mensalmente, consiste em estudar sobre o corpo e a dança de forma
teórico-prática, com um número de alunos bem reduzido, para que assim tenhamos um
olhar mais apurado para os ensinamentos e as observações. Fizemos algumas
experimentações de disposição no espaço para podermos chegar ao número de 3
participantes.
Além
disso, por ser realizado em uma casa, traz uma ideia de conforto, de bem-estar,
de aconchego. Não somente isso, almoçamos juntos... uma refeição saborosa, leve
e energética para continuar com os estudos. O nome, de tradução, “Trabalho
Aconchegante”, foi pensado para informar diretamente essa ideia.
Muitas
ideias estão sendo estudadas por nós dois para poder ir avante com o projeto
que pode ser bem interessante para difundir.
BLOG:
Conte-nos um pouco sobre suas principais
coreografias. O quê o inspirou para a formulação da parte conceitual e técnica
das suas coreografias, assim como o processo de elaboração dos figurinos e
maquiagens. Como essas coreografias repercutiram na cena tribal?
Alguns
vídeos que tenho disponível na internet são improvisos. Mas, por ser improviso,
não quer dizer ser feito de qualquer maneira. Sempre há uma pesquisa por trás,
com processos de improvisação para investigação de movimentos, cênica, de
figurino e etc. Tenho trabalhado muito com improvisação-investigação, sendo
muitas vezes estudados em casa para depois ser apresentado. Esse processo que
dá norte ao que será a coreografia, a ideia, ao figurino. Algumas vezes me vejo
um pouco frágil em relação ao compor figurinos e maquiagens. Apesar de todos os
adereços que se usa, há uma concepção por detrás da coreografia, há um gênero que
está dançando, há renda, há o ambiente, etc. Tenho amigos que me ajudam sempre
com esses dois quesitos. São uns anjos – e pesquiso sobre.
BLOG:Apesar de estar cada
vez mais se consolidando e ganhando força, a dança tribal ainda é recente no
universo da Dança no país. Como a dança tribal está ganhando espaço na cena
acadêmica? E o quê você considera importante ainda ser trabalhado no âmbito
acadêmico para a dança ser mais valoriza e reconhecida?
Mesmo
nas academias de dança, bem como de profissionalização, é preciso explicar os
caráteres da dança. Pelo desconhecimento, muitos não procuram aprender a dança
tribal e poucos já viram ao menos uma apresentação. Acredito que quanto mais
produção e divulgação dos trabalhos, da história e das pesquisas houver, mais
atraentes para a dança vamos ter. Os trabalhos devem ser contidos de
identidade, de autenticidade. A contemporaneidade nos embarca em pesquisar a
nossa dança, novas maneiras de mover. A beleza que tem a dança tribal com sua técnica,
com suas movimentações e seus figurinos belíssimos também chama muita atenção,
pois é uma dança diferente, parecida com... –como alguns já me descreveram-,
mas diferente.E essas diferenças que cada tribalista leva, e
acredito eu, que se deve procurar sempre, nos dá mais espaço para apreciadores,
participantes e público.
BLOG:
O quê você mais gosta no tribal fusion?
A
estética, o místico, as roupas, os movimentos...
Tudo
me atrai na dança tribal. Fico vendo vídeos e percebendo as diferenças e
semelhanças de cada um, o como está lidando as novas coreografia e pensamentos
dos artistas. A dança tribal deve ser pesquisada nas academias, deve ser
aprofundada. Quando vou fazer isso, em uma movimentação que faço, já me vem “n”
questionamentos para entender a execução e como é no meu corpo, por exemplo.
Faço muito isso quando produzo os workshops e as aulas. Me ajuda bastante.
BLOG:
O quê você acha que falta à comunidade tribal?
Pensar
na dança como teoria-prática, com pesquisas de cinesiologia, psicologia, sociologia,
etc. Acredito que a dança tribal é muito enriquecedora nos meios de pesquisa de
movimento, consciência corporal, bem-estar e demais campos de estudo. Isso vai
muito do interesse de cada um, claro, mas, quando pensamos a dança não somente
e puramente numa estética, numa execução/repetição de movimentos (e vejo isso
necessário, pois, é uma dança que possui técnica), percebemos nosso corpo e
nossas possibilidades de trabalho muito mais amplamente.
BLOG:
Como você descreveria seu estilo?
Digo
que estudo dança tribal fusion e dança fusão. Apesar de procurar não rotular
tudo, sendo às vezes necessário, vejo que meus trabalhos e pesquisas estão de
abrangendo e tomando outros caminhos que não somente a dança tribal. Procuro
mantê-la sempre, pois gosto do estilo, mas não me fecho somente ao estudo do
mesmo. Vou procurando fusionar o que me interessa e que eu ache interessante.
BLOG:
Como você se expressa na dança?
Me
vejo diferente nos palcos, como se fosse um outro Caíque. Ao dançar eu me sinto aberto, me expressando através das
movimentações que realizo. Mas, se faz necessário também, invocar uma outra persona, um personagem, para que se
possa passar as impressões desejadas. A depender da apresentação, a forma de se
mover, o olhar, o figurino, etc., se diferencia.
BLOG:
Quais seus projetos para 2015? E mais futuramente?
Estou
com um projeto de espetáculo solo que está em construção. O espetáculo tem sido
pensado há alguns anos, sendo retomado a ideia no final do ano passado, com os
trabalhos de Waack Fusion e tenho
trabalho nele agora. Se trata de hibridações (sexual, movimentação corporal,
religiosa, tecnológica). Ainda está engatinhando, mas pretendo apresentá-lo na
sua totalidade até o final desse ano.
Tenho
outras ideias, alguns planos ainda no papel (ou Word, rs), mas que com certeza
serão realizados. Projetos como eventos de dança, workshops, aulas, exposições
e escritas (quem sabe não passo a escrever para o blog, rsrs) estão dentre
projetos futuros.
BLOG: Improvisar
ou coreografar? E por quê?
Os
dois!
Meus
trabalhos são partidos muito de improvisação e até sendo apresentados em
improvisação. Mas se faz necessário, para o entendimento e também criação de
movimentações, o estudo coreográfico. Além do que, coreografar também nos
permite fazer as ditas “limpezas coreográficas”, que são modificações
realizadas na coreografia para uma melhor estética, por exemplo.
A
improvisação tem seu papel também. Improvisar em uma música não é fácil e exige
de um conhecimento sobre espaço, repertório de movimentos, musicalidade, etc.,
que faz com que a dança improvisada seja bela, sem muitos erros técnicos.
BLOG:
Você trabalha somente com dança?
Sim.
Sou bolsista do Pibid/Dança (Programa
da CAPES), onde dou aulas de dança para crianças, além dos meus trabalhos autônomos.
BLOG:
Deixe um recado para os leitores do blog.
Agradeço por ter lido tudo isso
até o final (rsrs). São muitas coisas que gostaria de falar, mas tentei resumir
ao que achei mais importante de se dizer aqui e agora. Espero, logo mais, poder
escrever, conversar e papear mais sobre a dança, anseios, receios e vontades, a
fim de compartilhar conhecimento com quem se interessar.
E para conhecer os meus
trabalhos, acompanhar os futuros e se quiser, conversar, é só me seguir nas
redes sociais. :D
Para finalizar, deixarei uma
frase que descreve um pouco sobre o que procuro e o que devemos procurar para
nossa vida ser bem melhor.
“Não me interessa o que você faz da vida. Quero saber os
seus desejos – e se você ousa sonhar em sucumbir aos anseios do seu coração.
Não me interessa a sua idade. Quero saber se você irá arriscar parecer um tolo
– por amor – pelos seus sonhos – pela aventura de estar vivo.”
O corpo festivo das danças populares traz em
si não apenas gestos e passos das manifestações profanas, mas também uma gama
de símbolos e indícios de uma religiosidade atrelada ao sagrado.
Sendo
danças como a Afro, o coco, o Cavalo Marinho, o Jongo, a Capoeira, o Maracatu,
entre outras, pontos de partida para investigações de movimento no Tribal
Brasil, assimilamos, contudo, a espiritualidade que as permeiam, mesmo que de
modo não intencional.
Muitos
são os grupos que se utilizam dessa mística na composição coreográfica para
Tribal Brasil. Só para citar alguns grupos e solistas temos Carla Brasil, Carol
Marques, Cia Lunay, Shaman Tribal, Trupe Mandalah, Aquarius Tribal Fusion, Bela
Saffe, entre outros.
Em
2014, a Shaman Tribal Company apresenta a Catimbozada no Tribal Fest, sendo, ao
meu vez, um marco histórico e memorável para esse assunto que venho conversar.
Mas, antes da dança trazer
símbolos, mitos e assuntos referentes ao sagrado, evoco a dança como um ato
intimamente ligado ao “algo mais”, para além da própria dança. Dançar é um modo
de estar no mundo. Ao mesmo tempo êxtase [1] e racionalidade. “Não
apenas jogo, mas celebração, participação [...].” (GARAUDY, 1980, p. 13). Nesse
sentido, a dança passa a ser, para além da técnica, uma forma de viver, de
perceber e ser percebido, trazendo a experiência de que o sagrado passa pelo corpo
físico, revelando através do movimento e suas implicações simbólicas, plenas de
memória, uma narratividade que se escreve sem palavras, que a dança é ao mesmo
tempo, ciência, arte e religião.
Shaman Tribal Co.
Vejo
a dança essencialmente como uma forma de comunicação com o mundo e entre
mundos. A dança se faz dança pela percepção do outro, tornando o sobrenatural
presente e o homem potente. O corpo que dança se estabelece como um mediador de
realidades que se constituem em um dado contexto, sendo expressão representativa
de determinada sociedade, fomentando emoções diversas no bailarino que dança e
em quem o percebe, transformando o ato de dançar em uma experiência
fenomenológica. Carla
Brasil desenvolve em São Paulo uma nova linha do Tribal Brasil, trata-se da
Dança Tribal Ritualística Performática. O estilo ganhou projeção nacional,
inclusive através de participação no programa Encontros de Fátima Bernardes, na
Rede Globo de Televisão.
No
vídeo, solo de uma aluna de Carla Brasil, explorando o estilo:
O
estado do corpo que dança plasma em si, no outro que testemunha e no espaço
onde a cena acontece, realidades concomitantes que se estabelecem através de
relações.
Assim,
podemos supor que aquele que dança é o mesmo ator que se percebe a si mesmo,
pois não estão um diante do outro. Em vez disso, são concomitantes em uma mesma
realidade. Desse modo, as sensações que uma dança traz não são nem causa nem
consequência, mas percepção. Da mesma forma, aquele que observa o corpo que
dança, não o percebe apenas com os olhos ou com os ouvidos, ou com qualquer um
dos sentidos, mas o percebe além dos cinco sentidos. Essa relação coloca a
dança como uma experiência mística ou espiritual, para além da objetividade
captada pelos cinco sentidos.
Carla Brasil
Na
Lunay, os temas referentes à mística que permeia as danças populares e
afro-brasileiras é uma tônica. No vídeo, alusão à rainha Nzinga e seu mito:
Tive
a oportunidade de pesquisar os arquétipos de Iansã, Iemanjá e Oxum para compor
três solos distintos. O que teriam tanto em comum esses três trabalhos, além da
matriz Afro? Penso que a simplicidade de aliar o “algo mais” à técnica para
conseguir “arrepiar” os presentes no teatro. Não pelo virtuosismo ou
complexidade, mas pelo contrário, pelo simples. Porque o corpo simplesmente
dança.
Quando esse corpo se move,
no ato da dança enquanto expressão de arte cênica, todo um mundo se move com
ele. A dança é uma das mais antigas formas de comunicação entre o homem e seu
criador. Por esse motivo, muitas das danças tornaram-se sagradas, não pela
dança em si, mas pelo que elas representam. Desse modo, a importância da nossa
vida e possíveis entendimentos de mundo, assim como possíveis entendimentos de
formas estar no mundo, perpassam pela dança. O universo dança constantemente,
pois tudo está ao mesmo tempo em perfeito equilíbrio e em movimento: as
estrelas, as galáxias, os cometas, os planetas e tudo que existe. E porque
estão em movimento e em equilíbrio, estão em evolução – é a dança da vida. Na
natureza, tudo dança. E nessa dança, podemos decifrar os traços dos antigos
valores religiosos.
Referências bibliográficas
ALVES DOS SANTOS, Rosileny. Entre a razão e o êxtase: experiência
religiosa e estados alterados de consciência. São Paulo: Edições Loyola,
2004.
GARAUDY, Roger. Dançar a vida. São Paulo: Nova Fronteira, 1980.
GIL, José. Movimento Total.O corpo e a dança. São Paulo:
Iluminuras, 2004.
[1]
“[...] êxtase é um estado de alegria indizível ou de tristeza profunda. Além de
estado de excitação física generalizada ou estado de apatia extrema, trata-se
de uma comoção psíquica que, dependendo do valor motivacional, exprime sua
intensidade no próprio evento.” (ALVES DOS SANTOS, 2004, pg 38).