por Karina Leiro
Depois de muita teoria vamos à prática!
Eu havia sempre estudado técnicas com repertório bem definido até que fui fazer dança na Universidade Federal da Bahia e precisei rever os meus paradigmas sobre dança. Entrei em contato com a dança contemporânea e me encantei com a liberdade de criação que ela proporcionava, mas sentia falta de poder exercer essa liberdade usando como base não o ballet clássico ou moderno ou as outras técnicas a que os dançarinos de contemporâneo que eu conhecia costumavam recorrer, eu queria usar o flamenco. Dessa inquietação e da necessidade de produzir um resultado em dança contemporânea na universidade, surgiu o vídeo Takatatá, que mostra o meu conflito enquanto dançarina de danças tradicionais que precisava criar um trabalho contemporâneo, falava de tradição e contemporaneidade.
Dancei no interior de um guarda-roupa, afastando as roupas pesadas da tradição para abrir espaço para criar; experimentei possibilidades de sapatear em posições diferentes, quebrando a verticalidade do flamenco tradicional; questionei o que guardamos e o que jogamos fora daquilo que recebemos como tradição. Em Takatatá está a primeira manifestação da minha necessidade de transformar aquilo que estava cristalizado em algo diferente, onde o que estava no meu corpo até então, como técnica muito bem definida, pudesse surgir de outra maneira. O Takatatá passou na seleção do MIV, Mostra Internacional de Vídeo e Dança do Dança em Foco, em 2010, e nesse mesmo ano, tive minha primeira experiência com o flamenco fusion. Eu ainda estava no comecinho dos meus estudos do tribal fusion, que me encantou por ser uma dança étnica contemporânea, que me permitiria a liberdade que havia na dança contemporânea mas que tinha como base as danças étnicas, minha área de maior interesse.
No início do meu processo, busquei ir desconstruindo os movimentos do flamenco tradicional, partindo da pesquisa dos pontos de interseção entre as movimentações da dança flamenca e do que eu havia estudado de tribal fusion até ali. Fui então experimentando, montando e registrando algumas combinações de movimentos. Esse momento foi um despertar para as possibilidades desse trabalho, entre muitos questionamentos, muitas dúvidas e muita vontade de experimentar. Pedi ao Eduardo Bertussi, guitarrista e diretor musical dos meus espetáculos de flamenco que fizesse uma trilha baseado nessa minha perspectiva e inquietação. Sobre a trilha, Eduardo Bertussi diz o seguinte:
“As fontes sonoras utilizadas na primeira parte da trilha remetem aos povos da Ásia, Oriente Médio e África, onde surgem as primeiras manifestações envolvendo a produção dos sons conectados à uma performance de dança, em um contexto puramente ritualístico. Tal contexto, presente como característica essencial em boa parte das construções de tribal, é reproduzido na trilha como preparação para a influência da arte flamenca, representada na segunda parte.”
Dos desdobramentos e do amadurecimento dessa pesquisa inicial surgem:
Uma parte do trabalho Fio do Tempo, concepção de Kilma Farias no qual eu e Jaqueline Lima contribuímos e que foi apresentado pela Cia Lunay no show de Gala do Octubre MEM com Jill Parker no teatro Empire em Buenos Aires em 2011
O meu solo da Caravana Tribal Nordeste 2013 em João Pessoa
E para lembrar de como a inquietação começou: Takatatá