Entrevista #31: Sara Félix


Nossa entrevistada de fevereiro é a bailarina Sara Félix, de Curitiba-PR. Sara conta-nos sobre sua trajetória no tribal fusion, sobre o convite para o The Massive Spectacular, sobre profissionalismo , projetos futuros e muito mais! 
Boa leitura!

BLOG: Conte-nos sobre sua trajetória na dança do ventre/tribal; como tudo começou para você.
Minha trajetória teve início desde o meu primeiro contato cênico, aos 12 anos, quando iniciei com jazz. Comecei a dançar porque procurava algo para ocupar o tempo. Em 2006, ingressei no mundo oriental influenciada por minha querida mãe Marlen Mirta a fazer dança do ventre no estúdio Flor de Lótus, onde conheci Lua Arasaki, esta pela qual dividi muitas informações sobre dança tribal. Eu e Lua iniciamos um estudo árduo em vídeos e obras sobre a dança tribal e criamos o primeiro grupo de estudo no ano de 2008. 


Da direita para esquerda: Sara Félix, Sil Neves e  Lua Arasaki (2009) 
- Teatro Fernanda Montenegro

Um ano depois recebi o convite para participar de uma coreografia de Ana Fávaro, somando então mais uma experiência na minha carreira. Mais tarde me propuseram algumas aulas para eu aplicar, mas a experiência foi negativa, porque não haviam alunas e ainda não havia procura por este tipo de dança. O motivo lógico era o conhecimento restrito da cena tribal na cidade. Percebi, por um instante, que ingressar como professora não teria lógica sem uma disseminação desta linguagem. A partir deste momento passei a buscar meus próprios conceitos e minha maneira de estudar, incluindo métodologias e processos técnicos através de minhas viagens. Procurei me aprofundar e, de alguma forma, me envolver na linguagem alternativa, criando experimentos cênicos. Neste caminho até esqueci que queria ministrar aulas... Relacionei-me tanto com meu próprio corpo que eu apenas queria dançar, estudar e dançar, estudar apenas para mim. Idealizei obras e estabeleci laços com grandes artistas e foi assim que tudo começou...

Sara e Samantha Emanuel
BLOG: Quais foram as professoras que mais marcaram no seu aprendizado e por quê?
Bella Pedroso e Suzi Ribeiro foram minhas primeiras professoras de dança do ventre. Meu impulso para este mundo dançante. Mesmo longe, Suzi sempre me apoiou e me incentivou dando coragem para saltar. Porém, não poderia deixar de ressaltar duas dançarinas internacionais pelas quais sou apaixonada: Samantha Emanuel -  considero uma professora de grande porte, sua leveza e agilidade me inspiram muito e tive o privilégio de estudar com ela em um workshop extenso em Natal-RN, no ano de 2012; Heather Stants  - pela sua didática de aula, esta aproveitei cada minuto em Buenos Aires-ARG, em 2013. 

BLOG: Além da dança tribal você já fez ou faz mais algum tipo de dança? Há quanto tempo?
Tribal fusion já estudo a 7 anos, dança do ventre estudei por 3 anos, jazz por 1 ano e atualmente estou iniciando o ballet. Creio que um bom dançarino não deve ser julgado pelo seu tempo de dança, mas pela sua experiência com dança. Dizer que fiz 10 anos de dança não me vale nada se eu não mantiver meus estudos atualizados.

BLOG: Quais foram suas primeiras inspirações? Quais suas atuais inspirações?
Sinceramente, a arte ampla me inspira. Tudo que está ligado à música me inspira; produtores e platéia me inspiram. Um simples dia de sol me inspira. Zoe Jakes continua sendo minha maior influência. Ela é a razão pela qual eu ingressei nesta viagem, porém, tenho me espelhado em artistas fora desta área, procuro não bitolar em um padrão ou gênero... Mas estar de bem com a vida é minha atual inspiração. Isso me refresca, me estimula e me concentra. 

BLOG: O quê a dança acrescentou em sua vida?
Nossa! Tantas coisas boas... Amizade é uma delas; poucas, mas boas. Pessoas e artistas passaram na minha vida de uma forma marcante. Amo tudo e todos que agregam e acrescentam de alguma forma as minhas obras. Mas acrescentou mesmo um aprendizado sem tamanho, aprendi que o mundo é para todos, aprendi a buscar meus sonhos.

BLOG: O quê você mais aprecia nesta arte?
A adrenalina enquanto nosso corpo se move sem dúvidas me excita... A diversidade e a amplitude, a liberdade de criação e expansão. Aprecio artistas livres de paradigmas com processos artísticos redobrados.

BLOG:O quê prejudica a dança do ventre e como melhorar essa situação? Você acha que o tribal está livre disso?
Competitividade fragiliza qualquer rotina de arte. “Quanto mais o artista se preocupa com a arte alheia, menor será seu processo criativo, menos produção e mais tempo perdido.” Creio que explorar estudos e sair da zona de conforto leva o artista a imersão de seus próprios conceitos, tornando a construção de suas próprias condições. A questão é ramificar a arte em conjunto de maneira que estimule aberturas para dialogar com outros corpos e relacionar a linguagem.

BLOG: Você já sofreu preconceitos na dança do ventre ou no tribal? Como foi isso?
Me lembro de um episódio quando um garoto me abordou minutos depois de eu descer do palco me perguntando se eu fazia uso de entorpecentes para dançar. Então eu me pergunto será que é porque a dança tribal coleciona tatuagens e movimentos hipnóticos ou porque talvez a dança tribal quebrou os padrões? (Risos!!!)

BLOG: Houve alguma indignação ou frustração durante seu percurso na dança?
Uma grande decepção aconteceu no ano de 2013 quando tive meu visto americano negado. Um sonho palpitou meu coração quando recebi o convite de Tori Halfon para participar do The Tribal Massive Spectacular em Las Vegas. Um evento emblemático pelo qual dividiria palco com grandes estrelas do Tribal e ainda participaria das duas semanas intensivas de curso. Infelizmente aconteceu! Estou na terceira tentativa, no entanto, nada mudou. Vejo muitas pessoas torcendo por mim, estou correndo com os papéis, porém sabemos que isso só depende da boa vontade de quem te entrevista. Agradeço a compreensão de Tori Halfon, por esperar o tempo que me for necessário, o convite já está feito e minha vaga está garantida.

BLOG: E conquistas? Fale um pouco sobre elas.
Ter recebido o convite para participar do Gala The Tribal Massive Spectacular por Tori Halfon, já é uma conquista, me sinto vitoriosa por isso. Participar de um evento de grande porte é mais que uma conquista. Receber um convite como este não tem preço!!!

BLOG: Como é ter um estilo alternativo dentro da dança? Conte-nos um pouco sobre isso.
Um estilo, democrático digamos... kkk, um estilo que quer ser tudo ao mesmo tempo! Gosto disso, porque me faz criar, combinar, fazer e desfazer. Gosto do diferente e da imponência que o figurino trás; gosto de confundir os olhos de quem vê. O estilo alternativo trás a possibilidade de mesclar várias culturas, formando, assim, sua referência. O conjunto de tatuagens combinados com figurinos arrojados e modernos criam uma característica estilizada.

BLOG: Como você encara  a cena alternativa inserida no tribal e suas fusões? Na sua opinião, por quê pessoas com um estilo de vida alternativo têm optado mais pela dança tribal, desde a sua criação nos EUA, do que a dança do ventre?
Enquanto dançarina, penso que é um tanto subjetivo. A dança tribal se associa com gêneros subculturais que misturam peças de infinitos conceitos. O visual é irreverente e peculiar, traduzindo aos gostos de quem pesquisa este estilo, tanto estético quanto artístico.

BLOG: Como é o cenário da dança tribal no Paraná? Pontos positivos, negativos, apoio da cidade/estado, repercussão por parte do público bem como pela comunidade de dança do ventre/tribal?


Vejo um cenário pouco ramificado, mas vejo muita sede da arte daqueles que a apreciam. A cidade reverbera com o incentivo da Secretaria do Esporte e Lazer em parceria com a Fundação Cultural de Curitiba. Um programa com o intuito de fornecer a arte da dança para a comunidade, bem como difundir a dança com o meio sócio-cultural. Eu particularmente atingi um público um pouco diferenciado dos demais estilos de dança aqui em Curitiba, este pelo qual capturei dentro das festas de música eletrônica. O retorno foi absurdo... Acertei na mosca! (Risos!!!)

BLOG: Conte-nos como surgiu o Tribal Art Company, a etimologia da palavra, seus integrantes, qual estilo marcante do mesmo e como é o processo de introdução de novos integrantes.

Helinson Palmonari
Tribal= Tribo / Art= Arte. Tribal Art surgiu de um pequeno projeto criado juntamente com meu marido Helinson Palmonari. Este projeto foi testado uma única vez e ,por azar, estamos sem registro! Um projeto com o intuito de improvisação dentro das produções artísticas de Helinson. 


Tribal Art Co.
Anos depois tive a oportunidade de abrir as portas de uma grande realização: o Tribal Art Company, em março de 2014. Ainda ressente e em processo de construção. Busco fortalecer Curitiba espalhando e refinando a arte da minha maneira e no meu estilo.

BLOG: Como surgiu a oportunidade de dançar na Zoominimal e como foi a experiência? Além desse evento marcante, você também participou, em 2011, do Wood Castle. Conte-nos um pouco sobre esse evento também. A proposta deles é semelhante ou diferente? Como um público grande encara o tribal fusion e qual a sensação de saber que você pode ser a primeira vez que aquelas pessoas teríam conhecimento da existência e contato com a dança tribal?


 Zoominimal 2012
Ahhh, gosto muito de falar sobre esta passagem na minha carreira! “Com certeza foi um tiro ao alvo.” Helton Barbarini e Johnnie Barbarini, produtores da Zoominimal, ainda no início de suas carreiras apostaram em uma experimentação de uma das minhas obras favoritas “Subversos”. Não imaginávamos que seria tão enriquecedor. O retorno foi tão positivo e excitante que logo em seguida produtores de outras festas já me contrataram. Com certeza foi um impulso considerável para meu reconhecimento.


Subversos
Posted by Sara Félix on Sábado, 15 de dezembro de 2012


Tive a oportunidade, ainda no mesmo ano, de me apresentar na Wood Castle, em Marilândia do Sul.Neste dia me lembro da pista vazia minutos antes de eu subir no palco...  Cada balanço de meus movimentos eu observava centenas de pessoas curiosas se aproximando, isso me inspira até hoje. Amo tudo isso!!! A proposta da maioria dos festivais são as mesmas. 


Wood Castle (2011)
Neste meio artístico pude estabelecer laços e experiências distintas com grandes artístas. Any Mello é uma vj que levou loops e gráficos de minhas imagens em grandes festivais do Brasil. Muitas pessoas conheceram esta arte através de minhas composições apresentadas neste meio artístico de raves. Por um instante eu me pergunto como eu encaro um público tão grande?! Ambos os lados são emocionantes e dosados com muita adrenalina. Sempre tive um retorno positivo do público e hoje ganhei muitos fãs deste meio.


Se for contar a história de cada edição da Zoominimal, talvez então eu não finalize a história, pois cada uma teve sabores e sensações indescritíveis... Não me recordo de qual foi a mais especial, porque todas foram especiais. Hoje como bailarina residente da Zoominimal, recebo e divido carinhos de fãs e amigos na pista de várias festas.
  
BLOG: A partir de 2012, você vem registrando suas coreografias através de vídeos profissionais, os quais fizeram muito sucesso no Youtube, tanto pelo talento da bailarina quanto pelos recursos de imagem. Nos conte como surgiu essa idéia. Na sua opinião, os vídeos com alta qualidade podem ajudar ou favorecer a dança?  
Hummm... Não digo uma idéia, mas uma necessidade! O capricho de um bom material indica o quão profissional você é. Vejo muitas bailarinas querendo reconhecimento sem se quer investir. Para tudo exige esforço ou investimento, mas quando usados juntos o resultado é melhor ainda. Infelizmente estamos plantados em uma sociedade exigente.

BLOG: Conte-nos um pouco sobre suas principais coreografias. O quê a inspirou para a formulação da parte conceitual e técnica das mesmas, assim como seus processos de elaboração dos figurinos e maquiagens. Como essas coreografias repercutiram na cena tribal? 



Não tenho uma coreografia principal, todas têm suas relevâncias específicas, talvez possa citar a predileta: Collision, produzida em 2013 baseada em cinematografias artísticas de Theda Bara “Cleópatra”, uma épica atriz dos anos 20. Para a formulação de qualquer obra, preciso sentir-me honesta em minha dança, gosto de criar pequenos trechos improvisados e gravando. Meu processo criativo se inicia a partir da música, sem uma ordem eu idealizo através de novos desafios para amadurecer meus conhecimentos. Nesta etapa alinho meus pensamentos e busco apenas o que me pondera. Meus figurinos posso dizer que são retratos das minhas coreografias, todos foram idealizados por mim. Já usei peças de cozinha, de material de construção e até adereços achados em lojas de antiguidade. Já os tecidos, algumas vezes picoto roupas velhas, dou a elas uma segunda vida. Divirto-me muito customizando algumas peças, porém, o que precisa ser feito na máquina Janil Luz faz muito bem por mim. Amo colecionar figurinos e posso dizer que existe um carinho considerável por cada peça.




BLOG: Em 2013, você participou ministrando workshop e dançando no evento internacional Opa Fest, na Argentina. Como foi sua participação e que repercussão você teve pelo público argentino? Quais aprendizados e/ou vivências você adquiriu dançando e estudando nesse evento?
Buenos Aires tem pessoas muito alegres e fui muito bem recebida naquela cidade. Tudo se encaminhou de maneira muito simples, exatamente como deveria ser. Gostei muito da organização do evento, desde o espaço para o work como a recepção de todos na porta do evento. O show em um local muito agradável e mágico, sinceramente gostaria de achar algo parecido aqui no Brasil. Sim cada viagem é um grande aprendizado, muitos a gente anota no caderno e outros apenas na memória... Esses são os melhores.

BLOG: Você é formada em educação física, certo? Como a consciência e conhecimento corporal podem influenciar na dança? Quais são os benefícios da sua formação acadêmica para o tribal fusion e vice-versa?
O curso de Educação Física contempla uma formação humana, científica, técnica, filosófica, anatômica e ética. Sou grata por ter buscado esta área. Muitos conceitos trago até hoje comigo. Tive a oportunidade de instruir-me sobre o corpo humano que através de contato direto e indireto preparei-me para certos cuidados. O que beneficia é estar segura em relação a consciência corporal.

BLOG: Como você define seu estilo?
Prefiro não rotular um estilo, já que a dança está em constante transformação. Eu particularmente prefiro passear nos estilos experimentando distintas linguagens.

BLOG: O quê você acha que falta à comunidade tribal?
Esforço.

BLOG: Como você se expressa na dança?
Expressar apenas na dança me restrita, expresso a dança fora e dentro da dança! Simplesmente respiro dança em tudo que vejo e faço. Até para subir a escada de casa subo dançando... (Risos). Mas enquanto bailarina gosto de manter conexão com o público revelando brincadeiras.

Expresso o resultado de meus sentimentos. Dançar é conexão de sintonias e melodias, é pulsação de dentro para fora, explosão sem limite. É a minha máxima expressão... Inspiro música e expiro movimentos. 

BLOG: Quais seus projetos para 2015? E mais futuramente?
Primeiramente tentar o novo visto americano para conseguir estar presente no The Tribal Massive Spectacular em 2016. São tantas as idéias, porém fica difícil dizer quais eu cumprirei exatamente em 2015. Produzir espetáculo está nos meus planos para este próximo ano.

BLOG: Improvisar ou coreografar? E por quê?
Gosto do processo construtivo, pois força-me a estender minhas habilidades. Viver a liberdade do improviso me deixa acomodada, prefiro a sensação de um trabalho completo.

BLOG: Deixe um recado para os leitores do blog.
Aproveite a arte, ela te concede possibilidades...
Bitolar em um único estilo é simplesmente limitar o seu acervo. Passear por eles faz você ampliar conceitos e descobrir um mundo jamais vivido.



Contato
Tel/cel: (41) 9990-9172
E-mail: s.sarafélix@gmail.com




Influência Cultural Brasileira no modo de ver e expressar o Tribal - Parte 1

por Janis Goldbard



Através dos tempos  percebe-se  como o país possui referências bem embasadas em se tratando da construção conceitual da estética da dança  tribal no Brasil. É certo que a modalidade  é relativamente nova  e que o processo  ainda está acontecendo, mas se observa uma identificação com antigos e atuais ícones da cultura brasileira que  inseriram às suas performances  elementos hoje utilizados no tribal,  ajudando, assim, a personificar certas peculiaridades brasileiras em seus figurinos,  na maneira de dançar e se expressar.

Desde os tempos em que se começa a estudar (observar) moda e cultura tipicamente brasileiros são perceptíveis as influências tanto desses artistas como nos movimentos estético-comportamentais  que  ajudaram a moldar um estilo único de se enfeitar e se movimentar na dança Tribal.

A arte indígena e negra são obviamente as primeiras a serem identificadas pois  possuem a essência e estão inseridas no DNA Brasileiro e naturalmente são  associados ao  material visual de nossa ancestralidade.

No entanto, o primeiro ícone realmente creditado dessa influência estética e de movimentação tribal a qual  podemos fazer uma analogia direta é dado a Carmem Mirandacantora e atriz Luso-Brasileira que fez carreira artística entre as décadas de 1930 e 1950 ,apesar de ter sido hostilizada pelos intelectuais da época, teve seu valor foi reconhecido.


Carmem, com sua graça,versatilidade e um personagem bem construído, conceitualmente representou o Brasil com veracidade e muito amor, sendo até hoje  influência para artistas brasileiros e estrangeiros.


Sua movimentação de mãos e quadris era singular  e de certa maneira hipnotizava o público. Seus turbantes e badulaques são acessórios até hoje lembrados como típicos do estilo Carmem, que  sempre usava muitas joias, pulseiras e colares de diferentes materiais,  ditando assim tendências:  a saia, o turbante e o colorido são vistos  também em vários figurinos de tribal.E está aí uma referência brasileira de nossa estética singular e de nosso  jeitinho de se expressar.

Durante algum tempo da história do Brasil tudo o que se entendia e se apreciava de arte e moda vinha de fora e assim ficou durante longo período até que a Semana de Arte Moderna, no ano de 1922*,  renovou em várias linguagens a maneira de se fazer e entender arte no Brasil, que já não era  apenas  importação. Logo após esse movimento,  o Manifesto Antropofágico(1928)* abriu caminho e a mente para uma procura da identidade brasileira e um resgate da cultura primitiva que deram suporte a uma  conscientização para que houvesse um cuidado maior ao absorver a cultura de outros lugares  e esta não se fizesse mais  de maneira desnecessária, de modo que  a cultura brasileira fosse melhor sentida e estudada.

*pontuando que Carmem Miranda,a Semana de Arte Moderna e  o Movimento Antropofágico aconteceram separadamente.



Desde então, vários grupos e movimentos  deram seguimento a esse pensamento e o povo,  os intelectuais  e os artistas foram firmando conceitos e linguagens de destaque na época e que hoje são referências do Brasil.



Paralelamente, o ícone de Carmem, a semana de Arte Moderna e o Movimento Antropofágico contribuíram para formarem  os pilares para essa conscientização e valorização da Arte Brasileira e toda a crítica era uma maneira bem vista para análise de quem eram e como eram as pessoas da época. Hoje percebemos o quão importante são as representações que temos de nós mesmos, pois são frutos do que estamos produzindo,  a história da arte brasileira e seus artistas ainda tem muito a nos revelar.




Uma Dakini dançante no vácuo

 por Hölle Carogne


Saba Khandroma é uma bailarina argentina, que vem se destacando entre o público “mais dark”, por ter uma veia artística muito visceral e extremamente conectada com o ocultismo. Seu trabalho flerta com vários estilos de dança, percorrendo do Tribal, à Dança Contemporânea e ao Butoh. Nesta entrevista, Saba conta para o público tribal um pouco da sua história de vida e da sua trajetória na dança, bem como revela a sua ligação com o ocultismo e a magia.


Venenum Saltationes: Saba, seja bem-vinda à Coluna Venenum Saltationes. É uma honra ter sua arte compartilhada no meu espaço. Conte-nos um pouco sobre a sua história de vida, falando sobre a mulher, a bailarina e a ocultista Saba Khandroma.

Saba Khandroma: Na minha vida tenho vivido muitas vidas e por isso tive muitas mortes, ou renascimentos... Considero-a como uma constante mutação e por isso gosto de percorrer caminhos diferentes, sabendo que todos são um. Desde criança tenho me sentido atraída pelo oculto, pelo misticismo e pela poesia. Desde então, o mistério me guia. Como mulher eu me sinto parte desse mistério e elevo-o para as estrelas. Meus estudos têm a ver com isto: filosofia, literatura e cinema. E a dança, é claro. Sempre inquieta, mas retraída e rebelde. Eu nunca termino de me encaixar em alguma corrente, então acabo me abrindo para o meu próprio caminho...
  
Venenum Saltationes: Qual foi seu primeiro contato com a dança? E quando decidiu dedicar-se a esta arte?

Saba Khandroma: Meu primeiro contato com a dança foi quando criança, aos 6 anos, com Expressão Corporal, que me deu grande liberdade e conexão com o meu corpo até lugares mágicos.

Depois fiz aulas de Dança Clássica e Jazz, quando criança também, mas a Dança Contemporânea e o Butoh, hoje, alimentam o meu espírito. Em seguida, viria o Tribal e o Dark Fusion na minha vida, apenas há uns quatro anos atrás.

Há mais de dez anos, eu me dedico a performance. Eu acho que não foi uma decisão, mas entrou na minha vida e aceitei-o, adotei-o como um estilo de vida. O meu início foi em cabarés e casas noturnas onde eu ainda continuo atuando.


Venenum Saltationes: A dança é a sua profissão? Ou apenas um hobby e uma filosofia de vida? 

Saba Khandroma: A dança é minha profissão, como performer. E a minha filosofia de vida é vasta e contraditória.
  
Venenum Saltationes: Como você define seu estilo de dança?

Saba Khandroma: O meu estilo de dança? Acho que é experimental acima de tudo, é sempre um “work in progress” performativo.

Venenum Saltationes: É notável uma forte influência de butoh nas suas criações e intenções, algo que admiro e me identifico extremamente. Conte-nos como surgiu essa inspiração e como funciona para você essa fusão.

Saba Khandroma: Butoh é hoje em dia a linguagem em que eu existo profundamente, eu não o escolhi, mas ele sempre foi parte de mim e eu o encontrei novamente. É a transformação de um corpo que não é corpo. Também é a liberdade e a extinção do “Eu”. É a poesia e o sutil, o pequeno gesto latente... Onde se busca com o espírito, onde dançam as forças cósmicas... É um fluir constante.


Venenum Saltationes: Em minha opinião, você tem um excelente gosto musical. Conte-nos um pouco sobre a sua relação com a música e cite alguns dos seus músicos favoritos.

Saba Khandroma: Quanto à música, eu sempre me conecto com peças que despertam ou movimentam o meu interior a partir desse lugar mágico. Meus artistas favoritos:
Diamanda Galas, Neubauten, Daemonia Nymphae, Soriah, Lustmord, Geomatic, Desiderii Marginis, Atrium Carceri, Inade, muito dark ambiente!! A lista poderia ser interminável.
  
Venenum Saltationes: Quais são os artistas que inspiram você?

Saba Khandroma: Essa lista poderia ser ainda mais interminável, mas alguns seriam:
Artaud, Henry Michaux, Deleuze... Especialmente poesia de todos os tempos, os poetas malditos, os Beatniks, Blake, RAW. Poesia japonesa e textos budistas de todos os tempos.
Artistas como Fuyuko Matsui, Bacon, HR Giger, Jean Cocteau . O cinema de David Lyncn e Cronenberg.

Na dança Minako Seki, Katsura Kan, Yumiko Ioshioka, Ko Murobushi; em tribal: Sera Sosltice que é quem eu admiro profundamente... Eu também sinto-me inspirada pelo trabalho de Aepril Schaille e do absolutamente virtuoso Illan.

Silvie Guilleim, a imensa obra de Pina Bausch, Kazuo Onho, Hijikata, Mary Wigman, John Cage.


Venenum Saltationes: Como é o cenário do Tribal na Argentina? E como o seu estilo de dança é recebido pelo público tribal deste país?

Saba Khandroma: Acho que a cena tribal está crescendo rapidamente, mas ainda é pequena e está em evolução. Há pessoas fazendo um bom trabalho a partir das salas de treinamento e cênica. E estão se construindo ligações entre artistas para criar novas possibilidades, isso é algo no que eu estou particularmente interessada. Gostaria de realizar algumas experiências mais como aquela que fizemos este ano com um grupo de dançarinas inquietas tribais, músicos e pessoas de outras disciplinas, onde tiramos o tribal dos cenários para levá-lo numa velha mansão, onde um portal para um mundo onírico foi aberto, numa outra maneira de experimentar a dança, uma obra atravessada pelo surrealismo. Isso foi “Imaginarium”. E no próximo ano vai continuar crescendo e se desenvolvendo, sem dúvida, desde um espaço experimental e de absoluta liberdade criativa graças aos seres que o compõem.

Sobre como são recebidas as minhas performances, não sei, sou pouco ciente disso e prefiro que assim seja, é uma coisa boa no momento criativo. Há pessoas que se sentem inspiradas, pessoas que "mutis pelo fórum", pessoas que acham uma porcaria haha e tudo isso é perfeito.


Venenum Saltationes: É possível perceber no seu trabalho, uma forte conexão com o ocultismo. Conte-nos qual é a sua ligação com a magia. Você segue alguma linha específica?

Saba Khandroma: Minha relação com o ocultismo é natural. E no meu caminho já passei por diferentes escolas de Mistérios do Ocidente, onde estudei e experimentei por algum tempo a magia, com uma base em Gnosticismo Egípcio e Hermetismo. Depois eu cheguei ao Budismo Oriental.
  
Venenum Saltationes: De que forma seus conhecimentos ocultos influenciam na sua vida artística?

Saba Khandroma: Hoje minha busca também esta filosoficamente focada na dança, porque é uma arte efêmera, e por causa disso vital, igualmente à impermanência, que é a realidade subjacente da existência.

Eu gosto de colaborar artisticamente em performances e eventos com amigos de diversas correntes mágicas, e eu me sinto absolutamente em empatia.
A arte como transformação, como um despertar constante...
Você só pode viver magicamente. Sonhos, meditações, tudo está integrado e existe como um contínuo.


Venenum Saltationes: Seus enredos realmente estão impregnados desta filosofia? Ou é apenas a sensação que o público tem ao vê-la dançar?

Saba Khandroma: Sim, eu estou presente em mim, estou testemunhando quando danço.
Minhas histórias são sempre muito imersas, perto do sobrenatural, sempre em busca de algo, são um sinal de pergunta, um transe...
  
Venenum Saltationes: Quando você monta um novo trabalho (peça, coreografia) costuma premeditar todos os simbolismos e a energia que irá inserir na dança ou isso surge de maneira mais instintiva durante o processo de criação?

Saba Khandroma: Acho que as duas coisas acontecem, mas a ordem é aleatória. Quando alguma coisa está nos chamando para trabalhar nisso, desentranhamos mistérios, a viagem é interna, você nunca sabe onde vai chegar. Acho que isso é o melhor: As transformações no processo, a performance é apenas algo mínimo de um trabalho de busca ou reflexão... Por isso estou interessada em ver obras ou peças vivas, experimentais.


Venenum Saltationes: Saba Khandroma é seu nome verdadeiro ou é um pseudônimo? Caso sinta-se à vontade, conte-nos qual o significado deste nome e qual a importância dele para você.

Saba Khandroma: Saba é um diminutivo do meu nome real; e Khandroma é o meu nome mágico artístico, em tibetano significa bailarina atravessando o céu. Uma Dakini dançante no vácuo.
  
Venenum Saltationes: Caos e luxúria. Esses dois termos mágicos estão associados à sua vida? De que forma? Comente à respeito.

Saba Khandroma: Caos e luxúria sempre fizeram especial parte da minha vida, eu assumo o caos como a fonte, é fundamental para entender. Ele é nossa mãe.

E a luxúria... bem, os excessos são os companheiros fiéis de todo verdadeiro buscador, pelo menos eu acho que, como disse Blake "não vai saber o que é o suficiente, até que você saiba o que é mais do que suficiente"... Então tem que experimentar tudo, beber da taça descuidadamente até o final, onde os segredos são revelados. A luxúria pode dar lugar para um estado de contemplação, mas primeiro deve ter sido uma ruína.


Venenum Saltationes: O nome desta coluna é “Venenum Saltationes”, que significa “O Veneno da Dança”. Este termo revela a dança como um entorpecente, um psicotrópico, que altera as percepções físicas e eleva o espírito. O que você pensa sobre este conceito? Você acha que é possível transcender através da dança?

Saba Khandroma: É claro que é um psicotrópico! É absolutamente um meio de alterar a consciência, foi usada na magia desde os tempos antigos e nesse poder reside a sua força. Estou muito interessada no conceito de dança como um tóxico, artistas de todos os tempos sempre foram atraídos às experiências de natureza intoxicante, as drogas e os estados alterados. Em nossa química natural já se encontram todas as drogas...

Em Butoh dançamos através de estados não ordinários, meu desafio é conectar isso com a dança tribal, trazer essa consciência diluída e flexível para uma forma, um corpo arquétipo e ver o que acontece, seguir experimentando... é claro!


Venenum Saltationes: Saba, agradeço a sua disposição em revelar-se e desnudar-se de forma tão intensa e visceral. Admiro muito a sua aura artística e me identifico muito com várias nuances da sua psique. Para finalizarmos, deixe-nos com alguns de seus trabalhos que demonstrem sua ideologia e revelem o conceito mágico por trás da sua dança. Deixe também os seus contatos, para que o público brasileiro possa encontrá-la. Gratidão! 

Saba Khandroma: Minhas performances sempre oscilam entre o misticismo e a mitologia e sou inspirada por divindades de panteões antigos de deuses, como a minha última performance, inspirado por uma divindade tântrica Vajrayogini.

Você e eu temos a energia a ser compartilhada, as mulheres ferozes e profundas em que refletem como espelhos, como Zen diz: "I shin den Shin" - meu espírito ao seu espírito Hölle!

Venenum Saltationes: Um brinde à nossa energia Saba! Um brinde ao nosso espírito e aos nossos instintos! Um brinde repleto dos melhores néctares!





Canal do youtube:


Imaginarium:


Vídeos:








Notícia Tribal: Mais Fala Esme com Turbantes!


O Fala Esme #50 traz a bailarina Esmeralda ensinado novos e lindos modelos de turbantes! Para quem é tribalista, vai adorar as idéias! Vale a pena conferir *---*

E para quem não viu os modelos ensinados anteriormente pela Esmeralda, clique aqui!

Notícia Tribal: Lindsey Stirling no Brasil!


A violinista Lindsey Stirling estará em turnê  pelo Brasil em abril! Ela estará passando por três cidades brasileiras: Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. Os ingressos estarão disponíveis para venda a partir de fevereiro pela empresa T4F (Tickets for Fun).

Se você não se lembra quem ela é, assista ao vídeo abaixo com a música Crystallize, dançada por várias bailarinas de tribal fusion.


Informações:



Lindsey Stirling Official:




[Resenhando-MG] Espetáculo Lilium

por Anamaria e Surrendra




As bailarinas de Minas Gerais, Anamaria e Surrendra realizaram uma resenha super especial para o blog em forma de vídeo! Ela contém pequenas entrevistas com vários bailarinos que participaram do espetáculo, assim como o público, entre eles a nossa querida ex-bailarina Nanda Najlah. Vale a pena conferir!







Teaser:





LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...