A última entrevista de 2013 é com a bailarina Cibelle Souza, de Natal, Rio Grande do Norte! Cibelle é uma das diretoras e coreógrafas da Shaman Tribal Company, que possui núcleos em Natal e Rio Claro-SP. Ela nos conta sobre sua trajetória no tribal fusion juntamente com a da companhia; sobre o Shaman's Fest e seus projetos futuros. Vamos conferir? =)
BLOG:
Conte-nos sobre sua trajetória na dança do ventre/tribal. Como tudo começou
para você?
Comecei a dançar em
2003, dança do ventre, a convite de uma amiga. Passava por uma fase difícil na
vida e achei que era um momento para novos desafios e a dança serviu como uma
luva para este momento, pois ajudou muito a trabalhar minha autoestima, na época,
muito abalada. Estudei dança do ventre por 4 anos, com AiniAshaki, seguindo
por algumas escolas da cidade. Em 2006 conheci o tribal e me apaixonei. Em 2007 passei a trabalhar apenas com o
estilo e, em 2008, passei a integrar a direção da Cia. Shaman Tribal, a
convite da Paula Braz e Ellen Paes.
BLOG: Quais foram as professoras que mais marcaram no seu aprendizado e por
quê?
Em primeiro lugar, AiniAshaki
me marcou muito por me dar todos os nortes na dança oriental. No mundo tribal,
tive a oportunidade de aprender com profissionais reconhecidas mundialmente, entre
elas destaco sempre a Sharon Kihara, por ter sido meu primeiro contato
real com o tribal fusion; a Ariellah, por ter sido aquela que mudou
minha visão sobre o estilo me fazendo pensar no que poderia passar com minha
dança (mais do que técnica corporal) e a Mira Betz, por me fazer re-significar
a minha dança, a artista que existia dentro de mim. No entanto, cada
profissional com quem tive a oportunidade de estudar me ensinou muito, cada uma
a sua forma me fez rever a dança e crescer como profissional, sem dúvida.
BLOG: Além da dança tribal você já fez ou faz mais algum tipo de dança? Há
quanto tempo?
Fiz ballet quando criança, mas apenas por 6 meses. Fora
isso, apenas dança do ventre por 4 anos.
BLOG: Quais foram suas primeiras inspirações? Quais suas atuais inspirações?
Minhas primeiras inspirações foram as mesmas que
acredito terem marcado a maioria das tribalistas, Rachel Brice e Sharon Kihara.
Atualmente, tenho me focado mais em desenvolver meu próprio estilo na dança,
buscando novos caminhos e possibilidades dentro do que minha alma e coração me
pedem, em vez de me basear em alguém específico.
BLOG: O quê a dança acrescentou em sua vida?
A dança me trouxe mais autoconfiança, mais alegria,
mais sentido e paixão para minha vida. Sempre senti um vazio dentro de mim e
hoje sei que esse vazio era a dança.
BLOG:
O quê você mais aprecia nesta arte?
As possibilidades!! Poder me libertar e ser quem eu
quiser através da arte; me desprender dos moldes do dia-a-dia, ser alguém novo
em cada apresentação, cada criação.
BLOG: O quê prejudica a dança do ventre e como melhorar essa situação?Você acha
que o tribal está livre disso?
Acho que a dança do ventre ainda sofre muitos
preconceitos, ainda sendo vista como uma dança sensual ou sexual, acima de
tudo, pela grande maioria das pessoas. Além disso vejo muita competição, muito
ego. Acho que isso mata a arte. No tribal, sinto dizer que tais fatos também se
encaixam, talvez numa menor intensidade, mas estão lá. Acho que é nosso papel
enquanto bailarinas e divulgadoras da dança buscar mostrar que a dança vai além
disso, tanto da sensualidade quanto do ego. Dançar é escrever poesia através do
corpo. No tribal, especificamente, o sentimento de grupo, o coletivo, deveria
vir sempre antes do ego. É uma pena alguns denegrirem o estilo
com picuinhas e individualismo, pois a beleza do tribal está, acima de tudo, no
coletivo, na força que podemos criar juntas ao dançarmos.
BLOG: Você já sofreu preconceitos na dança do ventre ou no tribal ? Como foi
isso?
Só sofri preconceitos no tribal, preconceito este
infelizmente vindo da dança do ventre. Algumas pessoas tem dificuldade em
aceitar o estilo, e tentam denegri-lo por não entende-lo.
Não é uma competição, é uma soma.
BLOG:
Como é
ter um estilo alternativo dentro da dança.Conte-nos um pouco sobre isso.
É como disse acima, algumas pessoas não compreendem
e tendem a jugar mal. Mas até hoje recebi muito mais mensagens de encorajamento
do que o contrário. A grande maioria das
pessoas se fascinam com o novo, então, até hoje acredito que o saldo tenha sido
positivo.
BLOG: Houve alguma indignação ou frustração durante seu percurso na dança?
Acho que frustrações são inevitáveis em qualquer
coisa que você se propor a fazer na vida, pois nem tudo pode estar sobre o seu
controle. Me frustro muito com as questões relacionadas ao ego e
individualismo. Não consigo compreender como a vitória de um pode ser encarada
como derrota de outro. Em se falando de Tribal, estilo que ainda está em
formação e ainda pouco conhecido no país (aqui me referindo ao grande público
das artes em geral, não me resumindo ao mundo da dança oriental), o crescimento
de um deveria ser visto como o crescimento do estilo em si. Acho estupidez
pensar que é uma competição, que preciso me sobressair entre os outros para
receber algum reconhecimento. Há espaço para todos, e digo de novo, juntos
somos mais fortes.
BLOG: E conquistas?Fale um pouco sobre elas.
Minha primeira conquista foi me tornar diretora da Shaman Tribal, sem dúvidas. Posso dizer
que sou muito realizada com a companhia, tanto em questão de crescimento,
quanto em questão de afinidades. O Shaman’s
Fest veio em segundo lugar. Poder organizar o festival, poder proporcionar
às pessoas aulas com profissionais renomadas, que tanto nos inspiramos, é fazer
o estilo crescer no país, e isso pra mim com certeza é uma conquista. O
primeiro Shaman’s Fest, com Mira Betz, foi um desafio dada nossa
falta de experiência. Foi mágico perceber que demos conta, que as pessoas
estavam felizes com o evento, e isso nos deu forças pra continuar. Trazer em
seguida a Samantha Emanuel, e
posteriormente, a Tjarda Van Straten
junto com a Heather Stants (um dos
primeiros e mais importantes nomes do estilo) também foram grandes conquistas.
Atualmente, inacreditavelmente, conseguimos que a Rachel Brice venha em 2014! Ainda estou processando a dimensão
disso, tendo que me beliscar algumas vezes para acreditar que é verdade.
BLOG: Você
foi uma das primeiras bailarinas do Brasil a se envolver com o estilo tribal.
Como eram as informações sobre o estilo na época em que você começou a
pesquisar? Como era visto a dança tribal naquela época e como hoje ela vem se apresentando
na cena brasileira?
Nossa, as
coisas eram bem diferentes. Naquela época, não havia tanta informação, nem
mesmo tanta gente trabalhando com o estilo. Éramos as mesmas poucas meninas
alternativas, sempre nos mesmos poucos eventos, dividindo a pouca informação.
Todo mundo se baseava nos vídeos para aprender um pouco sobre o estilo, o que
nos restringia muito. Não sabíamos ao certo o que era permitido e o que não
era, e todo mundo achava que dançar tribal era dançar como a Rachel Brice. Lembro vividamente do
primeiro momento de libertação que vivi, quando vi a Sharon Kihara (a primeira superstar
a vir para o Brasil, através da Bele
Fusco) usar a Cia. Halim como
exemplo do que era tribal. A Halim já
se diferenciava de todo mundo na época, por acrescentar outras danças à sua
fusão. E o pior é que elas eram criticadas, por
não ser cópia da Rachel Brice. Ouvir
a Sharon usá-las como exemplo, me fez
enxergar o real sentido do tribal, e me fez querer estudar ainda mais.
Hoje em
dia a informação é bem mais acessível. Temos vários organizadores trazendo os
mais distintos bailarinos, facilitando às pessoas estudarem com aqueles que
mais lhe inspiram. Além disso, muitos vídeos didáticos foram lançados, para
aqueles que não tem acesso aos workshops. A própria Rachel Brice inovou, colocando aulas online para que as pessoas
pudessem estudar com ela e outras grandes bailarinas, ainda um pouco
inacessíveis. É tudo muito compartilhado, o que faz com que o estilo esteja
crescendo rápido.
A única coisa
que percebo que era melhor (se é que posso usar essa palavra) naquela época, é
que as pessoas tinham mais fome de estudar, uma vez que o conhecimento era tão
raro. Atualmente, tenho a sensação que as pessoas estudam com um profissional
ou outro, e já se consideram prontas, sem necessidade de estudar mais. Creio
que tais pessoas ainda não tiveram aquele “click” que tive com a Sharon, e ainda não perceberam que
estamos em constante evolução, e que este processo é coletivo, não individual.
BLOG:
Conte-nos como surgiu a Cia Shaman, a etimologia da palavra,
seus integrantes, qual estilo marcante do mesmo e se ele sofreu alguma
mudança estrutural ou de estilo desde quando foi criado até agora.Como é o
processo de introdução de novos integrantes? A propósito, a companhia era
conhecida na forma brasileira “Xamã” e em 2012 vocês alteraram o nome para
“Shaman”, algum motivo especial com relação a mudança?
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Ellen Paes, Paula Braz e Cibelle Souza |
A Cia. Shaman nasceu em 2006, em Natal, num projeto piloto da Paula Braz com a Ellen Paes. Nasceu como um brincadeira, uma necessidade das meninas
de dançar o estilo, como disse, ainda tão desconhecido por todas nós. O nome
surgiu da Bartira, nossa própria
xamã, que o sugeriu tendo em vista uma de nossas propostas, a de trabalhar com
o sagrado feminino e as danças ancestrais. Eu era amiga da Ellen fora do mundo da dança, e quando ela me apresentou a Paula, vimos que havia uma conexão de
vidas ali. Antes mesmo de eu entrar, elas juntaram algumas
amigas do ventre que também se fascinaram com tribal e fizeram uma
apresentação. As integrantes da época eram a Paula, Ellen, Janine, Bartira e Vivian.
Janine infelizmente precisou mudar de
cidade, e eu entrei logo depois na direção. Na mesma época a Regina Silva, passou a fazer parte do
corpo de baile.
Como a vida é inconstante, passamos já por várias
mudanças de corpo de baile, pois algumas meninas saíram da cidade. A Ellen mudou-se para o Rio de Janeiro e, infelizmente,
afastou-se da dança. Lembro o quanto esse processo foi sofrido para ela e para
nós. Na mesma época a Paula mudou-se
para São Paulo e eu me vi sozinha como diretora pela primeira vez, o que foi
muito desafiador. A Paula decidiu
continuar com o trabalho e abrimos um núcleo em Rio Claro, com a Gabriela Góes, Jamille Berbare, Paloma
Maioral e Ludmila Rentas. Uma vez
que nos vimos com dois núcleos, vimos que a coisa estava ficando séria e
passamos a adotar um sistema de audição para compor o corpo de baile. Através
das audições aqui em Natal, a Priscila
Miranda, Cris Dantas, Te Gio e Luana Alves passaram a compor o núcleo, junto com a Regina Silva e Tatiana Minchoni, que já faziam parte da cia. Outras pessoas
queridas são partes constituintes de nossa história e para sempre parte de
nossa família, como Iara Marzocchi,
nossa dj, e Ana Harff. Atualmente
temos conseguido trabalhar os dois núcleos juntos, de forma concisa, tendo como
corpo de baile “Brasil”: Cris Dantas,
Priscila Miranda, Luana Alves, Te Gio,
Tatiana Minchoni, Márcia Carvalho, JamilleBerbare, Gabriela Góes e Paloma Maioral. No entanto, estamos
abrindo audição no fim do ano e provavelmente essa família só tende a aumentar!
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Núcleo RN |
Apesar do nome, nossa proposta nunca foi algo
resumido em um único olhar, sempre quisemos nos permitir dar forma ao universo
feminino, nas mais variadas visões. Tanto que na época também desenvolvíamos um
trabalho fusionado com o burlesco. Então, costumamos dizer que não temos um
estilo único, mas um estilo próprio, que abrange tudo aquilo que possamos nos
permitir.
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Núcleo SP |
O nome mudou quando passamos a ter muito contato com
pessoas de fora do país, e tínhamos sempre que explicar o significado da
palavra. Internacionalizamos o nome para facilitar tais contatos. Até hoje tem
gente que nos diz que preferia como era antes, como por exemplo, a Mira Betz. Porém, desde que
internacionalizamos o nome, nunca mais precisamos explica-lo, o que facilitou
bastante nossa vida. (rs)
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Shaman Tribal Co. |
BLOG: Em 2008, a Cia Shaman realizou seu primeiro espetáculo, Las Nieblas, gostaria que comentasse um pouco sobre a idéia do espetáculo, o quê inspirou vocês para a
formulação da parte conceitual e do roteiro do mesmo, e qual é a história por
de trás dele? Como foi o processo de
elaboração das coreografias e figurinos, bem como sua repercussão?
Sempre
achamos que as pessoas se limitam a apresentações em mostras, quando o assunto
é tribal; enquanto outros estilos de dança como balé e dança contemporânea
tentam fazer discursos mais longos através de espetáculos. Para nós, o tribal é
tão complexo como qualquer outro estilo.O Las
Nieblas surgiu através da nossa necessidade de fazermos algo mais complexo,
pois queríamos falar um pouco mais, trazer um discurso mais completo como
acontece nos outros estilos.
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Espetáculo Las Nieblas |
O
conceito foi voltado para a ancestralidade e as várias formas de pensar o
feminino. Queríamos fazer um passeio entre os conceitos do antigo e do novo,
tão presentes no estilo, e através dele fazer as pessoas conhecerem um pouco
mais e se familiarizarem com nosso universo. As coreografias e os figurinos
foram criados sobre a base do sincretismo e bricolagem, buscando passar tais
referências. Todas as coreografias, bem como a direção, foi compartilhada por
mim, pela Paula e pela Ellen. A repercussão foi maravilhosa,
uma vez que conseguimos com ele colocar o tribal no mapa da nossa cidade, além
de abrir portas no mundo tribal.
BLOG:
Em 2009, a Cia Shaman teve uma
segunda formação em Rio Claro(SP), sob direção de Paula Braz.Como são os trabalhos desenvolvidos em conjunto com a Cia Shaman SP e como é essa extensão do trabalho
realizado pelo grupo original e com a segunda formação? Onde os grupos
convergem entre si e em quê quesito eles têm autonomia?
De início foi um pouco difícil,
dada a distância entre os dois núcleos. Paula
e eu nos reuníamos pela internet para discutirmos os rumos que queríamos dar ao
trabalho. Desenvolvíamos trabalhos em separado porém sempre afinados através de
nossas conversas e sincronia de almas. ( rs)
Atualmente,
conseguimos desenvolver estratégias para que possamos trabalhar como um todo,
juntas, a maior parte do tempo. De tempos em tempos viajo pra São Paulo, e a
Paula para Natal, para trabalharmos em criação e direção juntas, unindo com as
meninas. Temos trabalhado conceitos e dividido tarefas, e felizmente temos
conseguido fazer o trabalho de forma mais concisa. Temos autonomia em criação
também, diante das necessidades de cada núcleo, no entanto, tudo é muito bem
conversado entre mim e a Paula,
mantendo sempre o mesmo norte entre os núcleos.
BLOG: Você e a Cia Shaman possuem um estilo tanto voltado para uma dança
ritualística, tendo as danças populares brasileiras como base, quanto uma dança
mais vintage e teatral, oras alternando com o dark fusion, emanando muita força
de presença de palco e expressão. Gostaria que comentasse um pouco sobre cada
sub-estilo e como surgiu a afinidade por tais fusões.
Acho que
a nossa afinidade por estes sub-estilos sempre existiu dentro de nós. Falar
sobre a ancestralidade e o uso da danças populares sempre nos pareceu algo
óbvio, por serem partes constituintes de nós, da nossa cultura pessoal (digamos
assim). Trabalhar com expressão também sempre nos foi natural, pois realmente
acreditamos que antes de bailarinas de tribal fusion, somos artistas, e temos a
obrigação com nosso público de causar sensações com nosso trabalho. Vemos a
dança de forma muito ampla, não só como a junção de movimentos, mas como uma
oportunidade de falarmos sobre algo que nos toca, e através dela tentar tocar o
outro também. Essa afinidade a que se refere, vem de dentro pra fora, não é
algo forçado, nem forjado. Nossa escolha, seja por músicas, figurinos, fusões
étnicas, é muito intrínseca, é verdadeira e sincera. Fazemos o que amamos, como
disse antes, sem muitas limitações ou preocupações com onde nós devemos nos
encaixar.
BLOG: Como
é o cenário da dança tribal no Rio Grande do Norte,na época em que você começou
com a dança por lá e como ela é agora? Pontos positivos, negativos, apoio da
cidade, repercussão por parte do público bem como pela comunidade de dança do
ventre/tribal?
Quando começamos era muito difícil.
As pessoas ainda não sabiam do que se tratava, e as bailarinas do ventre tinham
muito preconceito. Tínhamos poucas oportunidade de apresentação, daí a nossa
necessidade de fazermos nós mesmas as nossas oportunidades. Atualmente,
conseguimos um espaço reconhecido por aqui. As pessoas que não gostavam do
estilo passaram a respeita-lo e até mesmo a gostar dele. Conseguimos
reconhecimento da cidade em outras esferas artísticas, dentro do teatro, música
e dos outros estilos de dança, além de reconhecimento maior da nossa sociedade
e de outros lugares do país também.
BLOG: Em
2010 você participou da Cia Dancers South America(DSA), como uma das bailarinas do corpo
inicial de tribaldancers, dirigida por Adriana Bele Fusco. Como
surgiu a oportunidade de fazer parte do DSA ? Comente como foi a experiência de dançar em grupo tão
diversificado em modalidades de dança e em proporção de projeto? Como foi sua
contribuição para o espetáculo de 2010?
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DSA - 1ª formação |
Essa experiência foi única. Recebi o convite da Adriana por e-mail
e fiquei muito feliz de ter sido um dos nomes cotados por ela. A proposta de
juntar-me a outras bailarinas que não só a minha própria companhia foi bastante
intrigante. Senti-me extremamente lisonjeada com a oportunidade e não pensei
duas vezes antes de aceitar. Passei 20 dias em São Paulo, largando tudo por
aqui, e até hoje acredito que foi uma das melhores coisas que me permiti fazer.
Fiz grandes amigas, pude entender a dança sobre a ótica delas também, e isso me
acrescentou muito enquanto bailarina. Estudar as coreografias por vídeo foi
bastante desafiador, mas também um crescimento grande.
BLOG:
Em 2010 o evento Caravana Tribal
Nordeste(CTNE), esteve sob direção e
produção sua , de Bela Saffe, Kilma
Farias e Aquarius Tribal Fusion (ATF).
A partir de 2012, a Cia Shaman toma rumos próprios, com a produção do
Shaman’sFest. Como foi participar da CTNE? Como eram as interligações entres as
quatro cidades sedes? A experiência de
realizar este evento foi importante para a realização do seu próprio evento,
juntamente com Paula Braz?
A CTNE
foi outro grande presente que recebi da vida. Já tinha muita afinidade com as
meninas da Cia. Lunay pois já
dividíamos esse interesse de fusionar o tribal com as danças populares e,
através deste projeto, pude conhecer e me aproximar da Bela e das meninas do ATF. Nós crescemos muito neste projeto, que
era fundamentado na partilha de conhecimentos entre os grupos. Tínhamos a
proposta de organizar workshops entre os grupos e de oferecermos workshops das
danças locais para os outros grupos também. A CTNE veio para fortalecermos a
fusão com as danças populares e criarmos nossa própria fusão. Acredito que este
projeto foi fundamental para colocar o nordeste no mapa do mundo tribal no
país, que antes era muito centralizado no sudeste.
Com
certeza, ser parte da produção da CTNE fez diferença para mim, para que pudesse
produzir nosso próprio festival, pois me trouxe alguma experiência no que diz
respeito a produção. Inclusive, o primeiro Shaman’s
Fest foi em 2011, trazendo Mira Betz
junto com a CTNE Salvador, organizado pela Bela
Saffe, o que facilitou e uniu os dois projetos neste processo de trazer uma
superstar.
BLOG:
Você é produtora do evento Shaman’s Fest, juntamente com Paula Braz, que se destaca no Nordeste
e é um dos principais eventos de dança tribal do Brasil. Conte-nos como surgiu
a idéia do evento, sua proposta e objetivos, organização e elaboração deste,bem
como a repercussão do mesmo para a comunidade tribal quanto para seu
público. O evento , desde 2012, vem trazendo bailarinos
internacionais. Esses artistas comentam sobre as fusões brasileiras que
assistem nos eventos? Qual a reação deles com relação ao Tribal realizado no
Brasil ?
O Shaman’s Fest é um capítulo a parte da
minha história e na história da Shaman.
A idéia veio do núcleo de São Paulo, que tinha acabado de estudar com a Mira em Buenos Aires, que queria muito
ter a oportunidade de estudar de novo com ela e de proporcionar aos outros tais
conhecimentos. Foi quando em 2011, conversando com a Bela, percebi que tinha a real possibilidade de trazê-la juntando
os dois projetos, a CTNE e Shaman’s Fest.
Ficamos extremamente realizadas ao perceber que a coisa tinha dado certo, que
tínhamos conseguido atingir os objetivos, tanto de crescimento da cia. quanto
de partilhar com outros bailarinos os conhecimentos de alguém que admirávamos
tanto.Percebemos
aí que poderíamos continuar com o projeto, melhorá-lo, aperfeiçoá-lo. No
segundo ano, pensamos em trazê-lo para Natal, pois a quantidade de eventos no
sudeste era muito maior do que o era oferecido por aqui, e queríamos balancear
as coisas, além de que a ideia original sempre foi fazê-lo entre os dois
estados em que a cia. tem núcleos.
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Samantha Emanuel e Cibelle Souza |
Trazer a Samantha para Natal foi muito
realizador, particularmente para mim, pois admirava muito seu trabalho, e hoje
posso dizer que ganhei uma amiga de verdade (o que ainda é surreal para mim,
dada a dimensão da admiração que tenho por ela). Este ano pudemos realizar um
sonho antigo de trazer duas bailarinas que tiveram papel muito forte para o
trabalho da Cia. Shaman, a Heather Stants e a Tjarda. Sabe os vídeos que falei que ficávamos estudando? Pois bem,
boa parte deles eram vídeos dessas duas. Tê-las aqui conosco foi mágico, por
sua simplicidade, profissionalismo e aulas maravilhosas. Ficamos todas
encantadas com as duas.
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Shaman Tribal Co., Heather Stants e Tjarda - 2013 |
Nosso
maior pagamento é ver que as pessoas que passaram por nossos eventos até hoje,
sempre nos escrevem depois com palavras de amor e gratidão, sejam elas alunos
ou os próprios professores. Isso, sem dúvida, faz com que continuemos
trabalhando, achando que estamos indo no caminho certo.
As
bailarinas internacionais sempre ficam encantadas com o tribal no Brasil. Todas
elas sempre falam do quanto somos fortes, concisas, originais aqui no país. A Samantha chegou a postar nas redes
sociais que o mundo devia manter os olhos abertos para o que acontece aqui. Nós,brasileiros,
precisamos aprender a valorizar o que temos, pois acreditem, somos fortes!
BLOG:
A
coreografia Carcará teve uma boa
repercussão no meio da dança nacional e internacional, em 2011. Conte-nos o quê
a inspirou para a formulação da parte conceitual e técnica desta coreografia.
Como foi o processo de inspiração e elaboração dos figurinos e maquiagens. Como
a coreografia repercutiu na cena tribal?
Até hoje me surpreendo com tal repercussão.
Ouvindo as músicas que a minha querida Bela
Saffe havia me passado, me deparei com essa música e achei que ela tinha
grande potencial. Em viagem para São Paulo, para trabalhar com a Paula, mostrei pra ela e tivemos quase
que instantaneamente a ideia do conceito. Conversamos muito, como sempre, sobre
como poderíamos trabalhar com a música e que tipo de movimentos poderíamos usar
para passar o que nos inspirou inicialmente. Infelizmente, nosso tempo sempre
curto não nos permitiu que terminássemos a criação juntas.
Voltei pra casa com
a cabeça cheia de idéias, com muita coisa fresca ainda da CTNE, com o conceito
já todo concebido junto com a Paula,
e praticamente “pari” a coreografia em 3 dias. Durante esses 3 dias, fiquei
imersa nesse universo, e tudo foi se juntando sozinho, sem muito esforço.
Dançando enquanto criava, senti como a roupa precisava ser. Havia visto o “Cisne
Negro” há algum tempo, e achei que era uma ótima referência para a maquiagem.
Fiz alguns testes e percebi que precisávamos ter algo em nossas cabeças, que
nos fizesse mais bichos e menos bailarinas. E assim ela nasceu!
Acredito que as pessoas apreciaram muito o
trabalho. Até hoje, dois anos depois, ele é referência de nosso trabalho, e as
pessoas pedem por ele em nossas apresentações. Tivemos o prazer de receber
comentários positivos de grandes nomes da cena internacional, como Ariellah, Lady Fred e Samantha. Muito surreal perceber que
algo feito de forma tão despretensiosa chegou tão longe.
BLOG:
Entre 2011 e 2013, vocês já estiveram em
eventos internacionais na Argentina e no Chile, como Opa Fest e MEM. Qual retorno
e repercussão você teve pelo público sul-americano? Quais aprendizados e/ou
vivências você adquiriu dançando e estudando nesses países? Conte-nos um
pouquinho sobre cada evento e suas principais características e o quê você mais
gostou deles.
Trabalhar fora do país é outra coisa que não
acreditava que viesse tão cedo. Sempre fomos muito bem recebidas e bem tratadas
pelos nossos vizinhos sul-americanos. Fiquei encantada com a seriedade que eles
dão à dança, à garra e dedicação para os estudos. Não existe “corpo mole”
nesses eventos, e o pessoal dança o dia inteiro, se dedicando igualmente a
todas as aulas, não importando se a aula é de alguém reconhecido ou não.
Aparentemente, nosso trabalho foi muito bem
recebido, uma vez que recebemos convite de retorno para ministrar workshops.
Também posso dizer que fizemos grandes amigos fora
do país, o que pra mim sempre é recompensador.
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Shaman Tribal Co. -2013 |
BLOG: O Nordeste é uma das regiões mais
ricas e criativas na dança tribal, mesmo estando distantes do Sudeste que,
geralmente, é o porto das principais informações e workshops. As bailarinas são
muito técnicas e as coreografias muito bem desenvolvidas. Na sua opinião, o quê
se deve esse destaque na dança tribal nordestina? Vocês realmente estão mudando
a rota de eventos da dança tribal, tirando o enfoque do Sudeste e traçando uma
rota para o Nordeste, através dos eventos internacionais e o alto nível técnico
que vocês vêm apresentando. Gostaria que comentasse um pouco esse processo na
dança tribal no Nordeste Brasileiro.
Acho que o nordeste é
culturalmente e historicamente acostumado a ser negligenciado e subestimado, e
isso fez com que sempre precisássemos lutar pelo nosso lugar ao sol. Não
acredito que aqui ou no Sudeste as pessoas sejam mais fortes ou mais fracas.
Acredito que bons bailarinos e bons profissionais estão presentes em todos os lugares,
basta que as pessoas dêem atenção para o que está acontecendo ao redor. Como
tudo sempre aconteceu pelo Sudeste, as pessoas não notavam muito o que
acontecia por aqui. Só que alguns grupos, como a Shaman, a Lunay, a Bela e o Kairós, o ATF,
resolveram, como todo nordestino, não desistir da luta e “cavar” seu próprio
espaço. Lógico que não foi fácil, nem continua sendo. Ainda deixamos de nos valorizar diante das circunstâncias . Mas a luta é diária, de aprimoramento, estudo, dedicação e
trabalho árduo. Somando isso tudo com respeito ao próximo (pois lutar não
significa atropelar ninguém), acho que é a receita certa para crescermos.
BLOG:
O quê você mais gosta no tribal fusion?
Das possibilidades. São infinitas e sempre
renováveis.
BLOG: O quê você acha que falta à comunidade tribal?
União! Mais respeito e consideração por aqueles que
não estão apenas brincando, mas sim, trabalhando duro. Mais cuidado uns com os
outros. Apesar de que, acredito que aqueles que não prezam por estes critérios
são minoria, e estão nadando contra a maré.
BLOG: Como você descreveria seu estilo?
Dança étnica contemporânea.
BLOG: Como você se expressa na dança?
Tento deixar que a dança se expresse através de mim.
Não existe “eu” enquanto danço.
BLOG: Quais seus projetos para 2013? E mais futuramente?
Queremos abrir novas audições para crescer nosso
corpo de baile. Queremos colocar em prática um novo espetáculo, desta vez de
forma mais profissional e concisa, com toda a companhia, e quem sabe, fazer uma
turnê com esse trabalho.
BLOG: Improvisar ou coreografar?E por quê?
Para mim, coreografar. Admiro muito aqueles que trabalham com
improvisação, pois pra mim é sempre muito difícil. Sou perfeccionista e
detalhista, e tenho que saber o que vou fazer, quando e como, para que me sinta
confiante em realizar o trabalho.
BLOG: Você trabalha somente com dança?
Atualmente, sim. Sou psicóloga formada e
pós-graduada. Trabalhei com psicologia por muitos anos, em clínica e na
psicologia social com a ressocialização de adolescentes em conflito com a lei.
Era algo que amava fazer, principalmente, o trabalho social. Mas senti que a
dança precisava que eu me dedicasse mais a ela, e tive que escolher. Entre os
dois, decidi pelo que eu não conseguiria mais viver sem. A dança ganhou de
primeira.
BLOG: Deixe um recado para os leitores do blog.
Acredite no seu
potencial, mas nunca deixe de estudar. Todos os dias podemos aprender e
crescer, principalmente se você se permitir somar, em vez de subtrair . Respeite
os outros como você gostaria de ser respeitado. Trate as pessoas com a mesma
delicadeza que gostaria de ser tratado. Crie compromissos com você mesmo, e
faça seu trabalho diariamente, com amor e paciência consigo mesmo. Saiba que se
alguém conseguiu algo que você ainda não conseguiu não foi por incompetência
sua, e que o mérito do outro não diminui em nada o seu trabalho. Às vezes é
sorte, às vezes não, mas por via das dúvidas, trabalho honesto é e sempre será
o melhor caminho. Liberte-se de suas amarras, dançar é recriar-se!
Contato