Entrevista #6: Gabriela Miranda


Neste mês teremos a presença da bailarina Gabriela Miranda, que é gaúcha, de Tramandaí, Rio Grande do Sul. Uma entrevista muito expressiva em seus detalhes! Gabriela conta-nos sobre a forma que encara a dança, sobre sua personalidade e gostos inseridas na mesma e também seu percurso profissional. Vamos conferir?

*** Entrevista atualizada com novas perguntas! (27/06/2015)***

BLOG: Conte-nos sobre sua trajetória na dança do ventre. Como tudo começou para você? 
Eu comecei a dançar ainda pequena, no início das minhas atividades escolares. Não me lembro de não dançar. Eu fazia aula com uma professora que dava movimentos de street dance e jazz na minha própria escola. Não durou muito tempo, mas as minhas professoras de Artes sempre me incentivaram a dançar depois disso,pois eu fazia coreografias para minhas colegas, juntas criávamos números para outras disciplinas como matemática, por exemplo.Eu sempre estive nos grupos de teatro e dança da escola. Aprendia muito e criava muito também. Era muito divertido! Depois conheci a Dança Cigana e comecei a estudar por conta própria. Mais tarde, pelos meus 10 ou 11 anos, me interessei por Dança do Ventre e também comecei a estudar por conta própria também. Fiz meu primeiro workshop com essa idade, pois na minha cidade não havia professoras com aulas regulares (eu cresci numa cidade bem pequena no litoral gaúcho, chamada Imbé).

Pelos meus 14 anos, conheci minha primeira professora regular de Dança do Ventre e minha grande mestra na dança, Rôsmary Lisboa Lopes, ela havia recém se mudado para minha cidade e eu, imediatamente, comecei a ter aulas regulares com ela duas ou três vezes por semana, sempre que eu podia. Em 2004, ela me pediu para começar a substituí-la nas aulas quando ela fosse viajar e, assim, comecei a dar aulas sob a sua supervisão. Ela foi e é realmente importante para mim porque suas aulas eram muito especiais. Ela sempre preferiu se manter fora do meio competitivo da dança e sempre encarou a Arte como uma forma de expressão mesmo, e não como algo lucrativo ou competitivo. Suas aulas não tinham espelho - ficávamos em círculo - e eram centradas no autoconhecimento. Ela me ensinou a enxergar a dança como algo natural, algo que vem da alma. Paralelo a isso, comecei a ir para Porto Alegre fazer workshops e aulas com outras professoras. Fiz um curso para professoras com a Brysa Mahaila que me acrescentou muito! Comecei a dar aulas em diversas escolas de dança e academias da minha cidade e cidades vizinhas. Foquei a minha vida na dança desde muito cedo. Mas encarava como algo que eu amava, não necessariamente a profissão que eu iria seguir. Até por isso fiz graduação em Psicologia, pensava em trabalhar como psicóloga e continuar com a dança como algo paralelo, pois não acreditava que fosse possível viver somente de dança, e nem era algo que eu queria naquela época.

Em 2006, eu conheci as fusões através de um vídeo da Ariellah... Eu sempre fiz parte de um meio mais alternativo e sempre ouvi muita música Dark, Gótica, EBM, 80's, Heavy Metal em geral, então comecei a procurar por fusões góticas na internet. Quando eu descobri que existiam, e mais, que existia todo um seguimento para essa dança, eu SURTEI! O primeiro vídeo que vi foi um da Ariellah Aflalo e mudou minha vida, sem exageros! Quando assisti vídeos de Fusão e depois de Tribal Fusion, eu me senti em casa! Era aquilo que eu sempre quis fazer e nem sabia! Nessa época eu já tinha todos os piercings que tenho hoje e muitas tatuagens, então, cada vez que ia me apresentar em festivais de Dança do Ventre o povo me olhava meio estranho. Veja bem, isso há vários anos atrás e no Sul, onde o povo não é tão liberal como em São Paulo. Imediatamente eu comecei a estudar os movimentos por conta própria, pois, de novo, não havia professoras na minha cidade. Um ano depois comecei a me aventurar a fazer solos e a acrescentar os movimentos de Tribal nas minhas aulas de Dança do Ventre. Minhas alunas gostaram tanto que montei minha primeira turma de Tribal Fusion e, em seguida, inserimos o estilo no nosso grupo de dança. As turmas de Tribal só aumentaram e passei a dar aula do estilo em outros lugares, além da minha cidade. E nos dois anos seguintes eu gradativamente larguei a Dança do Ventre e comecei a focar somente no Tribal.

Em 2008, fiz aula com Ansuya Rathor e com Bárbara Kale, bailarina de Tribal Fusion e ATS® do sul, que dançou em Chicago com o Read My Hips. Essas aulas foram um divisor de água na minha carreira. Ansuya ensinou fusões e até um pouquinho de Tribal, além de arrasar num work de snujs. Com a Bárbara foi apenas um workshop de ATS®, mas abriu a minha mente de um jeito incrível! Comecei a estudar o ATS® mais profundamente paralelo ao Fusion e achei a origem de diversos passos que as bailarinas que amo usavam e eu não sabia direito da onde vinham. Eu estudava o Tribal como um todo e, a partir daí, comecei a estudar ATS® e Fusion separadamente, mas de formas complementares, e isso moldou a minha dança, me dando uma base sólida para meus experimentos de Fusão.

Em 2009, vim para São Paulo, para o Encontro Internacional realizado pela Bele Fusco, conhecer a minha maior inspiração: Ariellah Aflalo. Ela é realmente importante para mim porque foi o vídeo dela que deu rumo para a minha dança. Fiz aula com Sharon Kihara, Mardi Love e, claro, com Ariellah. Conversei muito com ela e me senti extremamente feliz em saber que além de ser minha bailarina favorita, ela é um ser humano incrível! Desde então não a larguei mais e faço aula com ela sempre que posso. Nós mantemos contato sempre e ela se tornou minha mestra, minha guru na dança... Corro pra ela sempre! Depois de alguns meses me mudei para São Paulo, por motivos amorosos, e começou um novo capítulo no Tribal para mim. Desde então, conheci muita gente legal, viajei bastante e fiz aulas com pessoas incríveis, entre elas: Mira Betz (que junto com a Ariellah está no topo da minha lista de inspirações), Lady Fred (idem, uma pessoa e professora incrível!), Heather Stants, Moria Chappell, Kami Liddle, Sônia Ochoa, Tjarda Van Straten, Rachel Brice, Carolena Nericcio-Bohlman, entre outras diversas gringas e brasileiras, porque gosto muito de fazer aula com minhas colegas também. Temos tantas profissionais incríveis no país, que não perdem em nada para as de fora... Temos profissionais valiosas aqui! Vale a pena investir em aulas com as nossas bailarinas... Do Tribal e da Dança do Ventre! A cena aqui esta se fortalecendo cada vez mais e já é muito rica!

BLOG: Quais foram as professoras que mais marcaram no seu aprendizado e por quê?

Rôsmary Lisboa Lopes - por ter fundamentado a minha dança e a minha didática.

Ariellah Aflalo - por ter sido a primeira que assisti de Fusion e por ter compartilhado tanto conhecimento comigo também depois que a conheci pessoalmente.


Mira Betz - pelos ensinamentos que levei para minha vida, além da minha dança.


Lady Fred - por ter me ensinado tanto em tão pouco tempo de convivência.

Kami Liddle - por me ensinar que toda bailarina é uma eterna estudante.





Heather Stants e Tjarda Van Straten -  por me ajudarem a entender mais sobre Dança e sobre processo criativo.


Rachel Brice - por me ensinar que ser profissional não é deixar de ter um lado gentil e humano.

Carolena Nericcio-Bohlman -  por seu amor ao que faz.

Mariana Quadros  - pela ajuda quando me mudei para São Paulo, pelo incentivo ao meu trabalho e ensinamentos enriquecedores. Só postei meu primeiro vídeo no youtube por causa dela! Hehehe

São tantas... com cada professora que estudei aprendi algo de valioso que guardo com carinho.

BLOG: Além da dança do ventre você já fez ou faz mais algum tipo de dança? Há quanto tempo?
Paralelo a dança do ventre eu sempre fiz outras danças: Street dance, Ballet, Flamenco, Dança Indiana (Odissi), Dança Africana, Dança Contemporânea e me formei em Dança do Ventre, é claro.

Fiz Street quando pequena e em aulas espaçadas depois de velha (hehehe); ballet clássico, um ano ou dois, muito menos do que gostaria; parei quando me mudei para São Paulo, um dó porque estava fazendo ponta. Flamenco fiz alguns meses. Dança Indiana (Odissi) e Africana fiz somente workshops; Dança Contemporânea estudo regularmente e faz parte do meu trabalho atualmente; e Dança do Ventre fiz e faço aulas regulares e workshops desde 1999, sempre que posso.

BLOG: Quais foram suas primeiras inspirações? Quais suas atuais inspirações?
Minhas primeiras inspirações na dança ou na vida? Na vida meus pais, lógico. Talvez primeiro minha mãe, quando eu era pequena; e na adolescência, meu pai. E mesmo na dança, os dois sempre me incentivaram MUITO!

Minha atuais inspirações são um pouco mais complexas... Não seriam pessoas, acho que seriam situações. As coisas da vida, do dia-a-dia me inspiram muito mais que pessoas... Mas se tivesse que falar em bailarinas seriam aquelas que já citei. Atualmente – e eu sei que isso é MUITO BREGA – o que mais me inspira é o meu casamento. Eu tenho a imensa sorte de ser casada com a minha melhor amiga, e ela ainda por cima dança comigo! Ela me inspira diariamente, desde as pequenas coisas que faz até nas nossas brigas. É inspirador amar! Hehe. Também voltei para a cidade que cresci, e estar perto do mar, poder caminhar no pôr-do-sol molhando os pés, por exemplo, me faz criar muito também. Por isso que falei antes, são situações, momentos da vida que me inspiram. Além das artes, claro: livros, filmes, imagens e MÚSICA, SEMPRE.

BLOG: O quê a dança acrescentou em sua vida?
A dança me deu ferramentas para expressar o meu interior. Não saberia dizer o que acrescentou porque não me imagino sem ela, não me lembro de não estar dançando nunca. Acho que faz parte de quem eu sou e sempre fui. A dança me ajudou a ser quem eu sou hoje sim, mas também sempre fez parte de mim.

BLOG: O quê você mais aprecia nesta arte?
O poder de catalisar e expressar emoções. E o poder agregador que a Arte tem. Além das pessoas desse meio, que são incríveis! Sou absolutamente apaixonada pelos artistas que convivo. Muitos dos meus melhores amigos são também meus colegas bailarinos.

BLOG: O quê prejudica a dança do ventre e como melhorar essa situação?
Nesse momento eu diria que principalmente o EGO. Quando o artista se coloca acima dos outros e não ao lado, as coisas vão mal. Também acho que a falta de conhecimento, falta de estudo e investimento errado de energia. O povo perde muito tempo se preocupando com o trabalho alheio e esquece do seu.

Também me preocupo com a marginalização da dança. Queria ver mais espetáculos de Dança do Ventre no palco mesmo! Aqui em São Paulo isso já é realidade, mas no resto do país não é bem assim... Em outros lugares quando você diz que faz Dança do Ventre o povo imediatamente associa com outras coisas, muitas vezes com coisas meio negativas... Triste. Também me preocupa a competição exagerada. Não, infelizmente o Tribal não está livre disso, apesar de ser um estilo que prega o coletivo, mas ainda acredito que é um meio um pouco mais unido que o de outras danças... Mas talvez seja utopia minha enxergar assim, ou uma questão de tempo para ficar igual a outros meios super competitivos. De qualquer jeito, vejo uma vontade enorme em diversas pessoas que levantam a bandeira do estilo Tribal hoje de agregar, somar, unir esforços para vivermos dignamente de Arte, ao invés de somente atacarem o trabalho alheio e a suposta “concorrência”. Eu digo “suposta” porque para mim isso não existe, não somos concorrentes. Cada pessoa faz um trabalho único e, assim sendo, oferece um trabalho único também.

BLOG: Você já sofreu preconceitos na dança do ventre ou fusões? Como foi isso?
Quando era somente da Dança do Ventre, já era tatuada e bem alternativa, rolava uns olhares atravessados... Mas nada muito forte. Dentro do Tribal, não que eu me lembre.

BLOG: Houve alguma indignação ou frustração durante seu percurso na dança?
Houveram algumas sim... Mas prefiro me focar nas coisas boas.

BLOG: E conquistas? Fale um pouco sobre elas.
Muitas! Eu nunca quis viver de dança. Eu cursei faculdade de Psicologia e pensava que a dança seria para sempre um hobby, uma atividade secundária. Primeiro, porque sabia que era difícil financeiramente viver de Arte e eu queria mais estabilidade. Segundo que não achava que eu tivesse capacidade de ser uma boa bailarina, que estivesse a altura de outras pessoas que admirava na cena brasileira. Não imaginava que poderia realmente trabalhar com Arte. Foi uma grata surpresa tudo que aconteceu comigo e ainda está acontecendo.

Fui chamada para dar aula numa escola que sempre admirei a distância, a Bele Fusco, e fiquei lá por quase 5 anos! Só saí porque me mudei. Tenho imenso carinho pela Adriana e Roger, que me apoiaram muito quando cheguei em São Paulo. E também pela Mariana Quadros, que me indicou para substituí-la quando ela mesma teve que sair da escola. Também foi a Adriana que me chamou para fazer minha primeira tradução consecutiva de workshop internacional, algo que NUNCA havia pensando em fazer antes dela me pedir.
As coisas comigo foram acontecendo. Eu nunca pedi para dançar em um show de Gala, ou dar aula em algum lugar ou evento...Sou muito grata porque as oportunidades me foram dadas e eu as agarrei e aceitei com muito amor e gratidão.

Fui a primeira professora chamada pela Rebeca Piñeiro para dar aula na Escola Campo das Tribos, a primeira escola dedicada ao Estilo Tribal em São Paulo, e inaugurei as duas sedes da escola na Vila Mariana, uma honra imensa. Guardo muito carinho pelo Campo! Também foi uma honra ajudar nos festivais traduzindo para bailarinas internacionais.

Fui chamada também pela Cia Shaman para dar aula no seu estúdio em São Paulo, sob direção da minha irmã de alma Paula Braz, e também inaugurei o espaço. Eu já sou amiga da Shaman há muitos anos e tenho um carinho imenso por cada uma delas. As considero como parte da minha família Tribal. Choro vendo elas dançarem, tieto mesmo! É muito amor! Também trabalho com elas nos Shaman’s Fest como tradutora, o que é uma honra imensa! Uma das traduções que fiz para elas foi dos works da Rachel Brice, algo inesquecível para mim!

Jhade Sharif, Gabriela Miranda e Rhada Naschpitz
Também estou participando esse ano da produção do show do Gothla, organizado pela Jhade Shariff e Rhada, duas amigas queridíssimas do Dark Fusion! Eu e Yoli daremos aula no evento, dançaremos e curtiremos muito! Hehe. Mais uma honra enorme!

As conquistas são imensas, mas todas só foram possíveis porque contei com ajuda e parceria de pessoas maravilhosas. Sou eternamente grata a cada pessoa que citei à muitas outras que não estão aí.

Dançar, dar aula e participar de todos esses festivais: Encontro Internacional, Campo das Tribos, Shaman’s Fest, Gothla BR, Oriental Fair e todos os outros, são conquistas enormes para mim. Me enchem de alegria e gratidão.

Me sinto extremamente feliz de fazer parte do meio do Tribal brasileiro e de ser amiga de pessoas que visam elevar o patamar da Arte que fazemos, divulgando o estilo como um todo e não só o seu trabalho individual. A minha meta, e acredito que não seja só minha, é justamente essa: fazer com que o Tribal seja amplamente divulgado e mais reconhecido como Estilo de Dança e como ARTE. Assim, todas poderemos viver do que amamos fazer e em paz. Quando isso acontecer para todo mundo, vai ser a maior das conquistas!

BLOG: Atualmente, como é o cenário da dança tribal no Rio Grande do Sul? Pontos positivos, negativos, apoio da cidade/estado, repercussão por parte do público bem como pela comunidade de dança do ventre/tribal? 
Não saberia dizer muito bem... Nos últimos 6 anos morei e trabalhei mais em São Paulo e estou um pouco por fora da cena do Rio Grande do Sul... E mesmo quando morava lá anteriormente, eu morava no litoral, onde voltei a morar, e só conhecia a Trupe do Sul, em Porto Alegre, e a Barbara Kale. Atualmente sei que existe um trabalho bem forte do grupo Al-Málgama, da Bruna Gomes. Estou muito feliz que tenha um Tribal tão forte e bonito no Rio Grande do Sul, estou ansiosa para conhecer melhor a cena atual!

BLOG: Você é uma das bailarinas do corpo inicial de tribaldancers daCia Dancers South America(DSA), dirigida por Adriana Bele Fusco. Como surgiu a oportunidade de fazer parte do DSA ? Comente como é coreografar um grupo tão amplo e diversificado como este. Qual é o processo de criação para as coreografias de dark fusion ?

DSA (2012)

Eu fui convidada pela Adriana, em 2010, para integrar o DSA e em 2011 para ser coreógrafa de Dark e Tribal Fusion, e foi um prazer enorme! Quando fui convidada eu nem acreditei. Havia me mudado para São Paulo há pouco tempo e ninguém me conhecia direito, nem o meu trabalho; muitas pessoas pensavam que eu era iniciante, mas eu já dançava há bastante tempo e dava aula de Tribal há alguns anos... Foi uma surpresa! O primeiro ano foi intenso, muito trabalho, suor e lágrimas hahaha. Mas no fim deu tudo certo e o show ficou lindo! No segundo ano coreografei o Dark e uma música de Tribal Fusion, e o processo foi mais tranquilo porque havia mais bailarinas e as coreos foram mais divididas. Nesse segundo ano eu já estava trabalhando com a Adriana há um tempo, então foi um processo tranquilo de criação. Também coreografei outras partes do show em conjunto com Adriana e confeccionei, junto com a Yoli Mendez e Beth Mitiko, os figurinos do Elenco Tribal.

O processo de criação é simples: trabalhamos com uma música designada pela Adriana – salvo algumas exceções – então é quase como seguir um roteiro. É bem diferente de criar um coreografia por conta própria, quando você escolhe a música. Então criamos a coreografia, mostramos para Adriana, que aprova ou pede modificações. Em seguida, gravamos os vídeos com os passos e explicações, e enviamos para as integrantes estudarem.

Em 2014, a Adriana teve a ideia de fazer uma releitura de um clássico do Ballet utilizando o nosso corpo de baile a fazendo fusões das danças que integram a companhia. Eu surtei, achei o máximo! Trabalhei o tempo todo com a Adriana e Simone Takusi compondo o espetáculo, que tem seis coreografias minhas, além de idealizações interpretativas e ideias no roteiro. Sou apaixonada por esse show. Infelizmente, entre o final do processo de criação e início da turnê, eu acabei me mudando e não pude acompanhar a Cia nos palcos! Estou em falta com ela... Mas meu amor é enorme e me orgulha muito ver o resultado do esforço de todo mundo gerar um espetáculo tão interessante e original!

BLOG: Em 2010 você iniciou um projeto de dança chamado Charlotte. Você poderia comentar sobre a proposta do grupo? Você tem pretensão em retomar com o mesmo?
Charllote (2010)
Foi algo bem informal entre amigas também... Uma das meninas que dançava no grupo se mudou então acho que não vamos retomar o projeto... Mas foi divertido!

BLOG:Você é uma das criadoras do Ateliê Tribal Skin, destinado a figurinos para o Tribal. Como surgiu a ideia ou oportunidade de formá-lo? Como é o processo criativo para as linhas e suas inspirações para a composição das mesmas? Há alguma curiosidade a respeito do nome do ateliê?
Engraçado porque a primeira pessoa a me pedir para vender minhas criações, meus figurinos, foi uma das meninas do Charlotte, a  Silvana Bowie. Quando ela elogiou meus figurinos e disse que eu devia começar a fazer para vender eu parei para pensar e comecei a fazer pequenas coisas para amigas, aí foi crescendo... Eu sempre fiz meus figurinos de Tribal, e acabou que algumas pessoas gostaram e começaram a perguntar se eu vendia. Não montei o Ateliê do nada, foi acontecendo, na verdade.


O processo criativo é simples, eu faço figurinos de acordo com o gosto pessoal da pessoa que irá usá-lo. Tento pegar o máximo de referências possíveis e conhecer o gosto pessoal da cliente e trabalho com isso. Quando são peças para expor eu faço coisas que eu gostaria de usar, só isso.

O nome foi dado pela Yoli Mendez e significa “Pele Tribal”, então, na verdade, não seria como se você usasse um figurino, mas sim a sua “pele” de dança... Algo que está ligado à você, à sua personalidade e a à sua dança, não apenas um figurino.

BLOG:  Em 2013, você e Yoli Mendez produziram o Festival Tribal Skin, evento bi-anual de dança tribal. Conte-nos como surgiu a idéia do evento, sua proposta e objetivos, organização e elaboração deste ,bem como a repercussão do mesmo para a comunidade tribal quanto para seu público. Em sua primeira edição, vocês tiveram como convidada especial a bailarina Sonia Ochoa (EUA). Conte-nos a sua reação a respeito da cena tribal brasileira. O quê podemos esperar para as futuras edições?
Gabriela Miranda, Sonia Ochoa e Yoli Mendez
A ideia do evento surgiu porque eu queria fazer um desfile! Pode? Hehehe... eu queria expor os figurinos que já havíamos confeccionado e uma coisa foi puxando a outra... Queríamos fazer um evento do Ateliê, centrado nas nossas criações. Acredito que na época nenhum ateliê de Tribal tivesse feito um festival ou evento próprio com workshops e shows, então foi a nossa ideia de promover a nossa marca. Junto com o desfile haveria um show com nossos parceiros, clientes do ateliê e amigos. Depois veio a ideia de chamar uma amiga internacional, uma atração para abrilhantar o evento... Depois pensamos em oferecer os workshops para pagar a vinda dessa convidada, e assim tudo foi se desenvolvendo. Já havíamos trabalhado ajudando na produção de eventos de amigas nossas e pensamos em fazer o nosso próprio evento. A Sonia foi a escolha natural por ser uma pessoa próxima a nós (eu trabalhei como sua tradutora em 2011, pelo Encontro Internacional) e por ser ótima professora também, além de uma bailarina incrível. Recebemos muita ajuda, inclusive de produtores de outros eventos (Roger da Bele Fusco e Rebeca do Campo das Tribos), e de diversas pessoas especiais para nós! Só idealizamos, mas não realizamos NADA sozinhas. Recebemos MUITA ajuda, pela qual serei eternamente grata.

Por conta da mudança ainda não fizemos a segunda edição. Mudar de estado não é fácil e estamos com diversos projetos nossos para esse ano. Mas para o futuro próximo estamos planejando fazer uma edição no Rio Grande do Sul com uma bailarina internacional de Tribal. Estou conversando com três bailarinas no momento para decidir qual trarei primeiro. A ideia é fazer o evento ano sim e ano não, e alternando os locais entre São Paulo e litoral do Rio Grande do Sul.

BLOG: Diga-nos um pouco sobre uma temática que você tanto gosta que já levou até para os palcos: sereias! Como começou esse amor por esse tema? Quantas coreografias você tem com essa temática? Conte-nos um pouco sobre a idealização de cada uma delas.
Ahhhh... As sereias! Eu cresci perto do mar. Fui de Umbanda por muitos anos e sou filha de Yemanjá. Sou fascinada pelo mar, preciso estar perto. Sinto saudades... É uma coisa energética, inclusive. E desde pequena tenho fascinação por sereias. Começou com a Ariel, da Disney, hehehe. Mas depois virou o ser mitológico em si; e na minha adolescência eu amava mesmo eram as sereias devoradoras de homens, sereias-vampiras, sedutoras e fatais, que são o meu tipo de sereia favoritas até hoje!

Desde a Dança do Ventre eu pensava em fazer algo com sereias... Quando tive meu grupo no sul, nós fizemos uma coreografia de 5 elementos e durante a criação do elemento água essa ideia foi se consolidando. Eu me mudei, encerrei o grupo, mas a ideia ficou na cabeça. Comecei a pesquisar movimentos de peixes, de caudas, de nadadeiras, a maneira como se movem debaixo d’agua. Assisti diversos filmes, de todo o tipo, que tivessem vida marinha... Estudei mesmo o personagem. Eu costumo fazer isso quando vou fazer um personagem específico do imaginário coletivo.

Quando fiz a minha primeira interpretação de sereia eu só tinha notícia da Nanda Najla ter feito algo assim para um show porque ela mesma comentou que faria. Eu pedi permissão a ela se poderia fazer uma sereia minha e ela disse que a Arte era de todos, para eu ficar tranquila e me sentir livre.

As minhas alunas e amigas mais próximas sempre souberem desse meu amor e me passam músicas com temática de água e sereias sempre, até que uma aluna muito querida me passou a música perfeita: a música que eu estava esperando aparecer para levar a minha sereia para o palco! Comecei a garimpar meu primeiro figurino e dancei! No mesmo show a Kilma Farias dançou uma Yemanjá e eu achei isso um sinal super positivo já que sou muito fã da Kilma e do seu trabalho! Foi uma estreia feliz. Tive um feedback muito positivo e quando vou dançar solo muitas pessoas pedem que eu faça essa performance. Por causa do interesse em cima do personagem, me pediram inclusive que desenvolvesse um workshop compartilhando um pouco do meu estudo! Foi muito divertido desenvolver essa aula também... Dei esse work no Campo das Tribos e ele esgotou! As pessoas tem muito interesse nesse personagem...



Perdi as contas de quantas vezes dancei interpretando esse personagem, e também não sei mais quantos figurinos tenho com essa temática... É algo que eu amo e está sempre presente, às vezes mais claramente, outras vezes mais implicitamente.

BLOG: Conte-nos um pouco sobre a sua coreografia, Frida (2013), em conjunto com suas alunas. O quê a inspirou para a formulação da parte conceitual e técnica das mesmas, assim como seus processos de elaboração dos figurinos e maquiagens. Como essas coreografias repercutiram na cena tribal?



Essa coreografia surgiu para um Campinho – evento da Escola Campo das Tribos que é realizado para as alunas dançarem, o espetáculo de final de semestre – que a temática seria “Cinema”. Uma aluna querida surgiu com a ideia de fazer sobre o filme da Frida e eu enlouqueci. Pressionei as meninas de leve inclusive (porque a escolha era por votação, como tudo nas minhas aulas). Se elas não tivessem escolhido para a coreografia, eu teria feito um solo. Fiquei enlouquecida. Já era fã da Frida, de sua luta, sua personalidade forte, seus quadros, sua vida. Mas nunca havia pensado em dançá-la! Li duas biografias e assisti o filme não sei quantas vezes para fazer a coreo. Nós fizemos uns brainstorm falando sobre o que não poderia faltar na coreografia para retratar essa mulher tão significativa. O acidente, o casamento com Diego, a fora de vontade, a política, os quadros, não conseguir ter filhos... Pensamos na vida dela e fomos inserindo na coreografia. Eu mesma editei a música para intercalar momentos dramáticos e fortes, como a vida da Frida. Eu dirigi a coreografia e fiz o grosso, diria que ela é uma parte minha. As outras partes foram ideias das meninas, sugestões, mudanças, etc. Eu tenho o costume de coreografar em parceria com minhas alunas. A maquiagem e figurino foram pensadas em conjunto também, não foi difícil chegar no resultado final porque a Frida em si já era muito Tribal né?



Não tenho ideia como isso repercutiu na cena Tribal, nem mesmo se chegou a repercutir. Sei que minhas alunas formaram um grupo de dançam essa coreo sem parar! Elas são até conhecidas como “As Fridas”, embora se eu fosse dar um nome ao grupo seria “SoFrida” ;)

BLOG: Como foi fazer parte de um grupo de ATS®, como o Pandora, dirigido por Mariana Quadros, e o Pashmina, dirigido por Rebeca Piñeiro? Qual a importância que você vê no ATS®?
É muito divertido fazer parte de um grupo de ATS®, na verdade! E acredito que é assim que deve ser! Um monte de amigas reunidas dançando juntas...  O ATS® para mim, é uma das origens do Fusion, a base... Acho importantíssimo estudá-lo, por isso eu ensino o que sei para as minhas alunas, de forma diluída, nas minhas aulas de Fusion e há pouco tempo comecei a dar aula de ATS® puro. Gosto da técnica, gosto dos passos e acho importante. Essa é a minha didática pessoal de ensino. Acho essencial saber pelo menos o básico se você deseja se profissionalizar em Tribal, mas obviamente não é algo obrigatório. O ATS® acrescentou muito à minha dança e técnica; é incrível os padrões que você reconhece quando o estuda. Aqueles passos que você vê bailarinas que você ama fazendo tomam sentido e forma, e você entende da onde vem tudo: os braços altos, o trabalho muscular, os giros, os deslocamentos, as transferências de peso... Para mim, é algo realmente essencial. Mas essa é apenas a minha opinião. O que eu lamento às vezes é ver bailarinas que nunca estudaram ATS® utilizando passos do estilo sem nem mesmo saber o que estão fazendo e da onde vem, com a técnica suja por puro orgulho em não querer aprender algo que só irá ajudar a sua dança... Por isso, muitas vezes, não vejo sentido em “defender” que o Tribal Fusion é algo completamente a parte do ATS® se as mesmas pessoas que fazem isso utilizam passos de ATS® sem conhecimento. Acredito que o Fusion é, sim, muito livre; e o meu Fusion NÃO é um tipo doido de solo de ATS®. Mas sim, o ATS® acrescentou muito em minha dança, e me sinto feliz em tê-lo como base e em poder compartilhar o pouco que sei sobre ele com minhas alunas.

BLOG: O seu atual grupo de ATS®, dirigido em conjunto com Yoli Mendez é o Sis Tribal. Conte-nos como surgiu o grupo, a etimologia da palavra, seus integrantes, qual estilo marcante do mesmo e se ele sofreu alguma mudança estrutural ou de estilo desde quando foi criado.


O grupo surgiu da nossa vontade de dançar ATS® com as amigas! Felizmente temos muitas amigas que dançam ATS® e o grupo somos essencialmente nós duas dançando com qualquer pessoa que quiser dividir o palco com a gente no evento em que estivermos dançando. Simples assim. Quando não há ninguém, dançamos somente as duas. O  nome “Sis” vem de “sister”, que significa “irmã”, e é autoexplicativo.



BLOG: Como eram as informações sobre o estilo na época em que você começou a pesquisar? Como era visto o ATS® naquela época e como ele vem se apresentando hoje na cena tribal brasileira, quando todos já tem conhecimento sobre o que é o ATS® e sua importância para o tribal fusion? Na sua opinião, o quê precisa ser melhorado, aperfeiçoado e, até mesmo, mudado no comportamento da(o) tribalista(o) brasileira (o).
Quando comecei a dançar Tribal se falava no estilo como um todo. Tudo era Tribal. A divisão entre ATS® e Fusion não era tão clara, existiam muitos grupos fazendo ITS também, o que dava uma confundida para mim.

Depois que a Carolena Nericcio-Bohlman registrou o nome do estilo e do seu grupo FCBD® tudo ficou mais separadinho e mais claro, mas fácil de estudar e pesquisar. Acho que foi algo necessário e que ajudou a entendermos melhor o Estilo Tribal como um todo. Eu brinco que no Brasil nós primeiro importamos a estética e só agora estão vindo os conceitos mesmo. É claro que alguns grupos e bailarinas captaram desde o início, mas muitos outros achavam que Tribal era só dançar Dança do Ventre com figurino preto cheio de búzios... Na ânsia de fazer fusion, poucas pessoas pesquisaram as raízes e foram estudar Jamila Salimpour, Masha Archer e Carolena Nericcio. Acho que agora estamos mais conscientes do caminho do Tribal e mais respeitosas com as raízes e tronco da nossa árvore genealógica.

Não tenho a pretensão de achar que posso medir o que deve ser melhorado na nossa cena. Mas eu acredito no estudo árduo. Acredito que quanto mais estudarmos, melhor a cena se tornará para todas. E falo em estudar de TUDO com TODO MUNDO. Estudar Dança em geral, estudar as origens, estudar técnica de Tribal e também das fusões que o compõe e de tudo que te interessar para sua fusão. E estudar com as professoras daqui, com as colegas, com as alunas. Vamos deixar de ser arrogantes e trocar conhecimento? Fico com dó de ver a quantidade de “gente grande” da dança que não estuda com brasileira. Perdem tanto... Mas cada um é responsável pelo seu próprio caminho na Arte e na vida.

BLOG: Em abril de 2015, você esteve em uma imersão em São Paulo, realizado pelo Festival Campo das Tribos, a estudos pela dança tribal e por sua certificação em ATS® com a criadora do estilo, Carolena Nericcio, e Megha Gavin. Gostaria que nos explicasse melhor sobre o processo de certificação (General Skills/ Teacher Training1 e 2) e como se alcança o tão estimado selo de Sister Studio. E qual importância de conseguir tal certificação, em sua opinião.
Nós primeiro estudamos o General SkillsRepertório Clássico, e depois General Skills Repertório Moderno; depois fazemos o Teacher Training. Durante o General Skills são muitos passos e é ESSENCIAL que quem quiser fazer a formação JÁ SAIBA DANÇAR ATS® ANTES DE FAZER O CURSO. As explicações são breves e é melhor que você esteja preparado e já saiba tocar snujs. 

No Teacher Training, Carolena dá uma palestra sobre dar aulas, que na verdade serve para dar aulas de qualquer estilo, não só se ATS®. Ajuda muito! E depois, num segundo momento, recebemos um passo aleatório e ensinamos para as colegas, sob os olhares de Carolena e Megha. Recebemos um feedback das colegas e das professoras. Depois do certificado você ainda não é Sister Studio. Você precisa escrever para o FCBD® e solicitar o contrato. Se concordar com tudo e fizer todo o procedimento pedido por elas, você poderá se tornar Sister Studio. Aí você é adicionada à lista de Sisters ao lado de nomes como da própria Carolena e das integrantes do FCBD®.




A importância disso varia de acordo com a visão de cada um. Você pode, sim, dar aula de ATS® sem ser certificada, o que muda é que você não estudou com a própria Carolena, mas isso não quer dizer que sua didática é errada ou que você é menos que uma Sister Studio. Aqui no Brasil damos valor demais para selos e certificações. Eu acredito que o currículo individual geral de uma bailarina seja mais importante do que uma formação/certificação apenas. Para mim é a trajetória da bailarina e sua didática pessoal que a tornam uma boa profissional. As certificações somente atestam que você passou naquele padrão específico, não que você é uma boa professora ou, ainda, uma professora gentil com suas alunas, por exemplo. Cada aluna irá exigir algo diferente, então a escolha da aluna sobre uma professora de ATS® deve levar em conta mais coisas do que apenas a sua certificação. Existe todo tipo de professora e de aluna. Não acredito que se apoiar numa certificação seja garantia de um bom ou mal estudo, a formação apenas atesta que aquela professora estudou o que faz direto da fonte.

BLOG: Hoje contamos com diversos recursos de estudos. O próprio FCBD® vem lançando materiais muito bons nos últimos anos. Em relação ao estudo de ATS®, que dicas você daria para aqueles que ainda não podem estudar com uma professora do estilo, mas que gostariam de aprender mais sobre o mesmo, tanto na teoria quanto na prática?
Eu recomendo TODOS os DVD’s do FCBD®. Mas não existe estudo de ATS® eficaz sem você dançar de verdade em grupo. É necessário colocar no corpo! Sentir o ATS® mesmo sabe? A troca com as amigas, os snujs, a música no corpo... Só dançando para entender e também amar!

BLOG:Você é colunista da Revista Shimmie. Como surgiu tal oportunidade?  Como você seleciona os temas a serem abordados na revista e  os desenvolve? Como você encara  esse espaço na revista para cena tribal  brasileira? 
Eu já havia escrito uma vez para a Revista Shimmie há uns anos por indicação da Rebeca Piñeiro, que era colunista fixa na época. Uma indicação que agradeço muito! Escrevi sobre o Dark Fusion. Algum tempo depois uma das meninas da redação da Shimmie se tornou minha aluna particular, e sempre conversávamos sobre Tribal. Ela me pediu para escrever mais uma ou duas vezes e depois me convidou para ser colunista desse ano da revista (as colunistas mudam a cada ano). Eu sou muito fã da revista, então fiquei muito feliz com o convite! É uma grande responsabilidade, mas tem sido muito divertido. Minha coluna se chama “Tribal pelo Mundo” e falo de novas bailarinas que estão fazendo um trabalho original dentro do Tribal ao redor do mundo. O tema foi proposto pela revista, mas a execução é minha e completamente livre. Eu escolho os temas relacionados às bailarinas (já falei sobre Dança Contemporânea, Yoga, Artes Circenses, por exemplo), entro em contato com cada bailarina gringa, faço o trabalho de tradução dos textos que elas me mandam (peço sempre em inglês apesar de já ter falado sobre uma bailarina holandesa e uma francesa, por exemplo), escrevo a coluna e seleciono as fotos. Essa troca com as bailarinas sobre as quais eu falo é muito enriquecedora! Aprendo muito com elas, e acabei até fazendo novas amigas por conta da coluna. Um presente. Acredito que o trabalho da Shimmie abrange um número muito grande de bailarinas e que esse espaço é muito importante para ajudarmos a divulgar o Tribal e também fazer com que o público entenda do que se trata essa fusão, sem tanta confusão! Hehehe, desculpem o trocadilho besta.

BLOG: Em 2014, você e Yoli Mendez lançaram um novo formato de cursos ministrados em dupla. Conte-nos como chegaram a esse formato e como vocês o desenvolvem em sala de aula. Sobre os Cursos Mensais,  como surgiu a idéia? Qual a proposta dos curso? Qual a repercussão entre os alunos?
O curso surgiu para mantermos contato com nossas filhotas de dança de São Paulo. Eu e Yoli temos uma didática diferente, mas com pontos principais em comum: nós gostamos de ensinar a História do Tribal; praticar técnica e repertório de ATS®; utilizar exercícios de criatividade, improviso, coreografia... Tentamos ensinar nossas alunas a pescar, não damos o peixe pronto, entende? Queremos que elas virem bailarinas pensantes, e independentes de nós ou de qualquer professor. Então, com essa base em comum, conseguimos unificar nossa didática e criar um curso nosso.




O formato em dupla foi porque queríamos unir nossas alunas, as dela e as minhas, e a Yoli já vinha trabalhando comigo há um tempo, ajudando a planejar aulas e montar coreografias. Nós criamos muito juntas, é algo natural para nós. Foi tranquilo e muito prazeroso. Durante as aulas em si ela atua mais no backstage e eu ensino mais, porque ela é mais tímida. Mas ela participa de todo o processo comigo e com as alunas. Como eu disse antes, o curso surgiu da ideia de não perder contato com as filhotas de sampa já que elas pediram para continuar com as aulas comigo, eu montei esse formato mensal. Não é um curso de formação, não as formo em nada, nem no meu método particular. São aulas mensais de aprofundamento em Tribal, questionamento, criação, troca...São oficinas! E são abertas. A maioria das alunas já faziam aula comigo antes, então fica tudo em casa. O clima é descontraído e gostoso, do jeito que eu gosto de uma aula de dança. As aulas são interligadas entre si, sendo o tema semestral. Uma aula é conectada a outra, mas também tem temas individuais e podem ser feitas separadamente. Os certificados são dados para quem tem 80% de frequência somente para atestar que a pessoa participou do semestre e concluiu aquele tema semestral geral. As alunas nos ajudam bastante com feedbacks e nós acreditamos em reestruturar o curso de acordo com as participantes e com a demanda, então, todo semestre muda, o que meu lado geminiano aprova e muito! O curso é feito para elas, então eu sigo o que elas precisam e preferem. Tem dado certo!

BLOG: Na sua biografia consta que você foi autodidata, comente sobre essa experiência.
Fui autodidata somente enquanto não achei professoras acessíveis. Eu defendo e muito o estudo com outras profissionais. Para mim nada se compara ao estudo aprofundado com pessoas que vivenciam a dança.

BLOG: Você é uma bailarina com uma dança bem peculiar. Gostaria que comentasse e opinasse um pouco sobre a rotulação dos estilos dentro da dança tribal, visto que é uma abordagem muito recorrente em seus comentários, os quais acompanho pela internet.
Peculiar é bom ou ruim? Hehehe. Eu não curto muito rótulos. Acho que eles mais limitam do que explicam... Acho que Tribal Fusion é um termo suficientemente abrangente para um monte de sub-estilos de dança. Não vejo necessidade de ficar rotulando tudo. Dependendo do caso, os rótulos mais atrapalham do que explicam o que você faz.



BLOG: Sob sua óptica, o quê é dark fusion? Como surgiu seu interesse pelo lado obscuro ou underground da dança?
Vou repetir o que está no meu material de aula, ok? Para mim Dark Fusion é um tipo de dança derivada do Tribal Fusion, que visa explorar o lado mais sombrio da vida, na dança. Ele tenta trazer a tona o lado mais sentimental, reflexivo e expressivo da bailarina. É um estilo que ajuda a dar vazão a sentimentos obscuros que ficam, muitas vezes, reprimidos ou guardados dentro de nós. O Dark Fusion nos permite deixar aflorar sentimentos como tristeza, raiva, saudades, amor platônico, melancolia e explorá-los na dança, de maneira única e pessoal. Também permite demonstrar no palco sentimentos alegres como amor, paixão, força, e todo tipo de emoção... É uma dança extremamente teatral e performática.

Não sei dizer como surgiu o meu interesse nesse lado mais sombrio da dança... Talvez
tenha sido parte da minha caminhada de autoconhecimento. Eu sou uma pessoa melancólica, eu adoro explorar esse lado através da música, de poesia e leitura... Foi natural. Eu me atraio pelo sombrio em tudo, não só na dança, mas na arte em geral e na vida. Fiz Psicologia pelo mesmo motivo, entender esse lado da psique. A mente humana me fascina, assim como os seus desejos, medos, sentimentos e emoções. Acredito que a “boa” Arte é aquela que nos provoca algo, e isso não precisa ser necessariamente bom. O teatro (eu participei de um grupo por alguns anos e estudei teatro por pura paixão) me deu ferramentas para entrar em contato com meu lado sombrio rapidamente e eu adoro explorar isso na dança. Nada é preto nem branco, tudo é feito de tons entre esses dois. Porque ficar só no alegre? Eu quero o outro lado também e tudo que está no meio... Quero explorar, quero sentir, quero expressar o que está dentro de mim. E dentro de mim também existem sombras, como em todo mundo.

BLOG: Na sua opinião, o quê é tribal fusion?
Vou colar o que está no informativo das minhas aulas:
O Tribal é um estilo de dança muito novo, mas que fusiona danças étnicas muito antigas. Desde o final dos anos 60 com Jamila Salimpour e seu grupo Bal Anat, passando por Masha Archer e sua trupe, até chegar em Carolena Nericcio-Bohlman e o ATS®, o Estilo Tribal se apresenta como uma fusão em tributo aos povos ancestrais tribais. Originalmente uma vertente da Dança do Ventre fusionada com Flamenco e Dança Indiana, o Tribal se transformou e foi agregando outros estilos de dança, sendo modificado pelas próprias bailarinas que o praticam, abrangendo técnicas que vão desde a Yoga até chegar na Dança Contemporânea e no Breakdance, sendo hoje conhecido como Tribal Fusion ou Fusão Tribal.

É um estilo em constante transformação e desenvolvimento, que sempre acompanha as tendências atuais e varia de acordo com o estilo pessoal de cada bailarina.
Em sua essência é um estilo de dança que prega a coletividade e união entre os diversos povos e etnias, assim como a sororidade entre as próprias bailarinas que o praticam. Desde a caracterização, passando pelos passos e músicas, é um estilo que reverencia e homenageia diversas tribos, levando para o público a harmonia do trabalho em grupo e a arte do trabalho solo.

BLOG: O quê você mais gosta no tribal fusion?
A liberdade criativa! Poder dançar praticamente qualquer coisa, com praticamente qualquer figurino, para praticamente qualquer público! As possibilidades são ilimitadas!

BLOG: O quê você acha que falta à comunidade tribal?
Ah, não sei... Nem tenho pretensão de saber. Acho que eu não mudaria nada. Mesmo as brigas e debates são necessários. Opiniões divergentes significam cabeças pensantes e isso é sempre uma coisa positiva, nunca negativa. Acho que eu não mudaria nada. Só diminuiria alguns egos exaltados para ter espaço para todo mundo.

BLOG: Sobre sua carreira, qual/quais seu momento tribal favorito ou inesquecível? 
Ah são tantos, não saberia escolher um só! Mas conhecer Ariellah, depois Rachel Brice e, mais além, Carolena Nericcio são três momentos inesquecíveis.

BLOG: Como você descreveria seu estilo?
Tribal Fusion, e SÓ. Eu danço o que estou a fim e eu mudo muito. E SÓ! :)

BLOG: Como você se expressa na dança?
Como eu me expresso na dança? Como eu NÃO me expresso na dança? É impossível dançar sem expressar algo... Não consigo desassociar. Eu expresso tudo que sou, que sinto. Sem limites nem regras.

BLOG: Improvisar ou coreografar? E por quê?                    
Os dois! Acho que os dois são fundamentais para uma bailarina profissional... Eu particularmente nunca consegui solar coreografando, mas faço coreografias para minhas alunas, para meus duos e apresentações com amigas, para o DSA e para todo tipo de coisa... Amo as duas coisas, não saberia escolher! Amo a liberdade do improviso, de experimentar a música e o público no momento, de deixar a emoção comandar os passos... Mas também amo a segurança e a beleza da coreografia, a dedicação de planejar cada momento, cada passo... Os dois, sempre.

BLOG: Você trabalha somente com dança? Qual a sua rotina pessoal de trabalho?
No momento me dedico totalmente à dança sim, e tem sido assim nos últimos 6 anos. Antes trabalhava com dança e também me dedicava à Psicologia paralelamente. Tenho atuado profissionalmente com dança há 11 anos e dançado há mais de 16 anos. Ao longo da minha carreira fiquei passada com a quantidade de pessoas que descobri pensarem que trabalhar com dança é apenas subir no palco ou entrar em sala de aula para fazer ou dar aula... SÓ QUE NÃO! Grande parte do nosso trabalho é feito durante os momentos que temos em casa, no estúdio ou no computador: planejando aulas e workshops, estudando e pesquisando desde a história até a teoria e técnica do que trabalhamos para repassar em aula, coreografando para alunas e os grupos que dirigimos, escrevendo todo tipo de coisa (apostilas de aula, releases, colunas, descrições, textos para blogs, traduções relativas à dança, a lista não acaba...), planejando viagens de trabalho, produzindo pequenos e grandes eventos, editando fotos, músicas e vídeos, criando e costurando figurinos, desenvolvendo flyers, assessorando e ajudando pessoas (alunas, colegas, professoras formadas por você), fazendo reuniões ou dando aulas particulares pelo Skype, administrando nossa carreira nas redes sociais e muitas vezes nossos próprios espaços de dança também... Entre muitas outras coisas e práticas específicas de cada profissional que VIVE de dança. E é bem isso, quem costuma ter a dança como profissão, VIVE A DANÇA praticamente o tempo todo.

Eu imagino o palco e a sala de aula como a ponta do iceberg, sabe? O que vai a público de todo o trabalho duro que temos quando ninguém mais vê. Por isso aquela velha pergunta "Você trabalha ou só dança?" é tão difícil de engolir para todas nós... Nós trabalhamos muito e o tempo todo, muitos dias por muito mais horas que uma jornada de trabalho "normal". E não ganhamos dinheiro por cada coisa que fazemos, só por essa “ponta do icerberg” mesmo. É um trabalho extenso, tem vezes que parece que nunca acaba. Quando estamos sem fazer nada, geralmente estamos deixando de fazer algo que deveríamos estar fazendo. Mas é extremamente prazeroso também e por ser tão divertido, nem parece trabalho!

Se você vive de dança, não costuma ser somente bailarina e/ou professora... Geralmente você se torna eterna estudante, bailarina, professora, coreógrafa, figurinista, produtora, pesquisadora, editora, empresária, administradora, escritora, tradutora, esposa, mãe, faxineira e tantas outras profissões paralelas que nós que dançamos mantemos para dar conta de tudo que permeia a dança.

E é claro que como professoras e bailarinas temos que treinar também, separar um tempo para nos dedicarmos à nossa própria dança. Eu pratico Yoga regularmente em casa, sozinha. Só pratico sozinha agora porque participei de práticas com instrutores previamente e por muito tempo. Eu gosto de praticar sozinha principalmente por causa da parte da meditação, já que gosto de me concentrar sozinha e me conectar comigo mesma... Fico distraída com outras pessoas junto comigo quando medito, então prefiro praticar sozinha atualmente. Além da Yoga eu treino ATS® e Fusion sozinha e com a Yoli, bem menos do que eu gostaria e do que acho ideal (hehe), mas treinamos nossos duos e treino sozinha as coreografias e combos das minhas alunas. Faço práticas de improviso porque não coreografo meus solos, por isso não os treino especificamente, só escuto a música incansavelmente até ela não desgrudar do meu cérebro. Essa é outra parte do trabalho: eu edito todas as minhas músicas  (solos, coreografias, ATS®, todas). Além de todo o trabalho virtual que falei antes, eu faço meus próprios figurinos e costuro pelo Ateliê, mas conto com ajuda. Trabalho em parceria com a Yoli e temos uma costureira fantástica também que trabalha para nós desde que abrimos o Ateliê, a Beth. Ela me ajuda muito porque consegue colocar no tecido todas as minhas ideias doidas e da Yoli também!

No geral, minhas rotina tem sido fazer tudo isso que citei acima, mas meu foco tem sido me dedicar ao espaço que estou abrindo. É um espaço bem pequeno, mas que vai estar recheado de amor! Estou abrindo em parceria com as mulheres da minha vida: minha esposa e minha mãe. Minha cunhada que é formada em Artes também está participando, e será um espaço voltado para a Arte em geral, não somente para dança.

BLOG: Quais seus projetos para 2015? E mais futuramente?
Em 2015 estou focada também na minha mudança, em recomeçar em um novo lugar, levando o Tribal para o litoral do Rio Grande do Sul. Estou focada em um projeto bem específico: a reabertura do meu próprio espaço aqui no Sul. Antes de me mudar eu dividia com a minha mãe um espaço e vamos reabrir no mesmo local, mas com uma proposta diferente: será um espaço de Arte, não um estúdio de dança. É um espaço bem pequeno, mas a proposta é focar no atendimento personalizado, individual e/ou com turmas reduzidas para aprofundar o estudo e autoconhecimento. É algo que quero muito fazer. Eu nunca quis ser dona de estúdio de dança e não faria isso em qualquer outro lugar que não fosse na minha cidade.

Tenho também alguns projetos audiovisuais a caminho, mas que ainda não sei se sairão do papel esse ano ainda! Vamos torcer.

Me empolguei muito em me formar em ATS®, foi a realização de um sonho e concretização de um projeto para esse ano.

Também estou super empolgada com os eventos desse ano, com as aulas que vou dar, com a produção do show do Gothla e com o workshop em dupla novinho em folha que vou ministrar junto com a Yoli.

E para o ano que vem, projetos novos...!


BLOG: Deixe um recado para os leitores do blog.
A minha citação favorita sobre arte é uma de Aristóteles que diz:


 "The aim of art is to represent not the outward appearance of things, but their inward significance." 

Em tradução livre feita por mim: “O objetivo da arte é representar não a aparência exterior das coisas, mas sim o seu significado interior”.

Acredito que essa citação resume o que penso sobre arte. A arte é uma ferramenta para expressar o que vai dentro de nós, o que temos no interior. A sua função não é captar a aparência externa das coisas, a arte não pode ser puramente estética, bonita, atraente. Pelo menos não para mim. É claro que é agradável quando algo é esteticamente atraente, quando um quadro, foto, dança, o que for, nos parece “bonito”... Mas mesmo o “belo” é absolutamente relativo e varia de acordo com a pessoa que avalia a arte em questão. Então, ser atraente esteticamente é tudo que você quer representar com a sua arte? Isso é tudo o que você quer dizer com o que faz? Se sim, tudo bem. Mas eu preciso, desesperadamente, que minha arte signifique algo, e é por isso que danço da maneira que danço. Eu acho que o quê nos faz dançar, antes de tudo, é a paixão pela dança em si, mas o que nos faz permanecer na arte é algo muito mais profundo e pessoal... O que nos faz permanecer é a maneira como nos sentimos ao dançar. Eu sei que é piegas e batido o que vou falar, mas a dança para mim é realmente uma ferramenta de catarse, de expressão, de comunicação... É a minha maneira de me colocar no mundo. Eu tento manter isso em mente, mesmo quando me frustro com minha própria técnica, meus solos, minhas coreografias, porque vivo disso profissionalmente, então tudo isso pode ser bem frustrante. Mas quando tenho vontade de desistir eu lembro do que me fez começar a dançar, que é o que ainda me faz e continuo... Eu não posso viver sem isso, se eu parasse de dançar seria como se eu não pudesse mais falar. Eu danço porque não sei viver sem dançar. Quando meu corpo transborda com alguma emoção ao invés de chorar, eu danço. Quando algo de muito bom acontece, ao invés de pular e gritar, eu danço. Eu sei que é brega, mas é verdade. Não estou dizendo que é o certo pensar na arte e na dança da maneira que penso, mas quando você se coloca no que faz, coloca um pedaço real seu, é quando as pessoas conseguem se conectar com a sua forma de arte, seja ela qual for. Todos nós sentimos as mesmas coisas: medo, amor, raiva, alegria, tristeza, solidão, esperança... E nós precisamos saber que não estamos sozinhos, por isso nos conectamos com outras pessoas que muitas vezes nem conhecemos através da música, literatura, pintura, teatro, dança... A arte nos ajuda a entender que não estamos sozinhos. Então a dica é: dance porque você ama e coloque o que você é e o que você ama na sua dança. Se aproprie dela. Não queira a dança nem a arte de outro artista. Crie a sua. Não force nada. Tudo virá se for consequência da sua paixão, do seu amor pela dança, de sua dedicação, de sua liberdade em poder fazer sua arte do jeito que quiser. Valorize quem você é como pessoa para ser valorizado como artista pelo seu público. Trabalhe e treine muito se deseja evoluir com a sua técnica, mas deixe a sua dança fluir naturalmente e ela vai te conduzir por caminhos inesperados.   


Contato:

E-mail: gabi.miranda.psico@gmail.com










Para conhecer mais o trabalho desta bailarina, acesse seu canal no Youtube!

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