Neste mês teremos a presença da bailarina Gabriela Miranda, que é gaúcha, de Tramandaí, Rio Grande do Sul. Uma entrevista muito expressiva em seus detalhes! Gabriela conta-nos sobre a forma que encara a dança, sobre sua personalidade e gostos inseridas na mesma e também seu percurso profissional. Vamos conferir?
*** Entrevista atualizada com novas perguntas! (27/06/2015)***
*** Entrevista atualizada com novas perguntas! (27/06/2015)***
Eu comecei a dançar ainda pequena, no
início das minhas atividades escolares. Não me lembro de não dançar. Eu fazia
aula com uma professora que dava movimentos de street dance e jazz
na minha própria escola. Não durou muito tempo, mas as minhas professoras
de Artes sempre me incentivaram a dançar depois disso,pois eu fazia coreografias
para minhas colegas, juntas criávamos números para outras disciplinas como
matemática, por exemplo.Eu sempre estive nos grupos de teatro e dança da
escola. Aprendia muito e criava muito também. Era muito divertido! Depois
conheci a Dança Cigana e comecei a estudar por conta própria. Mais tarde, pelos
meus 10 ou 11 anos, me interessei por Dança do Ventre e também comecei a
estudar por conta própria também. Fiz meu primeiro workshop com essa idade,
pois na minha cidade não havia professoras com aulas regulares (eu cresci numa
cidade bem pequena no litoral gaúcho, chamada Imbé).
Pelos meus 14 anos, conheci minha
primeira professora regular de Dança do Ventre e minha grande mestra na
dança, Rôsmary Lisboa Lopes, ela havia recém se mudado para minha
cidade e eu, imediatamente, comecei a ter aulas regulares com ela duas ou três
vezes por semana, sempre que eu podia. Em 2004, ela me pediu para começar a
substituí-la nas aulas quando ela fosse viajar e, assim, comecei a dar aulas
sob a sua supervisão. Ela foi e é realmente importante para mim porque suas
aulas eram muito especiais. Ela sempre preferiu se manter fora do meio
competitivo da dança e sempre encarou a Arte como uma forma de expressão mesmo,
e não como algo lucrativo ou competitivo. Suas aulas não tinham espelho -
ficávamos em círculo - e eram centradas no autoconhecimento. Ela me ensinou a
enxergar a dança como algo natural, algo que vem da alma. Paralelo a isso, comecei a ir para Porto Alegre fazer workshops e aulas com outras professoras.
Fiz um curso para professoras com a Brysa Mahaila que me
acrescentou muito! Comecei a dar aulas em diversas escolas de dança e academias
da minha cidade e cidades vizinhas. Foquei a minha vida na dança desde muito
cedo. Mas encarava como algo que eu amava, não necessariamente a profissão que
eu iria seguir. Até por isso fiz graduação em Psicologia, pensava em trabalhar
como psicóloga e continuar com a dança como algo paralelo, pois não acreditava
que fosse possível viver somente de dança, e nem era algo que eu queria naquela
época.
Em 2006, eu conheci as fusões através de um vídeo da Ariellah... Eu sempre fiz parte de um meio mais alternativo e sempre
ouvi muita música Dark, Gótica, EBM, 80's, Heavy Metal em geral, então comecei
a procurar por fusões góticas na internet. Quando eu descobri que existiam, e
mais, que existia todo um seguimento para essa dança, eu SURTEI! O primeiro
vídeo que vi foi um da Ariellah Aflalo e mudou minha vida, sem exageros! Quando assisti vídeos de
Fusão e depois de Tribal Fusion, eu me senti em casa! Era aquilo que eu sempre
quis fazer e nem sabia! Nessa época eu já tinha todos os piercings que tenho hoje e muitas tatuagens, então, cada vez que ia me
apresentar em festivais de Dança do Ventre o povo me olhava meio estranho. Veja
bem, isso há vários anos atrás e no Sul, onde o povo não é tão liberal como em
São Paulo. Imediatamente eu comecei a estudar os movimentos por conta própria,
pois, de novo, não havia professoras na minha cidade. Um ano depois comecei a
me aventurar a fazer solos e a acrescentar os movimentos de Tribal nas minhas
aulas de Dança do Ventre. Minhas alunas gostaram tanto que montei minha
primeira turma de Tribal Fusion e, em seguida, inserimos o estilo no nosso
grupo de dança. As turmas de Tribal só aumentaram e passei a dar aula do estilo
em outros lugares, além da minha cidade. E nos dois anos seguintes eu
gradativamente larguei a Dança do Ventre e comecei a focar somente no Tribal.
Em 2009, vim para São Paulo, para
o Encontro Internacional realizado pela Bele Fusco, conhecer
a minha maior inspiração: Ariellah Aflalo. Ela é realmente importante
para mim porque foi o vídeo dela que deu rumo para a minha dança. Fiz aula
com Sharon Kihara, Mardi Love e, claro, com Ariellah.
Conversei muito com ela e me senti extremamente feliz em saber que além de ser
minha bailarina favorita, ela é um ser humano incrível! Desde então não a
larguei mais e faço aula com ela sempre que posso. Nós mantemos contato sempre
e ela se tornou minha mestra, minha guru na dança... Corro pra ela sempre! Depois
de alguns meses me mudei para São Paulo, por motivos amorosos, e começou um
novo capítulo no Tribal para mim. Desde então, conheci muita gente legal,
viajei bastante e fiz aulas com pessoas incríveis, entre elas: Mira
Betz (que junto com a Ariellah está no topo da minha lista de
inspirações), Lady Fred (idem, uma pessoa e professora
incrível!), Heather Stants, Moria Chappell, Kami Liddle, Sônia Ochoa, Tjarda
Van Straten, Rachel Brice, Carolena Nericcio-Bohlman, entre outras diversas gringas e brasileiras, porque gosto muito de
fazer aula com minhas colegas também. Temos tantas profissionais incríveis no
país, que não perdem em nada para as de fora... Temos profissionais valiosas
aqui! Vale a pena investir em aulas com as nossas bailarinas... Do
Tribal e da Dança do Ventre! A cena aqui esta se fortalecendo cada vez mais e
já é muito rica!
Ariellah Aflalo - por ter sido a
primeira que assisti de Fusion e por ter compartilhado tanto conhecimento
comigo também depois que a conheci pessoalmente.
Mira Betz - pelos ensinamentos
que levei para minha vida, além da minha dança.
Lady Fred - por ter me
ensinado tanto em tão pouco tempo de convivência.
Rachel Brice - por me ensinar que ser profissional não é deixar de ter um lado gentil
e humano.
Carolena Nericcio-Bohlman - por seu amor ao que faz.
Mariana Quadros - pela
ajuda quando me mudei para São Paulo, pelo incentivo ao meu trabalho e
ensinamentos enriquecedores. Só postei meu primeiro vídeo no youtube por causa
dela! Hehehe
São tantas... com cada professora que
estudei aprendi algo de valioso que guardo com carinho.
BLOG:
Além da dança do ventre você já fez ou faz mais algum tipo de dança? Há quanto
tempo?
Paralelo a dança
do ventre eu sempre fiz outras danças: Street
dance, Ballet, Flamenco, Dança Indiana (Odissi), Dança
Africana, Dança Contemporânea e me formei em Dança do Ventre, é claro.
Fiz Street quando pequena e em aulas
espaçadas depois de velha (hehehe); ballet clássico, um ano ou dois, muito
menos do que gostaria; parei quando me mudei para São Paulo, um dó porque
estava fazendo ponta. Flamenco fiz alguns meses. Dança Indiana (Odissi) e
Africana fiz somente workshops; Dança Contemporânea estudo regularmente e faz
parte do meu trabalho atualmente; e Dança do Ventre fiz e faço aulas regulares e
workshops desde 1999, sempre que posso.
BLOG:
Quais foram suas primeiras inspirações? Quais suas atuais inspirações?
Minhas primeiras inspirações na dança
ou na vida? Na vida meus pais, lógico. Talvez primeiro minha mãe, quando eu era
pequena; e na adolescência, meu pai. E mesmo na dança, os dois sempre me
incentivaram MUITO!
Minha atuais inspirações são um pouco
mais complexas... Não seriam pessoas, acho que seriam situações. As coisas da
vida, do dia-a-dia me inspiram muito mais que pessoas... Mas se tivesse que
falar em bailarinas seriam aquelas que já citei. Atualmente – e eu sei que isso
é MUITO BREGA – o que mais me inspira é o meu casamento. Eu tenho a imensa
sorte de ser casada com a minha melhor amiga, e ela ainda por cima dança
comigo! Ela me inspira diariamente, desde as pequenas coisas que faz até nas
nossas brigas. É inspirador amar! Hehe. Também voltei para a cidade que cresci,
e estar perto do mar, poder caminhar no pôr-do-sol molhando os pés, por
exemplo, me faz criar muito também. Por isso que falei antes, são situações,
momentos da vida que me inspiram. Além das artes, claro: livros, filmes,
imagens e MÚSICA, SEMPRE.
BLOG:
O quê a dança acrescentou em sua vida?
A dança me deu
ferramentas para expressar o meu interior. Não saberia dizer o que acrescentou
porque não me imagino sem ela, não me lembro de não estar dançando nunca. Acho
que faz parte de quem eu sou e sempre fui. A dança me ajudou a ser quem eu sou
hoje sim, mas também sempre fez parte de mim.
BLOG:
O quê você mais aprecia nesta arte?
O poder de
catalisar e expressar emoções. E o poder agregador que a Arte tem. Além das
pessoas desse meio, que são incríveis! Sou absolutamente apaixonada
pelos artistas que convivo. Muitos dos meus melhores amigos são também meus
colegas bailarinos.
BLOG:
O quê prejudica a dança do ventre e como melhorar essa situação?
Nesse momento eu diria que
principalmente o EGO. Quando o artista se coloca acima dos outros e não ao
lado, as coisas vão mal. Também acho que a falta de conhecimento, falta de
estudo e investimento errado de energia. O povo perde muito tempo se
preocupando com o trabalho alheio e esquece do seu.
Também me preocupo com a marginalização
da dança. Queria ver mais espetáculos de Dança do Ventre no palco mesmo! Aqui
em São Paulo isso já é realidade, mas no resto do país não é bem assim... Em
outros lugares quando você diz que faz Dança do Ventre o povo imediatamente
associa com outras coisas, muitas vezes com coisas meio negativas... Triste. Também
me preocupa a competição exagerada. Não, infelizmente o Tribal não está livre
disso, apesar de ser um estilo que prega o coletivo, mas ainda acredito que é um
meio um pouco mais unido que o de outras danças... Mas talvez seja utopia minha
enxergar assim, ou uma questão de tempo para ficar igual a outros meios super
competitivos. De qualquer jeito, vejo uma vontade enorme em diversas pessoas que
levantam a bandeira do estilo Tribal hoje de agregar, somar, unir esforços para
vivermos dignamente de Arte, ao invés de somente atacarem o trabalho alheio e a
suposta “concorrência”. Eu digo “suposta” porque para mim isso não existe, não
somos concorrentes. Cada pessoa faz um trabalho único e, assim sendo, oferece
um trabalho único também.
BLOG:
Você já sofreu preconceitos na dança do ventre ou fusões? Como foi isso?
Quando era
somente da Dança do Ventre, já era tatuada e bem alternativa, rolava uns
olhares atravessados... Mas nada muito forte. Dentro do Tribal, não que eu me
lembre.
BLOG:
Houve alguma indignação ou frustração durante seu percurso na dança?
Houveram algumas
sim... Mas prefiro me focar nas coisas boas.
BLOG:
E conquistas? Fale um pouco sobre elas.
Muitas! Eu nunca
quis viver de dança. Eu cursei faculdade de Psicologia e pensava que a dança
seria para sempre um hobby, uma
atividade secundária. Primeiro, porque sabia que era difícil financeiramente
viver de Arte e eu queria mais estabilidade. Segundo que não achava que eu
tivesse capacidade de ser uma boa bailarina, que estivesse a altura de outras
pessoas que admirava na cena brasileira. Não imaginava que poderia realmente
trabalhar com Arte. Foi uma grata surpresa tudo que aconteceu comigo e ainda
está acontecendo.
Fui chamada para dar aula numa escola que sempre admirei a distância, a Bele Fusco, e fiquei lá por quase 5
anos! Só saí porque me mudei. Tenho imenso carinho pela Adriana e Roger, que me
apoiaram muito quando cheguei em São Paulo. E também pela Mariana Quadros, que me indicou para substituí-la quando ela mesma
teve que sair da escola. Também foi a Adriana
que me chamou para fazer minha primeira tradução consecutiva de workshop
internacional, algo que NUNCA havia pensando em fazer antes dela me pedir.
As coisas comigo
foram acontecendo. Eu nunca pedi para dançar em um show de Gala, ou dar aula em
algum lugar ou evento...Sou muito grata porque as oportunidades me foram dadas
e eu as agarrei e aceitei com muito amor e gratidão.
Fui a primeira
professora chamada pela Rebeca Piñeiro
para dar aula na Escola Campo das Tribos,
a primeira escola dedicada ao Estilo Tribal em São Paulo, e inaugurei as duas
sedes da escola na Vila Mariana, uma honra imensa. Guardo muito carinho pelo Campo! Também foi uma honra ajudar nos
festivais traduzindo para bailarinas internacionais.
Fui chamada
também pela Cia Shaman para dar aula
no seu estúdio em São Paulo, sob direção da minha irmã de alma Paula Braz, e também inaugurei o espaço.
Eu já sou amiga da Shaman há muitos
anos e tenho um carinho imenso por cada uma delas. As considero como parte da
minha família Tribal. Choro vendo elas dançarem, tieto mesmo! É muito amor!
Também trabalho com elas nos Shaman’s
Fest como tradutora, o que é uma honra imensa! Uma das traduções que fiz
para elas foi dos works da Rachel Brice,
algo inesquecível para mim!
Jhade Sharif, Gabriela Miranda e Rhada Naschpitz |
Também estou
participando esse ano da produção do show do Gothla, organizado pela Jhade
Shariff e Rhada, duas amigas
queridíssimas do Dark Fusion! Eu e Yoli
daremos aula no evento, dançaremos e curtiremos muito! Hehe. Mais uma honra
enorme!
As conquistas
são imensas, mas todas só foram possíveis porque contei com ajuda e parceria de
pessoas maravilhosas. Sou eternamente grata a cada pessoa que citei à muitas
outras que não estão aí.
Dançar, dar aula
e participar de todos esses festivais: Encontro
Internacional, Campo das Tribos, Shaman’s Fest, Gothla BR, Oriental Fair e
todos os outros, são conquistas enormes para mim. Me enchem de alegria e
gratidão.
Me sinto extremamente feliz de fazer parte do meio do Tribal brasileiro e de
ser amiga de pessoas que visam elevar o patamar da Arte que fazemos, divulgando
o estilo como um todo e não só o seu trabalho individual. A minha meta, e
acredito que não seja só minha, é justamente essa: fazer com que o Tribal seja
amplamente divulgado e mais reconhecido como Estilo de Dança e como ARTE.
Assim, todas poderemos viver do que amamos fazer e em paz. Quando isso
acontecer para todo mundo, vai ser a maior das conquistas!
BLOG: Atualmente, como é o cenário da dança tribal no Rio Grande do Sul?
Pontos positivos, negativos, apoio da cidade/estado, repercussão por parte do
público bem como pela comunidade de dança do ventre/tribal?
Não
saberia dizer muito bem... Nos últimos 6 anos morei e trabalhei mais em São
Paulo e estou um pouco por fora da cena do Rio Grande do Sul... E mesmo quando
morava lá anteriormente, eu morava no litoral, onde voltei a morar, e só
conhecia a Trupe do Sul, em Porto
Alegre, e a Barbara Kale. Atualmente
sei que existe um trabalho bem forte do grupo Al-Málgama, da Bruna Gomes.
Estou muito feliz que tenha um Tribal tão forte e bonito no Rio Grande do Sul,
estou ansiosa para conhecer melhor a cena atual!
BLOG:
Você é uma das bailarinas do corpo inicial de tribaldancers daCia Dancers
South America(DSA), dirigida por Adriana Bele Fusco. Como
surgiu a oportunidade de fazer parte do DSA ? Comente como é coreografar um
grupo tão amplo e diversificado como este. Qual é o processo de criação para as
coreografias de dark fusion ?
DSA (2012) |
Eu fui convidada pela Adriana, em 2010, para integrar o DSA e em
2011 para ser coreógrafa de Dark e Tribal Fusion, e foi um prazer enorme!
Quando fui convidada eu nem acreditei. Havia me mudado para São Paulo há pouco
tempo e ninguém me conhecia direito, nem o meu trabalho; muitas pessoas
pensavam que eu era iniciante, mas eu já dançava há bastante tempo e dava aula
de Tribal há alguns anos... Foi uma surpresa! O primeiro ano foi intenso, muito
trabalho, suor e lágrimas hahaha. Mas no fim deu tudo certo e o show ficou
lindo! No segundo ano coreografei o Dark e uma música de Tribal Fusion, e o
processo foi mais tranquilo porque havia mais bailarinas e as coreos foram mais
divididas. Nesse segundo ano eu já estava trabalhando com a Adriana há um tempo, então foi um
processo tranquilo de criação. Também coreografei outras partes do show em
conjunto com Adriana e confeccionei,
junto com a Yoli Mendez e Beth Mitiko, os figurinos do Elenco
Tribal.
O processo de criação é simples:
trabalhamos com uma música designada pela Adriana
– salvo algumas exceções – então é quase como seguir um roteiro. É bem
diferente de criar um coreografia por conta própria, quando você escolhe a
música. Então criamos a coreografia, mostramos para Adriana, que aprova ou pede modificações. Em seguida, gravamos os
vídeos com os passos e explicações, e enviamos para as integrantes estudarem.
Em 2014, a Adriana teve a ideia de fazer uma releitura de um clássico do
Ballet utilizando o nosso corpo de baile a fazendo fusões das danças que
integram a companhia. Eu surtei, achei o máximo! Trabalhei o tempo todo com a Adriana e Simone Takusi compondo o espetáculo, que tem seis coreografias minhas,
além de idealizações interpretativas e ideias no roteiro. Sou apaixonada por
esse show. Infelizmente, entre o final do processo de criação e início da turnê, eu acabei me mudando e não pude acompanhar a Cia nos palcos! Estou em falta com
ela... Mas meu amor é enorme e me orgulha muito ver o resultado do esforço de
todo mundo gerar um espetáculo tão interessante e original!
BLOG:
Em 2010 você iniciou um projeto de dança chamado Charlotte. Você
poderia comentar sobre a proposta do grupo? Você tem pretensão em retomar com o
mesmo?
Charllote (2010) |
Foi algo bem informal entre amigas
também... Uma das meninas que dançava no grupo se mudou então acho que não
vamos retomar o projeto... Mas foi divertido!
BLOG:Você
é uma das criadoras do Ateliê Tribal Skin, destinado a figurinos
para o Tribal. Como surgiu a ideia ou oportunidade de formá-lo? Como é o
processo criativo para as linhas e suas inspirações para a composição das
mesmas? Há alguma curiosidade a respeito do nome do ateliê?
Engraçado porque a primeira pessoa a me
pedir para vender minhas criações, meus figurinos, foi uma das meninas do Charlotte, a Silvana Bowie. Quando ela elogiou meus figurinos e disse que
eu devia começar a fazer para vender eu parei para pensar e comecei a fazer
pequenas coisas para amigas, aí foi crescendo... Eu sempre fiz meus figurinos
de Tribal, e acabou que algumas pessoas gostaram e começaram a perguntar se eu
vendia. Não montei o Ateliê do nada, foi acontecendo, na verdade.
O nome foi dado pela Yoli
Mendez e significa “Pele Tribal”, então, na verdade, não seria como se
você usasse um figurino, mas sim a sua “pele” de dança... Algo que está ligado
à você, à sua personalidade e a à sua dança, não apenas um figurino.
BLOG: Em
2013, você e Yoli Mendez produziram o Festival Tribal Skin, evento bi-anual
de dança tribal. Conte-nos como surgiu a idéia do evento, sua proposta e
objetivos, organização e elaboração deste ,bem como a repercussão do mesmo para
a comunidade tribal quanto para seu público. Em sua primeira edição, vocês
tiveram como convidada especial a bailarina Sonia Ochoa (EUA). Conte-nos a sua
reação a respeito da cena tribal brasileira. O quê podemos esperar para as
futuras edições?
Gabriela Miranda, Sonia Ochoa e Yoli Mendez |
Por
conta da mudança ainda não fizemos a segunda edição. Mudar de estado não é
fácil e estamos com diversos projetos nossos para esse ano. Mas para o futuro
próximo estamos planejando fazer uma edição no Rio Grande do Sul com uma
bailarina internacional de Tribal. Estou conversando com três bailarinas no
momento para decidir qual trarei primeiro. A ideia é fazer o evento ano sim e
ano não, e alternando os locais entre São Paulo e litoral do Rio Grande do Sul.
BLOG:
Diga-nos um pouco sobre uma temática que você tanto gosta que já levou até para
os palcos: sereias! Como começou esse amor por esse tema? Quantas coreografias
você tem com essa temática? Conte-nos um pouco sobre a idealização de cada uma
delas.
Ahhhh... As sereias! Eu cresci perto do mar. Fui de
Umbanda por muitos anos e sou filha de Yemanjá. Sou fascinada pelo mar, preciso
estar perto. Sinto saudades... É uma coisa energética, inclusive. E desde
pequena tenho fascinação por sereias. Começou com a Ariel, da Disney, hehehe. Mas depois virou o ser mitológico em si;
e na minha adolescência eu amava mesmo eram as sereias devoradoras de homens,
sereias-vampiras, sedutoras e fatais, que são o meu tipo de sereia favoritas
até hoje!
Desde a Dança do Ventre eu pensava em fazer algo
com sereias... Quando tive meu grupo no sul, nós fizemos uma coreografia de 5
elementos e durante a criação do elemento água essa ideia foi se consolidando.
Eu me mudei, encerrei o grupo, mas a ideia ficou na cabeça. Comecei a pesquisar
movimentos de peixes, de caudas, de nadadeiras, a maneira como se movem debaixo
d’agua. Assisti diversos filmes, de todo o tipo, que tivessem vida marinha...
Estudei mesmo o personagem. Eu costumo fazer isso quando vou fazer um
personagem específico do imaginário coletivo.
Quando fiz a minha primeira interpretação de sereia
eu só tinha notícia da Nanda Najla
ter feito algo assim para um show porque ela mesma comentou que faria. Eu pedi
permissão a ela se poderia fazer uma sereia minha e ela disse que a Arte era de
todos, para eu ficar tranquila e me sentir livre.
As minhas alunas e amigas mais próximas sempre
souberem desse meu amor e me passam músicas com temática de água e sereias
sempre, até que uma aluna muito querida me passou a música perfeita: a música
que eu estava esperando aparecer para levar a minha sereia para o palco!
Comecei a garimpar meu primeiro figurino e dancei! No mesmo show a Kilma Farias dançou uma Yemanjá e eu
achei isso um sinal super positivo já que sou muito fã da Kilma e do seu trabalho! Foi uma estreia feliz. Tive um feedback muito positivo e quando vou
dançar solo muitas pessoas pedem que eu faça essa performance. Por causa do
interesse em cima do personagem, me pediram inclusive que desenvolvesse um
workshop compartilhando um pouco do meu estudo! Foi muito divertido desenvolver
essa aula também... Dei esse work no Campo
das Tribos e ele esgotou! As pessoas tem muito interesse nesse
personagem...
Perdi as contas de quantas vezes dancei
interpretando esse personagem, e também não sei mais quantos figurinos tenho
com essa temática... É algo que eu amo e está sempre presente, às vezes mais
claramente, outras vezes mais implicitamente.
BLOG: Conte-nos um pouco sobre a sua
coreografia, Frida (2013), em
conjunto com suas alunas. O quê a inspirou para a formulação da parte
conceitual e técnica das mesmas, assim como seus processos de elaboração dos
figurinos e maquiagens. Como essas coreografias repercutiram na cena tribal?
Essa coreografia surgiu para um Campinho – evento da Escola Campo das Tribos que é realizado
para as alunas dançarem, o espetáculo de final de semestre – que a temática
seria “Cinema”. Uma aluna querida surgiu com a ideia de fazer sobre o filme da Frida e eu enlouqueci. Pressionei as
meninas de leve inclusive (porque a escolha era por votação, como tudo nas
minhas aulas). Se elas não tivessem escolhido para a coreografia, eu teria
feito um solo. Fiquei enlouquecida. Já era fã da Frida, de sua luta, sua personalidade forte, seus quadros, sua
vida. Mas nunca havia pensado em dançá-la! Li duas biografias e assisti o filme
não sei quantas vezes para fazer a coreo. Nós fizemos uns brainstorm falando sobre o que não poderia faltar na coreografia
para retratar essa mulher tão significativa. O acidente, o casamento com Diego,
a fora de vontade, a política, os quadros, não conseguir ter filhos... Pensamos
na vida dela e fomos inserindo na coreografia. Eu mesma editei a música para
intercalar momentos dramáticos e fortes, como a vida da Frida. Eu dirigi a coreografia e fiz o grosso, diria que ela é uma
parte minha. As outras partes foram ideias das meninas, sugestões, mudanças,
etc. Eu tenho o costume de coreografar em parceria com minhas alunas. A
maquiagem e figurino foram pensadas em conjunto também, não foi difícil chegar
no resultado final porque a Frida em
si já era muito Tribal né?
Não tenho ideia como isso repercutiu na cena
Tribal, nem mesmo se chegou a repercutir. Sei que minhas alunas formaram um
grupo de dançam essa coreo sem parar! Elas são até conhecidas como “As Fridas”,
embora se eu fosse dar um nome ao grupo seria “SoFrida” ;)
BLOG:
Como foi fazer parte de um grupo de ATS®, como o Pandora, dirigido
por Mariana Quadros, e o Pashmina, dirigido por Rebeca Piñeiro? Qual a importância que
você vê no ATS®?
É muito
divertido fazer parte de um grupo de ATS®, na verdade! E acredito que é assim
que deve ser! Um monte de amigas reunidas dançando juntas... O ATS® para
mim, é uma das origens do Fusion, a base... Acho importantíssimo estudá-lo, por
isso eu ensino o que sei para as minhas alunas, de forma diluída, nas minhas
aulas de Fusion e há pouco tempo comecei a dar aula de ATS® puro. Gosto da
técnica, gosto dos passos e acho importante. Essa é a minha didática pessoal de
ensino. Acho essencial saber pelo menos o básico se você deseja se
profissionalizar em Tribal, mas obviamente não é algo obrigatório. O ATS®
acrescentou muito à minha dança e técnica; é incrível os padrões que você
reconhece quando o estuda. Aqueles passos que você vê bailarinas que você ama
fazendo tomam sentido e forma, e você entende da onde vem tudo: os braços
altos, o trabalho muscular, os giros, os deslocamentos, as transferências de
peso... Para mim, é algo realmente essencial. Mas essa é apenas a minha
opinião. O que eu lamento às vezes é ver bailarinas que nunca estudaram ATS®
utilizando passos do estilo sem nem mesmo saber o que estão fazendo e da onde
vem, com a técnica suja por puro orgulho em não querer aprender algo que só irá
ajudar a sua dança... Por isso, muitas vezes, não vejo sentido em “defender”
que o Tribal Fusion é algo completamente a parte do ATS® se as mesmas pessoas
que fazem isso utilizam passos de ATS® sem conhecimento. Acredito que o Fusion
é, sim, muito livre; e o meu Fusion NÃO é um tipo doido de solo de ATS®. Mas
sim, o ATS® acrescentou muito em minha dança, e me sinto feliz em tê-lo como
base e em poder compartilhar o pouco que sei sobre ele com minhas alunas.
BLOG:
O seu atual grupo de ATS®, dirigido em conjunto com Yoli Mendez é o Sis
Tribal. Conte-nos como surgiu o grupo, a etimologia da palavra, seus
integrantes, qual estilo marcante do mesmo e se ele sofreu alguma mudança
estrutural ou de estilo desde quando foi criado.
O grupo surgiu da nossa vontade de dançar ATS® com
as amigas! Felizmente temos muitas amigas que dançam ATS® e o grupo somos
essencialmente nós duas dançando com qualquer pessoa que quiser dividir o palco
com a gente no evento em que estivermos dançando. Simples assim. Quando não há
ninguém, dançamos somente as duas. O
nome “Sis” vem de “sister”, que significa “irmã”, e é autoexplicativo.
BLOG:
Como eram as informações sobre o estilo na época em que você começou a
pesquisar? Como era visto o ATS® naquela época e como ele vem se apresentando
hoje na cena tribal brasileira, quando todos já tem conhecimento sobre o que é o ATS® e sua
importância para o tribal fusion? Na sua opinião, o quê precisa ser melhorado,
aperfeiçoado e, até mesmo, mudado no comportamento da(o) tribalista(o)
brasileira (o).
Quando comecei a dançar Tribal se falava no estilo
como um todo. Tudo era Tribal. A divisão entre ATS® e Fusion não era tão clara,
existiam muitos grupos fazendo ITS também, o que dava uma confundida para mim.
Depois que a Carolena
Nericcio-Bohlman registrou o nome do estilo e do seu grupo FCBD® tudo ficou
mais separadinho e mais claro, mas fácil de estudar e pesquisar. Acho que foi
algo necessário e que ajudou a entendermos melhor o Estilo Tribal como um todo.
Eu brinco que no Brasil nós primeiro importamos a estética e só agora estão
vindo os conceitos mesmo. É claro que alguns grupos e bailarinas captaram desde
o início, mas muitos outros achavam que Tribal era só dançar Dança do Ventre
com figurino preto cheio de búzios... Na ânsia de fazer fusion, poucas pessoas
pesquisaram as raízes e foram estudar Jamila
Salimpour, Masha Archer e Carolena Nericcio. Acho que agora estamos mais
conscientes do caminho do Tribal e mais respeitosas com as raízes e tronco da
nossa árvore genealógica.
Não tenho a pretensão de achar que posso medir o
que deve ser melhorado na nossa cena. Mas eu acredito no estudo árduo. Acredito
que quanto mais estudarmos, melhor a cena se tornará para todas. E falo em
estudar de TUDO com TODO MUNDO. Estudar Dança em geral, estudar as origens,
estudar técnica de Tribal e também das fusões que o compõe e de tudo que te
interessar para sua fusão. E estudar com as professoras daqui, com as colegas,
com as alunas. Vamos deixar de ser arrogantes e trocar conhecimento? Fico com
dó de ver a quantidade de “gente grande” da dança que não estuda com
brasileira. Perdem tanto... Mas cada um é responsável pelo seu próprio caminho
na Arte e na vida.
BLOG: Em abril de 2015,
você esteve em uma imersão em São Paulo, realizado pelo Festival Campo das
Tribos, a estudos pela dança tribal e por sua certificação em ATS® com a criadora do
estilo, Carolena Nericcio, e Megha Gavin.
Gostaria que nos explicasse melhor sobre o processo de certificação ( e como se alcança o
tão estimado selo de Sister Studio. E qual importância de conseguir tal certificação,
em sua opinião.
Nós
primeiro estudamos o General Skills –
Repertório Clássico, e depois General
Skills – Repertório Moderno; depois fazemos o Teacher Training. Durante o General
Skills são muitos passos e é ESSENCIAL que quem quiser fazer a formação JÁ
SAIBA DANÇAR ATS® ANTES DE FAZER O CURSO. As explicações são breves e é melhor
que você esteja preparado e já saiba tocar snujs.
No Teacher Training, Carolena dá uma palestra sobre dar aulas, que na verdade serve para dar aulas de qualquer estilo, não só se ATS®. Ajuda muito! E depois, num segundo momento, recebemos um passo aleatório e ensinamos para as colegas, sob os olhares de Carolena e Megha. Recebemos um feedback das colegas e das professoras. Depois do certificado você ainda não é Sister Studio. Você precisa escrever para o FCBD® e solicitar o contrato. Se concordar com tudo e fizer todo o procedimento pedido por elas, você poderá se tornar Sister Studio. Aí você é adicionada à lista de Sisters ao lado de nomes como da própria Carolena e das integrantes do FCBD®.
No Teacher Training, Carolena dá uma palestra sobre dar aulas, que na verdade serve para dar aulas de qualquer estilo, não só se ATS®. Ajuda muito! E depois, num segundo momento, recebemos um passo aleatório e ensinamos para as colegas, sob os olhares de Carolena e Megha. Recebemos um feedback das colegas e das professoras. Depois do certificado você ainda não é Sister Studio. Você precisa escrever para o FCBD® e solicitar o contrato. Se concordar com tudo e fizer todo o procedimento pedido por elas, você poderá se tornar Sister Studio. Aí você é adicionada à lista de Sisters ao lado de nomes como da própria Carolena e das integrantes do FCBD®.
A
importância disso varia de acordo com a visão de cada um. Você pode, sim, dar
aula de ATS® sem ser certificada, o que muda é que você não estudou com a
própria Carolena, mas isso não quer
dizer que sua didática é errada ou que você é menos que uma Sister Studio. Aqui no Brasil damos
valor demais para selos e certificações. Eu acredito que o currículo individual
geral de uma bailarina seja mais importante do que uma formação/certificação
apenas. Para mim é a trajetória da bailarina e sua didática pessoal que a
tornam uma boa profissional. As certificações somente atestam que você passou
naquele padrão específico, não que você é uma boa professora ou, ainda, uma
professora gentil com suas alunas, por exemplo. Cada aluna irá exigir algo
diferente, então a escolha da aluna sobre uma professora de ATS® deve levar em
conta mais coisas do que apenas a sua certificação. Existe todo tipo de
professora e de aluna. Não acredito que se apoiar numa certificação seja
garantia de um bom ou mal estudo, a formação apenas atesta que aquela
professora estudou o que faz direto da fonte.
BLOG: Hoje contamos com
diversos recursos de estudos. O próprio FCBD® vem lançando materiais muito bons
nos últimos anos. Em relação ao estudo de ATS®, que dicas você daria para
aqueles que ainda não podem estudar com uma professora do estilo, mas que
gostariam de aprender mais sobre o mesmo, tanto na teoria quanto na prática?
Eu
recomendo TODOS os DVD’s do FCBD®. Mas não existe estudo de ATS® eficaz sem
você dançar de verdade em grupo. É necessário colocar no corpo! Sentir o ATS®
mesmo sabe? A troca com as amigas, os snujs, a música no corpo... Só dançando
para entender e também amar!
BLOG:Você é colunista da Revista
Shimmie. Como surgiu tal
oportunidade? Como você
seleciona os temas a serem abordados na revista e os desenvolve? Como você encara
esse espaço na revista para cena tribal brasileira?
Eu já havia escrito uma vez para a
Revista Shimmie há uns anos por indicação da Rebeca Piñeiro, que era colunista
fixa na época. Uma indicação que agradeço muito! Escrevi sobre o Dark Fusion.
Algum tempo depois uma das meninas da redação da Shimmie se tornou minha aluna
particular, e sempre conversávamos sobre Tribal. Ela me pediu para escrever
mais uma ou duas vezes e depois me convidou para ser colunista desse ano da
revista (as colunistas mudam a cada ano). Eu sou muito fã da revista, então
fiquei muito feliz com o convite! É uma grande responsabilidade, mas tem sido
muito divertido. Minha coluna se chama “Tribal pelo Mundo” e falo de novas
bailarinas que estão fazendo um trabalho original dentro do Tribal ao redor do
mundo. O tema foi proposto pela revista, mas a execução é minha e completamente
livre. Eu escolho os temas relacionados às bailarinas (já falei sobre Dança
Contemporânea, Yoga, Artes Circenses, por exemplo), entro em contato com cada
bailarina gringa, faço o trabalho de tradução dos textos que elas me mandam
(peço sempre em inglês apesar de já ter falado sobre uma bailarina holandesa e
uma francesa, por exemplo), escrevo a coluna e seleciono as fotos. Essa troca
com as bailarinas sobre as quais eu falo é muito enriquecedora! Aprendo muito
com elas, e acabei até fazendo novas amigas por conta da coluna. Um presente.
Acredito que o trabalho da Shimmie abrange um número muito grande de bailarinas
e que esse espaço é muito importante para ajudarmos a divulgar o Tribal e
também fazer com que o público entenda do que se trata essa fusão, sem tanta
confusão! Hehehe, desculpem o trocadilho besta.
BLOG: Em 2014, você e Yoli Mendez lançaram um novo formato de cursos ministrados em
dupla. Conte-nos como chegaram a esse formato e como vocês o desenvolvem em
sala de aula. Sobre os Cursos Mensais, como
surgiu a idéia? Qual a proposta dos curso? Qual a repercussão entre os alunos?
O curso surgiu para mantermos
contato com nossas filhotas de dança de São Paulo. Eu e Yoli temos uma didática
diferente, mas com pontos principais em comum: nós gostamos de ensinar a
História do Tribal; praticar técnica e repertório de ATS®; utilizar exercícios
de criatividade, improviso, coreografia... Tentamos ensinar nossas alunas a
pescar, não damos o peixe pronto, entende? Queremos que elas virem bailarinas
pensantes, e independentes de nós ou de qualquer professor. Então, com essa base
em comum, conseguimos unificar nossa didática e criar um curso nosso.
O formato em dupla foi porque
queríamos unir nossas alunas, as dela e as minhas, e a Yoli já vinha
trabalhando comigo há um tempo, ajudando a planejar aulas e montar coreografias.
Nós criamos muito juntas, é algo natural para nós. Foi tranquilo e muito
prazeroso. Durante as aulas em si ela atua mais no backstage e eu ensino mais, porque ela é mais tímida. Mas ela
participa de todo o processo comigo e com as alunas. Como eu disse antes, o
curso surgiu da ideia de não perder contato com as filhotas de sampa já que elas
pediram para continuar com as aulas comigo, eu montei esse formato mensal. Não
é um curso de formação, não as formo em nada, nem no meu método particular. São
aulas mensais de aprofundamento em Tribal, questionamento, criação, troca...São
oficinas! E são abertas. A maioria das alunas já faziam aula comigo antes,
então fica tudo em casa. O clima é descontraído e gostoso, do jeito que eu
gosto de uma aula de dança. As aulas são interligadas entre si, sendo o tema
semestral. Uma aula é conectada a outra, mas também tem temas individuais e
podem ser feitas separadamente. Os certificados são dados para quem tem 80% de
frequência somente para atestar que a pessoa participou do semestre e concluiu
aquele tema semestral geral. As alunas nos ajudam bastante com feedbacks e nós acreditamos em
reestruturar o curso de acordo com as participantes e com a demanda, então,
todo semestre muda, o que meu lado geminiano aprova e muito! O curso é feito
para elas, então eu sigo o que elas precisam e preferem. Tem dado certo!
Fui autodidata somente enquanto não
achei professoras acessíveis. Eu defendo e muito o estudo com outras
profissionais. Para mim nada se compara ao estudo aprofundado com pessoas que
vivenciam a dança.
BLOG:
Você é uma bailarina com uma dança bem peculiar. Gostaria que comentasse e
opinasse um pouco sobre a rotulação dos estilos dentro da dança tribal, visto
que é uma abordagem muito recorrente em seus comentários, os quais acompanho
pela internet.
Peculiar é bom ou ruim? Hehehe. Eu não
curto muito rótulos. Acho que eles mais limitam do que explicam... Acho que
Tribal Fusion é um termo suficientemente abrangente para um monte de sub-estilos
de dança. Não vejo necessidade de ficar rotulando tudo. Dependendo do caso, os
rótulos mais atrapalham do que explicam o que você faz.
BLOG:
Sob sua óptica, o quê é dark fusion? Como surgiu seu interesse pelo
lado obscuro ou underground da dança?
Vou repetir o que está no meu material
de aula, ok? Para mim Dark Fusion é um tipo de dança derivada do
Tribal Fusion, que visa explorar o lado mais sombrio da vida, na dança. Ele
tenta trazer a tona o lado mais sentimental, reflexivo e expressivo da
bailarina. É um estilo que ajuda a dar vazão a sentimentos obscuros que ficam,
muitas vezes, reprimidos ou guardados dentro de nós. O Dark Fusion nos permite
deixar aflorar sentimentos como tristeza, raiva, saudades, amor platônico,
melancolia e explorá-los na dança, de maneira única e pessoal. Também permite
demonstrar no palco sentimentos alegres como amor, paixão, força, e todo tipo
de emoção... É uma dança extremamente teatral e performática.
Não sei dizer como surgiu o meu
interesse nesse lado mais sombrio da dança... Talvez
tenha sido parte da minha
caminhada de autoconhecimento. Eu sou uma pessoa melancólica, eu adoro explorar
esse lado através da música, de poesia e leitura... Foi natural. Eu me atraio
pelo sombrio em tudo, não só na dança, mas na arte em geral e na vida. Fiz
Psicologia pelo mesmo motivo, entender esse lado da psique. A mente humana me
fascina, assim como os seus desejos, medos, sentimentos e emoções. Acredito que
a “boa” Arte é aquela que nos provoca algo, e isso não precisa ser
necessariamente bom. O teatro (eu participei de um grupo por alguns anos e
estudei teatro por pura paixão) me deu ferramentas para entrar em contato com
meu lado sombrio rapidamente e eu adoro explorar isso na dança. Nada é preto
nem branco, tudo é feito de tons entre esses dois. Porque ficar só no alegre?
Eu quero o outro lado também e tudo que está no meio... Quero explorar, quero
sentir, quero expressar o que está dentro de mim. E dentro de mim também
existem sombras, como em todo mundo.
BLOG: Na sua opinião, o quê é tribal fusion?
Vou colar o que está no informativo
das minhas aulas:
O Tribal é um estilo de dança muito novo, mas que
fusiona danças étnicas muito antigas. Desde o final dos anos 60 com Jamila Salimpour e seu grupo Bal Anat, passando por Masha Archer e sua trupe, até chegar em Carolena Nericcio-Bohlman e o ATS®, o
Estilo Tribal se apresenta como uma fusão em tributo aos povos ancestrais
tribais. Originalmente uma vertente da Dança do Ventre fusionada com Flamenco e
Dança Indiana, o Tribal se transformou e foi agregando outros estilos de dança,
sendo modificado pelas próprias bailarinas que o praticam, abrangendo técnicas
que vão desde a Yoga até chegar na Dança Contemporânea e no Breakdance, sendo
hoje conhecido como Tribal Fusion ou Fusão Tribal.
É um estilo em constante transformação e desenvolvimento, que sempre acompanha as tendências atuais e varia de acordo com o estilo pessoal de cada bailarina.
É um estilo em constante transformação e desenvolvimento, que sempre acompanha as tendências atuais e varia de acordo com o estilo pessoal de cada bailarina.
Em sua essência é um estilo de dança que prega a coletividade e união
entre os diversos povos e etnias, assim como a sororidade entre as próprias
bailarinas que o praticam. Desde a caracterização, passando pelos passos e
músicas, é um estilo que reverencia e homenageia diversas tribos, levando para
o público a harmonia do trabalho em grupo e a arte do trabalho solo.
A liberdade criativa! Poder dançar
praticamente qualquer coisa, com praticamente qualquer figurino, para
praticamente qualquer público! As possibilidades são ilimitadas!
BLOG:
O quê você acha que falta à comunidade tribal?
Ah, não sei... Nem tenho pretensão de
saber. Acho que eu não mudaria nada. Mesmo as brigas e debates são necessários.
Opiniões divergentes significam cabeças pensantes e isso é sempre uma coisa
positiva, nunca negativa. Acho que eu não mudaria nada. Só diminuiria alguns
egos exaltados para ter espaço para todo mundo.
BLOG:
Sobre sua carreira, qual/quais seu momento tribal favorito ou inesquecível?
Ah são tantos, não saberia escolher um só! Mas
conhecer Ariellah, depois Rachel Brice e, mais além, Carolena Nericcio são três momentos
inesquecíveis.
BLOG:
Como você descreveria seu estilo?
Tribal Fusion, e SÓ. Eu danço o que
estou a fim e eu mudo muito. E SÓ! :)
BLOG:
Como você se expressa na dança?
Como eu me expresso na dança? Como eu
NÃO me expresso na dança? É impossível dançar sem expressar algo... Não consigo
desassociar. Eu expresso tudo que sou, que sinto. Sem limites nem regras.
BLOG: Improvisar ou coreografar? E por quê?
Os dois! Acho que os dois são
fundamentais para uma bailarina profissional... Eu particularmente nunca
consegui solar coreografando, mas faço coreografias para minhas alunas, para
meus duos e apresentações com amigas, para o DSA e para todo tipo de coisa...
Amo as duas coisas, não saberia escolher! Amo a liberdade do improviso, de
experimentar a música e o público no momento, de deixar a emoção comandar os
passos... Mas também amo a segurança e a beleza da coreografia, a dedicação de
planejar cada momento, cada passo... Os dois, sempre.
No momento me dedico totalmente à dança sim, e tem sido assim nos últimos 6 anos. Antes trabalhava com dança e também me dedicava à Psicologia paralelamente. Tenho atuado profissionalmente com dança há 11 anos e dançado há mais de 16 anos. Ao longo da minha carreira fiquei passada com a quantidade de pessoas que descobri pensarem que trabalhar com dança é apenas subir no palco ou entrar em sala de aula para fazer ou dar aula... SÓ QUE NÃO! Grande parte do nosso trabalho é feito durante os momentos que temos em casa, no estúdio ou no computador: planejando aulas e workshops, estudando e pesquisando desde a história até a teoria e técnica do que trabalhamos para repassar em aula, coreografando para alunas e os grupos que dirigimos, escrevendo todo tipo de coisa (apostilas de aula, releases, colunas, descrições, textos para blogs, traduções relativas à dança, a lista não acaba...), planejando viagens de trabalho, produzindo pequenos e grandes eventos, editando fotos, músicas e vídeos, criando e costurando figurinos, desenvolvendo flyers, assessorando e ajudando pessoas (alunas, colegas, professoras formadas por você), fazendo reuniões ou dando aulas particulares pelo Skype, administrando nossa carreira nas redes sociais e muitas vezes nossos próprios espaços de dança também... Entre muitas outras coisas e práticas específicas de cada profissional que VIVE de dança. E é bem isso, quem costuma ter a dança como profissão, VIVE A DANÇA praticamente o tempo todo.
Eu imagino o palco e a sala de aula como a ponta do iceberg, sabe? O que vai a público de todo o trabalho duro que temos quando ninguém mais vê. Por isso aquela velha pergunta "Você trabalha ou só dança?" é tão difícil de engolir para todas nós... Nós trabalhamos muito e o tempo todo, muitos dias por muito mais horas que uma jornada de trabalho "normal". E não ganhamos dinheiro por cada coisa que fazemos, só por essa “ponta do icerberg” mesmo. É um trabalho extenso, tem vezes que parece que nunca acaba. Quando estamos sem fazer nada, geralmente estamos deixando de fazer algo que deveríamos estar fazendo. Mas é extremamente prazeroso também e por ser tão divertido, nem parece trabalho!
Se você vive de dança, não costuma ser somente bailarina e/ou professora... Geralmente você se torna eterna estudante, bailarina, professora, coreógrafa, figurinista, produtora, pesquisadora, editora, empresária, administradora, escritora, tradutora, esposa, mãe, faxineira e tantas outras profissões paralelas que nós que dançamos mantemos para dar conta de tudo que permeia a dança.
E é claro que como professoras e bailarinas temos que treinar também, separar um tempo para nos dedicarmos à nossa própria dança. Eu pratico Yoga regularmente em casa, sozinha. Só pratico sozinha agora porque participei de práticas com instrutores previamente e por muito tempo. Eu gosto de praticar sozinha principalmente por causa da parte da meditação, já que gosto de me concentrar sozinha e me conectar comigo mesma... Fico distraída com outras pessoas junto comigo quando medito, então prefiro praticar sozinha atualmente. Além da Yoga eu treino ATS® e Fusion sozinha e com a Yoli, bem menos do que eu gostaria e do que acho ideal (hehe), mas treinamos nossos duos e treino sozinha as coreografias e combos das minhas alunas. Faço práticas de improviso porque não coreografo meus solos, por isso não os treino especificamente, só escuto a música incansavelmente até ela não desgrudar do meu cérebro. Essa é outra parte do trabalho: eu edito todas as minhas músicas (solos, coreografias, ATS®, todas). Além de todo o trabalho virtual que falei antes, eu faço meus próprios figurinos e costuro pelo Ateliê, mas conto com ajuda. Trabalho em parceria com a Yoli e temos uma costureira fantástica também que trabalha para nós desde que abrimos o Ateliê, a Beth. Ela me ajuda muito porque consegue colocar no tecido todas as minhas ideias doidas e da Yoli também!
No geral, minhas rotina tem sido fazer tudo isso que citei acima, mas meu foco tem sido me dedicar ao espaço que estou abrindo. É um espaço bem pequeno, mas que vai estar recheado de amor! Estou abrindo em parceria com as mulheres da minha vida: minha esposa e minha mãe. Minha cunhada que é formada em Artes também está participando, e será um espaço voltado para a Arte em geral, não somente para dança.
Em 2015 estou focada também na minha
mudança, em recomeçar em um novo lugar, levando o Tribal para o litoral do Rio
Grande do Sul. Estou focada em um projeto bem específico: a reabertura do meu
próprio espaço aqui no Sul. Antes de me mudar eu dividia com a minha mãe um
espaço e vamos reabrir no mesmo local, mas com uma proposta diferente: será um
espaço de Arte, não um estúdio de dança. É um espaço bem pequeno, mas a
proposta é focar no atendimento personalizado, individual e/ou com turmas
reduzidas para aprofundar o estudo e autoconhecimento. É algo que quero muito
fazer. Eu nunca quis ser dona de estúdio de dança e não faria isso em qualquer
outro lugar que não fosse na minha cidade.
Tenho também alguns projetos audiovisuais
a caminho, mas que ainda não sei se sairão do papel esse ano ainda! Vamos
torcer.
Me empolguei muito em me formar em
ATS®, foi a realização de um sonho e concretização de um projeto para esse ano.
Também estou super empolgada com os
eventos desse ano, com as aulas que vou dar, com a produção do show do Gothla e com o workshop em dupla novinho
em folha que vou ministrar junto com a Yoli.
E para o ano que vem, projetos
novos...!
BLOG:
Deixe um recado para os leitores do blog.
A minha citação favorita sobre arte é
uma de Aristóteles que diz:
"The aim of art is to represent not the outward
appearance of things, but their inward significance."
Em tradução livre feita por mim: “O objetivo da arte é
representar não a aparência exterior das coisas, mas sim o seu significado
interior”.
Acredito que essa citação resume o que
penso sobre arte. A arte é uma ferramenta para expressar o que vai dentro de
nós, o que temos no interior. A sua função não é captar a aparência externa das
coisas, a arte não pode ser puramente estética, bonita, atraente. Pelo menos
não para mim. É claro que é agradável quando algo é esteticamente atraente,
quando um quadro, foto, dança, o que for, nos parece “bonito”... Mas mesmo o
“belo” é absolutamente relativo e varia de acordo com a pessoa que avalia a
arte em questão. Então, ser atraente esteticamente é tudo que você quer
representar com a sua arte? Isso é tudo o que você quer dizer com o que faz? Se
sim, tudo bem. Mas eu preciso, desesperadamente, que minha arte signifique algo,
e é por isso que danço da maneira que danço. Eu acho que o quê nos faz dançar,
antes de tudo, é a paixão pela dança em si, mas o que nos faz permanecer na
arte é algo muito mais profundo e pessoal... O que nos faz permanecer é a
maneira como nos sentimos ao dançar. Eu sei que é piegas e batido o que vou
falar, mas a dança para mim é realmente uma ferramenta de catarse, de expressão,
de comunicação... É a minha maneira de me colocar no mundo. Eu tento manter
isso em mente, mesmo quando me frustro com minha própria técnica, meus solos,
minhas coreografias, porque vivo disso profissionalmente, então tudo isso pode
ser bem frustrante. Mas quando tenho vontade de desistir eu lembro do que me fez
começar a dançar, que é o que ainda me faz e continuo... Eu não posso viver sem
isso, se eu parasse de dançar seria como se eu não pudesse mais falar. Eu danço
porque não sei viver sem dançar. Quando meu corpo transborda com alguma emoção
ao invés de chorar, eu danço. Quando algo de muito bom acontece, ao invés de
pular e gritar, eu danço. Eu sei que é brega, mas é verdade. Não estou dizendo
que é o certo pensar na arte e na dança da maneira que penso, mas quando você
se coloca no que faz, coloca um pedaço real seu, é quando as pessoas conseguem
se conectar com a sua forma de arte, seja ela qual for. Todos nós sentimos as
mesmas coisas: medo, amor, raiva, alegria, tristeza, solidão, esperança... E
nós precisamos saber que não estamos sozinhos, por isso nos conectamos com
outras pessoas que muitas vezes nem conhecemos através da música, literatura,
pintura, teatro, dança... A arte nos ajuda a entender que não estamos sozinhos.
Então a dica é: dance porque você ama e coloque o que você é e o que você ama
na sua dança. Se aproprie dela. Não queira a dança nem a arte de outro artista.
Crie a sua. Não force nada. Tudo virá se for consequência da sua paixão, do seu
amor pela dança, de sua dedicação, de sua liberdade em poder fazer sua arte do
jeito que quiser. Valorize quem você é como pessoa para ser valorizado como
artista pelo seu público. Trabalhe e treine muito se deseja evoluir com a sua
técnica, mas deixe a sua dança fluir naturalmente e ela vai te conduzir por
caminhos inesperados.
Contato:
E-mail: gabi.miranda.psico@gmail.com