Nossa entrevista do mês de Julho é a bailarina de Curitiba- PR: Mariáh Voltaire! Ela nos conta sobre seus projetos com a videodança,sua relação com a Arte, sobre o tribal realizado pelo grupo Damballah e muito mais! Bora ler? Lilililiiii
BLOG:
Conte-nos sobre sua trajetória na dança do ventre/tribal. Como tudo começou
para você?
Tudo começou com as aulas de Dança do Ventre, nem
lembro exatamente em que época foi, acho que em 2004, mesmo período que conheci
a Dança Tribal, por isso fui fazer Dança do Ventre. Lembro que fiz poucas
aulas, porque eu achei um saco ter que ficar vendo a mulherada purpurinada
competindo para ficar em frente ao espelho. Não era isso que eu queria para
mim.
BLOG:
Quais foram as professoras que mais marcaram no seu aprendizado e por quê?
Não tive muitas professoras, as que eu posso citar
são bem poucas, uma delas foi Tânia Fráguas, professora de dança Clássica
indiana Barathanatyam. Lembro que as aulas com ela eram muito empolgantes, o
espaço que ela dava aula era todo místico, gostoso, me sentia bem lá. Outra foi
a Sharon Kihara, que tive o imenso prazer de fazer um work com ela em Lisboa, foi
ótimo. Marcou-me a maneira como ela lidava com as alunas, não tinha o ego
inflado sabe? Ela estava aprendendo tanto quanto nós.
BLOG: Além da dança tribal você já fez ou faz mais algum tipo de dança? Há
quanto tempo?
Fiz durante um tempo a dança clássica
indiana Barathanatyam. Pense numa dança difícil! Caraca sentia dores imensas
nas coxas depois de cada aula. Creio que foi durante um ano; minha professora
não tinha muitos horários e o espaço dela era meio longe; eu tinha a faculdade
e o trabalho, por conta disso não consegui mais conciliar meus horários. Uma pena...
BLOG:
Quais foram suas primeiras inspirações? Quais suas atuais inspirações?
Primeiramente foi o grupo FatChanceBellyDance,
lembro de ter visto elas dançando pela primeira vez em um DVD que uma amiga da
minha mãe mandou de Boston. Eu senti meu corpo ter uma sensação antes não
sentida. Depois através das buscas pelo FCBD achei a Rachel Brice, fiquei
encantada. Os movimentos precisos e sinuosos me encantaram imediatamente.
BLOG:
O quê a dança acrescentou em sua vida?
Um meio de eu me expressar, um refúgio, um amparo.
BLOG: O quê você mais aprecia nesta arte?
As possibilidades em você poder se comunicar sem ser
através da linguagem oral, apenas pela linguagem do corpo.
BLOG: O quê prejudica a dança do ventre e como melhorar essa situação?Você acha
que o tribal está livre disso?
Sinceramente, da cena da Dança do Ventre eu quase não sei de
muita coisa. A impressão é que o ego fala mais alto do que as purpurinas dos
figurinos! RS... Mas vendo pelo lado do tribal, isso também acontece, afinal, estamos mexendo com mulheres, com corpos, com autoestima. Tudo isso contribui
para egos mal trabalhados no divã e vemos os resultados negativos em eventos,
projetos e shows.
BLOG:
Como é ter
um estilo alternativo dentro da dança. Conte-nos um pouco sobre isso.
O meu estilo está pautado agora mais do que nunca na
videodança, e como foi uma linguagem na qual fui pioneira dentro da Dança
Tribal, me sinto livre para criar sem barreiras.
BLOG: Houve alguma indignação ou frustração durante seu percurso na dança? Você
já sofreu preconceitos na dança do ventre ou no tribal?
Frustração: não poder viver exclusivamente da dança,
afinal busco segurança. Preconceito? Sim, lembro de um episódio especifico,
onde eu fui me apresentar com o grupo Damballah em uma festa, era um dos
primeiros anos do grupo, novidade ainda. Nesse dia uma amiga estava sentada em
uma mesa próxima de uma das mulheres que fez o seguinte comentário quando
entramos: “Parecem um grupo de palhaças!”. Lembro-me de ter ficado com raiva e
triste no dia, mas logo tudo passou afinal tudo que é novo incomoda.
BLOG: E conquistas? Fale um pouco sobre elas.
Um deles foi ter tirado o DRT de bailarina
profissional, o que me dá alguns pontos quando vou concorrer a alguma vaga de
professora de Arte, digamos que seja um plus a mais e também ter feito uma
exposição no MAC – Museu de Arte Contemporânea do Paraná com a minha videodança
- ISOLADO. Outra conquista foi a de poder me expressar através da dança, sentir
meu corpo vivo, sentir que posso deixar outras pessoas felizes ao me verem
dançar. Energia boa sempre faz bem!
BLOG: Conte-nos como surgiu o Damballah, a etimologia da palavra, seus
integrantes, qual estilo marcante do mesmo e se ele sofreu alguma mudança
estrutural ou de estilo desde quando foi criado até agora.
O Damballah efetivamente surgiu em
2005, mas ele já estava germinando muito antes disso. Foi através de um vídeo
que recebemos de uma colega da minha mãe Bety Damballah que vimos a primeira
apresentação de ATS. Lembro-me de ter ficado toda arrepiada. Foi uma sensação
única, algo como a mistura de surpresa, choque e felicidade. O grupo em questão
era o FatChanceBellyDance. O nome Damballah surgiu de uma lista que eu tinha
com uma relação de nomes infernais; e o nome Damballah foi o que mais chamou
atenção e quer dizer "o deus serpente do Haiti".
BLOG: Conte-nos sobre suas fusões tribais
com Steampunk? Como surgiu seu gosto
por tal estilo e o porquê da fusão?
O estilo Steampunk eu conheci por
acaso. Tínhamos um grupo bem forte aqui em Curitiba e me chamou muito a atenção
todo o empenho do grupo em seus encontros, como os figurinos e a capacidade de
encarnar os personagens que eles criavam. Participei poucas vezes, mas nessas
participações sempre dancei, a parte que eu mais gostava.
BLOG: O Hafla do Dia de Los Muertos do Studio Damballah é um dos temas favoritos do
grupo e também da maioria das bailarinas tribais. Então, na sua opinião, qual a
ligação ou conexão do tema para com esta dança. Os haflas do Damballah
voltarão? Eles são sempre tão criativos!
Eu criei esses Haflas
depois que eu voltei de Lisboa, pois lá aconteciam vários e eu vi neles uma bela
oportunidade das bailarinas usarem sua criatividade em um ambiente mais íntimo.
Deu super certo, porque a cada festa apareciam mais pessoas querendo ver e mais
bailarinas querendo dançar. Sobre o Dia de Los Muertos ele chama atenção na
dança tribal pela parte cênica, a maquiagem, os figurinos e não necessariamente
pelo culto aos mortos em si. A intenção é que os Haflas voltem a acontecer. Paramos por falta de espaço em receber todos, mas agora estamos morando em uma
chácara, espaço perfeito para tal temática não é mesmo? Aguardem...
BLOG
Você
foi uma das primeiras bailarinas do Brasil a se envolver com o estilo tribal.
Como eram as informações sobre o estilo na época em que você começou a
pesquisar? Como era visto a dança tribal naquela época e como hoje ela vem se
apresentando na cena brasileira?
Sobre as informações, puxa, era bem diferente do que
é hoje. Era tudo meio disperso e duvidoso. Os vídeos eram de péssima qualidade,
as bailarinas pareciam borrões na tela do computador. As pessoas não entendiam
a dança, quando falávamos que era Dança Tribal, logo imaginavam algo meio
africano! rs... Lembro que na primeira apresentação do Damballah ninguém
aplaudiu, imaginei um grilo cantando lá no fundo da plateia.
BLOG: Como
é o cenário da dança tribal no Paraná? Pontos positivos, negativos, apoio da
cidade/estado, repercussão por parte do público bem como pela comunidade de
dança do ventre/tribal?
Não é fácil, muitas panelinhas,
pouco compromisso e muito menos união. A vantagem é que se você gosta de palco
e não se importa de não ganhar cachê aqui a prefeitura ao longo do ano oferece
vários festivais onde qualquer um que se inscreva possa participar e mostrar
sua arte.
BLOG: Você é pioneira na arte da vídeodança inserida à dança tribal no Brasil
desde 2010. Como você conheceu esta
ferramenta artística? Por que introduzir a dança tribal neste contexto? Qual o
ponto de interseção entre as duas formas de manifestação artísticas? Onde elas
convergem; onde se complementam? Como a cena brasileira se comporta diante
desse novo conceito em dança?
Tudo começou quando fui a uma aula
externa com a turma de bacharelado em Artes Visuais e a professora de crítica
de arte Milla Jung no 63° Salão Paranaense. Deparei-me com um vídeo que me
tocou de imediato, era o vídeo El tango del pasillo de Patricia Osses. O
simples fato de ter um vídeo com dança dentro do MAC (Museu de Arte
Contemporânea do Paraná) me intrigou. Não era apenas um registro de uma
coreografia, tinha um sentimento, uma poética por detrás daquelas imagens. Descobri
que era esse o tema para minha pesquisa acadêmica. Em algumas pesquisas
incessantes, ansiosamente eu buscava o termo correto para o vídeo que eu vi de
Patricia Osses, descobri que não era videoarte, nem uma simples performance, e
em uma das andanças pelo meio virtual descobri o termo correto: videodança.
Depois
de alguns meses pesquisando, decidi fazer meu primeiro experimento em
videodança. A ideia principal do vídeo, por falta de experiência, foi de apenas
capturar movimentos coreográficos isolados a fim de salientar cada movimento
dentro da Dança Tribal e posteriormente trabalhar em cima de edições de imagem.
Desses movimentos isolados nasceu meu primeiro experimento de videodança:
Isolado. Com esse primeiro experimento busquei a diluição de fronteiras, onde
eu possa comunicar-me com dançarinas de Dança Tribal do mundo inteiro de
maneira que eu as faça compreender minha dança dentro desse universo tão amplo,
sempre buscando o despertar de novas percepções e enxergar novas possibilidade
de unir continentes e culturas de maneira mais intimista e poética. Desde então
não parei as minhas pesquisas e também de fazer novas experiências.
BLOG: Conte-nos
como foi a elaboração das suas videodanças; escolha da proposta, cenário,
figurino, movimentos e edição, além do resultado final. Por que você acha a
videodança uma forma de comunicação válida e que venha a acrescentar à Dança
Tribal?
Em todo
material que criei eu relativamente deixei a criatividade solta. Só na
videodança "Pulsão" é que criei um roteiro, por assim dizer. Tudo muda na hora da
edição. O que me importa mesmo são os equipamentos que são usados e como eu vou
captar cada imagem, como por exemplo, os ângulos e os tipos de planos de
filmagem.
A Dança Tribal e a videodança foram agrupadas por mim em um mesmo
contexto de criação, onde a coletividade prevalece juntamente com as
tecnologias de comunicação que busca no processo colaborativo ao desenvolver
projetos multidisciplinares. Dessa forma enxerguei a possibilidade de diluir e
deslocar fronteiras culturais, onde ambas interagem entre si, mas mantendo a
configuração original de cada uma dessas linguagens. O atual contexto social
dentro do cenário da Dança Tribal em todo o mundo é movido pelas relações de
afinidades, ambições, desejos, boas e más condutas entre seus membros e, principalmente, pelo interesse na dança em si. Todas essas relações estão
conectadas e são alimentadas por redes de informações através da participação,
interação e colaboração de seus usuários. E por serem ambas artes que deslocam
os limites de fronteiras, criei a necessidade de romper territórios e gerar
novas ligações entre seus membros.
BLOG: Em 2013, você lança o projeto VTD (Videodança
Tribal Dance),com o intuito de unir diversas bailarinas de diferentes
localidades do país através da videodança em um único espaço e em uma única
linguagem. Conte-nos um pouco de como surgiu a idéia do projeto, sua
repercussão e como está sendo a realização do mesmo. O Projeto alcançou suas expectativas?
Para quem não soube deste ou não pode participar, teremos outro projeto de
videodança futuramente?
Surgiu quase de brincadeira, sabe
que nem sei dizer ao certo. Já tenho tantas coisas para fazer no meu dia a dia
e acabo arrumando mais essa!rs... A
minha maior motivação foi enxergar a possibilidade de unir bailarinas de
diferentes partes do Brasil e porque não do mundo em uma mesma “coreografia”?
Dentro de um mesmo suporte onde todas pudessem se comunicar através da
linguagem da videodança, a busca pela ampliação e também de todas as
possibilidades que a Dança Tribal poderia alcançar com o uso das tecnologias.
Desse modo, fazer com que a Dança Tribal fosse vista por diversos ângulos e
diversos olhares que proveem de diversas etnias, onde a dança e os corpos
dessas bailarinas poderiam ser mostrados ao mundo de maneira quase que intima.
“Por que não usar a arte para olhar o mundo, em vez de manter o olhar preso às
formas que ela põe em cena?”. (BOURRIAUD).
Depois eu vi que esse projeto teria
que ser bem fundamentado, que no fim virou o meu tema de pesquisa na minha Pós
em Gestão e Produção Cultural. Estou fazendo toda a parte teórica para que
todos entendam a seriedade da pesquisa, principalmente quem participou do
projeto enviando seus materiais de vídeo. Aqui nesse projeto, as bailarinas são
convidadas a fazerem parte da produção, onde os materiais de vídeo que foram
enviados não façam com que essas bailarinas sejam apenas figurantes mas também
co-roteiristas.
O projeto com certeza alcançou sim
minhas expectativas, agora estou na etapa de fundamentação teórica e logo
entrarei na etapa de edição e depois de divulgação. Está sendo bem demorado,
mas está sendo algo de muita qualidade.
Do futuro eu já não sei, estou
pensando em algumas parcerias com algumas bailarinas que também pesquisam a
videodança, mas antes de pensar nisso quero terminar esse com chave de ouro.
BLOG: Em 2014, você foi selecionada para participar
do Festival NO LAND : festival
audiovisual itinerante. Conte-nos como foi a repercussão do seu trabalho neste
festival e como você se sentiu ao participar do mesmo.
Esse
festival foi muito bom para mim, foram dois dias inteiros de oficinas com
pessoas que entendem do assunto. É impressionante que quanto mais você estuda
sobre um tema menos você sabe. Tive o prazer de conhecer pessoas realmente
ilustres nesse evento. Fiquei muito feliz da minha videodança "Pulsão" ter sido
selecionada. Lembro que no dia me arrepiei ao ver a projeção da mesma em um
telão de um teatro. Muda totalmente a percepção entende? Foi lindo! Lembro de
todos ficarem quietos, não sei se isso foi bom ou ruim, mas depois recebi
vários feedbacks positivos pelo facebook.
BLOG:
Em 2014, você participou do espetáculo Notre
Dame de Paris. Como foi sua participação neste espetáculo? Como foi a
repercussão do público diante de sua apresentação?
Então, me convidaram para ser a
coreógrafa da peça, que conta basicamente a história do Corcunda de Notre Dame.
Lembro de ter ficado impressionada e assustada. No começo eu não queria, muita
responsabilidade coreografar tanta gente, mas depois o diretor da peça, Sandro
Tueros, me acalmou e disse que eu conseguiria. Encarei! Foi um grande desafio! Os atores eram ótimos, eu passei vários momentos rindo das palhaçadas deles.
Mas eu queria mesmo era fazer a coreografia da cigana Esmeralda. A atriz que
fez o papel é linda, olhos verdes, cabelos negros cacheados, perfil da cigana
propriamente dita. Mas olha, é complicado ensinar uma coreografia que está
pronta em sua cabeça para pessoas que não dançam habitualmente. No fim deu tudo
certo, a peça foi um grande sucesso.
BLOG:
O quê você mais gosta no tribal fusion?
A possibilidade de ser quem você é. Digo isso porque
no tribal fusion você tem a possibilidade de extrair aquele seu lado mais
criativo, encantador, assustador entre outros e colocar tudo nos figurinos e na
dança.
BLOG: O quê você acha que falta à comunidade tribal?
Vou ser bem direta: UNIÃO! Sem hipocrisia gente, mas
não existe união, é cada uma na sua panelinha e pronto. A “união” da qual todas
falam existe dentro da panelinha da qual você faz parte. Fora dela, hum... Sem
comentários...
BLOG: Como você descreveria seu estilo?
Estilo “só danço quando tenho tempo”. Com os meus estudos e trabalho
me falta tempo, por isso hoje em dia ando meio parada, não faço mais
apresentações, estou totalmente envolvida com a videodança apenas. Mas eu sei
que essa não é a resposta esperada. Eu gosto de tudo que seja muito étnico, que
fale de outros povos, tanto na música quanto nos figurinos; quanto mais
afastado da minha realidade cultural, mas eu gosto. Busco criar meu estilo
dentro dessas vertentes.
BLOG: Como você se expressa na dança?
Hoje, através da videodança.
BLOG: Quais seus projetos para 2014? E mais futuramente?
Passar no mestrado, continuar dentro da minha linha
de pesquisa em videodança e criar um novo projeto para o mesmo em 2015.
BLOG: Improvisar ou coreografar?E por quê?
Improvisar, porque no improviso seu corpo está livre
de amarras, ele se sente à vontade de ocupar o espaço como bem entende, ele se
multiplica através de gestos e movimentos inconscientes; movimentos guardados
antes não desvendados; movimentos antigos antes desconhecidos. Na improvisação
você não tem como fugir da sua essência corpórea.
BLOG:
Você trabalha somente com dança?
Sou professora de Artes. A Dança Tribal para mim não
é trabalho, é só um meio que eu achei para eu me expressar.
BLOG: Deixe um recado para os leitores do blog.
“... é
preciso inventar modos de habitar o mundo.”
(BOURRIAUD,
2009).
O meu eu
já inventei!
Contato:
Tel:
(41) 9986-9469
E-mail:
mariahmarques85@gmail.com