[Fórum Tribal] A Importância de estudar Teoria para a Dança

Resumo do 2º Dia do Fórum Tribal - 1ª edição



Tema: Importância de estudar Teoria para a Dança Data: 29 de novembro de 2020 às 15h  Tempo da reunião: 02:30 Integrantes da mesa mediadora: Priscilla Sodré (BA), Larissa Elias (GO), Ana Terra de Leon (SC)


Priscila abriu o encontro dando as boas vindas a todes, relembrando as regras de boa convivência e iniciou a exposição dos tópicos sugeridos para a discussão do dia. Após essa breve exposição, as outras integrantes do GT se apresentaram. Os pontos para a discussão foram os seguintes:


  • Eu preciso estudar teoria na Dança?

  • Eu preciso estudar teorias (da Dança, teatro, anatomia, questões sociais e culturais, política, apropriação cultural, orientalismo, feminismo, racismo, políticas públicas, história, decolonialismo etc) para dançar? 

  • É necessário fazer faculdade de dança para dançar? 

  • Como as teorias do campo da dança afetam meu Tribal? 

  • Quais os entrelaçamentos entre teoria e prática? 

  • Estou dançando quando faço aula teórica? 

  • Até que ponto estou embasando minha opinião? 

  • Ela é o suficiente para me colocar na cena?


E então fez uma breve introdução propondo uma reflexão pessoal para fundamentar o debate, envolvendo tópicos como os impactos Revolução Industrial na divisão do trabalho desde este momento, adentrando Descartes e o racionalismo, que colocam um paradigma de dualismo entre mente e corpo, entre razão e emoção- que, segundo ela, foram herdados por diferentes correntes da pesquisa científica.


Em seguida, fez questionamentos sobre o tipo de pesquisa desempenhada na dança, introduzindo os paradigmas de pesquisa (qualitativa, quantitativa e performativa), utilizando como fonte o artigo “Manifesto pela pesquisa performativa”. Segundo a explicação, a pesquisa performativa expressaria seus resultados em dados que não são numéricos, mas simbólicos, incluindo a prática de dança - ao vivo ou online!



A palavra em seguida foi passada a participante A, que expôs algumas preocupações em relação à manifestação de hierarquia em relação à entrada acadêmica versus abordagem de bailarinas não-acadêmicas: para ela, o acesso ao diploma (em dança) não deveria constituir automaticamente em autoridade para quem o detém, lembrando o fato de que não praticamos uma dança que nasce na academia. Defendeu, por fim, uma relação horizontal entre bailarinas pesquisadoras/formadas e entre o restante das profissionais - segundo ela, em sua maioria pessoas que não tem uma formação “formal”. 


Em seguida, Participante B trouxe para o debate os seguintes pontos: muitas vezes o interesse em teoria não virá num primeiro momento numa sala de aula de dança. Para ela, seria possível perceber que a teoria é geralmente confundida com algo destinado às alunas avançadas, e a partir disso ela levanta o questionamento: como poderíamos deixar a teoria mais palatável para alunes iniciantes? Levanta a importância de compreender sobre os povos e que originam as danças que praticamos e como o conhecimento teórico traz densidade para a prática da dança. Porém assinala que é compreensível e que está tudo bem querer “só dançar”. Por fim, defende que o prazer de estudar teoria pode ser ensinado. 


A seguir, Participante C assinalou que há um equívoco em pensar que estudar teoria é sinônimo de conhecimento acadêmico. “Pensar que a busca pelo conhecimento vai além do fazer acadêmico é fundamental. Quando um indivíduo estuda o movimento produzido por seu corpo ele está estudando teoria - uma teoria produzida pelo corpo. Estudar teoria não se resume a estudar a cronologia histórica de nossa dança. Instigar alunes a assistir filmes, ler textos, colocar em contato com o questionamento: questionar é um fazer teórico! Precisamos alargar nossa compreensão do fazer teórico”.


Participante D colocou que desenvolve o trabalho com Tribal numa universidade e que, no caso dela, este trabalho começou justamente com a teoria, e que o público dela era amplo - desde pessoas que trabalham e estudam na universidade até a comunidade em geral. Estas pessoas chegaram a ela por meio de uma palestra. “Na universidade é muito mais ‘tranquilo’ sensibilizar alunes para o fazer teórico”. No entanto, ela assinala, mencionando a participante B, que sempre haverá alunes que não se interessam, ao que ela coloca, fazendo coro à participante C “O que entendemos por teoria”. Menciona a autora Marcia Strazzacappa, que diria que é necessário parar pensar teoria e prática em oposição. Coloca, ainda amparada nesta autora, que o que chamamos de teoria seria uma “teorização”. Depois, trouxe o que Priscilla comentou no início do encontro sobre pesquisa performativa e salientou a importância da pesquisa qualitativa e quantitativa em dança, que a performativa seria uma das possíveis mas que é necessário cuidado para não excluir as outras. Voltando a pensar a sala de aula, menciona que fez muitas aulas em que não houve discussão sobre textos, ou mesmo momentos de conversa, mas que houve teoria o tempo todo: salienta, por fim, que teoria, em dança, não é apenas discutir em torno de termos. Que o próprio fazer da dança carrega em si teorias próprias que saem desse lugar comum do texto e da discussão sobre conceitos.


Participante E trouxe três aspectos. Sobre a relação entre teoria e prática, trouxe como referência o teórico marxista Paulo Freire, que discorre sobre a práxis. Paulo Freire trabalhou com alfabetização de idosos de áreas rurais e utilizava palavras conhecidas do cotidianos de seus alunos para possibilitar o processo de alfabetização. Nesse sentido, traz um teórico da história alemão chamado Jorn Rüsen, que assinala que para ensinar o professor precisa compreender o que o aluno conhece - seus conhecimentos prévios. Assim sendo, tanto Paulo Freire quanto Rüsen validam os conhecimentos que os alunos já tem. Portanto, à pergunta “como despertar o conhecimento de alunes em relação a teoria?” ela responde: “perguntemos a alunes o que já sabem”. Outra questão que trouxe foi que teoria não é necessariamente algo relacionado à escrita: sociedades orais também fornecem teoria para que possamos pensar nossa dança - a exemplo das músicas que utilizamos: quando ensinamos sobre música, também estamos fazendo teoria. Teoria não passa necessariamente pela escrita e não é necessariamente acadêmica.


Participante F também possui formação acadêmica, mas assinala que seu objeto de estudo relaciona-se às culturas populares - demonstrando que esta já se lança como uma tendência possível mesmo dentro da academia, um ambiente que geralmente privilegia danças europeias. Salienta que a dança, dentro da academia, há também a formação para o campo da teoria - o que se difere da prática mais comum da dança tribal. Todos os espaços onde as danças são feitos tem seus conhecimentos próprios (usa o exemplo do ATS - existe todo um estudo que foi teorizado para ser compartilhado e ainda assim não passou pela academia. O que eu acho que é importante, estando neste ambiente acadêmico também, entender que minha dança se transforma quando estou em contato com esses outros ambientes -  se meu contato é maior com o ambiente acadêmico ela vai provavelmente vir acompanhada de discussões próprias desse ambiente - e essas discussões serão incorporadas na minha dança. O que não quer dizer que eu não possa viver a fantasia de vestir vários adereços ou dançar o ATS mas essas informações estarão incutidas no meu fazer - como a participante E colocou - ou seja, tudo que estou constituindo ao longo de minha experiência de vida e minha formação estará inserido na minha dança.


Participante C retomou a palavra. Gostaria de voltar numa das perguntas iniciais: “Eu preciso estudar teorias (da Dança, teatro, anatomia, questões sociais e culturais, política, apropriação cultural, orientalismo, feminismo, racismo, políticas públicas, história, decolonialidade etc) para dançar?”; minha resposta é não: eu não preciso aprender essas coisas pra dançar, eu preciso aprender essas coisas pra ser um ser humano! Afinal estou inserida numa sociedade - e isso vai perpassar nosso fazer em dança. Não cabe mais dançar sem essas leituras porque não dá mais pra ir pra rua sem ter essas discussões. Esta é inclusive uma discussão recente na minha vida - e mesmo estando dentro da faculdade, acredito que não é necessariamente a faculdade que vai me ensinar esse tipo de coisa - é, principalmente, minha experiência em relação às vivências aos outros. 


Participante A retomou a palavra, complementando algo que a participante C trouxe: quando ela fala sobre essas questões “preciso pensar em x pra dançar”. Sempre fui muito atenta às movimentações da comunidade internacional. Percebo que temos algumas dançarinas de tribal “cala a boca e dança”, “não discuta política”, “votei no trump e não me sinto bem vinda na sua aula” etc. Enquanto praticante, para dançar você pode escolher, em nível individual, não se atentar para isso. Mas como educadores, devemos nos atentar para essas questões sim, mesmo que sua escolha individual seja não se importar com isso - afinal quem ensina acaba influenciando quem é ensinado e a dança não acontece num vácuo, toda dança tem contexto além do palco, do figurino, do momento em si da prática de dança. 


Participante G gostaria de falar sobre a teoria para não cometermos erros grosseiros. Quantas vezes estereotipamos outros povos - muitas vezes ante a justificativa de que “esta turma é iniciante, não precisa de teoria desde já”, sendo que é ideal que se comecem os estudos teóricos desde o início para aprender certo desde o início! O medo de perder alunes por falar sobre teoria não pode nos impedir de abordar questões pertinentes em detrimento das técnicas que estão na moda - claro que vamos querer aprender isso, mas o aprendizado da técnica de dança não deveria anular as discussões teóricas (inclusive as teorias sobre o corpo!, para seu fortalecimento e alongamento, para que você não se lesione etc) desde o princípio. Outra questão é que precisamos explicar para essas pessoas que aprender as técnicas é um processo que leva tempo - nossas referências não aprenderam a fazer cambret em um dia, foi um processo de anos. Lembrando que, muitas vezes se diz “tal movimento que fica bonito nesta bailarina estadunidense/russa não fica bonito em um corpo brasileiro”: será que o movimento não fica bonito, ou será que continuamos, veladamente, dizendo que certos corpos são melhores e mais adequados que outros? Isso também é política. Quando eu questiono se o movimento da bailarina internacional x ficará bonito na minha aluna y, estou pensando isso por que? Por que ela não tem condições de realizar, ou porque ela tem barriguinha? Com alongamento, fortalecimento e bom treinamento, qualquer movimento é bonito, não importa o corpo - o importante é que ninguém se lesione!”


Participante B retomou a palavra quando escolhemos não politizar o aluno acabamos alienando esse aluno do processo artístico. Temos que utilizar todas as oportunidades possíveis de sensibilizar as pessoas para determinadas questões sociais - já que nem todo mundo terá oportunidade de fazer isso em outro lugar que não seja na sala de dança. E quando falo isso também estou me referindo a teorias do corpo. Aliás, estudar as teorias do corpo é importantíssimo. Como pedir de alunes um shimmie acionando a crista ilíaca se essa pessoa talvez nem saiba o que é a crista ilíaca. Se oferecemos a alunes a oportunidade de conhecer seu corpo, oferecemos a oportunidade de a pessoa se apoderar de sua prática - em suas limitações e possibilidades.


Participante D abordou a questão do lugar de fala. “Estou falando a partir do meu recorte, do meu lugar de fala”. Retomando a fala da participante E, concorda que temos que incluir teorias que envolvem povos com culturas oralizadas. Mas assinala que precisamos tocar nas teorias acerca do racismo. Em nossa sociedade, no sistema-mundo ocidental capitalista eurocêntrico e patriarcal, conhecimentos acadêmicos teriam muita validade. Questiona o que, em nossa sociedade, é valorizado, respondendo que com certeza não é o conhecimento oral. “Nas danças indianas, que eu pratico, percebo que é fundamental ouvir os gurus. Mas isso funciona na Índia: no Brasil, o que funciona? Quando falo na importância dos conceitos teóricos, estou querendo dizer que em nossa sociedade isso é o que é valorizado em detrimento do conhecimento oral - e eu adoraria que não fosse assim!” Ressalta que para ser professora, para estar na universidade, enquanto mulher preta, tem que estudar muito, mais que as pessoas brancas - porque antes, não era ouvida, mas no momento em que é validada como professora de universidade, passa a ter valor. “Quantos trabalhos de pessoas negras a gente vê? Quantos artigos de pessoas negras a gente lê? Por que nós temos esse corre pra publicar mais que pessoas brancas? Então minha questão aqui não é fazer essa oposição entre conhecimento oral e teórico, mas, em nossa sociedade, e dentro do tribal, temos que abraçar esse arcabouço com toda a força do mundo porque se não não somos reconhecidas. Com o corpo negro o ‘buraco é um pouco mais embaixo’.”


Participante C retomou a fala, lembrando uma das perguntas do GT “Até que ponto estou embasando minha opinião?” e relacionando com a fala anterior: “No caso especifico do racismo, por exemplo, todes concordarão que o racismo é horrível, mas continuamos perpetuando porque além de ser estrutural, nós não compreendemos o que é racismo de fato. Como eu, enquanto branca, posso agir de maneira antirracista?”. Responde que seria colaborando com a fala de mulheres pretas - e não querendo falar por elas - criando espaços onde elas se sintam à vontade de falar. Relaciona isso com a dança porque a dança estaria inserida nesse fazer, e que se no passado relevamos a apropriação cultural, em certa medida, das pioneiras do tribal, hoje em dia isso já não cabe mais. Cita Helena Katz, uma autora da dança, que fala sobre a questão das redes sociais. “Quando abrimos o Facebook, ele pergunta ‘o que você está pensando?’; e isso nos dá a falsa sensação de que o que estamos pensando é o que o vale, e que as únicas pessoas do mundo que interessam e validam o que pensamos são o ‘me, myself, and i’ - eu, eu, eu. Não dá pra gente falar somente pela nossa perspectiva/opinião, e não podemos mais ser produto de um passado que não cabe mais. E isso também é teoria na dança”. 


Participante E retomou a fala para responder as colocações da Participante D - “Aproveitando que você fez a réplica, vou fazer a tréplica! De forma alguma me oponho ao que você diz! Quando Rüsen assinala a importância de compreender os conhecimentos prévios dos alunos não é para estagnar nestes conhecimentos - é justamente para expandir.” Segundo ela, não existe processo de aprendizado que não incomoda, e não se constrói conhecimento sem expandir nossos horizontes. Ressalta novamente que práxis é justamente essa relação dialética entre teoria e prática - o que nossa sociedade, envolve a leitura. Chama atenção para o fato dos conhecimentos orais (seja da nossa ou de outras culturas) também serem teóricos, mas evidentemente que a formação do conhecimento passa também pela escrita e esse lugar ainda é muito privilegiado. Entende e justamente por isso compreende que quando partimos do lugar da branquitude nossa validação já está posta, e isso é muito sério. O ideal é que compreendamos que existem teorias que não as escritas inclusive para que essa diferença não exista mais. Para Paulo Freire “É fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, de tal maneira que num dado momento a tua fala seja a tua prática”. Lembra que sua perspectiva é justamente uma que permita que se vislumbre este problema: por que a realidade de uma bailarina branca e uma bailarina preta é sentida de formas diferentes? “Se eu puder sempre perguntar antes de fazer, poderei compreender as diferenças e incluir elas no meu planejamento enquanto professora”. 


Participante H retoma as falas de E e D utilizando o exemplo do yoga: “Só me senti validada para dar aulas de Yoga depois de fazer a formação. Tenho colegas que não se sentem aptos a falar desse lugar mesmo tendo feito a formação. Meu questionamento é: como a gente se aproxima de outras culturas e o que valida nossa fala em relação a estas culturas? Venho pensado muito nas questões do lugar de fala, do racismo, do preconceito, e me coloco como um apoio - mas o lugar de fala está dado. Só que eu não nasci na Índia, por exemplo, e pratico Yoga. E é a prática a resposta que me acalma um pouco: poder falar disso, dançar, e penso dança e yoga como práticas corporais (acredito que muitas de nós aqui praticam yoga) e, no yoga, temos muito esses questionamentos! Algumas linhas de yoga são voltadas para o desenvolvimento da consciência, num entendimento de que a consciência é algo mental, por exemplo. Em outras linhas, a prática corporal é voltada para o desenvolvimento da energia corporal. Porém existe atualmente uma tentativa de superar essas relações dicotômicas entre corpo e mente, porque consciência é energia e energia é consciência. Então, por meio da prática, desenvolvo minha consciência, e minha consciência desenvolve minha prática. Eu, particularmente, compartilho desse movimento que vê as coisas de maneira integrada. Trago esta questão para mostrar que esta discussão também se faz presente em outras práticas corporais”.


Participante I retoma alguns pontos, pensando que para além do lugar que a teoria ocupa na prática de dança de cada um de nós enquanto indivíduos, o quanto isso é importante ou como lidamos com isso enquanto professoras. Menciona o sentimento de que a quantidade de conhecimentos disponíveis e pelos quais se interessa é avassaladora. “O quanto é responsabilidade minha ou é meu dever ou o quanto eu sou capaz de transmitir isso em sala de aula. Isso permeia muito meu fazer como professora - me interesso por muitas coisas e estudo vários assuntos e logo quero passar para minhas alunas. Uma coisa que me interessa é pensar a sala de aula como esse espaço de troca, alinhado com o que Participante A disse: de não ser necessariamente esse lugar em que a professora é quem detém o conhecimento, mas um lugar em que todos possam preencher os espaços com suas experiências. Às vezes não me sinto com conhecimento o suficiente pra conduzir essas discussões mas eu tenho achado bem positivo e interessante essas trocas - mas a reflexão que mais fica é esse assoberbamento de teorias e conhecimentos que temos que agenciar para levar para nosses estudantes”. 


Participante J fecha o segundo dia apontando novamente para a questão do racismo, retomando o que a participante D falou. Se colocando como mulher preta, aponta para o fato de que as falas de mulheres negras são cotidianamente invalidadas. Quando falamos sobre teoria e prática geralmente nos concentramos justamente no fazer profissional em dança e nas relações em sala de aula. “O que fazemos é o que falamos? Isso é válido na dança. Passar algo só como prática é impossível. A teoria é inerente à dança. E a própria teoria não é dissociada da prática. Em relação ao corpo, creio que precisamos levar em consideração os diferentes corpos - inclusive os corpos negros! Por exemplo: a questão do “encaixe” de quadril Fui muito prejudicada em relação a isso por conta das características anatômicas do meu corpo na minha passagem pelo balé por conta dessa propagação da ideia de que se deve “encaixar’ o quadril apra dançar. Quem criou essa teoria? Ela serve para todos os corpos? Está levando em consideração as diferenças anatômicas de cada um? Enquanto professoras temos que nos preocupar com isso. Sobre a relação entre teoria e prática, para quem leciona é até uma questão de honestidade: precisamos dizer de onde estamos tirando as informações que passamos. Hoje em dia foco no autoconhecimento, na segurança e na autoconsciência, e precisamos parar de separar teoria e prática, como devemos parar de separar corpo e mente. 

Conclusão da Reunião


Pode-se concluir que todes concordam com os efeitos negativos da dicotomia entre teoria e prática e com a  necessidade de uma integração entre estes fazeres. Evidentemente a ideia de lugar de fala e as discussões sobre racismo ganharam um espaço interessante no decorrer da atividade. Pode-se perceber uma tendência pela busca do fim da hierarquia entre saber formal e não-formal, bem como a disseminação de saberes teóricos por parte de professores. Uma preocupação também da função da professora ser a de alguém que orienta alunes para uma caminhada mais autônoma na dança. A maior parte das perguntas propostas pelo GT foram levantadas por participantes, e as discussões se encaminharam para a questão da formação, tema do encontro que viria a seguir no GT seguinte. 

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Fórum Tribal

[Make Off] Os nacionais que valem a pena

 por Sarah Raquel


Dentro de uma cultura de consumo, é comum ver um gasto desenfreado em produtos de maquiagem, principalmente com a crescente de influenciadoras(os) que apresentam novas possibilidades para dentro do mercado. São várias etapas: prime, base, blush e produtos para sua maquiagem ficar ainda mais fixam por muito mais tempo!

Eu acredito fielmente que uma boa maquiagem seja aliada da sua autoestima, e faz uma diferença grande no palco, mas o principal pensamento que eu faço é: o quanto vale investir dentro dos produtos do mercado?

No Brasil é possível ter uma qualidade superior de maquiagem com produtos daqui de casa, sem que você precise gastar tanto dinheiro com marcas internacionais. E hoje eu venho trazer indicações de duas marcas nacionais e produtos das mesmas, que valem a pena dar uma chance!


  • Ruby Rose

Ruby Rose surgiu durante esses anos carregando uma grande variedade de produtos tanto de skincare quanto para maquiagem. Ultimamente muitas influenciadoras deixaram de lado produtos internacionais para buscar produtos de preço acessível da marca.

Os mais conhecidos e recomendáveis de acordo com o site oficial:



  1. Sombra para Sobrancelhas [ link direto: https://www.maquiadoro.com.br/sombra-para-sobrancelha-ruby-rose-p1002962 ]

  2. Delineador em Gel [ link direto: https://www.maquiadoro.com.br/delineador-em-gel-black-ruby-rose-p1024201 ]

  3. Paleta Soft Nude Feels [ link direto: https://www.rubyrosemaquiagem.com.br/paleta-soft-nude-feels--ruby-rose-hb1045/p ]


  • VULT

Uma das marcas do grupo Boticário, mas que vem com produtos de qualidade e até vem com alguns dupes (um irmão gêmeo de produtos internacionais) que veio ganhando o coração de muitos influenciadores da internet. 


  1. Base Matte [link direto: https://www.maquiadoro.com.br/base-matte-vult-p998864 ]

  2. Delineador Líquido [link direto: https://www.maquiadoro.com.br/delineador-liquido-vult-p998923 ]

  3. Pó Compacto [link direto: https://www.maquiadoro.com.br/po-compacto-finalizador-matificante-vult-p1021722 ]


Lembre-se: uma pele limpa e hidratada sempre será o essencial para uma maquiagem ainda mais uniforme e de boa pigmentação em seu rosto.

Até a próxima!

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Make Off


Sarah Raquel (Fortaleza-CE) iniciou os estudos em danças orientais com a dança do ventre em 2015 e logo se redescobriu na vertente dark fusion, para melhor se expressar dentro desse estilo buscou estudar tribal fusion e o dark fusion. Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 

[Fusion Brasil] Corpo e memória no Fusion Brasil

 por Kilma Farias

Estandarte do Coletivo Fusion Brasil - direção de Kilma Farias

Durante os anos de pesquisa com o Tribal Brasil (Fusion Brasil) me deparei com múltiplas memórias; fossem elas nos corpos das bailarinas e bailarinos, fossem as memórias geradas no grupo de dança ou ainda as memórias tomadas de empréstimo pelas comunidades a serem estudados na cultura popular.

Dessa forma, fomos esboçando caminhos para desenvolvermos procedimentos criativos e compositivos em dança ao mesmo tempo em que trabalhávamos nosso autoconhecimento, o que chamo de “arte de si”.

Assim, deu-se a ver uma memória ligada à percepção individual, mais volátil, e que assume caráter de atualização do sujeito e da sua história.


Estandarte da Andreza Tenório


O tempo aqui é o próprio tempo da arte, o tempo do elemento éter enquanto espaço, um tempo “extemporâneo” que tá além da contemporaneidade e perpassa todos os tempos numa grande teia, um amálgama. Nesse tempo, destaca-se a impermanência das coisas, inclusive da própria memória; um tempo não linear e que só é possível senti-lo no aqui e agora do presente. É a completa entrega do ser que dança; entrega ao seu corpo cênico, ao seu estado de presença na dança-vida.


E como articulamos essas memórias para compor dança?


Sentindo, observando, expressando, traduzindo, criando, vivendo.


Atualmente, na turma de Fusion Brasil online, estamos trabalhando o Maracatu Nação no Fusion Brasil. E resolvemos, cada uma, produzir um estandarte que trouxesse nossas marcas de vida e memórias sobre o que estava sendo vivenciado no momento de vida de cada uma e na turma. O trabalho é terapêutico, pois olhar pra dentro e trazer pra fora através de fitas, tintas, miçangas e palavras, faz a pessoa se pensar a si mesma e se expressar verdadeiramente.


Estandarte da Karine Neves


O processo seguinte foi a construção das danças a partir dos estandartes construídos, dando sentimento e movimento às palavras estampadas em cada um deles. Também construímos um estandarte coletivo, nutrindo o pensamento de uma memória de grupo coletiva. 

Para os procedimentos compositivos em dança, utilizamos o Tanz-Ton-Wort (Dança-Tom-Palavra) de Laban, método que mais tarde inspira Pina Bausch em sua Dança Teatro com seu interesse pelo cotidiano, pela fragmentação do sujeito, pela repetição, pelas experiências de cada bailarino, pelas desconstruções e reconstruções, pelas narrativas.


Estandarte da Raquel Silveira

E assim, também seguimos no Fusion Brasil, transformando em dança nossas próprias histórias enquanto corpos estéticos e sociais, mas principalmente como seres humanos que se transformam através da própria arte.

Os solos da turma produzidos com inspiração no maracatu e uma videodança coletiva sobre o mesmo tema estão previstos para serem apresentados nas redes sociais no final de agosto. Acompanha a gente por lá!


Estandarte da Sirlei Oliveira

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Fusion Brasil - Identidade no Corpo

Kilma Farias (João Pessoa-PB) é bailarina, professora, coreógrafa, produtora e pesquisadora na área da dança. É formada em Licenciatura em Dança e Jornalismo pela Universidade Federal da Paraíba. Mestra em Ciências das Religiões pela UFPB, desenvolveu dissertação voltada para a relação entre presença cênica e espiritualidade na Dança Tribal.  Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 

[Resenhando-BA] Ousadia, Jogo de Cintura e Pé no Chão: Festival Bailares em Feira de Santana

por Camila Saraiva

Repare, se você não conhece o Festival Bailares, pegue a visão! Pense em um projeto corajoso, ousado e revolucionário. Quem conhece o Bailares sabe do que eu tô falando! O Bailares foi idealizado e é produzido pela Trupe Mandhala - grupo de dança étnica contemporânea composto por Andrea Farias, Antonia Lyara, Mary Figuerêdo e Viviane Macedo - com o intuito de incentivar o desenvolvimento das artes na cidade de Feira de Santa – BA. Essas mulheres feirenses retadas fazem acontecer esse grande evento, totalmente gratuito, que envolve em média quinhentas pessoas desde 2012. O festival traz a dança como linguagem primordial, propondo um espaço democrático e motivador da cultura e da cidadania.  Mobilizando artistas e amantes da dança locais, mas também de outras cidades, estados e até mesmo de outras regiões, contribui com a divulgação da dança na cidade e com o envolvimento da comunidade no circuito artístico. Com uma programação de cair o queixo, o Bailares reúne workshops, shows, mostras, palestras, rodas de conversa, vivências, exposições, e campanhas de doações em um só evento! Diga aí se a Trupe Mandhala não joga duro?! Passou batido ou você tá ligad@ que eu falei que o festival é inteiramente gratuito? Pois não durma no ponto, temos muito o que aprender com essas moças que com muito profissionalismo, competência, dedicação, talento e amor realizam um festival de dança que é um exemplo de resistência para nós artistes.



Imagem de divulgação do evento, cedida pela produção.


A cidade de Feira de Santana fica a apenas 115 km de Salvador, em média 1 hora e 30 minutos de carro, porém essa distância é muito maior do que menos de 2 horas de estrada para quem deseja acessar o que uma capital promove no campo da arte e no circuito cultural. Foi com o desejo de facilitar o acesso a eventos culturais e difundir a dança em Feira que a Trupe Mandhala idealizou o Bailares. Com o propósito de união da classe artista, aproximando amantes da dança, a Trupe acredita que todes devem ter o direito de aprender com diferentes profissionais da dança e que artistes diversos precisam de espaço para divulgarem seus trabalhos e terem seus talentos reconhecidos. Para que esse sonho pudesse se concretizar as moças da trupe precisaram ter muito jogo de cintura, afinal não é tarefa fácil conseguir financiamento para realizar um festival de dança, ainda mais em uma cidade do interior. Mas, com o pé no chão, elas conseguiram realizar quatro edições do festival, todas gratuitas, com captação de recursos via patrocínio, através de políticas públicas e privadas. O Bailares foi contemplado por três editais públicos de fomento à cultura e um edital privado também de incentivo à cultura. 


Cartaz de divulgação da primeira edição do Festival Bailares, em 2012. Cedida pela produção.

A produção do Bailares é de tirar o chapéu, reúne artistes não apenas da dança do ventre, do estilo tribal e do fusion bellydance, mas também profissionais de outras linguagens e técnicas de dança. O evento agrega diversos outros estilos e modalidades, como por exemplo dança de salão, dança afro, dança contemporânea, dança moderna, danças populares regionais, danças urbanas, swing baiano, dentre outras. Como já deu pra perceber, a programação de cada edição contou com uma grade bem diversificada de profissionais, os workshops tiveram temas variados, contemplando gostos, aptidões e interesses diferentes. Essa característica de ser um festival democrático, que preza pela diversidade, união e reconhecimento de diferentes estilos e artistes, proporciona à todes os participantes, seja estudante, público, plateia, dançarin@, professor@, uma experiência super rica. E não é só “gogó”, não é da boca pra fora, o Bailares é um evento múltiplo, que respeita e apoia a diversidade. Ao longo dessas quatro edições, que aconteceram em 2012, 2014, 2018 e 2021, ocorreram workshops de dança do ventre, tribal fusion, indian fusion, tribal brasil, tribal ragga jam, tribal afro urbano, popping no tribal fusion, flamenco árabe, waack fusion, vogue, stiletto, twerk, dança afro, kuduro, pagotech, street jazz, balé, dança moderna, dança contemporânea, dança de salão, quizomba, zouk, expressão corporal, condicionamento físico para dançarinos e etc. Pire aí com tantos estilos variados! É um ambiente muito propício para experimentar possibilidades de fusões com dança do ventre! Pra quem curte fusões, hibridações, contaminações, influências de outras danças, vivenciar um evento como esse é um grande laboratório. Em outras palavras, é babado!


Programação da segunda edição do Festival Bailares, em 2014. Cedida pela produção.

Só pra você não ficar por fora, dá um saque em alguns nomes de artistes da dança do ventre e fusion que passaram por essas quatro edições do Bailares dando aulas e/ou dançando: Fernanda Guerreiro, Angela Cheirosa, Janah Ferreira, Bela Saffe, Joline Andrade, Kilma Farias, Lukas Oliver, Caique Melo, Mel Brevilliere, Gilmara Cruz, Mitsuyana Matsuno, Sidinha Damasceno, Heron dos Anjos, Verônica Vanessa, Priscila Sodré, Camila Saraiva, Lais Amorim, Jessie Raidah, Raíssa Medeiros e a Trupe Mandhala, que além de produzir o festival, oferece aulas e prepara performances para os shows e mostras. Foram tantos profissionais incríveis que participaram do festival nesses anos que não daria para citar todes, listei aqui apenas alguns da dança do ventre e fusões, mas você pode conferir mais informações, bem como os temas das aulas e as apresentações ao final desse texto nas referências.

 

E falando em ser um evento múltiplo, vou largar o doce, eu mesma nunca vi um festival gratuito na nossa área com tantas atividades diferentes. Entre 2012 e 2021 (no formato online), já rolaram palestras, rodas de conversa, oficinas, workshops, shows, mostras, exposições e até campanhas para arrecadação de alimentos e de apoio a abrigos de animais. O Bailares vem ocupando diferentes espaços na cidade, teatros diversos e outros equipamentos culturais como o MAC – Museu de Arte Contemporânea Raimundo de Oliveira com palestra sobre Empoderamento Feminino com Angela Cheirosa e roda de conversa sobre Políticas Públicas voltadas para a Dança. Ocupou também lugares como o CRAS - Centro de Referência em Assistência Social de Feira de Santana, com vivências em dança do ventre em duas edições, uma com Mel Brevilliere e outra com Angela Cheirosa

 

Cartaz de divulgação da terceira edição do Festival Bailares, em 2018. Cedida pela produção.


 

Além dos shows e mostras específicas de cada edição, o festival também recebeu espetáculos que foram apresentados para toda a comunidade gratuitamente dentro da programação. O Balé do Teatro Castro Alves – BTCA (Salvador-BA) apresentou o espetáculo Delirium na segunda edição do festival. Em 2014 o Bailares também recebeu o espetáculo Feminino Plural da artista Kilma Farias (João Pessoa-PB). Na terceira edição, em 2018, o evento recebeu o espetáculo Cy Deusas da Própria História, dirigido pela artista Antonia Lyara, integrante da Trupe. Massa né? Essas moças brocam!

 

A edição mais recente do Festival Bailares foi em 2021, e por causa da pandemia do Covid-19 foi em um formato totalmente online. Os workshops aconteceram via plataforma Zoom e as apresentações do show e da mostra foram transmitidas ao vivo pelo Youtube. Você pode assistir a todas as performances dessa quarta edição no canal do Youtube Trupe Mandhala Oficial, bem como outros registros e vídeos na íntegra de performances de outras edições. Não deixe de acompanhar as redes sociais da Trupe e do Bailares no Instagram e no Facebook e fique por dentro, apoie e valorize iniciativas brilhantes como essa do festival. Veja também algumas divulgações nas mídias locais nas referências desse texto. Não dê mole, na próxima edição chegue junto e participe! Namoral, se eu fosse você, eu não perdia mais nenhuma edição! Falo por experiência própria, participei das duas últimas edições, conheço o trabalho da Trupe e fecho com elas, recomendo com orgulho! Elas me conquistaram desde a primeira vez que as assisti dançando, fiquei encantada. O apelido da cidade de Feira de Santana é “Princesa do Sertão”, e a Trupe Mandhala é majestade na produção cultural da cidade, merece toda a reverência. 

 

Cartaz de divulgação da quarta edição do Festival Bailares, em 2021 (Online). Cedida pela produção.

 

 

Referências:

 

http://bailaresfsa.blogspot.com.br/

Matéria TV UEFS: https://www.youtube.com/watch?v=8akEmIogS80

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Resenhando-BA


Camila Saraiva (Salvador-BA) é artista da dança, baiana, LGBTQ+. Dançarina, professora e pesquisadora das danças dos ventres e suas fusões na contemporaneidade, com graduação e pós-graduação em Dança na UFBA. Atualmente é doutoranda em Dança pelo PPGDANÇA/UFBA e pesquisa a relação entre danças dos ventres, orientalismo, feminismos e estudos de gênero e sexualidade, numa perspectiva contemporânea.


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