[Folclore em Foco] Dança Popular X Dança Cênica X Folclore

Por Nadja El Balady

Convido você, leitor do Coletivo Tribal, a mergulhar comigo no universo cultural e artístico onde nós, estudantes, dançarinos, coreógrafos e professores de tribal e fusões realizamos nossas ideias e sonhos de arte. A coluna “Folclore em Foco”, se propõe a apontar direções para a pessoa que estuda a dança oriental e suas estilizações, entre elas o estilo tribal de dança do ventre. Vamos passear por diferentes culturas, derrubar algumas fronteiras, entendendo que o universo da fusão pode beber de fontes muito diferentes e inspirações variadas.

Você já foi a um festival de dança do ventre?

Se já foi, percebeu que existe uma categoria considerada para “folclore” para determinadas apresentações. Mas o que são estas “danças folclóricas” como se relacionam com o estilo tribal?

Em nosso primeiro mergulho de 2021, convido você a pensar comigo sobre o que são danças folclóricas, danças populares, danças cênicas e teatrais, para poder pensar qual é a dança que você faz.


Danças populares e folclóricas


Samba de Roda
















A dança popular é aquela que faz parte da identidade cultural de determinada comunidade. Acontece em família, com amigos, em ambiente descontraído, celebrações e partes profanas de festas religiosas. A dança popular é espontânea, transmitida oralmente (informalmente), através de hábitos culturais, se transforma através do tempo e faz tranças culturais com outras manifestações culturais de lugares vizinhos.

Inicialmente, a dança popular não requer espaço cênico, não tem plateia. O objetivo é a celebração em si. Expressar sentimentos, unir a comunidade, reafirmar a identidade cultural.

Podem existir diferentes entendimentos do que é folclore. De maneira em geral, entendemos como “folclore” tudo aquilo que se relaciona à tradição e costumes de um povo, que seja transmitido de geração em geração. Sejam lendas, hábitos alimentares, rituais religiosos e artes em geral. Os folguedos populares folclóricos, estão ligados à tradição através de ritos e festejos, que geralmente são de origem religiosa. Inclusive o ritual do casamento, muitas danças populares ao redor do mundo estão conectadas às tradições de matrimônio.

Folia de Reis

É preciso prestar bastante atenção no aspecto religioso comum à muitos dos folguedos folclóricos, no Brasil principalmente. Religiões têm festas, músicas e danças típicas em datas importantes em seus calendários. Estes ritos e festejos, passam a ter uma importância comunitária muito grande e hábitos culturais são mantidos enquanto tradição popular em função da religiosidade. 

Ex: Peguemos duas manifestações populares brasileiras, a Folia de Reis e o Funk. Um pode ser considerado folclore e outro, com certeza não. Por quê? Porque a Folia de Reis é um folguedo completo, que compreende dança, música e teatro, mantida de geração a geração, tradicional e ligada ao ciclo natalino do calendário católico. O Funk... nada disso. 

Então existem dança populares que são folclóricas e outras não. Dentro deste ponto de vista, a grande maioria das danças que aprendemos como folclore árabe não seriam danças folclóricas, mas danças populares, como por exemplo: dabke, shaabi e mesmo o baladi.

A dança popular no palco

O palco é a delimitação do espaço cênico, a divisão entre artista e plateia. O espaço cênico se delimita quando a dança ganha uma intenção, um objetivo. O artista influencia o seu meio compartilhando emoções, ideias e visões de mundo.

Podemos ver isso acontecer em folguedos populares que compreendem também elementos teatrais, incluindo personagens, caracterização de figurino e até diálogos entre as figuras. Todo o folguedo gira em torno deste espaço imaginário que se cria para o desenvolvimento de autos, bailes e jogos de cena.

Danças populares de festas e celebrações também se modificam quando transportadas para o espaço cênico, em performance para a plateia, ganham preocupações cênicas, como mudança de posicionamento, expressão facial, gestual de cena, figurino e técnica. 

Podemos comparar ao nosso samba brasileiro, onde se difere o modo como sambamos em festas, do samba que é levado para o palco por passistas e dançarinos profissionais. A produção de maquiagem e figurino fica para os desfiles e apresentações das escolas de samba. Também a movimentação das passistas profissionais é diferente, com técnica e elementos de efeito cênico que muito diferenciam da dança casual feita em casa.

Danças teatrais e cênicas



Chamamos “dança cênica” todas as modalidades de dança que se desenvolveram a partir do Ballet. Todas as danças modernas e contemporâneas, todos os estilos que vieram do ballet ou que romperam com o ballet, todas as danças de palco desenvolvidas no ocidente. Danças que exigem fundamento técnico, estudo e habilidade. Concebidas para a performance, com o objetivo da experiência artística. A dança cênica pode ser teatral ou abstrata. Teatral significa que existe um enredo, uma dramaturgia, caracterização de personagens, que transmite uma mensagem. A dança abstrata tem por fim o próprio movimento, a habilidade técnica, o virtuosismo. A criação coreográfica e sua execução técnica é o foco principal da performance.

No ocidente, termo “dança teatral” ou “dança teatro” surgiu no início do século XX na Alemanha, como definição de uma corrente de pensamento que pretendia distanciar esta nova forma de dança das tradições do ballet clássico, durante o movimento Expressionista. Um de seus maiores representantes foi Rudolf Laban e teve ainda grandes nomes da dança no ocidente como Mary Wigman e Pina Bausch.

A dança teatral no Egito



É comum encontrarmos, principalmente entre professores egípcios, o entendimento de que danças folclóricas são danças teatrais.

Diversos folguedos folclóricos carregam em suas tradições aspectos teatrais importantes. No Egito, na segunda metade do século XX, o grande coreógrafo Mahmoud Reda transportou com maestria os aspectos teatrais populares para o palco, criando novas corporeidades para representar personagens do povo, criando danças que não existem na tradição popular, mas que se encaixam na teatralidade de representação cultural de hábitos regionais ou períodos históricos, criando uma fantasia folclórica teatral. Podemos citar como exemplo dois estilos criados por Reda: a dança com melaya laff e o Mwashahat. 

Não existe, dentro da tradição popular egípcia”, uma dança com melaya. Este é apenas um acessório de vestimenta comumente usado pelas egípcias há várias décadas atrás. A dança com melaya foi criada por Mahmoud Reda e Farida Fahmy para retratar um tipo de mulher egípcia, criar um personagem incluído em um enredo e com ele uma cena que envolveria interpretação e dança. Melaya é “dança teatral” que usa a movimentação popular “baladi “ou “skandarani” como base técnica de sua expressão.

Danças populares cênicas - estilizações

Dabke

Na intercessão entre a dança cênica e a dança popular, existe este espaço da cena popular, como já exemplificado antes com o samba. Muitas formas de dança étnica ocupam o espaço cênico, sobem ao palco, cumprindo ainda uma função de afirmação da identidade cultural, mas com um novo objetivo: O entretenimento, criando estilizações da cultura popular. Isto acontece com inúmeras manifestações populares no mundo todo. 

Como exemplo deste fenômeno de estilização no mundo árabe e que conhecemos através da dança do ventre, podemos citar o dabke libanês. Uma dança popular, fruto de hábitos do cotidiano, a maior expressão de identidade cultural libanesa, com suas diferentes corporeidades regionais. Não existe casamento sem dabke no Líbano. O dabke é uma dança circular, que não requer roupa especial e não precisa de delimitação de espaço cênico para acontecer. O objetivo é a celebração em si. 

Dabke (coreográfico) no palco

Quando assistimos performances de dabke no palco, normalmente são feitas por grupos de dabke coreográfico, que modificam e inserem novos movimentos em favor da performance cênica. No palco, para uma melhor visualização da cena pelo público, o posicionamento muda, a roda tradicional se abre. Os dançarinos usam figurinos que imitam as roupas do dia a dia, ou representam um período histórico, mas sempre com glamour e brilho. Novo repertório de movimento é criado e existe a valorização do dançarino virtuose.


A dança do ventre e as fusões étnicas

A dança do ventre é uma dança étnica estilizada, cênica, de palco, que teve origem na tradição popular egípcia e foi se tornando o que conhecemos a partir da virada do século XIX para o século XX, quando aconteceram transformações de seu espaço cênico e da sua importância social como arte e entretenimento. Imortalizada para o mundo através do cinema, a raks el sharq (dança do oriente, em árabe), se tornou uma expressão artística popular e tradicional, intimamente conectada às celebrações da cultura egípcia. Com mais de um século de evolução, é uma modalidade cênica que se espalhou pelo mundo e encontrou novos significados para mulheres de diferentes tempos, de diferentes locais.


Assim surgiram as muitas estilizações da dança oriental, no fazer desta dança em diferentes contextos cênicos, sendo atravessadas pelas questões sociais através do tempo, fazendo tranças culturais com muitas outras etnias ao redor do mundo. A dança do ventre que se fazia no Egito da década de 1920, não é a mesma dança do ventre que se faz no Egito em 2020. A dança do ventre egípcia não é igual à dança do ventre no Brasil. Nem poderia mesmo ser. As estilizações da dança surgem e se modificam por conta do tempo, de fatores geográficos e históricos.

FatChance BellyDance

O estilo tribal é fruto da estilização da dança do ventre nos Estados Unidos e tem toda uma história de evolução e fundamento estético.

A estética tribal se liga aos elementos étnicos de danças populares do norte da África, oriente médio, Índia e Europa. Podemos relacionar uma lista enorme de influências culturais, seja na movimentação, nos figurinos e também nas músicas escolhidas para as performances. Estas influências todas misturadas, organizadas em um sistema que compõe técnica, vocabulário de movimentos, elementos de cena e dinâmicas de palco formam o que a gente conhece como fusão. O estilo tribal americano (American Tribal Style®, ATS®, FCBD Style®, Fat Chance Belly Dance Style®) é uma fusão étnica que usa elementos de culturas populares como elementos de cena, para expressão artística, sem representar nenhuma etnia específica.

Fusão é um conceito bem abrangente e compreende que o dançarino domine mais de uma modalidade de dança popular ou cênica para combinar seus elementos e montar uma coisa nova, híbrida, com outro significado. 

A fusão de diversos elementos étnicos em uma performance é uma expressão cênica, que pode ser abstrata ou teatral. Música, figurino, maquiagem, movimentação, são os elementos principais usados para criar coreografias híbridas, que usam mais de uma modalidade de dança. A performance que usa elementos étnicos na fusão, não cumpre papel de representatividade, nem de afirmação de identidade cultural de nenhum povo, mas é a expressão da coreógrafa, da dançarina que pode utilizar diferentes recursos para a criação.


Todas as estilizações de dança do ventre podem ser entendidas como fusão étnica, desde as diferentes corporeidades regionais (dança do ventre egípcia, libanesa, brasileira, argentina, turca, estadunidense, russa), como as diferentes estéticas, como tribal e fusion. Dança fusão é um conceito maior, fusão com dança do ventre é algo mais específico e Fusion Belly dance é um estilo que se originou do estilo tribal nos Estados Unidos e que tem toda uma história e fundamento estético.

Vamos ressaltar isso, que Fusion Belly Dance, apesar de ser traduzido como dança do ventre fusão, não é qualquer fusão com dança do ventre. Hoje em dia, por conta da queda do termo “tribal” pelas dançarinas dos Estados Unidos, todo o contexto do estilo tribal pode ser chamado de fusion belly dance, por falta de melhor definição. 

Esta fusion bellydance que surgiu do tribal fusion no final da primeira década do século XXI, absorveu elementos teatrais, explorando temas, ambientes e personagens, como é o caso do dark fusion e das fusões com inspiração cabaré vaudeville e vintage.


Responsabilidade e apropriação cultural

Nadja El Balady - fusão afro

É preciso responsabilidade ao trabalhar diferentes elementos étnicos em cena. A fusão étnica é a que mais precisa se preocupar com os aspectos da apropriação cultural e suas consequências negativas. Ao mesmo tempo em que pode ser a porta de entrada para estudos e conhecimento a respeito de culturas populares importantes e antigas, a artista ocidental precisa se refletir em como vai se utilizar destes elementos sem aprofundar a desigualdade social e econômica em relação às pessoas a quem pertencem estes elementos étnicos que usamos.

Apesar dos cuidados e reflexões em relação à ética do fazer dança fusão, a existência deste tipo de arte é inevitável. Através das tranças culturais, onde uma pessoa de uma cultura influencia outra, a arte encontra novas formas de expressão e se transforma. É um processo antigo, tão antigo quanto a humanidade. Através do estilo tribal e suas fusões étnicas, ocupamos este lugar de conexão entre diferentes realidades sociais, econômicas, culturais e artísticas, assim como temos como experiência as vantagens e desvantagens de exercer a liberdade artística.

É fato que a dança do ventre no ocidente encontrou um novo significado que se distancia de seus objetivos populares e cênicos no oriente. Principalmente quando começou a ser ensinada em uma metodologia de ensino ocidental, ela começou a ocupar um lugar diferente, artístico, mas também terapêutico, do despertar do feminino, que faz como que a dança do ventre tenha um apelo universal.

A arte revela o ser humano, é a expressão maior de visões de mundo, entendimentos da realidade e imaginário coletivo. Muito do que se cria em dança do ventre, seja tradicional, ou tribal, tem a ver com este imaginário, onde a mulher que dança ocupa um lugar diferente das pressões sociais do patriarcado, diferente da origem social da dança. Como uma dança cênica, tem a liberdade de criar outros contextos que não condizem nada com a realidade cultural em que foi criada e é nesse espaço cênico, teatral, imaginário, que novos horizontes se delineiam para a artista que pode se utilizar desta linguagem para sonhar com uma nova realidade para si, para despertar suas potencialidades e transformar o mundo que a cerca.

Bal Anat (2016)


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Folclore em Foco


Nadja El Balady (Rio de Janeiro-RJ) é diretora do grupo Loko Kamel Tribal Dance e proprietária do Oriental Studio de Dança no Rio de Janeiro, dedicando-se há 21 anos a estudar danças orientais. Professora de Dança do Ventre, American Tribal Style® e Tribal Fusion, com experiência internacional na Europa em shows e workshops. Estuda o Estilo Tribal desde 2005 e é uma das pioneiras da Fusão Tribal Brasileira. . Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 

[Campo em Cena] Apreciação coreográfica: Analisando suas referências, construindo uma identidade


 por Thaisa Martins

COVEN & Zoe Jakes (EUA) |
Foto por Tori & Yaniv Halfon - The Massive Spectacular

Cada dançarina é única no seu fazer. Por mais que existam passos, músicas, regras, indumentárias e etc que unem a manifestação artística em uma estética, o que cada uma faz com a sua dança é particular e especial. A forma de mover, de ver o mundo, de se expressar através do movimento, enfim, cada pedaço que a constitui enquanto ser humano influenciará diretamente na produção artística. Aprender a apreciar as peculiaridades das dançarinas que te inspiram, pode ser uma ferramenta poderosa para a construção da sua dança. Propomos neste artigo, uma reflexão sobre como e por que desenvolver um trabalho de apreciação coreográfica no Tribal Fusion. 


Estamos chamando de “apreciação coreográfica” a ação de assistir de forma analítica um conjunto de obras coreográficas, com o intuito de investigar pontos que se destacam e que foram fundamentais para a sua experiência estética. Através da análise das obras coreográficas, vai-se construindo um emaranhado de referenciais artísticos que podem servir de pontos de execução e investigações no processo criativo. 


É importante ressaltar que não se trata de um processo analítico que visa copiar/mimetizar/plagiar a obra de uma dançarina, mas sim de uma busca referencial para investigações pessoais. Não compactuamos com a prática, infelizmente ainda comum, de plágio tanto estético quanto intelectual. 


Como utilizar a apreciação coreográfica?

A apreciação coreográfica pode ser direcionada para uma pergunta específica, este tipo de exploração tem como principal fator agregador a compreensão de uma questão que já esteja em andamento no seu trabalho pessoal, as soluções que você encontrará nas obras apreciadas podem ser experimentadas no seu processo de criação.


Exemplo 1: Gostaria de criar uma coreografia que explorasse diferentes pontos espaciais. Quais dançarinas que eu conheço costumam fazer coisas nesse sentido?

Resposta: X e Y.


  • Quais as obras coreográficas das dançarinas X e Y eu mais gostei? 1, 2, 3 e 4.
  • Quais as soluções espaciais que elas adotaram nas obras 1, 2, 3 e 4? Variação de nível e diferentes ângulos na camêra.

    Agora é trazer esses pontos para o seu corpo:
  •  Como você se relaciona com os níveis?
  • Quais partes do corpo você pode variar na sua leitura espacial?
  • Será que não está na hora de buscar dicas de enquadramentos na internet?


Exemplo 2: Quero compreender melhor o que foi o início do Tribal Fusion.


  • Quais foram as principais dançarinas?
  • Qual a diferença entre as coreografias delas?
  • Quais os elementos principais do figurino nas suas apresentações?
  • Como elas se relacionavam com a música?
  • Como os movimentos de Dança do Ventre são usados?
  • Os vídeos são de festivais ou de apresentações menores?
  • As peças eram longas ou curtas?
    Todas essas perguntas são respondidas através de apreciação coreográfica e podem servir de insumo para a criação ou compreensão de uma obra com temática old school (por exemplo).


Essas são algumas das investigações criativas que podem surgir após uma apreciação coreográfica direcionada a uma questão. Note que não se trata de um checklist que será seguido rigorosamente, mas sim de uma ferramenta que se constrói cada vez que é utilizada. Você pode (e deve) retornar nestes mesmos vídeos com outras questões para novas possibilidades de investigação.  


Uma outra potente utilização da apreciação coreográfica é a compreensão do que nos atrai no Tribal Fusion, para então encontrar caminhos de criação que estejam de acordo com a nossa identidade. Por se tratar de uma modalidade de dança que tem uma estética elástica e maleável, muitas coisas são Tribal Fusion e se não sabemos o que realmente gostamos de ver e de fazer, acabamos no “limbo da moda”, seja a estética das “russas alongadas e saradas” , das “old school cheias de kuchi e assuit”, das “experimentais conceituais”, das “Rachels Brices super técnicas”, sejam as Indian Fusion, Rock Fusion, Dark Fusion, Flamenco Fusion, Neo Fusion e etc somos capturadas por um mar de possibilidades e referências.


Neste sentido, preparar diversas playlists no YouTube com os vídeos das dançarinas que você conhece, e até gosta superficialmente, pode ser a solução para os seus problemas. Saber dizer “Eu respeito a dançarina X por tudo que ela representa, mas o trabalho dela não me move como o da dançarina Y” é de grande importância para encontrar por onde você quer construir a sua dança. E essas escolhas não são eternas, em algum momento você pode se (re)encontrar com uma dançarina que passa a te mover. Assim, o processo contínuo de apreciação coreográfica te ajudará a consumir a arte de forma totalmente consciente e te apontará para caminhos criativos afins com o que você se identifica.


Um último ponto que acreditamos ser relevante em relação a apreciação coreográfica é mais direcionado para pessoas que gostam de compreender como a cena está se desenhando e onde os discursos estão convergindo, ou não. Como teórica da dança de formação, essa é uma pergunta que muito me atrai. Saber como as pessoas estão produzindo suas danças, como os grandes festivais estão selecionando as artistas principais e como as influenciadoras estão se posicionando em cena é uma caminho para compreender para onde vamos com a manifestação artística num tempo futuro.


Como exemplo, o evento Tribal Massive que aconteceu em março de 2020 publicou todas as apresentações que anteriormente seriam chamadas de Tribal Fusion Bellydance, como Fusion Bellydance. Esse nome que ainda não circulava aqui no Brasil, nessa época, com tanta força passou a ser amplamente utilizado pelas profissionais alguns meses após a divulgação dos vídeos (por volta de maio/junho). O favorito no país, até então, era Dança do Ventre do Estilo Tribal que acabou sendo abandonado por muitas das profissionais que seguiram, talvez de forma até inconsciente, o nome definido pelo festival meses antes.


Conclusão  



Buscamos no presente artigo apresentar o conceito de apreciação coreográfica como uma importante ferramenta do campo da Dança para a criação e investigação no Tribal Fusion. Apresentamos 3 principais caminhos para utilização: 1) a investigação de uma pergunta no processo de criação; 2) como aprofundamento do conhecimento estético da manifestação e derivações; 3) como fonte de análise de tendências da cena. 


Nosso intuito ao abrir a discussão é de apresentar uma ferramenta que possa auxiliar tanto na qualidade, quanto na profundidade de suas criações, assim como evidenciar o comprometimento ético em relação ao plágio estético e intelectual. A cada dia, fica mais evidente a importância de ferramentas e metodologias no fazer artístico que possam nos embasar de forma criteriosa e ética.   


Sigamos unidas!        



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Campo em Cena


Thaisa Martins (Rio de Janeiro-RJ) é graduada em Teoria da Dança (UFRJ) e mestranda em Arqueologia (UFRJ) onde pesquisa processos de reconstrução de dança na Índia antiga. É sócia do Medusa Tribal Studio, estúdio de dança dedicado ao Tribal Fusion, suas derivações e origens no RJ,  junto com a dançarina e fisioterapeuta Maya Felipe. Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 

[Resenhando-ES] Tribal Fusion, Eventos Online e a Pandemia no Espírito Santo

 por Lua Minguante, membro do grupo Lua Rubra Tribal


Iniciamos o ano de 2020 cheios de esperanças, vontades e planos e não foi diferente para a dança, no Lua Rubra Tribal, ao qual faço parte, estávamos cheias de novos projetos e expectativas para o ano que seguiria, no entanto, a Pandemia pegou todos nós desprevenidos e tivemos que pausar nossos planos para 2020. Entramos em quarentenas e com o passar dos meses sentimos muito falta de viver em arte, dos ensaios, dos palcos, da própria dança em si, sentindo falta da companhia umas das outras também, somada a toda ansiedade gerada pelo instabilidade da vida cotidiana, adaptando às mudanças bruscas diariamente.

 

Finalmente, como um respiro ao meio desse caótico ano, as lives entraram na moda e conseguimos assistir shows ao vivo de muitos dançarinos que admiramos. 


Em agosto, nós do Lua Rubra Tribal completamos 2 anos de existência, e como celebração reunimos talentosos dançarinos que são nossos amigos, aqui do Espírito Santo, e realizamos o show de aniversário em uma live no YouTube, foi um processo novo de viver, um novo tipo de show e arte on-line, uma boa forma de comemorar nosso aniversário, mesmo que à distância. “Celebrando Entre Luas” foi incrível e contamos com participação de dançarinos locais, pessoas amigas e que fazem parte da nossa história: Dhani Pitteri (Tribal Fusion), Rosaira Conrado (Dança contemporânea), Natália Piassi (Dança do Ventre), Desiree Gundim (Stiletto), Sayuki Féus (Voguing), Giselle Ferreira (Flamenco), Nathalia Antunes (Dança do Ventre).


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Em setembro, o Studio de Dança Rosaira Conrado, localizado em Jacaraipe-ES, produziu um Sarau Virtual em Comemoração aos 11 anos do studio, foi um sarau riquíssimo cheio de arte, poesia, música e dança, dos mais diversos estilos. O mesmo Studio, Rosaira Conrado, produziu em Outubro, um Sarau Virtual, de Halloween, com as danças mergulhadas dentro desse tema. E finalizaram o ano com um Sarau chamado “E que nunca nos falte dias melhores”.


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A dançarina, professora e coreógrafa de Dança do Ventre, Natália Piassi, é uma grande voz da dança no Espírito Santo e promoveu diversas lives de shows durante o ano de 2020. Em junho, Piassi promoveu "Lives para Despertar" com diversos convidados e temas sobre dança e autocuidado. Em outubro, realizou lives de discussão a respeito do que são as modalidades: Tribal Fusion, Dança do Ventre para Crianças e Yoga.




O Studio Alma Andaluza, que é um estúdio sediado em Vitória-ES, onde oferece diversas modalidades de dança tais como Dança Cigana, Flamenco, Dança do Ventre, Tribal Fusion e mais outros estilos, promoveu, em Dezembro, um Sarau Online cheio de poesia, onde a Dança Cigana e o Flamenco, são os principais estilos do estúdio.


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Nathália Antunes, professora, dançarina e coreógrafa de Dança do Ventre, também capixaba, fez um show online com alunas em seu Instagram em Setembro.




Foi um ano desafiador para cada um de nós, mas a arte pode sempre nos ajudar, não só como escape, mas também para preencher nossas vidas, expressar nossas dores e buscas, ponte para além dos dias difíceis. Agradecemos a comunidade capixaba, por cada live e dança, que encheu nossos olhos em dias pandêmicos.


Todas as lives citadas estão salvas nas mídias sociais.


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Resenhando-ES


Lua Rubra Tribal (Vila Velha-ES) é formado por Sahira Zomerod, KarMir, Aline Yuki e Bruna Benes; foi criado no ano de 2018, seguindo as lunações para formar uma liderança circular. Cada uma representa uma lua: nova, crescente, cheia e minguante, respectivamente. Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >>

[No Swag] O Hip Hop é Estilo de Vida!

 por Tica 

Hellou, hellou, hellou, como tem sido a caminhada até aqui? No mínimo instigadora?! Bom, não tem um texto que eu não peça para você retornar ao texto anterior se caso não leu. Então bora lá rapidex e volta aqui, assim a história fica com mais sentido, mas sim sim sabemos que os acontecimentos não são lineares né nom! Next step..

Um jovem rapaz chamado Lance Taylor, conhecido como Afrika Bambaataa, inspirado em Kool Herc, decidiu aventurar-se por essa nova onda, que naquela época não tinha esse entendimento de ser uma corrente, uma filosofia, um estilo, um estilo de vida. Todes curtiam a vibe, as músicas, o jeito de falar, de se vestir, mas não havia o entendimento e conhecimento do que estava sendo construindo e para onde estavam indo. Nessa curtição do momento, onde um dos principais formatos de encontro eram as Block Parties, já dizia o velho ditado “onde há fumaça, há fogo”. 

O Bronx, bairro em que Bambaataa nasceu e foi criado, havia muitas brigas de gangues por disputa de territórios durante as parties, mortes e agressões por todo lado também. Confiante que as brigas entre as gangues, agressões e mortes não levariam a lugar nenhum, ele estimula -principalmente as gangues- a resolverem suas indiferenças através de batalhas de dança. Bom, estas batalhas de dança amenizaram a violência no bairro Bronx e na mesma pegada, Afrika Bambaataa continuou trilhando um caminho de paz e sabedoria, sendo reconhecido como o criador do movimento e desenvolvendo a ONG Zulu Nation. Nos próximos anos, Bambaataa ajuda a “formatar” e divulgar as bases do Hip hop, assim, a comunidade e o mundo começam a entender que o Hip Hop é mais que apenas boa música, mas é um estilo de vida!


   


Referências:

http://www.zulunation.com/


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No Swag com a Tica


Tica (Curitiba-PR) é proprietária da Mov n' Art, atua como personal de treinamento funcional, condicionamento físico para bailarinos e aulas de Hip-Hop na linha de femme style. Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 

[Índia em Dia] Tribhanga - Dança Indiana, Dialética e Netflix

por Raphael Lopes



Olá pessoal, Namaskar! ^^

Primeiramente espero encontrar cada um de vocês em saúde e alegria neste novo ano que se inicia justamente após um período que vem sendo tão angustiante para a sociedade, e para nós, bailarinos e professores isolados do palco e salas de aula presenciais. Sabemos e aprendemos no fazer arte, uma forma de ao se adaptar às novas realidades, encontrar formas de resistirmos e nos reinventarmos.
 
Nesse cenário surgiram oficinas, lives, workshops, cursos e aulas em formato online, o que sem sombra de dúvida trouxe um mar de novos conhecimentos para aqueles que decidiram se ocupar nesse intervalo em consumir e aproveitar as novas trocas surgidas. Foi nesse interim, por exemplo, que surgiu o FADINB (Fórum a Dança Indiana No Brasil) que abriu espaço para a dialética na dança - a oportunidade de discutir e conhecer novos argumentos, tirando a dança das nossas caixinhas de certezas e abrindo por meio da discussão, uma nova forma de contextualizar a dança produzida e ofertada.


E justamente contemplando toda essa discussão, a Netflix nos presenteou com um filme muito peculiar da diretora Renuka Shahane: Tribhanga - Tedhi Medhi Crazy. O filme, muito embora com o nome direcionando claramente a famosa postura da dança Odissi, está longe de ser um filme de dança, mas sim um enredo que aborda a vida de uma bailarina e seus dramas familiares.

O filme narra a história de três gerações de uma mesma família: Nayantara (Tanvi Azmi), uma aclamada escritora e mãe da bailarina Anuradha (Kajol). Logo nos primeiros minutos do filme, vemos a bailarina fumando um cigarro minutos antes de entrar em cena, trazendo a baila a discussão sobre as eternas superstições que cercam com uma aura de eterno misticismo e pureza das bailarinas. Infelizmente a diretora não se arriscou ir por esse lado, uma vez que a crítica ao conservadorismo ainda seja algo muito tímido entre os bailarinos e gurus mais conservadores. Por fim, temos Mithali Palkar que interpreta Masha, a filha de Anuradha, que decide seguir um caminho diferente da mãe e da avó...


O filme narra a história de três mulheres, mães solteiras, em suas lutas diárias, os traumas do abuso por parte de uma sociedade machista, até encontrarem na doença de sua matriarca o ápice das resoluções dos sonhos e papéis de cada uma. Dessa forma, o filme (que poderia sim ter sido enriquecido com cenas de dança) traça um paralelo entre as personalidades das personagens e as poses esculturais da dança Odissi. Anuradha, a bailarina, é o próprio Tribhanga - a postura com tripla flexão (cabeça, torso e pernas). Sua mãe Nayantara é a postura Abhanga, onde o corpo é levemente inclinado à esquerda, sinalizando sua própria inclinaçao sutil às artes. Masha assim se torna Samabhanga, a postura "simples", de pé e de frente a vida comum... Tribhanga claramente se refere as três mulheres, numa dança familiar explorado nesse filme que estreeou na Netflix no dia 15 de Janeiro (2021).

Mais do que um filme de dança, Tribhanga nos traz reflexões valorosas sobre a vida, tomando a poesia em ver lado lado as vicissitudes o bailar da vida. Vale a pena assistir esse filme, e lembrar que devemos, antes de mais nada, trazer a dança para as nossas vidas para além dos palcos.



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Índia Em - Dia


Raphael Lopes (São Paulo-SP) é bailarino de dança clássica indiana Odissi e tem levado à dança aos cenários dos Festivais e Encontros nacionais defendendo seu caráter sagrado, conscientizando as novas gerações a buscar um aprofundamento tradicional evitando a macula à essa refinada e sofisticada forma de arte. Clique aqui para ler mais post dessa coluna! >> 

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