por Thalita Menezes
Acredita-se
que o surgimento da dança, se deu ainda na Pré-História, quando os homens
batiam os pés no chão. Com o passar do tempo, foram dando mais intensidade aos
sons, descobrindo que seriam capazes de criar outros ritmos, conciliando os
passos com as mãos, através das palmas.
“Alguns
autores até mais precisos, diziam que as mulheres dançavam para obter maior
fecundidade e que elas executavam uma dança em ritmo binário, com o tempo forte
sobre o pé esquerdo...” – Extraído do livro História da dança no ociedente, Paul
Borcier.
A Dança (1910). Henri
Matisse
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No último post relatei sobre a importância de o
bailarino conhecer o corpo humano para potencializar a técnica de sua dança,
evitar/amenizar lesões e expressar os gestos com mais verdade e criatividade. Ainda
na mesma ideia foquei em apresentar um estudo anatômico dos pés e suas possibilidades de movimento. Com
base nisso, venho reforçar este componente tão importante para nosso equilíbrio
numa temática mais subjetiva. Afinal, o que os pés podem expressar?
Você já parou para pensar na
importância dos pés em nossa vida? São eles quem sustentam todo o nosso corpo e
representam muito mais do que a habilidade de caminhar. Algumas pessoas, por
exemplo, acreditam que eles representam a linha da vida de cada
indivíduo.
calcanhar > passado | planta
(arco) > presente | dedos > futuro
“Quando o homem pisa no chão, da
maneira que o faz, já diz quem é.” (Maíra Viana, extraído do blog Vergonha
dos pés).
A relação dos pés com o corpo mostra a personalidade da pessoa: pés para fora,
peito aberto, nariz empinado, autoritarismo; pés para dentro, peito fechado,
timidez, aquele que se faz vítima; pés retos/paralelos, corpo aprumado,
equilibrado.
Os pés muitas vezes também são
negligenciados, esquecidos. Com algumas exceções - incluindo aqueles que
trabalham o corpo de forma inteira, a exemplo dos bailarinos, porém mesmo
exercitando o corpo de maneira uniforme nem sempre os bailarinos atentam-se em
perceber o que acontece com os pés a cada movimento realizado por eles ou por
outras regiões do corpo.
Sentir
o alinhamento dos pés aos joelhos e ao quadril requer sua inteira
conscientização corporal. No início das aulas de dança, massagear os pés,
pode-se tornar um bom recurso para acordar e mobilizar todo o corpo para os
demais exercícios técnicos. A partir daí é possível compreender melhor os
encaixes das articulações e diferentes possibilidades de movimentação antes não
percebida. Quanto maior o número de movimentos, maiores serão as imagens
físicas e as significações ligadas ao movimento (ARTAUD, 2006, P. 145).
Originalmente, ao menos no Egito,
a Dança do Ventre era dançada descalça e os pés da bailarina tinha uma forte
simbologia, pois eles representavam acima de tudo o contato com a terra. Além
de ponto de apoio e equilíbrio do ser, muitos consideraram os pés um forte
símbolo do ser feminino e da força da alma, por ser ele o suporte do corpo na
posição vertical.
Ao longo dos anos, estas marcas
foram se esvaindo e a preocupação atual passou a ser na estética e conforto dos
pés na hora de dançar para centenas de pessoas assistirem. Cuidar dos pés é
importante sim, principalmente se irá exibi-los para outras pessoas e almeja
longevidade em sua dança. Porém, muitas vezes nem se percebe que ao dançar
descalço na Dança do Ventre e Tribal tem-se uma grande oportunidade de usufruir
sensações reais de textura e temperatura diretamente nos pés, podendo influenciar
na qualidade de movimentos de várias outras articulações.
Os pés são a parte do corpo que
toca primeiro no solo, atuando como principal intermediador do nosso ser com o
espaço que dançamos. Do solo eles recebem energia, transferem massa para pontos
mais convenientes, absorvem impactos, ditam o ritmo e a direção do caminhar.
Desta forma, explorando o espaço,
conhecendo nossos pés e reconhecendo as marcas históricas presentes neles, podemos
receber diferentes estímulos e resignificar todo nosso trabalho corporal na
dança, colocando em forma de movimentos a poesia que existe em lugares e
momentos não antes percebidos. A essência dessas vivências prioriza o respeito
pelo próprio corpo, o bem-estar, o prazer em sentir cada sentido.
Fontes:
Livro: “História da Dança no Ocidente”. Paul Bourcier